Sangue Divino escrita por Bianca Bittencourt


Capítulo 34
Cap.34 - Lar.


Notas iniciais do capítulo

Boa noiteeeeeeeee qridos :*



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Passo os braços em torno do pescoço dele e quase que involuntariamente correspondo o beijo, com a mesma intensidade desesperada. Depois de quase um minuto coloco as mãos espalmadas no peito dele e o empurro com delicadeza.

– O quê – tomo fôlego – foi isso?

– A prova de que o que sinto por você é mais importante pra mim do que minha relação com seu pai.

Tento arduamente não sorrir.

– O quê te fez mudar de atitude tão rápido?

– Acho que ver você gritando que não é minha irmã me acordou um pouco, mas principalmente, Sophie brigando comigo depois que ouviu seus gritos. Ela disse que eu devia parar de ser babaca e largar de ser tão meticuloso em relação ao Percy e que em vez disso devia correr atrás de você antes que começasse a me odiar e assim eu te perderia para sempre. – Ele diz fazendo careta. Valeu Sophie. – Acho que o para sempre foi o que me fez agir logo. Eu percebi que... não posso perder você. Não por um motivo desses.

Nathan pega minha mão. Estou sorrindo como uma estúpida. Me sinto completamente idiota. Mas nem ligo. E dai? Sorrio ainda mais, me aproximo e o beijo de leve. Observo o relógio.

– Feliz aniversário. – Sussurro. Ele sorri.

– Como descobriu? – Pergunta.

– Sophie. – Digo.

Ele balança a cabeça ainda sorrindo. Depois me encara por um tempo que pareceu ao mesmo tempo infinito e curto. Ele nunca me pareceu tão lindo, talvez porque pela primeira vez, me permiti avaliar o quanto o acho lindo. Os olhos azuis, escuros na iluminação da caverna. O sorriso sedutor que não me incomoda mais. O cabelo despenteado. Percebo que ainda estou com os braços em torno do pescoço de Nathan. Pisco, despertando do devaneio e retiro os braços. Mas ele não afrouxa o aperto dos braços em torno da minha cintura.

– Acho melhor me soltar um pouco. Seus machucados podem começar a abrir demais e eu não quero fazer mais curativos. – Ele afrouxa o aperto e revira os olhos. – Desculpa, mas eu não podia perder a oportunidade de te zoar pela sua fala lá na floresta. Deve ter exigido muita coragem para largar a pose de invencível.

Ele se empluma e dá de ombros.

– Nem tanto. – Diz.

Rio. Ele volta a me encarar e diz:

– Eu... tenho que ir para o posto vigia agora, falei para o Leo que faria vigia até as três horas da manhã.

– Vou com você.

– Não. Descansa, você não precisa...

– Para. Para, Nathan. Eu quero ficar com você, posso ajudar você a ficar acordado e vamos passar um tempo sozinhos. Não estou com sono. E não preciso descansar muito, vamos andar pouco amanhã.

Ele bufa, mas não consegue esconder o sorriso.

– Já que insiste. – Nathan se curva levemente, se vira e abre a porta. – Primeiro as damas.

Sorrio.

– Sério? Não vai fazer isso em público, né?

– Claro que não. – Revira os olhos. – É muito brega. Só fiz isso para te fazer rir mesmo. Adoro te ver sorrindo.

Que bom, penso. Porque eu não consigo parar de sorrir agora, e talvez isso dure um tempo.

Vamos para frente da caverna e nos sentamos encostados na lateral da esquerda da caverna. Espalho shurikens pelo chão ao meu lado direito e ele coloca sua espada de duas lâminas à sua esquerda.

Entrelaço meus dedos nos dele e apoio minha cabeça em seu ombro.

– Então... – digo – ainda não faço ideia de como se toca uma lira. Que tal você me falar sobre?

Posso sentir que ele sorriu, apesar de não ver. Nathan começa uma conversa meio longa sobre liras olhando o horizonte na qual prestei atenção em quarenta por cento, acho.

– Entendeu? – Pergunta.

– Adoro sua voz. – Respondo. – E acho que estou com um pouco de sono agora.

Ele ri.

– Kera tinha razão. – Suspiro. O filho de Apolo vira a cabeça para mim. – Eu encontrei minha felicidade bem mais cedo do que eu imaginava. Não me sinto tão feliz há séculos.

– Também. Nunca me senti tão feliz. – Diz. – Eu não sei se ainda é meu aniversário, acho que não, mas, ainda assim, esse foi o melhor aniversário que eu já tive. Até porque, os outros foram meio monótonos.

Aperto os dedos dele mais forte. Ele volta a olhar para o horizonte.

– Se quiser saber... eu pensei no que disse sobre meus poderes e tem razão, tenho que treiná-los. Quando estivermos no acampamento vou falar com Quíron e pedir ajuda de Leo.

– Que bom. – Digo. Depois de um tempo, completo: - O que você tem contra seus poderes?

– Nada. Eu sei que pode parecer que eu não gosto deles, mas na verdade sou muito agradecido ao meu pai por eles. Meus poderes parecem tão miraculosos que acho que algo não está certo, estou acostumado a trabalhar com a força e é como se magia fosse um atalho, e atalhos sempre me parecem armadilhas. Mas se não fossem esses poderes eu não teria conseguido salvar você e Sophie de Nyx, por isso, agradeço muito por eles.

– Por isso voltou a usar arco e flecha, não é? Porque agora você acha que seu pai não é tão ruim assim.

– Por ai...

Ficamos conversando sobre nós mesmos para passar o tempo. Descobri que a cor favorita dele é preto, que o instrumento favorito dele é violão, que o animal favorito dele é a pantera (rimos por um tempo lembrando como isso é bizarro devido à visita que recebemos daquela Pantera D’Água), e mais um monte de curiosidades aleatórias. Falei sobre mim, sobre minha vó, sobre como me senti no meu primeiro dia no acampamento e contei que a missão acabou porque falei com Kera, ele disse que estava o tempo todo esquecendo de perguntar algo, e era isso, quem era Kera.

Até que Leo chegou.

– Já deu três horas? – Pergunto. – Como o tempo passou rápido.

– É. – Diz Leo sorrindo e nos encarando de maneira maliciosa. – Ainda bem que se entenderam.

– É. – Respondo.

Nos levantamos e pegamos as armas.

– Não viram nada de estranho? – Indaga.

– Nada. – Afirma Nathan. – O que já é um fato estranho por si só. O movimento é zero na floresta.

– Não acho que tenha nada de errado. – Digo. – Hécate está nos protegendo.

– O quê? – Questiona Nathan.

– É. Ela está nos protegendo, é obvio que alguém está nos ajudando já que nenhum monstro notou nossa presença e devido ao fato de que é lua nova e vi um cachorro preto...

– Compreendi. – Diz Leo. – Mas porque ficaram de vigia, então?

– Por via das dúvidas acho melhor não confiar cem por cento na proteção dela. Hécate pode ser... imprevisível. – Explico.

Leo dá de ombros.

– Boa noite, pessoal.

– Boa noite, Leo.

– Boa vigia, Leo. – Digo.

Começamos a andar pelo corredor e pergunto:

– Qual o seu quarto?

– O único que sobrou, na sua frente.

– Que conveniente. – Observo.

Segundos depois, estamos em frente aos nossos “quartos”.

– Acho que é hora do nosso descanso. Bons sonhos, Nathan.

– Tenho certeza de que serão bons. – Ele se aproxima e me dá um beijo na testa. – Até... daqui a algumas horas, Marie.

Quando me viro para abrir a porta ele me puxa de volta pelo braço.

– Ah! Antes que eu me esqueça, - diz – não fiz nenhum pedido formal então... Quer ser minha namorada?

Dou um risinho nervoso que tento deixar espontâneo. Fico a milímetros dele e sussurro:

– Sim.

Ele sorri e me beija de maneira doce e rápida. Dou uns passos para trás sorrindo e entro no meu “quarto”. Corro para a cama e me jogo nela. Mordo o lábio. Olho para o teto sem realmente olhar para ele já que não acendi a luz, e fico assim, pensando nas nossas conversas e nos beijos, pensando no dia de hoje e... sorrindo.

Não dormi nem por um segundo, mas me sinto mais disposta que nunca, e até um pouco eufórica, me sinto muito boba também... tudo que eu sei é que não vejo a hora de rever meus pais e de contar para Sophie, ou melhor, mostrar para ela. Não preciso contar, ela vai perceber. O que eu preciso mesmo é agradecer ela.

Quando são sete horas e já ouvi algum barulho, me visto de maneira casual e saio do quarto. Quando todos estão prontos para sair o ultimo a chegar é Nathan. Fico meio perdida pensando se devo ser discreta ou se devo procurar... meu namorado. Deuses, como isso soa estranho. Um estranho muito bom. Mas antes que eu precise decidir ele vem até mim, sorri e entrelaça os dedos nos meus. Sophie nos olha e sorri largamente, gesticulo um “obrigada” para ela. A filha de Afrodite dispensa o agradecimento com um gesto de mão.

Calipso e Leo estão ocupados demais discutindo pela milésima vez o nome das crianças para notar há mim ou a Nathan. Leo fica dizendo que os filhos dele não devem ter nomes comuns e Calipso insiste que eles devem ter os nomes mais comuns possíveis, como John e Hanna. Calipso vai ganhar a discussão no final, é obvio, mas ainda é engraçada a insistência de Leo.

Nossa trilha foi rápida e me pareceu um borrão, as mesmas árvores, os mesmos animalzinhos, as mesmas folhas. Tudo pareceu igual. A única coisa que notei com detalhes foi Nathan. A maneira como os músculos do braço dele se contraiam toda vez que me ajudava a subir em cima de um tronco ou pedra, como os o olhos dele se assemelhavam aos do Percy de manhã, como os músculos do abdômen dele ficaram visíveis devido a blusa que grudou nele depois de meia hora, a maneira carinhosa com que ele me olhava às vezes...

Leo e Calipso conseguiram estender a discussão até a chegada do acampamento.

– Finalmente em casa! – Grita Sophie.

Olho para Nathan que também olha para mim, sorrimos um para o outro, solto a mão dele e retomamos ao passo firme.

Tenho certeza de que ainda é horário do café da manhã. Ao lado de Sophie, fico à frente de todos e me dirijo mecanicamente ao refeitório, onde todos poderão presenciar nossa volta, e onde, espero, meus pais vão poder ver que estou viva, bem e em casa. Não faço ideia de quando adotei a ideia de que o acampamento a minha casa, mas acho que no momento em que senti falta dos meus pais percebi que onde eles estiverem, será minha casa, porque tudo que quero agora é minha família.

Quando eu e Sophie entramos no refeitório, alguns olhares já se voltam para nós. Quando Leo, Calipso e Nathan entram e se posicionam ao nosso lado, TODOS os olhares se voltam para nós. E é logo em seguida vejo Annabeth se levantar da mesa de Atena e correr até nós.

Minha mãe me abraça e beija minha bochecha, depois se afasta e coloca a mão na boca.

– Graças aos deuses. – Sussurra. E então, volta seu olhar para os outros, nos avalia e então abraça todos, começando por Sophie.

Percy vem logo depois de Annabeth, mas sem pressa. Sorri para mim e para alguém atrás de mim que tenho certeza, é Nathan. Me abraça durante bastante tempo e beija minha testa. Cumprimenta Leo e Calipso, depois deseja boas vindas a Sophie e aperta a mão de Nathan, sorrindo para ele.

Meio tímido atrás de meu pai, Mark nos cumprimenta.

– Senti sua falta – Digo.

– Fiquei muito preocupado por vocês. – Mark responde. – Fico feliz que estejam todos bem.

– Não estamos tão inteiros quanto parece. – Afirmo.

Observo que a nossa volta, todos pararam o que estavam fazendo para nos observar.

– Olha, - digo me dirigindo à Annabeth – eu realmente acho toda essa recepção muito legal, mas estou meio incomodada com tanta atenção e nem pensem que eu vou fazer discurso.

Ela ri e diz:

– Vem, vamos para o Chalé 3, quero te entregar seu presente de aniversário.

– Oh. Não precisava! Nem eu lembrei do meu aniversário, mãe.

Só percebi que a chamei de mãe quando vi que o sorriso dela ficou maior. Foi automático. Sei que com o tempo, vou vê-los como meus pais sem esforço algum, e eu vou ter minha família de volta. Eu posso ser uma deusa imortal, mas vou ser feliz enquanto tiver meus pais... e Nathan, claro.

– Imagina. – Diz Percy. – Sua mãe estava louca para te dar um presente, ela nunca pode fazer isso então fez questão de te dar um presente incrível dessa vez.

– Vamos, então. – Digo.


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