Sangue Divino escrita por Bianca Bittencourt


Capítulo 2
Cap.2 - Um passeio revelador




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/517549/chapter/2

Saio do local onde eu estava, não vi muito lá dentro, só que parecia bem antigo. Quando fui para o lado de fora, sentindo muito vento, vi o que só podia ser um acampamento, com algumas atividades de tortura, mas um acampamento com certeza. No centro havia um espaço vago e olhando ao redor se viam muitos chalés, com faxadas diferentes, em forma de um U bem comprido e quase fechado. Percebi que o cheiro de morango, que ficou mais forte, vinha de uma plantação, enorme, de morangos, á esquerda. Era um lugar bonito e que parecia bem grande, no topo de um planalto. Me explicaram que o limite era um pinheiro bem visível de qualquer ponto, principalmente pelo brilho do tecido dourado pousado em um dos galhos mais altos.
Logo constatei que se aquilo não era um sonho eu não sabia nada sobre o mundo, mas se pelo menos toda mitologia fosse verdade, eu já sabia bastante sobre ela. Enquanto andavamos em direção ao chalé 11 (que por sinal, parecia bem cheio e de uma fachada simples com um caduce contendo duas cobras enroladas em cima da porta), sentindo um vento gelado, cheiro de morango e... mato, ouvi o Percy dizer:
–Quíron, deixe-me tentar! Dez minutos. Por favor!
–Sabe que ela tem que se instalar. Logo é o almoço. -Disse o centauro, chamado Quíron... nome que aliás, já ouvi em algum lugar...
–Treinador de Heróis. -Sussuro.
–O quê disse? -Quíron questiona.
–Você! É um treinador de heróis!
–Sim, eu sou. Já treinei muitos heróis, mas tenho que confessar, seu pai é realmente um dos melhores.
Annabeth e Percy olham para ele incomodados, a moça, com raiva mas Percy parecia querer estar com raiva mas não conseguia, mas ambos desaprovavam a fala. Que legal... nem aqui querem que eu saiba sobre ele.
–Meu pai foi um héroi? -Pergunto.
–Está bem! Dez minutos, vá! -Ele diz ao Perseu, ignorando minha pergunta.
Se meu pai era um herói seria ele o lendário Perseu filho de Zeus? Não pode ser, ele viveu há séculos! E se a minha vó está viva ele teria que ser novo, então isso está praticamente fora de questão, e digo praticamente pois, não tenho mais certeza de nada por aqui.
–Vem comigo pequena. -Percy diz se dirigindo a mim.
–Para onde estamos indo agora? Não estavamos a caminho para o Chalé 11? -Questiono.
–Sim, mas vamos passar no lago antes.
–Então... tá.
Sigo ele em direção ao tal lago e Annabeth vem atrás de mim.
–Vocês conheciam os meu pais?
–Por favor, não pergunte nada agora vai saber tudo que quiser sobre os seus pais mas, depois. -Ele diz de um maneira melancólica que me fazia acreditar que ele sentia pena de mim pelos meus pais, o que me afligia ainda mais.
Olho triste para moça, porém ela parecia mais triste que eu, por algum motivo que eu desconhecia. Chegando ao lago, Percy se senta perto da água e surpreendentemente, para mim, não se molha quando a água bate em sua calça, e isso me assusta ainda mais.
–Sente-se aqui. - Diz o homem batendo a mão no chão, teoricamente areia, ao seu lado.
–Mas eu não quero me molhar! Está muito frio.
–Eu não vou deixar você se molhar. Sente-se.
–Como?
–Sente e verá.
–Ah... está bem.
Me sento ao lado dele naquele pedaço de praia com a Annabeth nos observando apenas a alguns passos atrás, o cheiro da brisa marinha e a umidade fazem com que eu me sinta bem melhor. Quando sinto a aguá bater na minha meia é como se eu sentisse que estou molhada sem estar! É...como estar coberta de plástico. Muito estranho com certeza, eu ficava aflita como se a barreira de plástico pudesse estourar a qualquer momento.
–Sei que vocês não querem responder. Mas, por favor, só digam se meus pais estão vivos. Só isso!
Percy olha para o mar batendo em suas pernas e se volta novamente para mim.
–Sim, estão. - Ele responde.
Eu sorrio olhando para o céu como se agradecesse ao Sol, que se encontrava no momento quase no ponto mais alto de sua trajetória, por meus pais estarem vivos. Será que eles estão por essa colina? Como gostaria de saber! Mas sei que não dirão nada se perguntar.
–O que você sente? - O moço me questiona.
–Hã?
–Perto da água. O quê sente?
–Sei lá, eu gosto, acho. Sempre gostei do mar, da vista, da textura intável, de nadar. Sempre achei fascinante.
–Bom...e acha que se sente mais forte?
–Não força tanto Cabeça de Alga. - Diz Annabeth.
–Vocês não são amigos, né? - Digo.
A moça sorri assentindo com a cabeça e diz:
–Somos casados.
–O-oh... - Pronuncio.
Ela ri e eu falo:
–Desculpa, é que, vocês moram em um acampamento mágico, parecem novos, ...
–Tudo Bem. - Responde ela ainda com um sorriso lindo e delicado no rosto.
–Isso é serio pequena. Preciso que se concentre no que sente perto d'água. -Diz Percy.
–Eu gosto, me sinto bem, como se tivesse alguma ligação com ela. -Ele me olhava com atenção. -Como... se pudesse controla-la.
–Tente. -Ele quase que ordena.
–Hã? Mas isso é impossível!
–Como costumam dizer, o caminho para o impossível é acreditar que é possível.
–Por quê vocês continuam aqui?
–Não fuja do assunto, se concentre.
–Só responda por favor, preciso de respostas!
–Está bem. Aqui é um dos únicos locais seguros para nós. Agora pode tentar?
–Annabeth você tem um apelido? - Pergunto.
–Ah... PELOS DEUSES! - Percy fala irritado.
–Calma meu bem. Ela tem nível de Déficit de Atenção ainda maior que o nosso lembra? - Annabeth diz. - E pode me chamar de Anna ou Annie, se quiser.
–Ou sabidinha... - O homem diz baixinho porque provavelmente esse, apelido, deve ser para irrita-la.
–Bem... Anna é muito comum então vou te chamar de Annie. Está bem? E, espera, vocês também tem...
–TDAH? Dislexia? Sim. É raro um semideus que não tenha. -Explica a mulher.
–Todos os meios-sangues tem?
–A maior parte. - Diz Percy.
–São seus reflexos de batalha e sua tendência para língua do grego antigo. - Completa Annie.
–Interessante... -Falo pensativa.
–Temos que ir logo! -Percy interrompe.
–Eu não posso controlar a água! - Digo irritada. - E quem consegue?
–Parece ... que, nós dois. - Ele diz olhando fascinado para trás.
–O quê foi?
E então olho para trás e meu queixo cai, as algas formaram um ponto de interrogação na água, em uma pequena onda que ficou meio congelada por alguns segundos, já se desmanchava.
–Bom talvez não possa controlar diretamente a água mas pode mexer no que há nela. - Afirma o moço passando a mão pelo local onde estava a figura anteriormente e movimentando a região com com a mão como se formasse um mini furacão.
–Como faz isso?
–Sou filho de Poseidon, querida. -Ele explica dando de ombros mas humildemente e olhando para o horizonte. - Não somos muitos desde a profecia, os três grandes ainda devem estar meio traumatizados, principalmente meu pai.
–Seu pai? Tipo o Deus dos Mares? Você acha que ele é meu pai?
–Não. Poseidon não é seu pai pequena, mas você tem pelo menos parte do sangue dele nas veias... é quase inegável.
–Mas como isso seria possível?
Ele ignora o que digo, se levanta, e diz:
–Vamos, se você conseguir fazer isso de novo acho que convencemos o Quíron a te deixar no 3. Mas agora vamos para o 11. Depois converso com ele.
–E ela vai almoçar com o Chalé de Hermes? Nada Disso! -Annabeth indaga.
–Ei. Por que vocês se importam tanto? E Annie... você é filha de que Deus?
–Deusa! Minha mãe é Atena.
–A...a... Deusa da Sabedoria?
–A própria.
–Que legal. Até que você tem cara de sábia.
–E isso é bom?
–Sim.
–Então fico feliz.
Chegamos no Chalé 11, o de Hermes, eles se despedem e falam para que eu me vista com uma roupa mais quente. Eles são o que? Meus Tutores? Devem ser. Parecem chiclete! O Chalé era consideravelmente tumultuado, muito desarrumado e cheira a suor chulé e uma mistura ainda maior de coisas, com colchões por toda parte e móveis colocados meio que em aleatório, aquela bagunça me deu até tontura.
Um menino chamado Ryan (até que bem arrumadinho pra alguém que vive nisso) de face fina e sorriso travesso me recebe fala que uma das camas a esquerda pode ser minha e me dá um kit com uns utensílios básicos, tipo toalha, escova de dente, etc. Me dirijo aos banheiros, que eram do lado de fora. Tomo um banho, bem rápido pois o frio estava muito forte. Visto um moletom azul, que a Annabeth enviou para o 11, e botas pretas, assim me sinto bem melhor! Finalmente, quase não sinto frio.
Nem entro no Chalé e já pedem para que eu desça os acompanhando. É estranho como todos parecem me conhecer me conhecer mesmo sendo completos estranhos. Nos fomos a um lugar bem grande e cheio de mesas bem grandes, que pelo cheiro (de comida, e gordura, e queimado?) era com certeza o refeitório onde eles comem. Logo não sei para onde ir. Até que topo com a Annie e ela me leva até a mesa dela, seus irmãos tinham todos olhos acinzentados independente do outro tom de cor no olho deles. Percebo que Annabeth é a mais velha sem dúvida.
–Você deveria estar com o Chalé de Hermes mocinha. - Fala Quíron vindo até a mesa 6.
–Mas... - Começo a falar.
–Ninguém está incomodado! Só você, e também não acho que alguém vai tentar tira-la daqui. -Annie diz como se fosse um comentário e não uma ameaça.
O homem-corcel branco apenas assente, mesmo incomodado, não creio que ele quisesse discutir, a moça não parecia alguém que perdia uma luta, mesmo que verbal ou moral. Mas por que ela me queria tanto perto dela? Tem mais alguma coisa ai!
–Por que está cuidando de mim?
–Logo vai entender. - Ela responde até que melancolicamente.
–Logo...logo, odeio isso!
–Paciência é importante.
–Você não parece muito paciente.
–Então está bem. Achou algo em comum entre nós.
–Além do cabelo e do olho...
–É...
–Eu meus pai são semideuses heróis, não é? Isso faz tudo que a minha vó falava fazer sentido. -Falo meio distraída.
–É esperta pequena.
–Você os conhece?
–Pode se dizer que sim...
–Como assim, ''pode se dizer''?
–Ei. Chega de perguntas, vamos a nossa oferenda aos Deuses e você tem que comer mocinha. -Ela pareceu minha vó dizendo isso.
Nós vamos até uma fornalha grande. Não entendi muito bem como funcionava, mas antes de comer, todos depositavam parte da comida e falavam o nome de um Deus. Derramei parte da minha comida e lá disse ''Poseidon'', porque, sei lá, pareceu conveniente. Depois voltamos a mesa, de Atena, e comemos. Annabeth me observa toda hora, o que é estranho, intimidador e estava me incomodando.
–Você tem quantos anos? -Questiono Annie.
–Tenho vinte e nove querida.
–Eu tenho...
–Onze anos, eu sei, eu sei tudo sobre você pequena, não deixei nada passar.
–Por quê? Como?
–Sua vó nunca deixou de me manter informada.
–Por quê? Por quê me quer tão perto de você?
–Já disse, mais tarde. Mais tarde terá respostas.
Faço uma cara raivosa que mais parece triste, isso parece chateá-la mas ela mantém a cara firme como se mandasse em mim. Ah, isso me deixou com mais raiva, até pensei que o cheiro de queimado, que ficou mais forte, vinha dos meus nervos. Volto a comer, e depois que termino, pergunto meio irônica:
–E para onde devo ir agora?
–Para Casa Grande onde nós iremos conversar. Aquele primeiro lugar onde esteve, sabe?
–Sei, mas, nós quem?
–Eu, você e o Percy.
–O-ok.
Ela sorri e diz:
–Eu posso ir com você, é só você esperar um...
–Não! Obrigada, eu vou indo sozinha na frente, pode deixar.
Annie assente com o olhar, que estava meio triste, e eu vou. Saio daquele lugar já me afastando do cheiro de gordura, queimado e uma mistura estranha podendo sentir melhor o cheiro de morango que pairava no ambiente na maior parte do tempo. Ando para frente, cruzo a ala com os chuveiros e banheiros ao lado dos chalés e depois de passar pelo local das artes e artesanato sigo até a Casa Grande. Você deve estar se perguntando como eu sei a localização de tudo, eu recebi um mapa e o decorei por via das dúvidas, mesmo não sendo difícil localizar uma casa enorme lá no meio. Fico na porta esperando os outros chegarem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!