Escudo escrita por Melzinha


Capítulo 9
Capítulo IX- "O Lobo e a Cerejeira"




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Escudo

Capítulo IX

Por Mel

O Lobo e a Cerejeira

A música alegre enchia o ambiente ricamente decorado para o grande festival. Sakura, Tomoyo e Eriol observavam encantados as lanternas de papel que adornavam as grandiosas árvores de Ueda. Pessoas de diversas províncias chegavam em caravanas para participar da grande festividade.

“Mas isso aqui é fantástico!”- Tomoyo exclamou encantada- “Nunca vi festa alguma como essa”.

Eram tantas cores e variedades de comida que parecia um pequeno paraíso dentro de um reino.

“A que será que se deve a ocasião?”- A princesa ponderou ajeitando seu capuz incomodada com a quantidade de pessoas. Cada passo que dava sentia que poderia colocar mais em risco o casal de amigos e isso a incomodava.

“São torneios anuais. Todo ano seu avô promove essa festa”- A encarou confuso- “Pensei que você soubesse”.

“Acho que eu até sabia, mas não me lembrava...Além do mas, há muitas coisas que uma princesa não pode fazer e uma delas é sair de seu reino facilmente, talvez por nunca ter vindo eu não me lembre”- Sorriu suavemente- “Para falar a verdade sinto-me um pouco desprotegida aqui”.

“Estamos com você”- Os olhos ametistas plácidos e compreensivos- “Vai dar tudo certo. Vamos encontrar seu avô.”.

“Agora a questão é...”- Suspirou pesado olhando para o horizonte- “Como chegaremos ao palácio?”- Observou novamente a grande multidão- “Há muitos guardas. Não vão acreditar em nós”.

“Talvez seja melhor você esconder sua identidade por enquanto, alteza”- Comentou baixinho- “Tem gente de muitos lugares aqui. Não sabemos se a rainha tem aliados escondidos por aqui”.

“Por que ela teria espiões em terras tão distantes?”- Tomoyo perguntou sem entender o ponto do marido.

“Não digo espiões, mas pessoas que de alguma forma se beneficiaram com o governo corrupto de Sayuri”- Fez uma pausa quando esbarrou em uma moça que servia pães - “Não custa prevenir”.

“Precisamos achar rapidamente o meu avô”- A aflição nítida na voz- “Não há recursos em Gifu e precisamos ajudá-los de alguma maneira...”

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“Mais uma vez, Sra Terada...Força!”- O médico ajeitou-se novamente esperando a criança que já apontava a cabeça- “Está quase terminando”.

“Eu sei que você vai conseguir, Rika”- Sakura falou carinhosamente para a mulher ao seu lado. Não sabia o porquê se sentia tão compadecida com a cena, mas o trabalho de parto já durava mais de seis horas e por algum motivo desconhecido, seu coração ansiava ver o rosto daquela criança.

O choro agudo invadiu a tenda...

“É uma menina...”- Eriol comentou emocionado retirando o pequeno rebento de dentro a mãe. - “Precisamos aquecê-la o mais rápido possível”.- Estendeu-a para Tomoyo que havia preparado um pequeno berço repleto de mantas de lã e algodão. Yoshiyuki Terada esperava do lado de fora da tenda.

“Posso...Posso segurá-la?”- Os olhos castanhos esperançosos suplicavam por um toque da filha. O choro novo quebrando seu coração.

“Assim que sua febre abaixar”- Eriol estendeu um chá feito com ervas medicinais, e um pouco do pó que sobrara da ‘flor do céu’. – “Sabemos que sua criança é muito frágil e você precisa se cuidar”- Sorriu suavemente- “Dentro de três horas ela vai precisar se alimentar... E até lá espero que sua febre já tenha desaparecido”.

“Por favor...”- Ela suplicou entre lágrimas- “Só por um momento”.

O médico respirou fundo. Aquilo ia totalmente contra seus ensinamentos, mas como negar um pedido daqueles? Retirou o bebê com cuidado. Ela era tão pequena, um pouco mais do que a palma de sua mão. Entregou a criança para a mãe no mesmo instante em que o líder dos ‘linces das montanhas’ entrou na tenda atraído pelos ruídos.

“Olha, meu amor...é uma menina...Um linda menina”- O encarou com carinho enquanto estendia a pequena criatura para o marido. Ele sentou-se ao lado dela e depositou um beijo demorado na testa quente e suada evitando olhar tão surpreso com o tamanho da filha.

“Tão linda como você, Rika...”.- Tão pequena, tão delicada, tão frágil. Olhou então para o pequeno grupo- “Eu não tenho como agradecer...eu-“- Todo remorso do tratamento de mais cedo remoendo dentro de seu coração. – “Sinto muito...”.

“Já foi, você não tinha como saber...”- O sorriso suave de Sakura o fazia sentir-se abençoado e perdoado. – “Assim que a febre dela passar, partiremos para Ueda”.

“Eu mesmo os escoltarei”.- Falou firmemente pegando a pequena filha e entregando para Tomoyo.

Rika sorriu e fez um sinal para Sakura se aproximar. Ela estendeu o pingente que ainda segurava em uma das mãos.

“Obrigada”- Sussurrou- “Ele realmente nos protegeu”.

A princesa sorriu emocionada e se retirou um pouco da tenda para esticar suas pernas. Seis horas na mesma posição a deixaram com dor nas costas. Seus olhos repousaram sobre as famílias que se aglomeravam em frente suas próprias tendas dividindo um pouco de pão, esquilos silvestres, frutas do bosque e alguma sopa de raiz. Aquilo não era o que o pai sonhara para seu povo.

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“Quantos dias durarão esses torneios?”.- A princesa perguntou preocupada.

“Acho que uma semana”- O médico respondeu um pouco incerto, retirando a esposa do meio do caminho das carroças.

“Isso é muito tempo!”- Olhou para o lado e viu um grande pergaminho pendurado em uma árvore- “Ora, mas isso são os prêmio pelos combates...”- Arregalou os olhos esmeraldas- “Isso tudo? 150 moedas de ouro para quem vencer o duelo de espadas do dia?”.

“Tem certeza?”- Tomoyo perguntou se aproximando do papel- “Sim! 150 moedas”.

“Mas isso veio exatamente a calhar! Até essas festividades pararem não conseguiremos nos aproximar dos muros do palácio”- Encarou os amigos- “Vou me inscrever na luta de espadas”.

“Ficou doida?”- Eriol foi o primeiro a se pronunciar.- “E se descobrem quem você é?...E se você se machucar?”.

“Fui treinada desde os doze anos...”- Comentou como se contasse algo muito importante- “Além do mais”- Apontou para a arena- “Todos estão mascarados, não vão me reconhecer”.

“Mas Sakura...Homens lutam contra mulheres!”’ Ela não parecia convencida.- “E eles parecem bem fortes”.- Apontou na direção de uns soldados escolhendo as armas.

“Preciso ajudar meu povo...Eles estão passando fome, e isso vai ajudar por enquanto. Vai alimentá-los nessas próximas semanas”- Encarou os dois ajeitando o capuz- “Vamos!”- Os encarou seriamente – “Preciso da ajuda de vocês”.

Eles trocaram um olhar resignado e a seguiram. Afinal ela era a princesa.

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“Nome?”- A voz grossa do general chamou sua atenção.

“Eriol”- Suspirou observando a fila crescer atrás de si- “Eriol Hiragisawa”.

“Em qual jogo deseja se inscrever Sr. Hiragisawa?”- Perguntou sem sequer olhá-lo.

“Combate de espadas”.- Fez uma pausa- “Mas não sou eu quem vai lutar, será minha...ham...irmã...”.

Li o encarou finalmente. O homem estava suando e mal o olhava.

“Certo... Então por que ela não veio fazer a própria inscrição?”.

“Ela está na tenda das mulheres”- Comentou tentando parecer o mais verdadeiro possível.- “A fila estava muito grande....”

“Como se chama a sua irmã?”.- Revirou os olhos.

“Sakura”- Respondeu sem pensar fazendo o coração do general perder um batimento e o encarar assustado. Pigarreou percebendo a gafe que cometera- “Sakura Hiragisawa”.

Os olhos âmbares caíram sobre ele e em seguida sobre o papel.

“Está inscrita”- Estendeu um pergaminho – “Ela deve se apresentar na terceira hora em frente à arena”- Estendeu uma máscara- “A partir do momento em que chegar próximo do local, ela deverá estar de máscara”

“Certo”- Deu as costas rapidamente. O olhar daquele homem o deixava nervoso e desorientado, como se pudesse ler sua mente e soubesse que estava mentindo.

Syaoran encarou o papel. ‘Sakura’... Foi inevitável não pensar em sua princesa. Não era um nome comum.

“Hei, você está bem?”- A voz doce de Chiharu lhe tirou de seus devaneios. Ele lhe deu um sorriso sem graça.

“Estou”- Coçou a cabeça- “Apenas muitas pessoas para esse festival”- Sentiu-se mal por esconder a verdade da menina, mas não queria tocar no assunto. Desde a conversa com Takashi tentava não trazer a lembrança dela tão à tona, mas era quase impossível... Tudo lhe fazia lembrar dela...tudo.

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“Hei”- A voz de Chiharu lhe assustou um pouco. Takashi tinha acabado de se retirar da arena de treinamento e não estava esperando mais ninguém.

“Hei. Aconteceu alguma coisa?”- Perguntou reparando nas bochechas coradas da menina.

“Não...é... Na verdade aconteceu”- Ela o encarou sem graça- “Meyling me contou sobre a ...”-Hesitou- “A princesa”.

Ele evitou olhá-la. Apenas ajeitou as faixas de linho que protegiam suas mãos.

“Eu sinto muito”- Ela comentou percebendo a mudança de expressão- “Se você precisar de alguém para ...não sei...ham...desabafar”.

“Eu estou bem Chiharu, obrigado”- Syaoran ainda não a olhava. A verdade é que não queria tocar mais naquele assunto.

“É só que...eu queria que você soubesse que eu estou aqui”- Mordeu o lábio inferior- “Viva...e do seu lado”.

Os olhos âmbares encontraram os amadeirados. Ele se aproximou dela e com cuidado segurou o rosto delicado entre seus dedos.

“Você é uma mulher fantástica Chiharu”- Afastou-se um pouco- “E por isso eu acho que você merece muito mais do que um coração aos pedaços”.

Ela o encarou assustada enquanto ele lhe dava as costas causando um frio repentino em sua pele. Soltou o ar sem perceber que havia prendido a respiração.

“Além do mais”- Fez uma pausa- “Existe um homem completo que daria tudo por uma chance com você...”.

“De..”- Achou finalmente sua voz- “De quem está falando?”.

“De um corajoso capitão, que foi capaz de me enfrentar porque eu não ‘percebia a mulher maravilhosa que estava perdendo’- Repetiu as palavras de Yamasaki observando a ruiva corar ainda mais.

“Takashi e eu nunca daríamos certo....”- Comentou sem jeito olhando para o céu.- “Nós vivemos em pé de guerra”.

“Você poderia se surpreender”- Sorriu genuinamente trazendo à memória as brigas sem sentido que sempre tinha com Sakura- “A princesa e eu também brigávamos o tempo todo. Ela adorava se colocar em perigo. Eu sempre dizia que ela ia me deixar com cabelo branco antes do tempo”- Suspirou- “E ainda assim, eu guardo no coração todas as nossas brigas, como uma boa lembrança, como algo que eu daria qualquer coisa para reviver...Por isso”- A olhou novamente- “Não perca essa oportunidade Chiharu”- Falou suavemente.

A ruiva teve vontade de sorrir e chorar ao mesmo tempo. Era como se tudo o que ele disse fizesse sentido, muito sentido. Seu coração soube que mesmo se ela viesse a ter alguma coisa com o jovem general, sempre teria que competir com a memória da princesa no coração do rapaz, que parecia tão viva como uma pessoa de verdade.

“Takashi já foi embora?”- Perguntou timidamente evitando encará-lo. Não queria demonstrar, mas seu orgulho estava um pouco ferido. Nunca havia sido rejeitada.

“Acabou de sair daqui”- Piscou- “Ainda dá tempo de alcançá-lo no caminho”.

E com o olhar nostálgico viu a amazona se afastar de vagar resmungando algo incompreensível. Respirou fundo e observou sua espada que jazia perto dos pesos e sacos de areia. O que sobrara do pingente que dera a sua princesa agora fazia parte do adorno da bainha graças ao trabalho espetacular do ferreiro real. Tocou o objeto com carinho enquanto virava sua atenção para céu. Sorriu ao ver brilhar a estrela polar.

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Foi interrompido novamente quando mais um participante veio se inscrever.

“Nome?”.

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“Estou parecendo uma caricatura grega”- Sakura brincou ao ver-se no espelho. A m[ascara cobria não só o rosto, mas boa parte dos cabelos.

“A primeira luta é contra uma mulher”- Tomoyo comentou parecendo aliviada ao ver a forma delicada por baixo da m[ascara. – “Você terá mais chance de ganhar”.

“Hei...Isso é machismo!”- Cutucou a amiga que riu- “De qualquer forma essa menina parece uma amazona.”- Observou-a de longe- “Preciso ter cuidado”.

“Ainda dá para desistir”- O médico comentou sério olhando para os demais participantes- “Não é tarde, alteza”.

“’Desistir’ é uma palavra que não existe no meu vocabulário”.- Sorriu apesar de saber os amigos não podiam ver o seu rosto.

“Hiragisawa e Mihara”- Um dos soldados chamou em voz alta. A princesa respirou fundo e seguiu para o centro da arena. A amazona olhou para Li, Yamasaki e Meyling, já mascarados antes de entrar para enfrentar sua adversária.

“Acaba com ela Chiharu”- Takashi torceu dando-lhe um tapinha no ombro. A ruiva corou imediatamente e agradeceu a Deus por estar de máscara, desde a noite em que o alcançara no caminho, algo diferente despontou em seu coração. Algo que estava difícil de controlar e de alguma forma transpassava toda aura que os intensos olhos ambares exerciam.

“Vou fazer meu melhor”.- Disse confiante.

Sakura suava como nunca pensou que fosse capaz de suar. Suas mãos escorregavam pela bainha da espada. O escudo firmemente preso em sua outra mão que tremia desajeitada. Apoiou-o debaixo do braço e pegou seu pingente depositando um beijo carinhoso no objeto antes de recolocá-lo no pescoço por baixo da roupa. ‘Me ajuda Syaoran’- Pediu mentalmente posicionando-se. Precisava ganhar aquela luta. Precisava ajudar o seu povo.

“Em suas marcas”- Um soldado finamente vestido começou em meio a arena- “Fica extremamente proibido retirar a máscara durante os jogos, até a eliminação do adversário. Vence quem derrubar o outro primeiro”- Fez uma pausa afastando-se- “Lutem!”.

Chiharu partiu para o ataque levantando sua espada com as duas mãos e largando o escudo no chão, na tentativa de assustar seu adversário. Sakura desviou do golpe e impulsionando-se com as duas pernas saltou chutando o escudo para a menina que a olhou sem entender.

“Não quero te machucar”- A princesa comentou vendo a ruiva pegar o objeto a contragosto.

Um lapso de memória invadiu a mente de Li, fazendo seu coração triplicar o ritmo. ‘Deus’...

Viu em câmera lenta Chiharu ser derrubada no meio da arena e todos gritarem empolgados. Sakura colocou a mão no braço, que sangrava um pouco. Droga! Não podia se machucar logo na primeira luta. A amazona retirou a máscara bufando de raiva. Não acreditava que fora eliminada tão facilmente. Reverenciou a adversária e saiu nervosa da arena tacando a espada no chão.

Syaoran permanecia parado, em choque. O coração batendo tão forte que pensou que a qualquer minuto explodiria.

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“Sr. Shang?”- A voz da princesa invadiu os jardins- “Estou procurando por Syaoran. O senhor o viu?”.

“Olá alteza”- Sorriu para bela moça a sua frente. Sakura havia se tornado a mulher mais bonita que aquele reino já conhecera. Seu menino era realmente muito forte- “Ele está na arena de treinamento com o seu pai”.

“Certo”- Sorriu contente. Seu vestido amarelo de seda brilhando ao entardecer.- Muito obrigada, Sr. Shang”.

“Disponha princesa”- Reverenciou ao vê-la se afastar.

Fujitaka olhou orgulhoso para o rapaz a sua frente. Com apenas vinte anos de idade, Syaoran conseguia ser o melhor lutador que já conhecera na vida e sentia-se muito feliz por isso, sabia que a filha sempre estaria em boas mãos. Escutou o riso suave de sua menina encher o ambiente e virou-se para a bela imagem da filha aproximando-se. Percebeu a vermelhidão nas bochechas do rapaz e aumentou ainda mais o sorriso.

“Papai, Syaoran! Ainda estão lutando?”- Perguntou balançando a cabeça em descrédito- “Vocês não se cansam?”.

“Eu me canso”- O Rei tratou de responder enquanto levantava-se- “Mas parece que esse rapaz não”- Brincou- “Aliás, Syaoran me contou que você está lutando muito bem filha, eu adoraria ver isso”.

“Agora?”- Perguntou surpresa quando viu o pai lhe estender a espada.

“E por que não? O sol ainda não se pôs”- Comentou casualmente acomodando-se em um lugar que lhe desse uma boa visão da luta. A princesa encarou seu guardião que se posicionou com um sorriso torto nos lábios. Aquele sorriso que a fazia perder o foco só ao olhá-lo.

“Você está cansado”- Ela comentou preocupada. Não queria que a luta fosse injusta. Ele não pôde evitar a gargalhada.

“Cansado? Mesmo cansado posso ganhar de você, princesa”- Provocou deleitando-se ao ver as esmeraldas se incendiarem. Não queria admitir, mas aquele rostinho bravo o deixava desconcertado.

Começaram a lutar devagar. Fujitaka percebeu que Sakura não perdera tempo em seu treinamento. Apesar dos movimentos previsíveis, e hora ou outra deixar a espada um pouco abaixo da linha da cintura, ela estava dando um bom trabalho para o rapaz. Vendo-os assim, lutando um contra o outro se tornava mais óbvio a química e atração mortal que um exercia sobre o outro. A forma com que se olhavam poderia incendiar o bosque todo. Soltou um sorriso saudoso lembrando-se de sua adorada Nadeshico e da forma que ela o olhava. Queria que a filha fosse tão feliz quanto ele foi.

Assistiu admirado quando Sakura saltou retirando o escudo da mão de Syaoran que a olhou assustado, mas o rapaz não deixou barato e passando uma rasteira em sua menina a desarmou sorrindo torto.

“Não é justo! Você sempre ganha”.- Cruzou os braços na frente do peito enquanto que ele a ajudava a se levantar. Seu vestido sujo de terra.

“Um dia eu deixo você ganhar”- Falou baixinho e sorriu ao vê-la se virar e fazer um bico mimado.

Fujitaka aplaudiu o casal e sorriu.

“Gostei muito do que vi”- Comentou orgulhoso arrancando uma risada gostosa da filha. Li a olhou com carinho, desejando que ela jamais perdesse aquele sorriso e jovialidade tão característica dela.

Desejou que ela sempre fosse feliz e prometeu a si mesmo que faria de tudo para sempre fazê-la sorrir.

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“Muito bem, Sakura”- Tomoyo a abraçou com carinho assim que a amiga aproximou-se da arquibancada.

“Está machucada, alteza”- Eriol comentou ao ver sangue escorrer pelo braço delicado. Retirou um pano de sua maleta- “Pressione com isso, senão não vai aguentar lutar”.

“São apenas mais duas lutas...”- Respirou fundo- “Só mais duas...Posso suportar a dor.”.

Syaoran aproximou-se do soldado responsável pelos candidatos. Encarou a pequena mulher se posicionando novamente no centro da arena. Seu coração acelerou ainda mais ao ver a maneira que ela segurava o escudo.

“Eu quero lutar agora”- Li falou firmemente encarando o rapaz que levantou uma sobrancelha surpreso.

“Mas general, ela não é adversária a sua altura”.

“Não importa...”- Não deixou nem o rapaz responder. Pegou sua espada e seu escudo e correu para o centro da arena. Um silêncio profundo apossou-se de toda arquibancada. Sakura encarou assustada o tamanho de seu rival. Seu coração acelerou tanto que pensou que sairia pela boca. Tremeu sem perceber. Aquela aura parecia tão familiar, tão forte...

Ela atacou primeiro dessa vez, e como se ele soubesse o que ela faria desviou facilmente. O coração do general acelerou mais ainda. Sakura deu dois passos para trás e o atacou de novo que desviou da mesma maneira. Não sabia o que fazer, parecia que ele sabia o que ela faria. Foi então que Syaoran partiu para cima dela e seu coração parou na boca ao ver a forma que ela se defendia.

“Não pode ser”- Falou para si mesmo. Colocou a mão na cabeça. Sabia que seu anseio por ela o estava levando a loucura.

Sentiu uma dor aguda no braço e se surpreendeu ao ver a espada da mulher cortar sua pele. Tinha que se concentrar antes que perdesse a competição. Ela não estava de brincadeira. Atacou-a algumas vezes e a luta ficava cada vez mais intensa e demorada. A plateia assistia com tanto interesse que não havia barulho forte o suficiente para tirar-lhes a atenção...Apenas o tintilar das espadas e as respirações ofegantes ecoando pelos ares. Sakura foi atingida no braço novamente e o escudo cambaleou em sua mão.

Li sorriu torto por trás da máscara. Aquela mulher estava lhe dando mais trabalho do que imaginava. Surpreendeu-se quando ela em um giro certeiro arrancou seu escudo da mão. Novamente as lembranças invadiram sua mente o obrigando a recuar. Esticou seu pé e com força deu-lhe uma rasteira. A princesa caiu no chão assustada com o impacto, o pingente que ela levava tão cuidadosamente no pescoço arrebentou.

“Não!”- Gritou observando a única coisa de valor que realmente tinha voar para longe de si. Tentou desesperadamente pegá-lo de volta, mas Li foi mais rápido e o levantou com sua espada. Seu coração perdeu um batimento quando ele reconheceu o objeto. Sentiu seu corpo todo tremer.

“Aonde...Aonde conseguiu isso?”- Perguntou sério sem tirar os olhos do pingente. Sua vontade era gritar. Não sabia o que pensar. Encarou a pequena figura encolhida atrás da máscara e perguntou novamente, mas não obteve resposta. Seus nervos explodiram... Aproximou-se dela como um furacão impetuoso. Assustada, Sakura virou-se de costas e correu para fora da arena o mais rápido que pôde. Os olhos de Tomoyo e Eriol a seguiram aflitos enquanto ela corria com todas as forças para longe daquele homem. Viu um cavalo próximo e sem pensar duas vezes pulou nas costas do animal. Não entendia o porquê estava fugindo, mas teve medo de ser descoberta... Chorou baixinho pensando em seu pingente... Precisava recuperá-lo de alguma forma, mas não com esse homem correndo dessa forma atrás dela.

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“Você não me pega!”- Sakura gritou em cima de seu corcel lançando um olhar desafiador para o rapaz.

“Princesa!”- Balançou a cabeça um pouco irritado. Detestava como a menina no auge de seus quinzes anos ainda se comportava como uma criança.- “É perigoso correr desse jeito”.

“Oras, Syaoran”- A voz estava ofegante.- “Não seja tão rabugento!”.

Ele atiçou seu animal o deixando em paralelo com o belo corcel de Sakura.

“Como me alcançou tão rápido?”- Perguntou em meio a uma risada ao senti-lo tocar as rédeas de seu animal que diminui a velocidade. Ele a puxou para seu cavalo.

“Eu disse para você”- Sorriu genuinamente – “Eu nunca vou te soltar”.

“Sabe de uma coisa Syaoran?”- Perguntou dengosa- “Eu nunca quero que você me solte”.

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Li despertou do transe assim que a viu fugir com o animal e correu até um dos membros da cavalaria, o empurrando fortemente. Pegou o cavalo ‘emprestado’ e partiu atrás da garota. Precisava de respostas...

Atiçou seu cavalo o mais rápido que pôde e logo a delicada figura reapareceu em sua visão. Retirou sua máscara e gritou para que ela parasse por ordem do ‘general de Ueda’. Ele só queria saber aonde havia encontrado aquele pingente... Precisava saber... Seu coração acelerado deve ter assustado ainda mais o animal e correu mais rápido. Quando Sakura olhou para o lado seu mundo explodiu em um flash.

Era... era...

“Syaoran”- Foi a única coisa que conseguiu balbuciar antes de cair do animal com tudo na grama verde. Ele parou seu cavalo bruscamente e correu até a mulher que permanecia parada, tremendo. Não sabia se por medo ou pela dor da queda.

‘Senhor...’.

O general a segurou pelo braço com medo que ela fugisse sem lhe dar uma resposta, principalmente agora ao perceber que ela sabia seu nome. Apertou ainda mais o braço delicado e a mesma sensação cálida invadiu seu estômago o assustando ainda mais. Para sua completa surpresa, com a mão que mantinha livre ela retirou vagarosamente a máscara.

‘Céus’

Ele deu dois passos para trás e caiu de joelhos encarando-a incrédulo...

‘Sakura?’

Lágrimas brotaram nos olhos âmbares antes que ele as pudesse freiá-las. Aquilo não era possível. Eram os mesmos olhos verdes, grandes e brilhantes... Os cabelos compridos da cor do mel, o corpo esguio...Era ela...Sua Sakura. Teve mais certeza quando a abraçou e o perfume tão característico inundou suas narinas. Com a voz repleta de emoção a apertou ainda mais forte.

“Deus... eu pensei que eu tivesse perdido você”- Sussurrou no ouvido dela, incapaz de brecar seu choro. Teve medo. Medo de estar sonhando novamente... Medo de acordar e descobrir que enlouquecera de vez, mas quando a voz dela invadiu sua mente suas dúvidas desapareceram.

“E eu pensei que tivesse perdido você...”- Chorou tão forte que os pássaros voaram com o som agudo de sua alma se derramando.- “Me disseram que você tinha... morrido”.-

Ele não a soltava. Não ousava soltá-la.

“Me perdoa...”- Foi a única coisa que pensou em falar- “Me perdoa por não ter protegido você...”.- Ele beijou-lhe o cabelo sentindo o gosto das próprias lágrimas- “Me perdoa...por favor...”.- Chorou mais alto- “Se você for o espírito dela que por misericórdia de Deus está aqui para me trazer paz, por favor...”- A encarou com os olhos confusos- “Me leva com você, Sakura...A vida não vale de nada sem você comigo...”.

“Sou eu Syaoran...Sou eu...Não sou espírito nenhum...”- Ela limpava as lágrimas dele com a ponta dos dedos enquanto que as suas corriam livremente- “A rainha não conseguiu me matar...Eu estou aqui...Eu estou aqui com você”.

“Meu Deus...”- Ele tocou o rosto delicado...- “É você”.

“Sou eu...”.- Soltou um sorriso triste e o encarou segurando as mãos dele em sua face, não querendo que ele parasse de tocá-la. Um toque que imaginou que jamais sentiria novamente.

Então ele a beijou. Beijou como se não houvesse outro dia, como se vida e morte dependessem daquele toque. A beijou para afastar suas dúvidas, suas incertezas... E aquele beijo curava seu coração. “Eu te amo...”-Sussurrou contra a boca dela.

“E eu amo você...”- Respondeu antes de beijá-lo novamente. O beijo tinha gosto de lágrimas de saudades e alegria. Não sabia se suas ou dele, mas isso não importava.

‘Syaoran’...‘Syaoran’... As vozes se aproximavam deles em câmera lenta, como um sussurro distante. Como um barulho ao vento.

“Syaoran!”- Meyling gritou nervosa- “Mas que raios está-“.

Não pôde terminar. O jeito com que ele a olhou lhe travou por completo. Os olhos dele haviam voltado à vida. Foi então que rubis encontraram as esmeraldas...

“Sakura?!”- A morena perguntou incrédula levando uma mão a boca.- “Meu Deus”- Correu até a amiga- “Eu pensei que...pensei que...”-

“Eu estou viva”- Sorriu entre lágrimas abraçando a amiga apertado, enquanto ainda sentia o toque de Syaoran em seus cabelos. As mãos dele ainda tremiam talvez com medo que ela desaparecesse.

“Eu tentei te salvar, princesa”- Chorou amargamente- “Eu tentei tanto te salvar, mas eu não consegui...Eu..”.

“Shiii...”- Apertou mais o abraço- “Eu estou aqui...”.

“Co-Como ...Como você sobreviveu?”- Perguntou afastando-se um pouco. As vozes de Takashi e Chiharu se aproximando enquanto que os outros soldados olhavam sem entender a cena diante deles.

“Um casal me encontrou as margens do rio, e cuidou de mim sem terem ideia de quem eu era...”.-Arregalou os olhos- “Meu Deus! Eles devem estar aflitos, os deixei para trás na arena”.

“Você estava tão ferida...”- A culpa que a voz de Meyling demonstrava cortava o ar... “Se eu soubesse...”.

“Sakura?”- A voz de Takashi tremia de emoção- “Meu Deus!”- Correu até ela que lhe recebeu com um abraço caloroso- “Você está viva!”.

“Eu estou tão feliz por saber que vocês estão bem...Tão feliz...”- Lágrimas de felicidade não paravam de brotar. Fora graças a eles que estava fora da cadeia...Eles significavam mais do que qualquer coisa para ela. Eram sua família.

“Você está sangrando”- Syaoran comentou. O mesmo tom de preocupação em sua voz. Ela olhou para o braço sujo de sangue e levantou os olhos para encontrar os dele.

“Eu estou bem”- Sorriu suavemente passando as mãos no rosto amado que fechou os olhos com o toque carinhoso. Um toque que daria qualquer coisa para sentir de novo. A princesa de repente se sentiu observada. Levantou os olhos e percebeu a ruiva lhe olhando estranhamente- “Foi com você que lutei, não foi?”.- Sorriu um pouco sem graça.

“Alteza”- Ela fez reverência sentindo algo estranho dentro de si ao ver a forma com que o general olhava para ela. Era como se os âmbares trincassem a qualquer momento.

“Ela é uma nova amiga nossa”- Meyling explicou vendo a garota remexer-se- “Temos muitas coisas para contar. Mas primeiro vamos encontrar o rei”.

“Eu preciso avisar Eriol e Tomoyo...Eles salvaram a minha vida e se arriscaram para me acompanhar até aqui...”- As esmeraldas um pouco aflitas.- “Não posso deixá-los sem notícias”.

“Pegamos seus amigos e vamos para o palácio”- Takashi disse sorrindo- “Hoje temos muitos motivos para comemorar”.

Li pegou as mãos de Sakura e a entrelaçou na sua. Seu espanto era tanto que tinha medo de piscar e ela desaparecer novamente. Ela sorriu para ele. Aquele sorriso que ela dava apenas para ele e que o fez, após seis meses, se sentir vivo novamente.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Fogos de artifício!!!! UHUUUUUUU Eles se reencontraram !!! Finalmente, nem eu estava mais aguentando esse sofrimento todo. Eu ia esperar até amanhã para postar, mas não aguentei… Estou tão, mas tão curiosa para saber o que vocês acharam da cena do reencontro!!! Por favor, não deixem de me contar o que vocês acharam. Era tudo o que vocês esperavam? Não?? Contem-me tudinhooo Beijosssss