O fruto de um amor escrita por eliana


Capítulo 1
Lembranças dolorosas


Notas iniciais do capítulo

OláEste capítulo é essencialmente para contextualizar a história, tanto que apresenta vários flash back e memórias do que aconteceu nos últimos 5 anos, desde a partida de German e Violetta. Espero que gostem.



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Angie Pov’s on:

– Mamã! Mamã acorda! Estamos atrasadas, vá lá, acorda!

A voz doce da minha filha era o mais belo dos despertadores… mas não podia acordar-me um pouco mais tarde? A contra gosto, espreguicei-me e abri os olhos para encarar uma cabeça loira e um par de mãozinhas minúsculas a tentar arrancar-me da cama.

– O que é que se passa, Maria? – Perguntei, ainda ensonada. - Para quê tanta pressa?

– Estamos atrasadas para a escolinha, mamã! São 8:17, temos menos de 15 minutos para nos arranjarmos! Vá lá, o que é que eu visto? Pode ser esta saia? Ou este vestido, se calhar é melhor. Não, que tal…

Não acredito que esta garota me acordou por causa disto. É mais cabeça-de-vento do que eu (e eu deixei a fasquia muito alta).

– Maria… - Chamei.

– E calçado? O que é que eu calço? Pode ser umas sapatilhas? Ou chinelos?

– Maria…

– Levo alguma coisa no cabelo? Não, que disparate, não temos tempo para isso! E que tal…

– Maria Clara Carrara, és capaz de me ouvir? – Elevei um pouco o tom. Ela parou especada na mesma posição em que estava, mas não abriu a boca. – Que dia é hoje?

– Segunda. – Respondeu.

– Certo, segunda, dia 16 de Junho. Isso lembra-te alguma coisa? – Ela negou com a cabecinha, ainda confusa com o estranho questionário. – Estás de férias, Maria.

– Ah… pois é.

Ela corou um pouco e coçou a parte de trás do pescoço, envergonhada. Subitamente o meu sorriso desapareceu, ao lembrar que German também tinha esse hábito nas mesmas circunstâncias… especialmente no dia em que ele me pediu em casamento.

Flash Back on:

Eu tinha acabado de entrar no jardim quando choquei contra alguém.

– Desculpe, n…não o vi – Disse nervosa assim que percebi que tinha acabado de chocar com o próprio German.

– Não tem mal, eu ajudo-te – Prontificou-se rapidamente a ajudar-me a apanhar as pautas que entretanto tinham caído na relva. No processo, ainda agachados, as nossas mãos tocaram-se e eu fiquei mais vermelha que um pimentão ao ver que ele não tinha intenções de a remover ou de me largar.

– Angie…

– Não, German… não dá. Já ficou provado o suficiente que entre nós não pode acontecer absolutamente nada, não insistas.

Tentei levantar-me, mas ele adiantou-se e prendeu-me os ombros com as mãos, impedindo-me de me afastar.

– Eu sei que nunca vou poder apagar da tua memória o quanto sofreste por causa da Esmeralda e pelas minhas mentiras sobre o Jeremias, mas acredita que nada do que fiz foi com intenção de te magoar. – Disse ele olhando-me nos olhos - Eu achava que conseguia tirar-te da cabeça se houvesse outra mulher na minha vida, e acabei por ficar cego, amarrado à memória da Maria através da Esmeralda. Tentei acreditar que conseguia amar uma cópia dela, quando na verdade já te amava a ti. – Nesta altura, já escorriam rios de lágrimas dos meus olhos que eu já não podia conter. Ele começou a coçar a parte de trás do pescoço e continuou. - Acredita, se o arrependimento matasse, eu já era um cadáver há muito tempo. Eu sei que já o disse uma vez, mas tenho de voltar a dizê-lo: eu amo-te, Angie, e não quero passar nem mais um segundo afastado de ti. Queres casar comigo?

Nesse momento, Violetta saiu para o jardim e, como estávamos ambos abaixados, não nos viu e acabou por tropeçar no German, caindo para cima de mim.

– Autch – Reclamou ela. – O que é que vocês faziam os dois aqui no chão… - Subitamente apercebeu-se daquilo que disse, arregalou os olhos, sorriu e o seu olhar mudou de curioso para malicioso. – O que é que vocês faziam os dois aqui no chão? – Repetiu, alternando o olhar entre mim e o pai.

– A tua tia estava agora a dizer que aceita a minha proposta.

– Desculpa? – Pasmei, arregalando os olhos para ele, que sorria como um diabrete, certo de que tinha acabado de me encurralar. Ignorei o ar interrogativo da minha sobrinha, que continuava ajoelhada encostada a mim e acrescentei: – Eu ainda não aceitei nada!

– Disseste bem, “ainda”. Sabes bem que não queres outra coisa.

– Não faço a mínima ideia do que vocês estão a falar – interrompeu a Violetta, sem ter a noção do que o próprio pai tinha acabado de me pedir -, mas o que quer que seja, Angie, aceita. O pai não costuma fazer más propostas.

– Ela tem razão – incentivou ele novamente, deixando-me completamente corada e sem argumentos. – Como é que vai ser, aceitas?

– Mesmo que eu diga que não, não vais deixar de me chatear com isso, pois não?

– Sabes bem que não.

Respirei fundo, ganhei coragem e arrisquei. Decidi que já estava farta de deixar que tudo nos separasse e fiz a última coisa que esperava fazer hoje no momento em que acordei:

– Aceito.

Flash Back off

– Mamã? Estás aí?

Só despertei dos meus devaneios quando ouvi a minha menina chamar-me enquanto abanava a mãozinha à frente dos meus olhos. Balancei a cabeça, incomodada com o facto de estar novamente a pensar nas duas pessoas que mais me faziam falta e que mais me magoaram. Respirei fundo e voltei novamente a minha atenção para a Maria.

– Desculpa, querida. Disseste alguma coisa?

– Perguntei se, enquanto estou de férias, podia ir contigo para o Studio em vez de ficar com a avó. Vá lá, mamã, eu prometo que me porto bem – tentou convencer-me. – Posso ficar a pintar ou a brincar enquanto tu trabalhas… por favor, eu gosto tanto do Studio…

– Não sei, Maria – duvidei – tenho de perguntar ao Pablo primeiro, mas não tenhas muitas esperanças. E mesmo que ele diga que sim, não quero que incomodes ou distraias os alunos. Prometes?

– Sim, prometo! – Gritou ela, saltando da minha cama para o chão. – Podemos ir ao parque antes de irmos? Ainda é cedo.

– Sim, porque não?

Sem muita pressa, vesti-me a mim e à minha filha, tomámos o pequeno almoço, lavámos os dentes e saímos para o parque onde ela brincava todos os dias. Enquanto ela se divertia no baloiço, sentei-me num banco de jardim e comecei involuntariamente a pensar no dia em que perdi para sempre a minha sobrinha e o homem da minha vida.

Flash Back on:

Tinha acabado de chegar à mansão depois de mais um jantar com o meu ex-cunhado e atual noivo quando Ramalho apareceu a correr para chamar o German.

– Desculpa, meu amor – murmurou ele enquanto me beijava a testa. – Tenho mesmo de ir, o detetive está cá e, ao que parece, tem notícias sobre o roubo do dinheiro.

– Tudo bem, eu espero na sala.

Beijei-o e sentei-me no sofá a ver televisão enquanto ele se dirigia para o escritório com Ramalho para falar com o tal detetive. Não passaram nem 10 minutos quando a porta do escritório se abriu com um estrondo e um German furioso avançou na minha direção. Preocupada, levantei-me do sofá para ficar de frente para ele, mas antes que eu tivesse tempo de perguntar alguma coisa, ele agarrou-me o braço com força e empurrou-me contra o corrimão da escada atrás de mim. Surpreendida, gritei com o susto e com a dor que depressa se fez sentir nas minhas costas.

– Foi por isso que voltaste de França, não foi? – Atirou ele enquanto eu tentava processar o que estava a acontecer. – Para me roubares? Para me fazeres acreditar que ainda gostavas de mim quando tudo o que querias era o meu dinheiro?

– Do que é que estás a falar? – Perguntei, desorientada. – Eu nunca roubei nem nunca tentei roubar nada, muito menos a ti!

– O que é que se passa aqui? – Interveio a Violetta, descendo as escadas à pressa, assustada com a confusão. Ignorando a filha, German continuou.

– Estou a falar do facto de o MEU dinheiro ter desaparecido e subitamente ter voltado a aparecer, mas na TUA conta! Como é que tiveste coragem?

– Eu não fiz nada! – Defendi-me. – O único dinheiro que eu tenho na minha conta é o meu, não me culpes por um crime que eu não cometi! – Pedi, profundamente magoada.

– Peço desculpa, menina Angeles – Interveio o detetive do Ramalho -, mas eu próprio verifiquei isso, o dinheiro do senhor German foi há pouco tempo transferido para a sua conta.

– Eu não tenho nada a ver com isso – tentei apelar ao bom senso deles, mas parece que não consegui. – Não sou nenhuma ladra…

– CALA-TE! – Gritou o German, apontando para a porta. – Sai imediatamente desta casa! E não te atrevas a voltar a pôr aqui os pés!

Desesperada, olhei para eles na esperança que alguém confiasse em mim, mas não tive sorte. Violetta olhava-me com desilusão e lágrimas nos olhos. Ramalho e Olga fixavam o chão de boca fechada, e German só me olhava com raiva e mágoa. Sem outra opção, abandonei aquela casa com lágrimas nos olhos, desiludida por ninguém acreditar em mim.

No dia seguinte, tratei de reenviar o dinheiro para a conta do German. Ainda não sabia como tinha ido parar à minha conta, mas achava que, com o tempo, iria descobrir. À tarde, quando me preparava para ir até à mansão falar com o German com mais calma, tocam à campainha. Quando abro a porta, recebo um abraço de urso da Olga e mil e um pedidos de desculpa dela e do Ramalho por não terem confiado em mim. Puseram a confiança e o carinho que sentiam por mim à frente de qualquer desconfiança, e isso, para mim, valeu de muito. Quando pergunto pelo meu cunhado e pela minha sobrinha, Olga começa a chorar e Ramalho avança com a notícia que eu mais temia ouvir: German e Violetta partiram, para nunca mais voltar.

Flash Back off:

– A pensar no espetáculo?

Quase salto do banco ao ouvir uma voz atrás de mim, mas relaxo assim que reconheço a sua dona.

– Nem por isso – respondo, ao arranjar espaço no banco para a rapariga se sentar –, mas se calhar devia.

– Deves é relaxar, andas a trabalhar demais.

– Tenho de o fazer, Kim, é a minha obrigação.

Kim era uma adolescente de 17 anos que eu tinha contratado para cuidar da Maria quando andava demasiado ocupada com o meu trabalho no Studio, mas ela depressa se tornou mais do que uma empregada para mim. Era pouco mais baixa do que eu, mas um verdadeiro furacão. Era morena, com o cabelo negro ondulado a bater nas costas, magra e com olhos castanhos vivos. Órfã de mãe, vivia com o pai, Leonardo, que depressa se tornou o meu melhor amigo e que eu considero um irmão.

– Estavas a pensar neles, não é verdade?

Suspirei e baixei a cabeça em concordância. Ela era das poucas pessoas que sabiam da verdadeira história com todos os pormenores.

– Desembucha – continuou. – Sei que precisas de expulsar tudo o que tens entalado na garganta, por isso, como dizem na televisão, “Deita cá pra fora!” – imitou ela com a voz aguda. Foi impossível não rir.

– Passaram 5 anos desde que eles se foram embora – desabafei. Sabia que precisava daquilo. – Quando descobri que estava grávida, enviei e-mails ao German e à Violetta com a notícia e a primeira ecografia que fiz. Não queria fazer com ele o que ele fez comigo ao esconder-me a Violetta. Não recebi resposta. Todos os meses enviava-lhes e-mails com fotos, vídeos e notícias da Maria: quando começou a gatinhar, quando disse a primeira palavra, quando deu os primeiros passos… Nunca recebi um único e-mail em resposta, nem do German, nem da Violetta. – Nesse momento, não consegui controlar as lágrimas e comecei a soluçar. Ela abraçou-me em silêncio e eu continuei. – Um dia, quando ela tinha dois anos, pediu-me um copo de água. Estendi-lho e ela tentou segurá-lo, mas quando o fez, a mão passou uns centímetros ao lado do copo e só agarrou o vazio. Eu perguntei-lhe se ela estava bem, mas assim que o fiz, desmaiou. Quando, no hospital, me disseram que ela precisava de um transplante de medula, senti que me tinham tirado o chão debaixo dos pés. Fiz o teste para ver se era compatível, mas deu negativo. Como a compatibilidade é maior entre pessoas com o mesmo sangue, telefonei e enviei mais e-mails ao German e à Violetta a pedir que viessem, mas nada. Estava desesperada, e eles não tiveram a decência de responder. Se não tivesse aparecido outro dador compatível, a Maria não tinha sobrevivido. – Senti um aperto no coração só de pensar novamente nessa possibilidade.

– Estás com medo que a Violetta venha para o espetáculo? – Arriscou ela enquanto me alisava os cabelos.

– Sim – admiti. – Tenho medo, mas não sei porquê.

– É normal, Angie. Mas não te preocupes, se correr alguma coisa mal, tens-me a mim, ao meu pai, a Olga, o Ramalho, o Pablo, o Rafa, o António… - nomeou, contando as pessoas com os dedos. - Estás rodeada de pessoas que fariam tudo para te ajudar.

Ergui a cabeça e olhei-a nos olhos com um sorriso sincero.

– Obrigada por me ouvires – disse. – Precisava de desabafar com alguém. És uma grande amiga.

– Mas não tao grande como a Beca, não é verdade? – Não pude evitar rir com a afirmação e inevitavelmente lembrei-me da minha melhor amiga. – Agora anima essa carinha que já estás atrasada, já devias estar no Studio há dez minutos.

– O QUÊ? E SÓ ME DIZES AGORA? – Gritei enquanto saltava do banco e corria a tirar a Maria do baloiço, ignorando os seus protestos.

– Não perguntaste…

Foi a última coisa que ouvi antes de pegar na Maria ao colo e começar a correr em direção ao Studio, já a pensar no sermão que ia ouvir do Pablo.

Angie Pov’s off

Violetta Pov’s on:

Finalmente estava sentada no avião que me levaria de volta a Buenos Aires. Já não via a hora de voltar à minha verdadeira casa, rever o meu quarto, a praça, o parque… mas principalmente o Studio. Estou ansiosa por ver como evoluiu, ver os novos alunos, reviver memórias… e voltar a ver os meus amigos no espetáculo que o Pablo organizou. Tenho tantas saudades deles… sobretudo da Francesca. Não nos falamos desde que a Angie…

Balancei a cabeça e bati com os punhos com força na cadeira do avião. Estava outra vez a pensar nela. Não conseguia deixar de o fazer, de me perguntar constantemente se ela ainda estava em Buenos Aires, se continuava a ser professora de canto no Studio como ela tanto gostava, se estava bem… desde que eu e o meu pai mudámos de e-mail e de números de telefone que nunca mais soube nada dela. Mas talvez seja melhor assim. Ela pode ser minha tia, mas também é a maior traidora que conheci. Nunca me esquecerei da desilusão que senti quando descobri que ela só tinha voltado de França para roubar o nosso dinheiro. Ela era a pessoa em quem eu mais confiava, que eu considerava como minha mãe… mas parece que nem na própria família se pode confiar. Ela é minha tia, como é que me pôde fazer isto? E ao meu pai?

Não pude evitar e olhei para ele pelo canto do olho. Estava triste, provavelmente a pensar no mesmo que eu, agora que íamos finalmente voltar.

– O que é que se passa, Violetta? – Perguntou a Esmeralda do seu lugar, fazendo com que o olhar do meu pai também se voltasse para mim. Já namoravam há algum tempo, desde que ela se ajoelhou na frente do meu pai e pediu perdão por tudo, afirmando que o amava, mas que tinha sido obrigada a enganá-lo por culpa da Jade e do Matias. Ele perdoou-a, mas eu nunca mais consegui apoiar a relação deles como dantes, talvez por ainda lhe guardar rancor, ou por saber que a única mulher que o meu pai realmente ama o traiu. – Está tudo bem? Estás nervosa?

– Um pouco – admiti, evitando o olhar do meu pai. – Receio um bocado aquilo que pode acontecer em Buenos Aires.

Pelo canto do olho, vi que o meu pai se incomodou com o meu comentário e ficou com as costas rígidas. Ambos sabíamos do que eu estava a falar, ou melhor, de quem.

Violetta Pov’s off:


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Comentem, por favor, preciso de saber o que vos agrada e o que não agrada, para sabre se devo alterar alguma coisa.Beijinhos:D



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