Sangue Divino escrita por Bianca Bittencourt


Capítulo 16
Cap.16 – Uma missão suicida, mas não sozinha.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite.
Comentem gnt .-. eu gostaria de saber se vocês estão gostando e o que esperam.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/517549/chapter/16

As palavras que Rachel disse ainda martelavam em minha cabeça enquanto eu abatia os inimigos no caça bandeira, os do time azul, com minhas adagas, em pontos onde não os machucasse seriamente.

Campistas me disseram que normalmente o chalé de Poseidon fica no Time Azul, e o de Atena, no Time Vermelho; mas como eu pertenço aos dois eles tiveram que colocar os dois no Time Vermelho, o que significa que também estou lutando ao lado dos meus pais. Falaram também que algo ainda mais raro aconteceu hoje, Atena e Ares não estão no mesmo time, são inimigos -o que dificulta muito minha situação agora, pois, são ótimos guerreiros- ainda bem que luto a distância.

Estou na defesa, nossa bandeira está atrás de mim, por entre as pedras do “Punho de Zeus”, eu estou posicionada no topo do grande monte de pedras, sem usar poder algum apenas minhas adagas, abatendo todos que ousam se aproximar, que são poucos, já que pra chegar aqui, os do Time Azul tem que enfrentar nossa equipe de ataque, pelo que eu vi não parece tarefa fácil. Apesar de que, passar por mim também está se mostrando bem difícil, talvez só porque eu seja boa com as adagas e tenha um bom impulso ou talvez porque tento me concentrar o máximo que puder para esquecer... tarde demais. Para cada pessoa em quem jogo uma adaga num intervalo de aproximadamente quinze segundos uma frase flui pelos meus pensamentos.

“Pelo seu domínio vai viajar.”

Ataco. Uma garota um pouco mais velha que eu de cabelos cor de fogo cai com um corte superficial na cocha.

“A Deusa inesperada vai encontrar.”

Ataco. Um garotinho que deve ter um ano a menos que eu mais que aparenta ter bem menos sai correndo deixando o arco cair por causa de um corte no braço.

“Numa Nova encruzilhada estará metida,”

Ataco. Um garoto encara surpreso um corte na lateral do seu tronco.

“Na Nova cidade declarada proibida.”

Ataco. Cai uma garota bem maior que eu com um corte horizontal na clavícula.

“Laços maiores que de família vai criar.”

Ataco. Cai um garoto, aproximadamente da minha idade.

“A Noite irá encontrar,”

Ataco com fúria, esse verso é o que mais se repete, faz com que eu me sinta aterrorizada, angustiada e... motivada. Uma garota enorme despenca com um corte quase profundo no ombro. Preciso me acalmar.

“E em face com o destino, sua jornada terminar.”

Não ataco, a face de Rachel, com fumaça verde e uma voz nada natural, dizendo essas palavras paira sobre meus olhos. Não preciso me preocupar, nem tinha porque atacar já que quando o garoto, alto, veloz e magro, se aproxima de mim, Annabeth o derruba. Ela insistiu em ficar por perto, e não posso dizer que protestei contra isso, porque não o fiz, eu na verdade até gosto de ver pessoas que querem tanto assim me defender.

Percy e Annabeth pegam bem leve nos jogos, Sophie me disse, já que, se eles fossem pegar pesado, venceriam sozinhos, e eles parecem bem capazes disso, quase todos aqui parecem muito bons lutando, mas os meus pais, são literalmente os heróis desse lugar, são o centro das maiores lendas.

O jogo transcorre assim por mais dez minutos, poucos se aproximam, a maior parte desaba surpreendida ao ser atingida, aqueles que eu não ataco não passam pela Annabeth. Richard, o que pelo que lembrei recentemente é o nome do filho de Clarisse pega a bandeira do Time Azul, o que é ligeiramente irônico já que a mãe dele está no time inimigo ao dele, ela está com o Chalé de Hermes, com o pai suponho – pensando bem, deve ser uma das vantagens na verdade, ser o único que Clarisse não ataca com fúria.

Finalmente acabou, estou cansada, as palavras que tanto tento esquecer martelam em minha cabeça cada vez mais forte e extraindo cada vez mais energia de mim. Minhas pernas estão quase gritando de dor por estarem a tanto tempo de pé se equilibrando em pedras irregulares. Desço devagar com uma dor constante que pelo menos me distrai.

–Devia ter sentado um pouco. –Diz Annabeth, quando vem até mim depois que termino de descer.

–Não miro bem sentada. –Respondo.

–Bobagem, e você sabe que eu estava aqui e ninguém iria passar por mim. –Ela diz sorrindo, aposto que uma adrenalina as vezes faz bem a ela. –Mas você realmente fez um ótimo trabalho, abateu quase todos que vinham para cá sem precisar de uma mínima ajuda.

–Acho que estava bem focada. Tentando não pensar, sabe?

–Sei muito bem. Porém, você deve estar se segurando para não explodir o cérebro, então, vamos sair daqui e conversar...

–No Chalé de Poseidon. –Acrescento. –Por favor! É bem melhor lá.

Ela parece levemente abatida mais responde num tom bem normal.

–Está bem.

–...é mais quieto. –Digo, para tentar reverter o erro com o “melhor”.

Annie assente com a cabeça e coloca a mão em meus ombros.

–Está machucada? –Ela questiona. Minha mãe parece só ter sido arranhada, observo.

–Não. Só uma flecha de raspão na perna, nem está sangrando. –“Graças aos deuses, porque eu, sinceramente, não quero ver que cor ele vai estar”. Quase falo para completar, mas sei que não é necessário, Annie ira deduzir isso automaticamente.

Ela dá uma olhada, constata que é mesmo só isso, e então me conduz para longe dos outros, que festejam amontoados. Ela sabe que eu não quero ficar cercada, agradeço mentalmente a Atena pela mãe sabia que me deu.

Mais tarde, estamos todos no Chalé 3. Annabeth sentada ao meu lado me encara apreensiva. Percy está sentado na cama a minha frente, ele está meio vermelho e suado, parece ligeiramente eufórico também. Uma maneira estranha de descrever os pais, penso. As mangas da blusa do meu pai estão bem levantadas, evidenciando uma marca preta, uma tatuagem bem parecida com a de Jason Grace, a mesma sigla, mas o desenho é um tridente e tem menos linhas abaixo, todo resto evapora dos meus pensamentos.

–O que é essa tatuagem? –Indago, apontando o braço de Percy.

–Uma lembrança de que eu prestei serviços como um romano. –Ele responde sorrindo, encarando a marca. –Mas isso não é assunto para agora, não é mesmo? O que a Rachel te disse? –Ele questiona objetivo, com isso ele ganha um olhar de repreensão de minha mãe, mas ele não se incomoda, está concentrado em mim.

–Não sei se foi bem ela... –Começo.

–Ah, não. Então foi mesmo uma profecia. –Constata Annabeth, visivelmente arrasada.

–O que evidencia isso, a fumaça ou a voz? –Digo com uma leve ironia.

–Os dois. Querem dizer que o espirito de Delfos estava falando por meio dela. –Responde Annie meio avoada, obviamente centrada nos próprios pensamentos. Subitamente, aqueles dois olhos cinzas brilhosos e incisivos me encaram e ela pergunta: -Qual foi a profecia?

Pressiono os lábios. Não gostaria de ter que cita-la, mas não tem outra saída, eles são meu maior auxílio. Então, começo a recitar.

–“Pelo seu domínio vai viajar./A Deusa inesperada vai encontrar./Numa encruzilhada estará metida, na nova cidade declarada proibida./ Laços maiores que a família vai criar./ A Noite deve encontrar, e em face com o destino, sua jornada terminar.” Foi isso. Palavra por palavra.

Meus pais se entreolham.

–Aposto de deduziu algumas coisas disso. –Annabeth diz, ainda encarando apenas os olhos de Percy, que sustentam os dela.

–Sim... como... vou viajar pela água, o que parece um teste e tanto para meu controle, devo esperar para que alguma deusa apareça, já que inesperada obviamente quer dizer que ela vai aparecer por si mesma e não adianta procurar. Vou ter que fazer algum tipo de escolha. Vou fazer amigos leais. E a parte da qual eu devo mais temer, pela qual eu mais anseio, tenho que encontrar Nyx. E eu mal faço ideia do que a ultima parte quer dizer, talvez esteja relacionado a encontrar As Parcas, algo assim.

–Não teria dito melhor. –Confessa minha mãe agora encarando o chão.

–E isso era o que eu temia, e provavelmente o que você temia.

Ela assente ainda com a cabeça baixa.

–Eu me sinto fora de sintonia diante duas moças tão sabidinhas. –Diz Percy. Ele parece estar tentando descontrair, o que me faz sorrir, e parece que os olhos dele brilham mais ao me ver sorrir, mas isso logo se apaga quando ele vê que a esposa, apesar de ter levantado o olhar, apenas o encara com tristeza. –Independente disso, acho que ambas tem que descansar um pouco agora e amanhã discutiremos os preparativos para missão. –Annie abaixa a cabeça novamente, como se tentasse se livrar de admitir que haverá uma missão.

–Preparativos? –Indago.

–Amanhã. –É o que ele responde.

Apenas balanço a cabeça, permitindo a mim mesma finalmente ficar com sono. Meus olhos pesam. Annabeth se levanta e puxa as cobertas para cima de mim, que já estou me ajeitando, deitada. Ela beija minha bochecha e murmura “Bons sonhos” e sai do chalé. Quando minha visão já é apenas escuro ouço uma voz, clara mas que parece distante, dizer “Boa noite” e sinto que meu pai me beija na testa. Até que tudo some.

Tenho um sonho muito estranho onde tudo se resumia a ouro, eu era como o Rei Midas, extremamente horrível. Sei que provavelmente está relacionado ao fato de eu ainda estar traumatizada por ter visto meu sangue dessa cor. A manhã está começando, consigo perceber pelo brilho ainda muito pálido do céu, um azul aguado. Ansiedade me domina, como me sinto no dia da Natal. Mas o que estou ansiando? Estou ansiando me preparar para uma perigosa missão? Será que enlouqueci?

Percy ainda está dormindo, mas logo que me sento ele abre os olhos, esfrega eles e se senta também.

–Quais são os preparativos? –Questiono com uma voz sonolenta e calma.

Ele sorri, os olhos cor de mar acentuados pelo ambiente demonstram cansaço por mais que ele tente parecer entusiasmado.

–Na verdade é você quem vai ter que pensar neles, só vou dizer os tópicos.

Porque não disse a noite, então? Mas é claro! Annabeth. Ele queria que ela se afastasse e fosse descansar, passou tanto tempo assegurando minha segurança que saber que caminho voluntariamente para o perigo deve estar deixando ela bem mal.

–Tem como eu negar ir?

–Você concordou em ir assim que concordou ouvir Rachel. –Ele responde com uma cara que diz “Desculpa”, não sei o porque a culpa seria dele.

–Tudo bem. Quais são os tópicos? –Digo imitando o tom entusiasmado e objetivo que ele tenta fazer.

–São coisas básicas, o resto, como equipamento, nós providenciaremos. –Sinto que esse nós soou mais abrangente que o “nós” de “eu e sua mãe”. –Você precisa de dois acompanhantes, e armas próprias de cada um, e tem que decidir por onde começar.

–Ótimo. –Respondo sem nenhum entusiasmo. Acompanhantes? Dois? Armas? Há.

–Ainda está muito cedo. –Constata Percy. –Quer ir treinar um pouco antes de comer?

–Porque não?

Ele sorri. Quinze minutos depois estamos na arena. Vesti uma calça legging preta, tênis All Star laranja claro com estrelas brancas e a blusa laranja de manga comprida do acampamento, meu cabelo está preso por um elástico preto num rabo de cavalo alto. Percy está vestindo uma bermuda branca gasta e a blusa laranja, pelo visto, o frio matinal não é valido para heróis adultos treinados.

Me surpreendo ao encontrar mais duas pessoas treinando no local, mas não deveria, são Mark e Nathan. E há também um grupo de três garotas os observando de cima enquanto treinam, eles não parecem se incomodar, devem estar acostumados a atenção em todos os horários, pelo que posso ver daqui. Depois de pegar um punhado de facas finas que estavam pela arena, eu me sento com elas no colo e espero meu pai fazer o mesmo. Depois que estamos os dois sentados, encaro os dois meninos com rápidos movimentos, digo a ele em um tom baixo:

–Eles lutam muito bem, não acha?

–Sim. –Ele responde hesitante. –Seriam ótimos acompanhantes, apesar de que ambos tem dois anos a mais que você e eu realmente gostaria que você escolhesse duas meninas. Talvez do Chalé de Atena e Ares...

Dou uma risada curta em silencio, fazendo meus ombros tremularem.

–Está bem, está bem. A escolha é toda sua, e pensando bem, esses são os mais confiáveis para mim.

Reviro os olhos, mas sorrio logo em seguida. Levanto meus olhos para o grupo de garotas e meu olhar reconhece uma. Sophie. Murmuro um “Com licença” para Percy, coloco as adagas de lado e vou falar com ela, logo que ela me vê se levanta se dirigindo até mim.

–Court! Essas são Cloe e Clare Greenlight. –Ela diz apontando as outras, agora que vejo com atenção que percebo que devem ser gêmeas, as duas tem cabelo ruivo claro, mas uma tem o cabelo ondulado e o da outra é um cacheado definido, e os olhos tem quase a mesma cor, porém enquanto o de uma se mostra azul o da outra é visivelmente violeta.

–Olá. –Digo para as duas, que respondem sorrindo ligeiramente e acenando.

Sento com Sophie em um ponto mais para baixo e para a esquerda das outras meninas.

–O que faz aqui, Courtney? –Ela pergunta com uma seriedade brincalhona.

–Vim treinar. O que obviamente não é seu proposito. –Digo estreitando os olhos.

–E perder a vista? –Ela indaga sorrindo.

–Faz isso toda manhã?

–Quase toda. Vale o esforço. Ver ele lutar é divino. –Ela responde com um tom sonhador.

–Quem?

–Nathan, claro. Ah, sim, deve estar confusa porque são dois, é... Mark também não é nada mal de se apreciar.

–Hum.

Observo os dois garotos, os músculos sobressaltados, os movimentos rápidos, as gotas de suor que se prendem ao cabelo. Confesso. Não é nada mal. Mas esse não é meu foco.

–Tenho uma missão. –Despejo as palavras o mais rápido que posso.

–Você o que? –Diz Sophie se virando para mim com uma expressão espantada.

–Recebi uma profecia. Tenho uma missão. –Respondo com calma.

–Que fascinante Court!

A maior parte as meninas como ela responderiam algo como “Meus pêsames”, mas me lembro do primeiro dia em que falei com ela, a filha de Afrodite disse que estava meio excluída no chalé, pois confessava que queria ir a uma missão, ser uma guerreira e não só uma patricinha. A frase que ela me disse dias atrás ecoa na minha mente: “Quero lutar, me sentir guerreira, me sentir... útil”. Ela merece isso tanto quanto qualquer uma, e eu sei que ela é capaz de muito mais que socos desajeitados se ela se esforçar. Isso me lembra também o arquivo sobre a missão do meu pai, o qual eu nunca mais toquei, e talvez não toque mais...

–Você deve saber que eu preciso de dois acompanhantes. Quero que vá comigo. –Afirmo.

–Você quer... que eu... eu? –Ela diz com os olhos brilhando.

–Exatamente.

–Mas... eu não sou a melhor guerreira, não sou nem boa com o charme, os outros vão achar que você pirou. Não pode fazer isso.

–Posso e já fiz, se você aceitar claro. Eu sei que você consegue, Sophie. Tenho certeza. Quero que vá comigo.

–Tem... tem certeza?

–Absoluta.

Ela pula em cima de mim, me abraçando fortemente.

–Obrigada, obrigada, obrigada! Eu aceito ir com você. Vai ser uma honra!

Sophie se afasta e eu sorrio ao ver o quanto ela está feliz, eu sei que essa é a escolha certa. Eu sinto.

–Ainda tem que escolher mais alguém. –Ela diz melodiosamente, e eu entendo o que ela quer dizer.

–Também acho que preciso de um bom lutador, Sophie. Mas, eu mal conheço Nathan, e não quero envolver Mark nisso, eu adoraria ter a companhia dele, mas ele precisa ficar, e melhor para ele.

–Concordo em relação ao Mark, mesmo sem saber do que está falando. Mas em relação ao Nathan, fala sério, olha para aquilo, é uma máquina, e ele só está treinando com uma espada convencional, você tem que ver tudo que ele pode fazer, é serio. Não eu dizendo para levar ele com a gente só porque ele é gato, está bem, muito gato. Estou falando isso porque seu pai treinou ele e confia nele, e eu confio que ele é bom pelo que já vi ao longo de algumas manhãs.

–Tem razão.

Minha resposta a surpreende. Ela levanta as sobrancelhas e me encara, surpresa e cética.

–É serio. Tem razão. Ele parece ser a melhor opção. E é quase da família, não é mesmo?

Sophie apenas sorri.

–Vou falar com ele. –Digo.

–Vou com você!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sangue Divino" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.