Sangue Divino escrita por Bianca Bittencourt


Capítulo 3
Cap.3 - Uma reunião mais reveladora ainda




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Annabeth chega uns quinze minutos depois de mim e meio cansada, como se tivesse corrido muito, o estanho é que não vi ela chegar, apareceu do meu lado do nada. Dez minutos de silêncio depois chega Percy e entramos na sala. Os dois se sentam lado a lado no sofá a minha frente e ela diz:

–Pode perguntar sobre aquilo que mais te incomoda, apesar de já saber o que você quer.

–Vamos lá. - Digo - Qual a primeira coisa que me vem na cabeça?! Quem são os meus pais?

–Sabia que ia perguntar isso, mas não sei se está pronta para saber ou... perdoar. -A moça fala com tristeza o que me faz perceber o quanto o sorriso dela é radiante diante de tanto sofrimento interno.

–Annabeth. - Chama Percy - Quanto mais tempo escondermos dela pior vai ser!

–Eu sei. - Ela responde melancolicamente.

–Ei! Oi?! Quero respostas! E vocês já estão me assustando. - Digo.

–Courtney... nós... - Annie começa a explicar se conseguir terminar consumida pelas lágrimas que escorriam de seu rosto. - Desculpa. Eu não consigo.

–O quê foi? Vocês falaram que meus pais estão vivos! Então o que há? - Questiono.

–Ela só não gosta de falar sobre esse assunto, apesar de nunca parar de pensar nisso, morre de remorso, mas sabemos que foi o melhor para você. - Explica Perseu.

–Respondam logo, só estão me confundindo! - Quase gritando falo.

–Nós Court. - O homem responde calmamente enquanto acalma Annabeth que está chorando em seu ombro. - Nós somos seus pais Courtney.

Mil coisas passam pela minha cabeça naquele momento, mas só a raiva, de ter as duas pessoas que me abandonaram na minha frente se sobressalta, e tudo que eu consigo dizer segurando o choro é:

–POR QUÊ? POR QUE VOCÊS ME ABANDONARAM?

–Nós não te abandonamos. - Afirma Percy.

–Abandonaram sim!

–Deixar sua vó te criando foi o melhor a fazer para você. -Ele diz.

–Por quê?

–Court, monstros sentem cheiro de meio-sangues, o meu cheiro é muito forte por ser filho de um dos três grandes, e somado ao da sua mãe fora do acampamento colocaria nós três em risco! Principalmente você. -Explica calmamente para não agravar o estado da Annabeth. Mas não é convincente... ele parece omitir algo.

–Mas se vocês são heróis poderiam me defender certo?

–Talvez querida. Mas faz ideia de quantas vezes quase morremos? Se nos mantermos vivos já é difícil... se algo acontecesse a você não nos perdoaríamos.

–Ah. E me deixar sem proteção, aos cuidados da vovó, foi a melhor opção?

–Você é que pensa, sua avó é muito mais esperta do que imagina, acha que se ela não soubesse me esconder dos monstros eu estaria vivo até hoje? Ela me manteve vivo e a salvo sozinha por doze anos mesmo meu cheiro sendo maior do que o dos outros, aumentando a tendência para encrencas também.

–E por que eu não podia saber de nada? Nem seus nomes ou uma foto? Ehn?

–Quanto menos soubesse sobre a nossa realidade melhor seria, e você sabia meu nome...

–Eu soube hoje! Onze anos depois!

Annabeth desenterra a cabeça do ombro do Percy, mostrando um rosto vermelho e uma expressão de dar dó, para falar pela primeira vez desde que começou a chorar.

–Só estávamos te protegendo, pequena, não queríamos que nos procurasse antes da hora, ou que nos reconhecesse quando íamos observar vocês de vez em quando. -Ela diz serenamente enquanto as lágrimas não paravam de escorrer pelos seus olhos tempestuosos, porém sensíveis. -Eu nunca deixei de saber o que estava acontecendo com você Courtney. Nunca quis me afastar de você minha menininha, mas não podia correr o risco de te fazer ficar em perigo constante. Acha que se eu pudesse não teria criado você? É tudo que eu mais queria!

–Então por que não me criaram aqui?

–Por que isso é um centro de treinamento filha. - Explica Percy. - Não é um lugar adequado para uma criança ou um bebê, e quanto mais tempo pudesse ficar sem saber de tudo isso melhor seria, nós saímos em constantes missões e tem muitos ataques...

Eu continuava com raiva. Havia outra solução, sabia que sim, tinha que acreditar que sim, era o que alimentava minha raiva, mas lá no fundo, eu sabia que eles fizeram tudo que puderam por mim, não deviam se arrepender, porém eu enxergava em seus olhos o quanto sofriam por ter de se afastarem da filha e eu os culpava. Vendo o estado da minha mãe... quem sentiu remorso fui eu.

–Me desculpa. -Digo olhando para o chão de madeira antigo parando de olhar raivosamente para eles. -Vocês só pensaram em me manter viva, eu não podia estar tentando magoar vocês com isso.

–Você não tem o que se desculpar. - Fala Annie segurando mais lágrimas, o que me faz levantar o olhar para uma espada, que creio ser de um bronze reluzente, na parede. - Eu... eu devia ter estudado mais. Devia ter arranjado outra solução.

Parte de mim queria dizer ''Devia mesmo'' mas seria egoísmo e maldade de mais com ela.

–Sei que você fez o que pode, eu só preciso de um tempo para me acostumar com a ideia.

Eu me levanto visando sair dali e pensar sozinha no que tinha ouvido e só isso me faz lembrar que eu não sabia para onde ir, então me sento novamente deixando os dois confusos. Coloco os olhos naquela mesma faca na parede à direita e digo:

–É por isso que estou indeterminada, não é? Eu tenho sangue de deus nas veias, mas vocês não sabem se é de Atena ou de Poseidon... Por isso queriam saber se eu me sentia forte perto da água.

–Isso pequena, você é muito esperta, mas o que vez com as algas... -Annabeth explica.

–Te deixou confusa. -Completo, ainda sem olha-los.

–Sim. E isso só me faz pensar que...

–Tenho o sangue de dois deuses, que por um acaso se odeiam, no meu organismo. Isso não parece bom.

–Viu? Você pensa muito rápido e desde pequena sua vó disse que é uma estrategista nata até com os trabalhos da escolinha!

–Podemos ir ao estábulo de pégasos. -Diz Percy para Annabeth que parece assentir.

–Ei. Sempre quis ver um! Mas como isso vai ajudar? -Pergunto.

–Meio-Sangues de Poseidon falam com cavalos. -Explica Annie.

–Então vamos tentar. -Digo.

Ambos assentiram a ideia com uma troca de olhares. Nos levantamos e vamos até os estábulos. Meu pai parece que está tentando se manter bem, mas minha mãe continua muito vermelha e com o rosto inchado de tanto chorar então vou até ela e digo, quase implorando:

–Por favor, pare de chorar, está tudo bem, eu realmente entendo que tudo que fizeram foi para o meu bem, eu perdoo vocês está bem? Só pare de chorar.

Não foi lá muito delicado, mas acho que isso a deixou melhor, ela sorriu para o Percy que abraçou a cintura dela, a conduzindo pelo resto do caminho. Logo que chegamos, ignorando o péssimo cheiro de estrume, ouço uma voz masculina grave meio debochada:

–E ai garota? O chefe só fala de você!

–O quê foi isso? Quem disse isso?

–Você ouviu alguma coisa? -Diz Annabeth.

–Sim eu...

Antes que eu pudesse continuar, Percy me interrompe dizendo:

–Oi garoto! Essa é a Cortney. -Ele se vira para mim. -Filha, esse é meu pégaso, Blackjack.

–Bonita sua filha, chefe. - Aquela voz responde. Era o pégaso. Se ele não está mexendo a boca, como estou ouvindo os pensamentos de um pégaso? Ele me ouve?!

–Hum... Você também é. -Digo.

–O que está fazendo querida? -Pergunta Annie.

–Retribuindo o elogio. Acho.

–Que elo...? Você está ouvindo ele!

–Acho que sim.

–Você conseguiu entender o que ele está falando para mim? -Percy questiona.

–Muito Bem. Se não foi ilusão... -Respondo.

–Ei Chefe, acho que tenho uma companheira para ela. A Lizy! -Blackjack afirma.

E com o focinho ele aponta para uma divisória com um pégaso um pouco menos que ele, obviamente mais novo, com uma pelagem champanhe malhada de um tom mais alaranjado e cascos brancos.

–A minha prima é nova, mas é veloz e obediente, também muito precisa e esperta! -Completa o cavalo alado.

Vamos até a potro pégaso, que relincha quando eu acaricio seu macio e escovado focinho laranja.

–Você é linda, menininha. -Digo baixinho.

–Obrigada. -Diz uma voz dócil e feminina de criança.

–De nada.

Olho para trás e Percy parece feliz, mas Annie está confusa demais, o que é sinceramente engraçado já que ela é tão esperta.

–Ok. Ela fala com os cavalos. E isso nos leva a onde? -Annabeth questiona Percy que faz uma inclinação na cabeça, provavelmente ele estava pensando: ''Acho que é você quem faz as conclusões'' e ela continua. -Ela provavelmente tem sangue de Poseidon, mas continuo com a ideia de que tem o sangue da minha mãe também.

–Nunca houve alguém antes que teve o sangue de dois deuses? -Pergunto.

–Já houve alguns casos em que acharam isso, mas sem nenhuma confirmação a criança era determinada com o traço mais forte dentro dela, e como no final eram mortais mesmo... -Diz Annie.

–Morriam um dia! Legal, isso ajuda muito. - Digo ironicamente enquanto penso. - Podíamos falar com os deuses!

–É uma boa ideia em parte. Mas eles só se reúnem nos conselhos. -Explica minha mãe.

–Pois só precisamos de dois! -Afirmo.

–Eu sei filha, mas ainda assim seria difícil, convocar dois deuses, que não se gostam, quase sozinhos, na mesma sala.

–Talvez haja uma maneira. -Meu pai diz. -Os tronos!

–Percy, NÃO! Dá última vez você quase foi pulverizado. -Annabeth fala.

–Mas funcionou. -Ele afirma.

–É perigoso! -Ela rebate.

–Ei! Eu tô aqui, está bem?! E não estou entendendo quase nada. Já fizeram isso antes? -Falo.

–Éramos crianças. Para você ver como a ideia é boba. -Explica Annie.

–Se nós subirmos até o Olimpo e sentarmos nos tronos de nossos pais, eles irão até lá. É uma das únicas formas de chamar a atenção deles, isso ou esperar a próxima convenção. -Percy diz.

–Espera ai! Subir até o Olimpo? Onde ele fica? Como vamos chegar até lá? -Os questiono de uma maneira atropelada, estou dominada pela empolgação.

–Fica no topo do Empire States e bem... vamos de elevador, teoricamente subornando o vigia. -Ele explica com naturalidade.

–Olha o que ensina para sua filha cabeça de alga! -Adverte Annabeth.

–No topo do Empire States é? Por Quê? -Pergunto curiosa.

–Porque os Estados Unidos ainda são a maior das potências, e o Olimpo se localiza sempre no atual maior centro de influência. -Minha mãe diz como se fosse obvio, mas tentando não me rebaixar.

–Legal! -Exclamo.

–É...é mas, sentar no trono dos deuses ainda é perigoso, mais perigoso que antes creio. -Ela rebate.

–Porém eficaz! E não vamos colocar a Court em perigo! -Percy diz querendo convence-la, mas ela parece firme. -Isso não pode esperar, se ela tiver mesmo o sangue de dois deuses ... sabe que isso não pode esperar. Temos que fazer uma visitinha ao Empire States essa noite.

–Não sei Percy... -Diz Annabeth ainda não mostrando confiança.

–Acha que sua mãe vai me matar? -Digo.

–Não! Mas ela é muito esperta e inteligente, duvido que não tenha montado um sistema de armadilhas que só ela pode desarmar, para que assim só ela sente em seu trono.

–Pode ser. - Meu pai fala - Mas a senhorita sabidinha é muito inteligente, o bastante para desvendar isso lá.

–Nunca subestime a minha mãe Percy, Atena tem mais truques na manga do que qualquer um imagina.

–Podemos chamar Zeus! -Digo quase gritando de empolgação pela ideia brilhante.

Lizy relincha, provavelmente em concordância, sorrio para ela e continuo:

–Quando ele julgar que é importante pode convocar Atena, é a filha dele!

–Sim... Tem razão querida. Mas Zeus jogaria um raio em qualquer um em seu trono sem mesmo ver antes.

–Sei lá. Podemos colocar um para raio na cabeça ou um chapéu de borracha.

–Até que são ideias interessantes, mas tenho uma que acho que vai funcionar melhor. -Ela responde misteriosamente.

–Então... vamos sair daqui? Não aguento mais esse cheiro. -Digo e eles concordam, assim, vamos andando.


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