Sangue Divino escrita por Bianca Bittencourt


Capítulo 22
Cap. 22 - A caça e o caçador, no caso, a caçadora.


Notas iniciais do capítulo

Sim, hj é quarta e antecipei a postagem do cap!
Ferias são um negócio maravilhoso... mesmo quando se tem um livro para terminar.



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Penso que se morrer desse jeito vai me garantir o Elíseo provavelmente. Não deve ser tão mal. Mas e os outros? Nathan? Sophie? Meus deuses...

Ouço o monstro urrar e abro os olhos. A besta se contorce tentando escapar da chuva de prata que desce em cima dela. São... flechas, flechas de prata, elas estão queimando o Mishepishu. Cada flecha que o atinge faz jorrar sangue negro e lodoso no pelo dele. Mas o chicote de Sophie possui prata, por que, então, não funcionou?

Nathan parou de correr para observar estupefato o grupo de garotas, enfileiradas na beirada da praia. Cada uma delas segura um arco de tamanho médio. São elas que atiram freneticamente contra o monstro. Todas elas vestem uma espécie de uniforme, calça e blusa comprida na cor cinza e botas de coturno marrom. Atrás delas, a Lua parece brilhar mais intensamente, formando um cenário lindo. Da onde elas vieram?

A Pantera D’Água finalmente tomba no chão e então, se transforma em uma chuva de poeira negra. As garotas abaixam seus arcos e continuam na mesma posição, apenas duas delas saem da formação e caminham em nossa direção, na verdade, na minha direção. Agora que me dou conta de que são varias arqueiras, mas não há menino, elas devem ser a caçada.

Nathan e Sophie finalmente se recuperam do choque e veem até mim. Como Nathan já estava correndo em minha direção ele chega primeiro ao meu lado. Ele coloca a mão no meu ombro e sacode de leve, eu me dou conta de que estou rígida e mecho minha cabeça, passando os olhos por toda ilha. Sinto tudo rodar a minha volta quando percebo que o perigo realmente passou. Estou viva, mas o choque de quase ter sido cortada em pedaços me assombra ainda. Cambaleio e Nathan me segura. Sou obrigada a passar a mão em torno do pescoço dele para não cair. Se isso devia ser desconfortável eu não ligo, ainda me sinto tonta demais. Com a adrenalina deixando de fluir, finalmente começo a sentir a dor do corte no meu braço, e de alguns ralados na perna.

Sophie se aproxima preocupada, avalia meus machucados mordendo o lábio e tira meu cabelo do rosto. Uma das caçadoras, a que parece mais velha, grita:

– Lucy!

Uma garota de uns doze anos sai da formação e corre em nossa direção. Chega na minha frente a uma velocidade incrível, afasta Nathan sem muita delicadeza e me senta no chão com cuidado.

– Lucy é uma ótima curandeira, ela vai te ajudar. – Diz a mesma garota que gritou. Diferente de Lucy que é pequena e têm cabelos claros, essa menina tem cabelos escuros, repicados na altura do ombro, e olhos incrivelmente azuis.

A que está mais para trás se aproxima. Ela tem cabelos ondulados cor de chocolate e olhos gelo, aparenta uns treze anos, o arco dela brilha mais que o das outras garotas.

– Sou Ártemis, - ela diz em voz melodiosa, depois abre os braços, indicando a formação de garotas na praia – e essas são minhas caçadoras.

– Não foi assim que Percy descreveu a senhora. – Diz Nathan. Meu pai conheceu a deusa da caçada? Alias... é realmente uma deusa peculiar, bem jovem.

– Quando Percy me conheceu eu já estava com aquela aparência há séculos. Decide mudar um pouco. – Ártemis responde. – E você é... ?

– Nathan Sunform. Filho de Apolo. – Havia até me esquecido que mesmo ele sendo órfão devia ter o sobrenome da mãe morta.

– Ah, claro. Um dos filhos do meu irmão. E essas duas adoráveis mocinhas? – Ela se vira para mim. - Você me lembra muito uma heroína de grande potencial, querida.

Sei que devia responder algo, mas as palavras simplesmente não saem, nem para que eu possa dizer que admiro muito essa deusa em particular. A Caçada de Ártemis sempre me pareceu fantástica.

– É a filha dela, minha senhora. – Afirma a garota dos olhos azuis marcantes. Como ela pode sabe? – Não fazia ideia de que era assim tão parecida com a Annabeth, Courtney. – Como ela sabe meu nome?

– Quem é você? – Pergunto. Minha voz sai bem baixa, é realmente difícil força-la a sair quando está tentando se livrar do choque quase-pós-morte e uma caçadora está passando substâncias estranhas que ardem na sua perna, mas a moça consegue ouvir.

– Sou Thalia, chefe das caçadoras. Já fui a melhor amiga da sua mãe, cuidei dela. As circunstâncias nos afastaram, mas ainda continuamos muito amigas. – Pelo quanto ela parece mais jovem deve ter sido há muito tempo que se juntou a caçada.

– Uma pena que a garota não tenha se juntado a nós. – Diz Ártemis.

– Ei – Digo. - Está falando da minha mãe, se ela tivesse se juntado a vocês eu não teria nascido.

A deusa não responde nem esboça reação.

– Como conseguiram matar aquela coisa? – Indaga Sophie.

– Estamos procurando esse monstro há semanas, mas só poderíamos localizar direito quando ele saísse da água e entrasse em ação. Que foi o que aconteceu. – Explica Thalia.

– O que usaram para matar ele? – Questiona Nathan. - Estou certo de que não foi só prata.

Thalia retira uma flecha da alijava, que apoia no ombro, e segura na mão.

– As flechas são de prata, mas a ponta é de ametista. Ametista é a única coisa que pode queimar a pele de um Mishepishu e deixa-la vulnerável, e mesmo na pele vulnerável só há um metal que pode cortar o monstro, a prata.

– Ametista com prata. – Murmura Sophie. – É, realmente isso não tem na composição do meu chicote. Alias, sou Sophie Diway.

– Na verdade, Sophie. Seu chicote possui, sim, ametista. – Observa Ártemis. – No cabo.

A filha de Afrodite examina o cabo, e eu também. É mesmo, o cabo é de ouro, encrustado com linhas finas de rubis e ametistas.

– Eu tinha que ter tacado o cabo primeiro. – Constata Sophie. – Nunca adivinharia isso.

– É realmente um monstro difícil de matar. – Diz Lucy, enquanto enfaixa meu braço e eu tento não gemer. Ela parece simpática.

– Obrigada. – Digo à Ártemis. – Se não fossem vocês, já estriamos os três mortos.

A deusa apenas sorri. Nathan parece que ia protestar, mas se cala quando Sophie lhe repreende antecipadamente com os olhos.

– Acho que todos precisam descansar. – Fala Thalia.

– Não sei se algum de nós consegue voltar a descansar agora. – Confessa Nathan.

– Também não, e tenho motivos para acreditar que algo vai acontecer de manhã. E não deve envolver as caçadoras. – Digo.

– Mesmo assim. Deveriam dormir o máximo que puderem para estarem atentos de manhã. Nós ficaremos vigiando. – Afirma a moça. Depois ela se abaixa e cochicha para mim: - Por favor. Sabe que é o que seus pais pediriam para você fazer.

– Está b... – Ia dizendo quando Nathan me interrompe:

– E devemos simplesmente confiar em vocês?

– Tem melhor opção, Nathan? – Diz a deusa.

– Não me sinto confortável indo dormir tendo um bando de garotas como vigias. – Ele rebate.

– Também não iremos nos sentir muito confortáveis vigiando você. – Diz Lucy.

– Dou a minha palavra de que nada vai machucar vocês enquanto estivermos de vigia. – Ártemis promete.

O filho de Apolo avalia a deusa com o olhar. Ártemis permanece com a expressão impassível. Nathan finalmente se rende:

– Está bem.

– Se espalhem e vigiem a área. – Ordena a deusa. As caçadoras não parecem gostar, mas não ousam dizer nada, apenas fazem o que foi pedido. Ela então se vira e me entrega um cartão prateado, faz o mesmo para Sophie. De onde ela tirou isso? Ela sorri. – Caso decidam se juntar a nós um dia.

– Vocês tem cartão? – Pergunto.

Ártemis dá de ombros, se vira e se junta as caçadoras que se espalham pela área, Lucy a acompanha.

Me juntar as caçadoras... não é má ideia. Eu já sou mesmo imortal e elas parecem boas companheiras. Thalia parece muito simpática e conhece minha mãe. Pode ser uma boa saída. Mas agora não é hora de pensar nisso.

Sophie examina o cartão coma testa franzida. Será que existem filhas da deusa do amor que passam a negar os homens? Devem haver, sim, existe de tudo nesse mundo, não é mesmo?

– Como anda meu irmão, Jason? – Pergunta Thalia.

– Você é a irmã do Jason? – Indago.

– Sim. Sou a irmã mais velha dele. – Acrescenta: - Por mais que não pareça.

– E realmente não parece. – Comenta Sophie.

– Seu irmão anda bem. Não falei muito com ele, mas parece um cara legal. – Digo.

– Ele e Piper são pessoas maravilhosas. – Diz Sophie. - Lola também.

– Não os vejo desde de que a segunda menininha nasceu. – Explica Thalia.

– Espera. Eles têm duas filhas? – Questiono.

– Sim. Você não viu a outra porque é pequena e costuma ficar em Nova Roma, com uma amiga do Jason, quando ele vai para o Acampamento Meio-Sangue. Eu nunca a vi também, só ouvi Lola falar dela ás vezes. – Sophie diz.

– Ela deve estar bem. Tenho certeza de que Reyna daria a vida para protegê-la. – Thalia afirma. Quem será Reyna?

Nem percebo que Nathan havia se afastado até ouvir o estalido. Nós três nos viramos e encaramos o filho de Apolo, que está com a mão em cima da bochecha e uma expressão entre o indignado e o raivoso. Por que ele tinha que arrumar confusão com uma delas?

– Temperamental essa menina, não é mesmo? – Sophie fala.

– Lucy é filha de Íris - Thalia diz, ela é a que parece mais espantada -, uma das caçadoras mais dóceis e pacientes que temos. Ela só não tem um bom histórico com filhos de Apolo.

Maravilha. Caminho até chegar onde está Nathan. Lucy já se afastou a passos largos e pesados.

– O que você fez? – Indago cansada. Não é uma repreensão, a pergunta soou tediosa.

– Nada. Essa garota é doida. – Ele diz. – Seria compreensível se eu tivesse tentado flertar com ela, mas não fiz isso. – O quê? Eu não a achei assim... atraente, mal reparei na verdade. Por algum motivo, agora odeio mais a garota do que ele. – Eu só estava conversando com ela, e falei que preferia ficar acordado a ter ela como vigia. Dai começamos a brigar e ela me deu um tapa.

– É melhor irmos dormir logo antes que as coisas consigam piorar. – Digo.

– Tem razão. – Diz Sophie, que chegou silenciosamente ao meu lado de algum modo. Só não me assusto porque estou cansada de mais para isso. Meu corpo todo dói. E me sinto estranha com todas essas ataduras. Sophie só tem um ralado no joelho, mas Nathan...

– Nathan. Você está mais machucado que eu, devia...

– Prefiro morrer a deixar uma delas fazer curativos em mim. – Ele afirma.

– Está bem. – Digo levantando os braços em sinal de rendição, descubro que isso dói também. – Aliás, é melhor você dormir afastado de mim e da Sophie, para que elas não criem caso. – “Apesar de que gostaria mais de você ao meu lado como vigia” quase acrescento. Por que pensei nisso? As caçadoras vão ser ótimas vigias noturnas. Não seja idiota, Courtney...

– Verdade. – Nathan concorda. – Mas você disse que tem certeza de que Hécate vai nos ajudar, tem alguma ideia de como?

– Disse o quê? – Indaga Sophie.

– Eu consegui pensar melhor sobre o que Hécate falou, Sophie, e conclui umas coisas. Quando ela disse que não podia desfazer o que tinha sido feito é porque na verdade, nada pode ser desfeito. – Os dois levantam as sobrancelhas. – Não sem voltar no passado. O que foi feito, está feito, mesmo que um dia você conserte aquilo, não muda o fato de que já aconteceu. Desfazer é um termo vazio entendem?

Nathan balança a cabeça em concordância. Sophie ainda parece confusa.

– Ela acabou por deixar nas entrelinhas que não pode fazer nada sozinha contra Nyx, já que ambas são deusas, mas que nós podemos fazer alguma coisa. Podemos mudar a situação. Tem uma saída! Não percebem?

– Incrível como conseguiu deduzir tudo isso. – Diz Sophie.

– Agradeça meu subconsciente.

– Mas o que acha que Hécate vai fazer para nos ajudar? – Pergunta Nathan.

– Bom, ela deixou claro que nosso próximo passo é encontrar Nyx. E tenho motivos para acreditar que ela habita em uma parte da Terra. Eu já estudei sobre o local. Sei para onde temos que ir, mas de barco ficaria muito longe, então, de alguma forma, Hécate vai nos fornecer um atalho.

– E para onde estamos indo? – Diz Nathan.

– Chile. – Digo. - Eu explico melhor depois.

– Tá bem. Tem certeza disso?

– Não exatamente. Se você tiver uma ideia que se encaixe melhor que a minha depois que eu explicar, então podemos rever o plano, caso contrário, vamos seguir com o meu.

Dessa vez, é ele quem levanta os braços em sinal de rendição.

Uns dez minutos depois, estou deitada observando a Lua e as estrelas que brilham mais que o normal. Não consigo cair no sono, até porque, todas as posições em que me coloco são desconfortáveis devido aos machucados. Penso o quão ruim deve estar sendo para Nathan tentar dormir. Thalia aparece e diz baixinho:

– Sua amiga parece não ter tido problemas para dormir. – Me viro e vejo que ela tem razão, Sophie dorme como um bebê, respirando fundo. – É uma menina forte emocionalmente pelo que pude ver, muitas filhas de Afrodite se deixariam abalar facilmente. Tem bons acompanhantes. O garoto parece valente.

– Obrigada. – É o que consigo dizer. – Como sabe que Sophie é filha de Afrodite?

– Chicote multicor com pedras preciosas, cabelo meticulosamente penteado e roupas que combinam. Foi só um palpite na verdade.

– Bom palpite. – Digo.

– Vai se sair bem nessa missão. Esse tipo de coisa deve estar no seu sangue. Relaxa um pouco. – Thalia diz. – Vou ficar aqui vigiando você pessoalmente. Vai me lembrar todas as vezes em que vigiei a criança assustada que era Annabeth dormir.

– Não consigo imaginar Annabeth como um criança assustada.

Nós duas rimos, o mais baixo possível para não acorda Sophie.

– Sua mãe e seu pai devem estar tão felizes em ter você de volta.

– Também estou feliz por ter eles. – Sorrio.

– Agora fecha os olhos e esquece que está em uma missão heroica, pensa que... está tendo férias paradisíacas.

– Difícil, mas posso tentar.

Thalia sorri e se agacha ao meu lado. Fecho os olhos.

Estou numa floresta à luz da Lua. Os animais estão todos quietos. Ártemis está a minha frente, falando, com Thalia ao seu lado. Estou em um circulo de caçadoras, vestida de cinza, como elas. Eu sou uma delas.

Todas parecem se divertir, e eu estou sorrindo. Parece agradável. Mas... eu me sinto vazia de alguma forma. Meus olhos percorrem as meninas ao meu redor como se procurasse algo mais. Sophie. Sophie está entre as caçadoras e sorri para mim. Minha amiga está aqui comigo, mas ainda assim... algo não parece certo. E então...

Vejo Nathan atrás de uma árvore. Me levanto e começo a andar em sua direção. Ninguém se incomoda em prestar atenção em mim, é como se fosse invisível. Sinto como se uma corda estivesse me puxando para trás, resisto contra ela e continuo me movendo. À medida que me aproximo do filho de Apolo minha aparência vai se transformando, vai mudando. Meu cabelo se solta. Minha blusa se torna azul. Minha calça se torna preta. O arco, que nem percebi que estava segurando se transforma no arco que escolhi para a missão. O coturno que estou usando se transforma em meu tênis all star laranja. Até que chego frente a frente à Nathan, ele estende a mão para mim e tudo desaparece quando estendo a minha.

Abro os olhos.

A primeira coisa que percebo é que não estou na ilha. Eu estou em um quarto, um quarto de visitas deduzo, já que não há nenhuma decoração que evidencie algo particular. Aonde vim parar? Onde estão Nathan e Sophie?


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Notas finais do capítulo

:3 Onde será gnt? No sábado vocês descobrem ;)



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