Eu andava quieto e levemente devagar, pelas ruas da cidade de Sparks em Nevada, que agora (apesar de ser a cidade que eu nasci e me criei) eu já não conhecia mais direito, na verdade até meu nome eu cheguei a esquecer em alguns segundos, de tão aflito que eu estava. O motivo ? Vocês nem iriam acreditar, eu estava no meu trabalho, um pequeno bazar onde carrego mercadorias (não estava estudando pois estava de férias), quando Sr. Reeves, meu chefe, me avisa que meu pai acabou de ligar dizendo que meu Tio Ben morreu, o que por azar era muito ruim, pois Tio Ben era o único tio que eu gostava, ele não me pressionava e nem me perguntava coisas como: " Já está Namorando ?" ou "Porque você não pratica esportes ?" (pois por um descuido eu estava mais gordo que o normal), ele simplesmente me entendia, me dava conselhos, conversava comigo, e a maioria das vezes eu gostava das conversas dele, nós gostavamos das mesmas coisas, mesmos filmes, mesmas bandas, tudo, nós sabíamos sempre o nome dos atores dos filmes, ele era um gênio, o único defeito dele era o vício extremo á um remedio, o que me fez pensar instantaneamente que talvez esse fosse o motivo da súbita morte de meu tio. Agora você sabe porque eu estava tão abalado como contei, recebi uma noticia que foi muito ruim pra mim.
Quando cheguei em casa, abri a porta, e dei de cara com o meu pai sentado na poltrona, minha irmã mais nova, uma tia minha e um homem com barba branca desconhecido de rosto familiar, todos gritando ao mesmo tempo:
– SURPREESSSAAAAA !!!!!!!!!
A razão desse bizarro episódio de histeria, eu só soube segundos depois, meu pai todo feliz explicava:
– Filho, você nem sabe quem a gente encontrou, o Sr. Alfred !
E eu sem me lembrar perguntei:
– Desculpa, mas quem ?
– Alfred, seu antigo professor - exclamou minha irmã - seu tonto !
– Ele veio de uma cidade vizinha, só pra ver o velho aluno dele, e vai ficar aqui com a gente - explicou meu pai.
Logo lembrei que ele não era nem de longe, meu professor preferido na época da escola, então porque estaríamos ali comemorando ? Só depois me lembrei do Tio Ben, então preocupado perguntei:
– Mas cadê o Tio Ben, ele está bem ?
– Não aconteceu nada com ele - explicou meu pai - só inventamos essa desculpa, pra tirar você do trabalho.
– Mas porque, logo o Tio Ben, não podiam ter inventado a morte de outro tio ?
– Pense bem, Noah - retrucou tia Guida (sempre num tom baixinho) - ele é o tio que você gosta mais, então assim você viria mais rápido.
E então Alfred, veio me abraçar, disfarçando á todos o verdadeiro motivo de estar ali, ele cochichou no meu ouvido, enquanto me abraçava:
– Eu sei que nunca fomos grandes amigos, e que nunca nos falamos muito bem, mas eu precisava encontrar você, eu precisava contar a você um grande segredo, já está na hora de você ouvir, agora disfarça e finge que estamos nos dando bem!
Então curioso e ao mesmo tempo surpreso, comecei a rir, e tratar Alfred como um grande conhecido. Naquela noite pedimos pizza (minha comida preferida), vimos filmes, rimos, conversamos, nos divertimos, e então fomos dormir, como meu quarto só tinha uma cama e não tinha muito espaço, Alfred dormiu no quarto de hospedes junto com minha tia, e meu pai e minha irmã no outro quarto. Até que fui me deitar, ainda tentando digerir tudo que tinha acontecido comigo nas últimas oito horas, aquilo era loucura demais pra minha cabeça, então me embrulhei (pois fazia muito frio, mesmo o aquecedor estando ligado) e me virei, até que ouvi barulhos, então olhei na direção da porta, e enxerguei um vulto, na luz abaixo da porta, até que a porta se abriu, num instante eu pude distinguir o vulto, era Alfred, e num tom bem claro e ao mesmo tempo baixo e discreto ele dizia:
– Chegou a hora, todos já dormiram, então se prepara porque a história que vou lhe contar agora é longa e também fantástica!
Ele fechou a porta, ligou a luz, eu me sentei, e concordei com tudo, já estando cheio de curiosidade.