Sangue Divino escrita por Bianca Bittencourt


Capítulo 15
Cap.15 -A Minha Maldição.


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos 20 acompanhametoss^^
Boa noite.



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–Depois que vencemos a batalha contra Gaia, -Annabeth diz vencemos com ênfase clara, não há vencedores quando as perdas são muitas, eu sei disso- nós passamos o resto do ano treinando aqui, foram meses agradáveis, e então fizemos o ultimo ano do ensino médio e no ano seguinte nos mudamos para Nova Roma. –Ela sorri melancolicamente e continua: -Percy comprou um apartamento para que morássemos juntos enquanto cursavam a faculdade, foi... um gesto tão lindo que não consegue negar que eu queria.

Percy sorri carinhoso e cautelo a encorajando. Ela olha para cima com um olhar que claramente recordava boas lembranças.

–Acabou que mal fizemos faculdade. No primeiro mês estávamos muito centrados, no segundo começamos a sair mais, para aproveitar, o mês nem era tão carregado, ainda era inicio do ano letivo, e então... eu descobri. –Annie olha para o chão antes de prosseguir deixando Percy apreensivo, mas eu permaneço imóvel, silenciosa, apenas assistindo, e não sei se isso soa muito insensível, mas não me importo, não é isso que quero saber agora. -Disse a mim mesma que era impossível apesar de no fundo saber que eu estava grávida, eu queria negar a mim mesma, porque achei que isso só iriam piorar as coisas que andavam tão bem, apesar de as vezes ter esperança de que fosse real, porque eu queria que fosse, não era o momento que eu teria escolhido, mas ainda era algo que eu não podia negar que queria.

“Então eu sonhei com Hera, dizendo que estava feliz por mim, e colocando o crédito em si mesma, dizendo que como nós salvamos os Olimpianos também e Percy e eu tivemos um papel bem grande e quase morremos, nosso sangue despertou Gaia mas também a derrotamos, apesar de eu achar que Leo tem mais parte nisso que nós, enfim, ela disse que tinha me abençoado por eu ser uma guerreira tão boa e namorar um dos guerreiros de ouro dela, ela achou que nós podíamos ser uma família perfeita, e por isso tinha me concedido a benção da fertilidade. –Annabeth arfou com a lembrança. –Eu sabia que aquela Deusa Vaca estava se divertindo muito com aquilo, não enxergava como uma benção, não naquele momento.” Apesar de dizer palavras amargas ela luta para manter o tom neutro e calmo, sem exclamar ou se exaltar.

“No dia seguinte minha mente girava e meu coração apertava, tinha que contar, não precisava de certeza maior que aquela, eu tinha certeza de que estava grávida e não podia guardar isso para mim, ia me enlouquecer e eu não poderia tomar decisões assim, tinha consciência o bastante para saber que não dependia só de mim. Levei seu pai até um local que gastávamos de visitar de manhã, e... contei, mal lembro como consegui, mas contei.” Percy levantou uma sobrancelha mas abaixou rapidamente, ela parecia a ponto de interferir, devia querer isso para que ela não precisasse fazer sozinha, porém era visível que ela queria falar tudo de uma vez sem interrupções então ele apenas encarava a areia.

–Eu pensei que ele fosse ficar calado, sem ação e depois pirar ou... eu nem sei tudo que passava pela minha cabeça mais, só me lembro de que estava com uma expressão aterrorizada, mas seu pai pegou a minha mão e disse que ia ficar tudo bem, confesso que senti vontade de bater nele –ela se vira e sorri para Percy, que retribui o sorriso-, talvez pelo pavor, nem importa eu estava desolada até mesmo para ficar nervosa. Ele me levou para casa sem dizer nada no caminho, cauteloso até de mais, sei que estava com medo de que eu me exaltasse. Em casa, Percy me acalmou e disse que estava tudo bem por ele, e que íamos dar um jeito, ela parecia feliz mas mesmo assim contido, fez eu me deitar e ficou do meu lado sem dizer nada, só me deixando pensar, e eu conclui que aquilo não devia ser um pesadelo, mas sim uma benção, esse era o nome, eu tinha transformado em outra coisa, e eu percebi que não tinha nada que eu quisesse mais do que uma família, percebi como tinha sido boba, percebi que aquilo não era errado, não devia ser. O mês seguinte foi o melhor da minha vida. Não contamos a mais ninguém, não me sentia preparada, mas estávamos mais felizes que nunca, décimos continuar estudando por mais um tempo, eu sempre ficava olhando as mães brincarem com os filhos no parque e imaginando o quanto aquilo seria maravilhoso. Nós dois estávamos tontos de tanta alegria. E então, -expressão da minha mãe se fecha em uma mistura de terror e amargura, meu pai abaixou ainda mais a cabeça- ela apareceu.

“Numa noite, eu me lembro vagamente de ter dormido de mãos dadas com Percy, o que provavelmente possibilitou que estivéssemos conectados quando sonhamos com Ela, provavelmente estava esperando por isso. Nyx. Nyx apareceu nos nossos sonhos para nos dizer o que tinha feito, para nos condenar, fazer daquela a pior noite da minha vida.”

Ela pausa e respira, parece que vai continuar mas não consegue, um lagrima escorre de seu rosto. Fico assustada, horrorizada e curiosa, me sinto mal por essa ultima parte também. Percy levanta a cabeça, percebe que ela esta péssima e vai até ela instantaneamente, a abraça e permite que ela enterre a cabeça em seu ombro. Annabeth murmura algo, deve ter sido algo como “continue” porque foi o que ele fez.

–Nós reconhecemos o lugar, já estivemos lá antes, não foi agradável, fechamos os olhos porque sabíamos que o lugar ainda podia ser pior do que imaginávamos, só ficamos parados enquanto ouvíamos a voz, a voz dela, sombria e pairando sobre nós, dizendo coisas que jamais vamos poder esquecer. –Ele respira fundo. Fecho os olhos tentando imaginar o quão terrível devia ter sido estar impotente diante daquilo, afinal, era um sonho.

Percy recita:

“Não foi fácil conseguir me comunicar com vocês dois, mas eu tinha que fazer isso pessoalmente, tinha que ter o prazer de anunciar, e não posso fazer as honras da casa já que não temos muito tempo. Gaia se agradou muito em ajudar na minha vingança contra vocês, com a ultima e qualquer magia que conseguisse restituir e concentrar. Akhlys também se colocou aos meus serviços. A Noite, a terra, a miséria e os venenos. Ainda assim, atingir vocês seria muito difícil sem enfurecer os deuses, semideuses de ouro do Olimpo, mas a criança, ninguém tem conhecimento dela, nessa eu posso e vou interferir, vou amaldiçoa-la para punir vocês, para que se lembrem que por culpa de vocês uma criança inocente vai sofrer. Nunca poderão viver em mesmo território que a filha de vocês sem que ela adoeça e tenha sua força vital tomada pela terra, talvez, apenas em seu lugar sagrado de sua crença, sua maior fonte de segurança, no Acampamento Meio-Sangue os efeitos sejam amenizados, mas não creio que é um local adequado para criar uma criança e mesmo que consigam, bebês são frágeis, não se precisa de muito para que adoeçam, não é mesmo? Escolham o que querem ser, pais irresponsáveis ou não ser pais. Se duvidam tentem uma terceira opção se estiverem dispostos a arriscar.”

A voz melancólica de Percy já havia se perdido em minha cabeça, o que eu ouvia era uma voz fria, sombria e cruel, soava como os monstros que eu imaginava em baixo da minha cama quando pequena, e quando ele parou de falar e passou a encarar o horizonte eu podia jurar que ouvi um riso de escarnio finalizando o terrível discurso.

Quando me dou conta do que acabei de ouvir levo a mão á boca. Como eu poderia imaginar que era isso? Qualquer um pensaria que eu estaria os culpando agora, pelo que foi feito comigo, mas eles tem expressões tão desoladas, mal conseguem olhar pera mim, não consigo nem cogitar culpa-los se eles já vivenciam esse culpa vividamente. Só consigo culpar a mim mesma por ter piorado tudo. Por que eu não imaginei que havia algo mais? Por que os fiz reviver isso? Por que eu os culpei por me abandonar? Por que gritei com eles tanto desde que cheguei aqui?

Eu... sou amaldiçoada. Eles podem ter sido amaldiçoados com a culpa, mas essa é a minha maldição, sou eu quem não posso ficar perto deles, eles tem um ao outro, mas eu não pude tê-los, talvez eu devesse chorar, talvez eu quisesse mas estou tão chocada que não consigo me mover, não consigo ter tempo para pensar em ficar triste vendo os dois na minha frente com expressões de que viram um fantasma –apesar de saber que eles já devem ter visto coisa muito pior- totalmente desolados como no sonho que tive, só parece mais controlados agora, por minha causa. Uma brisa do mar faz meus cabelos esvoaçarem e me tira dos meus devaneios.

Tenho que dizer alguma coisa, tenho que tentar consola-los, amenizar isso enquanto eu ainda não sinto tanta dor por isso quanto eles... alguma coisa, qualquer coisa.

–Isso é horrível, é repugnante. –Digo fazendo-os levantar o olhar e me encarar, sinto o peso daqueles olhares, todo consolo que eu poderia dar se esvai, não há como. –Mas como... como vocês tem certeza?

Surpreendentemente quem responde é Annabeth. Ela levanta a cabeça, e vejo tentando não demonstrar susto, o quão vermelhos estão os olhos dela, estão vermelhos e desesperados de uma maneira que nunca tinha visto antes. Ela se desvencilha de Percy, que mesmo assim se mantém próximo a ela, com a mão em torno de sua cintura, como se a qualquer momento ela pudesse desabar. Annie me olha com cautela e diz:

–Não arriscaríamos descobrir, deuses não brincam quando querem se vingar. –Uma voz grita em minha cabeça “Como assim vocês me abandonaram sem ter certeza de se eu ficaria pior com vocês?” e outra vozinha respondeu “É claro que eles tinham certeza, não seja idiota!”, ouço a minha razão e fico quieta, normalmente é o melhor a fazer. –Mas certeza mesmo, eu só tive quando você nasceu. Uma boneca, tão lindinha, com cabelos ralos, mas claramente cor de areia escurecida com um toque de dourado e olhos verde-água acinzentado como pedras brutas de ágata, e que eu tive que entregar a outra pessoa.

“Os meses após aquele sonho foram só sofrimento, a lembrança constante de que eu queria você nos meus braços mas eu temia o momento em que fizesse isso porque eu sabia que logo depois teria que me afastar de você. Logo depois que nasceu, quando os médicos disseram que poderia ir para casa, você começou a piorar, a adoecer e foi ficando pior, tive que pedir para que transferissem você para um hospital em Nova York, e passamos sua guarda à Sally também naquele dia, sua avó disse que no dia seguinte teve uma melhora súbita e já pode ir para seu novo lar, com ela. –Annabeth tenta sorrir para me confortar como se dissesse “Eu fiquei feliz porque estava bem” mas saiu tão triste e melancólico que era fácil acrescentar “Por mais eu obviamente tenha ficado um caco” a sentença. Percy a encara apreensivo mas não interrompe. –Fomos ao apartamento, pegamos nossas coisa e viemos para cá. Nunca mais voltamos a Nova Roma, porque dói demais lembrar da vida que poderíamos ter tido. Da família que poderíamos ter sido. Sinto muito, Courtney.

Lágrimas escorrem dos olhos que pareciam cor de aço, e ela as seca sem relutância.

–Eu é que sinto muito. Não culpo vocês. –Digo.

–A culpa de você não ter tive a vida que merecia é nossa, não tem como você não nos culpar. A quem mais pode culpar? –Minha mãe indaga.

–Nyx! Gaia! Akhlys! E até Hera posso culpar. Mas não vocês. Vocês visivelmente sofreram tanto quanto eu, e talvez até mais, são tão vitimas quanto eu. Eu é que sinto muito. –Afirmo. E não estou mentindo, é exatamente o que sinto, sinto por eles, porque ainda não sinto nada, é como se a pancada tivesse sido tão forte que a ferida ficou adormecida, esperando para voltar gradualmente até o insuportável, eu sei que vai chegar a esse ponto.

Annabeth se aproxima de mim, relutante, como se temesse que eu escapasse, ela é mais alta que eu, mas nem tanto, talvez só uma cabeça, fico me perguntando se ela já seria alta nessa idade como eu, e depois me pergunto como posso estar pensando em coisas tão banais depois do que ouvi. E algo dentro de mim diz: “É porque agora eles contaram para você, abriram o coração para você, e você quer se abrir para eles, quer aceita-los como seus pais, quer ter eles de volta” e a voz aguda da minha razão diz: “Não deveria estar morando no mesmo lugar que eles, você ouviu a maldição e aqui ela só está amenizada, depois de tudo que fizeram para te manter bem, você devia voltar para sua vó e deixa-los em paz, olha como estão mal!” e eu respondo a mim mesma “Como minha mente pode ser tão insensível diante disso? Olhe para eles! Eles precisam de mim... e eu preciso deles.”

Mesmo sem perceber eu me jogo na minha mãe e a abraço quase que involuntariamente, mas depois que percebo o que estou fazendo e como ela ficou surpresa e feliz, eu aperto o abraço e vejo Percy sorrindo a poucos centímetros. Me afasto de Annie e abraço meu pai que é ligeiramente mais alto e faz com que eu tenha que ficar na (meia) ponta dos pés, ele afaga meu cabelo até eu me afastar.

Depois que me afasto um pouco dos dois e Percy coloca o braço em torno dos ombros de Annabeth, encaro os dois de frente para eles e digo sorrindo com sinceridade:

–Não culpo vocês, nem nunca vou culpar. Isso que fizeram comigo foi na verdade para punir vocês, como poderia culpar vocês? Talvez o fato que eu já tivesse nascido com o fardo de sofrer com vocês só faça de nós ainda mais uma família, e daqui em diante nós vamos dar um jeito mesmo que eu não possa morar com vocês, eu nunca vou deixar de ser a filha dos dois heróis maravilhosos que lutaram tanto para me proteger.

Os dois sorriem radiantes, olham um para o outro depois voltam a me encarar, tenho a sensação de que iriam me abraçar de novo se...

–PERCY! ANNABETH! –Uma voz de mulher grita.

Quando ela se aproxima consigo focalizar melhor seus olhos verdes, os longos cabelos ruivos flutuando como fogo enquanto ela corre em roupas coloridas, parece alguém simpática, para não descrevê-la como pessoa que destruiu meu memento em família. Parecia ter a idade dos meus pais.

–Rachel? –Indaga Annie.

–É, é, eu mesma. –Ela diz ofegante. –Estava procurando vocês por toda parte. –E então ela se vira para mim e seu rosto parece iluminar. –Na verdade, eu estava procurando por ela. Se não estiver enganada...e não, não estou, você deve definitivamente ser Courtney Marie. –Ela estende a mão para mim, são mãos delicadas e levemente sujas de tinta seca: -Prazer em conhece-la, sou Rachel Dare, o Oraculo daqui.

–Como se tivesse mais de um. –Murmura Percy, mas a garota ruiva só sorri enquanto aperto sua mão.

–Por que estava procurando tão desesperadamente pela nossa filha? –Pergunta Annabeth.

–Eu... tenho feito desenhos constantes sobre ela, e já que ela está aqui...

–Acha que pode ter uma profecia para ela?

–Acho.

–Profecia? –Indago.

–Ah, não. –Começa minha mãe, ignorando minha confusão. –Não, não, não. Ela é nova de mais Rachel. Não é possível.

–Só tem um jeito de saber.

Annie fica apreensiva e abre a boca para responder quando Percy pega sua mão e diz:

–Não tem nada que você possa fazer. Se ela tiver mesmo uma profecia não tem nada que possamos fazer, tem que a deixar ouvir.

A filha de Atena assente com a cabeça.

–Está bem, pode leva-la com você para descobrir, eu tenho que dar aula agora. –Ela dá um beijo rápido em Percy e se volta para mim: - Independente o que ouvir ou não ouvir aproveite o seu dia e tente não pensar nisso, o.k.? Se não nos encontrarmos no almoço, te vejo no caça bandeira, querida. –E então ela sai correndo, provavelmente em direção ao que nomeei “Templo das Artes e outras aulas às vezes chatas que eu não assisto nunca” .

–Quer que eu...? –Diz Percy.

–Não. Preciso ficar só com ela para me concentrar melhor. –Rachel responde, objetiva.

–Então... até mais.

Achei por um segundo que ele iria correr como Annie, só que ele só virou para o mar. Rachel pegou minha mão e saiu correndo, me arrastando velozmente.


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Notas finais do capítulo

Profecias... :3



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