Hitori ja nai escrita por Shiroyuki


Capítulo 3
Epílogo - Happily ever after


Notas iniciais do capítulo

Oie gente~ acharam que eu tinha esquecido do bônus?? Demorou mas eu consegui terminar! Foram semanas escrevendo isso daqui, escondida no trabalho, e eu tive um bloqueio criativo foda, mas estava disposta a terminar antes do final das férias da faculdade! E no último dia, realmente consegui! Espero que esteja à altura das expectativas, por que eu fiquei muito insegura XD

Bom, de qualquer maneira, aqui vai o capítulo~ Boa Leitura!



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Epílogo




Algumas semanas depois…


Eles definitivamente não deveriam estar ali, já que os treinos dos clubes esportivos haviam sido suspensos até que o frio se abrandasse um pouco, ou pelo menos, a neve diminuísse de volume, mas Takeda-sensei, com sua inabalável e característica capacidade de convencer pela insistência, havia conseguido a chave do ginásio, e o time de vôlei do Colégio Karasuno estava aproveitando o pouco tempo que tinham para colocar suas práticas em dia. Provavelmente a diretoria não tinha conhecimento interino desse fato, pois o sensei estava o tempo todo pedindo para que diminuíssem o volume dos gritos.

Sendo assim, seu tempo era limitado, e quando chegou a hora, não havia discussão – os calouros tinham que terminar de arrumar o material o quanto antes, enquanto os veteranos podiam tomar banho primeiro. Depois do chuveiro, direto para casa, era a ordem expressa do técnico Ukai. Não podiam se dar ao luxo de perder jogadores por causa de resfriados ou qualquer outra decorrência do frio. Enquanto todos se dispersavam, cada um em sua tarefa, Kageyama e Hinata ficaram para trás, começando a desarmar a rede no meio da quadra. Quando enfim se aproximaram, para terminar de enrolá-la, Kageyama rosnou, murmurando entredentes para que ninguém compreendesse o que estava sendo dito ao seu colega.

— Oe, Hinata. O que foi aquilo durante o treino? - ele inquiriu, com semblante irritado, mas Hinata percebia por aquele beicinho que se elevava nos seus lábios, que ele estava na verdade embaraçado. E ele sabia bem o motivo.

— Desculpa Kageyama… foi só um impulso! - ele tentou se justificar.


Durante o treino, em uma oportunidade, ele havia conseguido acertar o levantamento rápido com tanta precisão que nem mesmo Nishinoya conseguiu pegar, e ainda, estava de olhos abertos! Pode ver toda a quadra, lá de cima. Tudo parecia rodar em câmera lenta, e ele conseguiu enxergar o ponto exato onde deveria lançar a bola. Foi tão empolgante fazer isso (e ele mal conseguia imaginar como seria se fosse em um jogo de verdade) que ele pulou em Kageyama na hora, abraçando-o em comemoração.

Todos ao redor os fitaram, atônitos. Geralmente as comemorações sobre movimentos acertados, entre eles, eram resumidamente individuais, ou ocasionalmente, um bater de mãos muito esquisito por causa da falta de naturalidade de Kageyama ao fazer isso. Porém, dessa vez, qualquer um podia ver a sincronia entre os dois, quando Shouyou gritou de alegria, e ao se jogar no colo de Tobio, foi recebido de braços abertos - por puro reflexo. Era mais como se já tivessem feito aquilo dezenas de vezes. Tanaka não entendeu, Sugawara sorriu, Shimizu corou, Asahi ficou em choque, e Tsukishima riu debochado, lá de trás.

Hinata piscou duas vezes, olhando ao redor, ainda agarrado ao mais alto como um bebê-coala, e então foi jogado direto no chão por um Kageyama mais vermelho que um sinal de trânsito. Riu, esfregando a nuca, percebendo que havia feito besteira. O técnico Ukai bateu palmas, ordenando que voltassem a jogar, e o momento estranho passou. Porém, Kageyama parecia agora irritado pela falta de cuidado do menor, então o assunto não tinha sido mesmo esquecido.

— Você sabe que estamos tentando ser discretos! - ele continuou a ralhar com Hinata, num tom de voz que mal passava de um sussurro. Parecia ser um enorme esforço para ele não gritar como queria naquele momento. Juntou a rede já enrolada dos braços do menor, e colocou-a nos ombros, seguindo em direção ao armário dos materiais. Hinata se apressou em segui-lo.

— Eu sei! Mas às vezes é mais difícil… - ele murmurou, contrariado, os olhos percorrendo o chão. Kageyama corou. Com aquele tom de voz, e aquelas palavras, como era de se supor que ele conseguisse continuar bravo? Tinha que admitir, estava ficando cada vez mais fraco diante das investidas de Hinata…

Eles já estavam mantendo o relacionamento em segredo do resto do time há quase três semanas, e ninguém parecia ter percebido qualquer diferença no decorrer desse tempo. Eles continuavam a almoçar juntos, vir para a escola e sair dos treinos juntos, frequentar um a casa do outro, e principalmente, brigar e discutir sempre que surgia alguma discrepância. Nada realmente havia mudado, exceto que, depois de cada discussão, quando percebiam que estavam sozinhos em qualquer lugar onde não seriam vistos, ou então durante as “reuniões de estudo” no quarto de algum deles, as coisas eram um tantinho diferentes. Podia ser no meio de um jogo de vídeo game, ou durante o intervalo, no terraço. Kageyama se inclinaria, e com facilidade, roubaria um beijo. Depois, iria se afastar e grunhir, disfarçando o constrangimento. Hinata apenas ria, e se aninhava nele como um filhotinho travesso de gato. E eles ficariam de mãos dadas, escondidos, por algum tempo.

O padrão se repetia com alguma variação. Hinata era mais ousado, embora não conseguisse controlar bem a situação, e acabasse sempre sendo levado por Kageyama. Os dois não haviam se aventurado muito além de beijos castos e uma ou outra carícia por cima das roupas, nunca abaixo da cintura. Não por falta de vontade ou curiosidade, afinal eram dois garotos saudáveis explodindo hormônios até quando respiravam, mas a situação nunca era facilitada pelo ambiente externo. Com a prática, ambos estavam até conseguindo pegar o jeito dessa coisa toda de namorar. O problema não eram os treinos - eles realmente eram dedicados em “treinar” - mas arranjar ocasiões para ficarem juntos.

Na escola, era impossível e arriscado, é claro. Eram raras as oportunidades de ficar a sós quando tinham um time inteiro de pessoas animadas e cheias de energia para gastar por aí, com muita tendência de se meter na vida alheia. E em casa, tinham quase sempre companhia, não podiam se empolgar demais. Em uma ocasião, a irmã mais nova de Hinata quase os flagrou, no exato momento em que Kageyama havia saturado sua paciência e jogado o ruivo no chão do quarto, partindo para cima dele. A menina, inocente, perguntou o que ele estava fazendo com o Onii-chan dela. “Estamos treinando luta, olha só” ele girou Hinata com facilidade nos braços, e o prendeu em um golpe de gravata, sem dar a ele a chance de reagir. A garotinha riu e foi tentar fazer o mesmo, mas a partir daquele dia, Tobio teve consciência de que não deveria se deixar levar em qualquer lugar.



Eles saíram depois de uma ducha rápida, morna, mas relaxante, e se apressaram em colocar roupas que afastassem o frio daquele vestiário, que parecia uma sucursal da Groelândia no meio de Miyagi. Kageyama tranquilamente abotoava sua camisa, estremecendo de frio, e pensando no que teria que fazer quando chegasse em casa, quando sentiu algo empurrando-o para frente. As mãos do meio de rede o enlaçaram pela cintura, enquanto ele sentia o rosto dele contra suas costas.

— O q-que você está fazendo, idiota?

— Me deu frio!

— O que?

— Frio!

Hinata se colocou na ponta dos pés, ainda segurando a camisa de Kageyama, e cerrou os olhos, encostando os lábios gelados na sua nuca. Desde que descobrira, há poucos dias, que esse era um ponto fraco do outro, não perdia tempo em atacá-lo ali sempre que tinha chance. Claro que Kageyama nunca perdia a oportunidade de contra-atacar, por que enquanto tudo entre eles era sempre visto como uma competição, nenhum dos dois deixaria que o outro vencesse, em hipótese alguma. E não foi diferente dessa vez.

Com maestria, Tobio girou nos próprios pés e agarrou Shouyou pelo braço, prensando-o contra a parede. O menor arfou, o ar sendo roubado dos seus pulmões pelo movimento repentino. Sorriu, pois adorava ver aquela chama brilhando nos olhos azulados dele. Tão diferente daquele lado apático que ele conheceu durante o fundamental, aquele Kageyama à sua frente, motivado e vívido, fazia seu coração tremular no peito.

— Se você está com frio, nós deveríamos nos apressar e pegar nossas coisas na sala do clube, antes que fechem tudo. - ele argumentou, tentando não se mostrar muito abalado pelas ações de Shouyou, embora ainda estivesse arrepiado por ter sido pego desprevenido antes.

— Não quero. - franziu os olhos, projetando o lábio em discordância - Você sempre vai direto para casa e eu fico sozinho.

— Eeeh? Então você fica solitário sem mim, é? - Kageyama não perdeu a chance de provocar. Por algum motivo, ser o causador das perturbações de Hinata era, em parte, uma diversão. Esperava que ele começasse a gritar a qualquer momento, empurrasse-o talvez, xingando-o de alguma coisa muito idiota. Mas ele apenas se encolheu, as orelhas corando em vermelho vivo, os olhos se desviando para o lado.

— T-talvez eu fique mesmo! Q-q-qual o problema, hm? E-eu não sou seu… n-n-namorado afinal? É normal querer passar algum tempo com a pessoa que eu gosto… - ele resmungou, desconfortável, olhando para qualquer coisa que não fosse Tobio. Esse idiota, forçando-o a dizer um monte de coisas embaraçosas. - Vamos logo, nós não temos que ir antes que fechem a sala?

Ele se projetou para frente, libertando-se do aperto que o outro exercia, mas foi imediatamente empurrado mais uma vez contra a parede, e dessa vez, Kageyama usou seu próprio corpo como barreira, para impedir que ele escapasse.

— Até parece, que eu vou deixar você sair assim depois de dizer uma coisa dessas. - Kageyama o encarava com aqueles profundos, determinados, olhos. Hinata cedeu, sentindo a base das suas pernas estremecerem, com o toque firme das mãos longas do moreno. A voz dele, quando atingia seus ouvidos naquele tom contido, rouco, baixo… tão diferente do usual, era o bastante para fazê-lo esquecer todo o orgulho e a rivalidade.

Repentino e objetivo, assim como os seus levantamentos, Kageyama tomou seus lábios bruscamente. Ele sempre fazia isso, pegando Shouyou de guarda baixa, e fazendo-o perder a capacidade de reagir em um milésimo de segundos. O ruivo mal conseguia raciocinar, e nem sabia o quanto precisava daquilo até aquele momento. Enlaçou o pescoço do mais alto com ambos os braços, impelindo-se para conseguir alcançá-lo e aprofundar o beijo à sua maneira.

— N-nós não podemos… aqui… - ele conseguiu, com dificuldade, pronunciar, enquanto tomava fôlego. Seu rosto estava inteiramente rubro, e suas ações eram completamente opostas às suas palavras - Alguém pode, a qualquer momento… entrar…

— A porta está fechada, e todo mundo foi embora - Kageyama respondeu rapidamente, uma ruga se formando entre os olhos. Ele estava pensando muito profundamente em alguma coisa ou então, lutando para se concentrar - Não tinha ninguém treinando além do time de vôlei hoje na escola, ninguém vai usar o vestiário.

— Tem razão, mas… ainda assim…

— Hinata idiota. - ele deslizou os lábios até o pescoço arrepiado do menor. Naquele frio, estar somente com uma camiseta não era nada inteligente, mas Hinata nunca havia sido a mente mais brilhante, e Kageyama gostava da sensação de sentir o menor arrepiando-se cada vez mais com seus toques. - Você não é o único que fica solitário nesses dias…

— Kage… yama...

Pedir um pouco de controle à dois garotos adolescentes, curiosos e cheios de hormônios em polvorosa, loucos para experimentar e testar limites, era perda de tempo. Nenhum dos dois estava pensando no quão errado ou perigoso poderia ser se fossem apanhados ali, e quando seus olhos se cruzaram mais uma vez, a decisão já havia sido tomada. Os pensamentos de um e de outro convergiram, e com a mesma sincronia que mantinham em quadra, avançaram um contra o outro. Impossível saber quem havia iniciado o beijo daquela vez, e ambos lutavam para tomar o controle, embora Tobio geralmente levasse vantagem por ser mais alto e mais forte.

Aproveitando o apoio da parede atrás de si, Hinata ergueu as pernas e enlaçou o corpo de Kageyama, obrigando-o a segurar com mais força sua cintura, ou acabariam ambos indo ao chão - não que eles ligassem para isso de qualquer maneira. Sentiam-se em chamas, muito mais do que antes de uma partida ou algo assim. Era diferente de quando aproveitavam rapidamente alguma oportunidade furtivamente, ou escapavam nos intervalos das aulas. Completamente diferente. Estavam plenamente conscientes dos sentimentos e dos desejos que tinham em si, e que viam espelhados nos olhos do outro, e essa certeza estampada só tornava cada pequeno toque ainda mais intenso.

Tobio afastou-se e deslizou os lábios até a orelha de Shouyou, já avermelhada, mordiscando-a para provocá-lo. Desceu um pouco mais, provando a pele recém-banhada, ainda com cheiro de sabonete rescendendo. Um ronronado baixo escapou da sua garganta, quando ele sentiu as mãos do meio de rede segurarem seus cabelos com força. O peso dele estava ficando um pouco demais para aguentar, e lentamente, suas pernas foram cedendo até ele se ajoelhar no chão.

— Você não aguenta me segurar? - Hinata ofegou, rindo baixo.

— Cala a boca, você é pesado - ele resmungou contra sua pele.

Hinata o soltou infimamente, apenas o suficiente para se acomodar no seu colo, então, invadindo seus lábios com vontade, a língua ávida para descobrir novos truques e as mãos curiosas, roçando em seu peito. O moreno se apressou também e invadiu a camiseta dele, tocando diretamente em seu abdômen, subindo ainda mais por baixo da roupa. O ruivo arquejou, assustado. Mesmo que não fosse ruim, aquele assalto de sensações que sempre acompanhavam qualquer ato de Kageyama o pegavam desprevenido sempre. Ainda mais quando ele agia de maneira tão incisiva assim.

Sem dar a chance do menor sequer respirar, Tobio o prensava contra a parede. Com as pernas meio erguidas e nenhum resquício de racionalidade, Hinata tentava acompanhar o ritmo apressado do namorado. Nem sempre era fácil, afinal, ele sempre acabava ficando meio entorpecido depois de beijar Kageyama, e acabava se deixando levar pelo outro, que sempre agia de maneira mais impaciente.

— Ka-geyaa..ma… ah, calma aí… - ele tentava empurrá-lo pelos ombros, mas sua força de vontade era praticamente nula. Kageyama fingiu não ouvi-lo. Separou seus lábios, e aproveitando que a camiseta já estava erguida, começou a distribuir beijos pelo tórax, fazendo a voz dele perder-se em um gemido entrecortado.

— O que houve? Isso é ruim? - ele arriscou, uma das mãos segurando-o pela cintura, enquanto a outra descia lentamente para baixo.

— N-não, não é isso...é estranho… ah… - ele sentiu os dentes de Kageyama roçando em sua pele, e perdeu-se no meio do argumento. Havia alguma coisa errada? Ele já não conseguia lembrar. Desde quando aquele maldito era tão bom nisso?

Ele o abraçou, deixando claro para qualquer um que havia desistido de tentar reclamar. O levantador ergueu novamente a cabeça, e trazendo Shouyou para mais perto, beijou-o mais uma vez, longa e desesperadamente. Sentiu as mãos do menor o arranhando nas costas, logo depois que ele decidiu deixar uma marca em seu pescoço, enquanto uma das mãos corria até a perna, exposta por causa do habitual calção preto que ele usava não importando a temperatura lá fora.

— Droga, isso dói, idiota - ele resmungou contra seus lábios, quando sentiu que ele cravava mais forte as unhas nas suas costas e no seu ombro.

— A culpa é s-sua… ahn… Kageyama estúpido… - Hinata se remexeu, inquieto, em busca de algo que nem ele sabia direito o que poderia ser. Ouviu a voz de Kageyama, irreconhecível, arranhando seu ouvido. Sua movimentação impensada causou uma rápida fricção entre os quadris, e ambos soltaram suspiros audíveis, e surpresos. Essa sim, era uma sensação completamente nova.

Kageyama se ajeitou entre as pernas de Hinata, e se impeliu para frente, causando outro roçar entre os membros praticamente despertos. Hinata mordeu os lábios para não deixar escapar um gemido alto demais, e agarrou-se à camisa do maior, quase arrancando-a, escondendo o rosto em seu ombro. Não eram assim tão ingênuos. Sabiam o que aquilo significava, e até passou rapidamente pelas suas cabeças que não estavam no local mais ideal do mundo, mas nenhum dos dois jogadores de Karasuno poderiam ser destacados pela sua ponderância ou auto-controle.

Shouyou sentia seu corpo esquentar e se arrepiar com cada nova onda de choque que acompanhava os movimentos de Kageyama sobre si. A voz dele, ofegando e resmungando baixo, era algo que ele nunca havia imaginado, nem em seus sonhos mais loucos. Consigo mesmo, ele pensou que ninguém nunca havia ouvido a voz do levantador daquele jeito além dele, e saber disso era de alguma forma, satisfatório.

Quando se deu conta, ele já estava deitado sobre o piso frio, a mão ágil de Tobio em sua perna, os quadris movendo-se em uma bagunçada sincronia, com movimentos desajeitados e pouco precisos.

— Hina...ta… - decididamente, ele nunca sentiu algo parecido ao ouvir seu próprio nome. A mão de Kageyama desceu para trás, trazendo seu quadril para mais perto, aumentando a zona de contato entre eles. Hinata arfou algumas palavras ininteligíveis, agarrando-se à Kageyama, os olhos fechados com força. O formigamento em seu baixo ventre, que ele já sentia há algum tempo, aumentou drasticamente, ao ponto de ele não aguentar mais, espalhando-se pelo resto do corpo. Kageyama não estava em uma situação tão diferente assim.

Subitamente, estrelas cobriram sua visão. O calor aumentou e se espalhou, ele já não sabia onde estava, ou mesmo quem era. Tudo o que havia na sua mente era a presença de Kageyama, a consciência do corpo dele contra o seu, o seu cheiro familiar, sua respiração descompassada. Suas vozes ecoaram brevemente pelas paredes cinza do vestiário. Hinata sentiu-se desfalecer, sem forças para mover nenhum músculo. Kageyama caiu sobre ele, no mesmo estado de entorpecimento. Ambos ofegavam quase em uníssono, tão sem fôlego quanto depois de uma das suas habituais corridas até o ginásio.

— Droga… vamos precisar de outro banho...


~


Depois de tomado o segundo banho - em silêncio e separadamente, é claro, já que ainda estavam um tanto constrangidos pela situação recente, sem coragem para encarar um ao outro, eles prepararam-se para ir para casa. Ambos haviam lavado as peças de roupas sujas ali no chuveiro mesmo, e deixaram-nas para secar na sala do clube, quando passaram por lá para pegar as suas coisas. Por sorte, tinham mais de uma peça de roupa reserva no armário. O desconforto inicial logo deu lugar a uma lenta realização do que haviam acabado de fazer. Era uma sensação… estranhamente natural. Não haviam feito nada de errado, afinal… e nenhum deles podia negar que haviam mesmo gostado do que aconteceu.

Quando enfim foram deixando o prédio das salas de clubes, já era noite. Por pouco não ficaram trancados dentro da escola, já que era perto da hora do zelador fechar os portões. Andaram lado a lado pela calçada, sem saber ao certo o que fazer, ainda sem se encararem apropriadamente. Kageyama bufou, resmungando para si mesmo, e estendeu a mão discretamente, tocando com a ponta dos dedos as costas da mão de Hinata. Ele sobressaltou, mas virou a mão, e deixou que entrelaçasse seus dedos. E então, dessa forma, ele sabia que estava mesmo tudo bem. De alguma forma, o relacionamento entre eles sempre evoluíra de maneira natural - eles apenas seguiam um fluxo, como se de certa maneira, estivessem condicionados a seguir um caminho predestinado.

Eles se conheceram do jeito mais adverso possível, eram adversários, de lados opostos da rede. Hinata o elegeu como seu rival. E então, de alguma maneira, ele se tornou o seu objetivo de vida. “Eu vou te vencer”. Kageyama achava isso tão irritante, como é que aquele garoto que mal passava de um metro e meio tinha a petulância de sequer pensar que poderia ser melhor que ele? Porém, não podia negar, a determinação dele era algo invejável. Algo que Kageyama esteve por muito tempo, procurando nos outros, e até em si mesmo, sem nem perceber. Vontade de se superar, de tentar sempre mais, de ser o melhor… E, de repente, eles eram parceiros. Uma dupla perfeita, com uma sincronia surpreendente. Kageyama não sabia o que pensar disso. Havia sido… de repente… e gradualmente… e não era estranho, ou bizarro. Era natural. Da mesma forma, se apaixonar por Hinata foi apenas outro passo. Um tanto assustador de início, ele demorou a se acostumar com a ideia. No entanto, novamente, não parecia errado. Jamais admitiria em voz alta, mas às vezes sentia que havia nascido só para amar aquela pessoa, e não conseguia imaginar sua vida sem ele, agora. Extremista e meloso demais, talvez? Com certeza.

Dessa forma, depois de ter enfim confessado seus sentimentos, veio a sensação de alívio. Era como concluir um levantamento com uma cortada do outro lado da quadra, sem chances de ter a bola devolvida. O trabalho havia sido feito. Mais um ponto. E de novo, como sempre, ter Hinata correspondendo aos seus sentimentos não parecia errado, nem estranho. Era algo que ele queria… era algo em que ele acreditava. Mais uma vez, o que havia acontecido no vestiário aquela noite, apesar de ser inesperado, e errado por motivos óbvios, não deixou nenhum dos dois garotos com sentimentos de culpa ou arrependimento. Tudo entre eles era sempre tão perfeitamente sincronizado, era como se tudo no universo se encaixasse para cada momento, e, Kageyama pensou, seguir esse fluxo poderia não ser tão ruim assim.

— Eu ‘tô com fome… - Hinata passou a mão pela barriga que roncava. - Vamos passar no Pé da Montanha para comprar nikumans….

— Não podemos, idiota! Se o técnico Ukai nos vê saindo da escola há essa hora, vai querer saber onde estávamos! - Kageyama puxou pela mão, quando ele já estava descendo na direção da loja.

— Ah, é mesmo… - Hinata morava longe, e estava sem a bicicleta naquele dia… não sabia exatamente os horários dos metrôs àquela hora, então teria que provavelmente esperar por um ônibus para ir para casa. Nesse caso, o intervalo de tempo sem comida seria muito maior, e ele já estava se retorcendo só de imaginar.

— Tem… uma loja de conveniência na outra rua… e é perto da parada de ônibus também… então…

— Waa... - o rosto de Hinata se iluminou, quando ele se deu conta de que Kageyama estava mesmo se preocupando com ele - E você vai ficar esperando o ônibus comigo?

— Minha casa é mais perto, então não tem problema, eu acho… - ele desviou o olhar, apenas para não ter que encarar os olhos dourados e brilhantes que estavam fixados na sua direção. Cada vez que demonstrava seus sentimentos por Hinata, de formas sutis como essa, ele parecia tão radiante que Kageyama tinha dificuldades de olhar para ele. O que havia de especial em ir comprar comida com ele, ou esperar pelo ônibus? Ele ficava feliz com coisas tão pequenas. Quase como um cachorrinho.

Na loja de conveniência, Hinata comprou alguns salgadinhos e então, os dois foram para o outro lado da rua, acomodando-se no banco. Não era tão tarde, e a rua era bem iluminada, principalmente por causa da loja logo em frente, mas o fato de estarem sozinhos era ainda um tanto inquietante, principalmente por causa do que havia acontecido minutos antes. Para não ter que ir comendo em silêncio, e para não deixar os pensamentos perturbadores retornarem, Hinata começou a puxar assunto.

— Sua mãe não vai ficar brava se você demorar para ir pra casa, por ter ficado aqui esperando comigo? - ele comentou, fitando-o pelo canto dos olhos.

— Não, ela já está acostumada a me ver chegando tarde por causa dos treinos. - ele respondeu facilmente, embora eles não estivessem atrasados por causa do treino em si - Além do mais… ela gosta que eu passe tempo com você… - ele disse isso em um murmúrio, provavelmente esperando não ser ouvido.

— Mesmo? Ela gosta de mim?

Vendo que não escaparia da curiosidade do menor, ele resolveu prosseguir — Ela acha que se eu estiver com você… vou me tornar alguém menos taciturno e extremista… algo assim… Coisa da cabeça dela.

— Awn, bem que eu gostaria de ver um Kageyama-kun mais dócil - Hinata provocou, cutucando o rosto dele. Tobio rosnou em resposta, e ele riu alto - Mas a minha mãe também gosta de você… ela diz que é bom eu ter um amigo responsável, pra aprender alguma coisa - ele resmungou, como se já estivesse cansado de ouvir aquelas mesmas palavras várias vezes. - E minha irmã gosta de você só por que você é alto e legal! - ele reclamou, começando a se indignar - Imagina só, que outro dia ela me disse que quer trocar de irmão, pra ficar com você lá em casa!

Kageyama riu de canto, convencido.

— Claro que ela não quer um irmão baixinho e idiota. Vai ser vergonhoso quando ela ficar mais alta que você.

— Do que está falando? É claro que eu ainda vou crescer mais! Eu tô em fase de crescimento! Você vai ver, ainda vou ficar mais alto do que você! - ele lançou em tom de desafio, quase derrubando o seu salgadinho enquanto apontava escandalosamente - Vou ser um super ás! E vou ser tão legal que você vai ser completamente derrubado! Eu vou até conseguir carregar você no colo!

— Até parece. - Kageyama revirou os olhos, contendo o riso diante da explosão de otimismo que arrebatou o ruivo - Se depender de mim, você continua pequeno e fofo como sempre… - só então ele pareceu se dar conta do que dizia, e virou o rosto, escondendo com a mão. O sorriso de Hinata aumentou.

— O que você disse aí, hm? - ele deslizou pelo banco da parada de ônibus até estar bem perto de Kageyama, o suficiente para encará-lo bem de perto - Que está tão apaixonado por mim que não consegue aguentar se eu mudar? Aaah, que lindo isso Kageyama! Você me ama tanto assim, é? É?

— Cala a boca! - ele tapou com a mão a cara de Hinata, e o empurrou para trás. - Eu não disse nada disso!

— Mas você pensa assim, não pensa? - Hinata insistiu, ainda sorrindo, apoiando o queixo no ombro de Tobio para fitá-lo mais de perto - Eu sei que eu ficaria muito triste se o Kageyama resolvesse mudar, e me deixar para trás…

Dando um peteleco bem no meio da testa de Shouyou, Kageyama voltou-se para ele, tentando manter uma postura digna, minimamente.

— Estúpido, isso nunca vai acontecer. Você não disse que ia ficar no mesmo nível que eu? - ele resmungou, crispando os lábios - Então pare de pensar besteira de uma vez. Nós estamos juntos… e vamos continuar. Entendeu? E o seu rosto está todo sujo! - ele se apressou em tirar as migalhas de comida, que já havia sido terminada, das bochechas dele. Permaneceu com a mão ali uns segundos a mais do que o necessário, e Hinata fechou os olhos, inclinando-se como um gatinho ao receber carinho.

Kageyama inclinou-se na direção do menor, semicerrando os olhos, e visando os lábios incrivelmente convidativos dele. Antes que pudesse, porém, chegar até o seu objetivo final, Hinata abriu bem os seus enormes e brilhantes olhos, e ele travou no meio do caminho.

— Não foi você quem disse que tínhamos que ser discretos? - ele entoou, sem se deixar abalar pela proximidade perigosa de Kageyama; ele suspirou, sem muito argumentos. Estavam em público, e por mais que a rua não fosse tão movimentada assim, alguém podia passar a qualquer momento. Era meio estranho pensar assim, mas Hinata tinha razão.

— Talvez… não seja necessário… por muito tempo… - Tobio murmurou, embora não estivesse muito certo do que estava tentando dizer. Ainda com a mão no rosto de Shouyou, acariciou de leve, voltando a erguer os olhos escuros para ele - Você… já pensou na possibilidade de contar a eles? - ele disse ainda mais baixo, e com os olhos fixos na reação de Hinata.

Ele pareceu surpreso. Arregalou os olhos, tomou bastante ar, abrindo e fechando a boca diversas vezes sem saber o que dizer. Kageyama não entendeu aquela reação. Afastou-se de Hinata, lentamente; se ele não queria contar, é claro que ele manteria o segredo. Afinal, dois garotos namorando era um assunto delicado… Não fazia ideia de qual seria a reação do resto do time, das suas famílias, e das outras pessoas. Era uma ideia meio impulsiva, resolver dizer tudo a eles dessa forma.

— ‘Tá falando sério, Kageyama?? - Um borrão laranja o empurrou, e ele se deu conta de que Hinata havia pulado em cima dele, com as duas mãos em seu peito - Você quer mesmo contar tudo a eles?? De verdade?

— Não sei se é uma boa ideia… - ele coçou o rosto e desviou o olhar - Mas, eventualmente eles vão perceber, ainda mais quando você é incapaz de disfarçar qualquer coisa que seja, então, desse modo, é melhor que nós contemos logo tudo antes que eles descubram de alguma forma mais embaraçosa - “Como sendo pegos no flagra em alguma situação parecida com a de pouco antes…”

— Então vamos contar! Tenho certeza de que o capitão e o Suga-senpai vão ser bem legais e não vão deixar os outros fazerem piadas! E além disso, eu já vi um daqueles mangás BL com a Yacchan, então tenho certeza de que ela não se importa…

— Aquele maldito Tsukishima com certeza vai falar alguma coisa… - Kageyama já ia se irritando por antecipação, enquanto planejava mentalmente respostas à altura para despejar no colega de língua afiada.

— Como se ele pudesse, ele e o Yamaguchi nunca me enganaram! - Hinata deu de ombros, logo se empolgando mais uma vez. Apoiou-se mais próximo de Kageyama, sorrindo animadamente. Ele segurou com a mão a sua cintura, antes que acabassem caindo os dois daquele banco. - Então nós vamos contar? Quando, quando?

— Logo que os treinos regulares voltarem, quando estiverem todos juntos. O que acha?

— Certo! - ele assentiu, pressionando os lábios em um sorriso nervoso, e Kageyama sentia as mãos dele ainda trêmulas contra seu peito. Seus olhos estavam erguidos, fitando-o com indisfarçável interesse. Não precisava pensar muito para interpretar aquela expressão. Era a mesma que ele fazia quando queria muito um passe. Só que dessa vez, ele pedia sem palavras por outra coisa. O que custava atender a um pedido... feito daquela forma, ainda por cima? Kageyama era incapaz de resistir por muito tempo.

Trouxe Hinata para mais perto, circundando-o com a mão que já estava em sua cintura, e com a outra, afagando sua face com o polegar. Hinata estremeceu em contentamento, sorrindo e erguendo o rosto, enquanto fechava os olhos, e aguardava com ansiedade. Kageyama se aproximou, observando a expressão no rosto do ruivo por apenas mais alguns segundos, sorrindo para si mesmo, antes de fechar também os olhos. Mesmo depois de tudo o que havia acontecido entre eles no vestiário, aqueles momentos bem breves que antecediam o contato própriamente dito, em que eles fechavam os olhos, mas podiam sentir perfeitamente a proximidade um do outro, onde suas respirações se misturavam, e seus corações se aceleravam mais uma vez, quase como naquele primeiro beijo… ainda era nesses instantes que Kageyama compreendia com clareza, qual era a extensão daqueles sentimentos em seu peito.

Seus lábios se tocaram de leve, e Kageyama sentiu o ofegar de Hinata, pressionando com mais força e aumentando o contato. Os braços dele avançaram rapidamente pelo seu pescoço, prendendo-o em uma armadilha da qual ele certamente não queria escapar. Inclinando levemente a cabeça, Kageyama cingiu com ambos os braços a cintura de Hinata, e aprofundou o toque discretamente, invadindo os lábios ávidos do menor com o mesmo entusiasmo que ele apresentava.

Um grito agudo, barulho de coisas caindo, e mais alguns outros ruídos estranhos cortaram a noite e sobressaltaram o descuidado casal, que se separou apenas o suficiente para olhar na direção de onde vinha a confusão.

Aquela expressão igualmente chocada no rosto dos dois senpais indicava que não havia resposta dignamente possível que pudesse mascarar a verdade. Haviam sido pegos. Kageyama se levantou do banco primeiro, olhando para Tanaka e Nishinoya com o seu usual semblante sério. De todas as pessoas, justo aqueles dois! Hinata, ainda sentado, mal tinha coragem de se mover, e ele quase conseguia escutar as engrenagens do cérebro dele trabalhando para assimilar aquela situação. Porém, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, os semblantes congelados dos dois modificou-se, transformando-se na mais pura e tranquila representação da paz alcançada somente pelo Nirvana.

— Há… há há… Noya… nós estávamos escoltando a Shimizu-san até a casa dela, não é? - Tanaka falava com uma calma que não era característica, e isso deixava os dois Kouhais nervosos.

— Sim, sim. Garotas não devem andar sozinhas na rua tão tarde. - Noya assentiu, no mesmo tom de voz tranquilizante. Agachou-se para apanhar a mochila que havia derrubado, deixando tudo espalhado - Mas acho que erramos o caminho para voltar. Caímos em um buraco e acabamos em uma realidade paralela.

— Vamos voltar de onde viemos, e nada aconteceu.

— Nada aconteceu.

Os dois deram ré, sem dar a chance de nenhum dos dois primeiranistas se explicarem. Hinata e Kageyama se entreolharam, confusos e apreensivos, mas não puderam discutir muito o assunto, pois logo o ônibus dele chegou, e Kageyama também foi andando para casa. De qualquer maneira, era certo que teriam explicações a dar no dia seguinte.


~


O tempo continuava frio, então era evidente que não poderia haver prática de vôlei naquele dia. Mesmo assim, Kageyama havia conseguido reunir a maior parte dos colegas de time ali, na escadaria que dava acesso à porta do ginásio esportivo, pois havia algo importante a ser dito, para todos eles.

Como esperado, Nishinoya e Tanaka estavam agindo esquisito, provavelmente tentando esquecer a cena que presenciaram na noite anterior, tentando se convencer de que era alucinação, mas o levantador estava prestes a tirar essa ilusão da cabeça dos dois. Hinata ainda estava bem nervoso… Ele não imaginava que fazer um anúncio como esse fosse ser tão difícil.

Como estavam os garotos espalhados ali pela entrada, ele e Hinata se colocaram a frente. O meio de rede se ocultava parcialmente atrás dele, e não ousava encarar os outros por enquanto. Se queria ter isso terminado logo, teria que fazer por si mesmo - foi o que Tobio pensou. Respirando bem fundo, deu início ao que podia ser o discurso mais embaraçoso da sua vida, atrás apenas do dia em que se declarou para Hinata.

— Vocês vão enrolar por mais tempo? - Tsukishima resmungou, cruzando os braços. Algum pensamento devia ter cruzado pela sua cabeça no mesmo instante, por que ele riu daquela maneira irritante e debochada - Parece até que estão para anunciar noivado ou algo assim, vocês dois… - ele riu com mais vontade, e Yamaguchi acompanhou a sua risada, como sempre.

— É quase isso…

Depois de deixar escapar isso, Hinata se escondeu ainda mais atrás de Kageyama. O choque passou pelo rosto de todos os jogadores, inclusive Nishinoya e Tanaka, que parecia prestes a gritar. Ninguém absorveu de primeira a informação.

— Hinata, Kageyama… - Sugawara foi o primeiro a conseguir dizer alguma coisa - O que vocês querem nos contar?

— Eu e Hinata… nós dois… - daquela maneira rígida e ereta, Kageyama resolveu cuidar disso da mesma maneira que se tira um band-aid: rapidamente, sem hesitar, de uma vez só. - Nós estamos namorando. - ele gritou, curvando-se respeitosamente. - Se curva também, idiota - ele resmungou de canto, dando um tapa atrás da cabeça de Hinata e fazendo-o demonstrar ao menos algum respeito.

A reação em cada um daqueles rostos foi imediata. Quando se levantaram, viram os olhos fixos e arregalados, as bocas entreabertas em surpresa. Alguns segundos se passaram, onde nada além do ruído ao longe de um corvo pode ser ouvido, mas Kageyama permaneceu firme, com Hinata parcialmente oculto atrás de si. Tsukishima engasgou em um esboço de risada que se misturou ao choque - não conseguia debochar disso. Yamaguchi ficou mais preocupado em acudí-lo do que reagir propriamente, mas ao lado dele, Asahi escorregou e quase caiu sentado da escada, escondendo o rosto inteiramente vermelho em sinal de surpresa; ele tinha coração fraco afinal. Sugawara também demonstrou surpresa, mas logo sorriu, provavelmente porque já havia percebido qualquer coisa no ar. Nishinoya e Tanaka se abraçaram, ambos chorando copiosamente. Suas mentes não estavam pregando peças, eles realmente viram o que achavam que tinham visto na noite anterior; porém, era um vexame que seus kouhais tivessem conseguido desencalhar antes de seus superiores, e dois ao mesmo tempo ainda!

— Kageyama.. isso… nossa… - como esperado, Sawamura foi o primeiro a se recuperar e conseguir pronunciar qualquer coisa que fosse. Ele coçou a cabeça, incerto como sobre proceder, mas como capitão, era seu dever ser o porta-voz do resto do time em uma situação como aquela - Isso nos pegou de surpresa, certamente, mas… não é como se fosse uma surpresa total também… não é, gente?

— Eu totalmente podia ver isso acontecendo! - Tsukishima não perdeu tempo em comentar - Esses dois sempre juntos, nos almoços, indo para casa, conversando pelos cantos…

— Você não devia falar assim, Tsukki, nós meio que fazemos a mesma coisa… - Yamaguchi observou, inocentemente, como rosto sardento já bem corado, e fez o loiro de óculos engasgar mais uma vez nas próprias palavras, enquanto o resto do time se perguntava a que exatamente Yamaguchi se referia.

— Isso não importa, nós estamos bem felizes por vocês! - Sugawara ergueu-se, com seu costumeiro sorriso gentil para oferecer como congratulação. - Para falar bem a verdade, eu meio que imaginava que isso acabaria acontecendo…

— O que? - Kageyama ofegou, enquanto Hinata saia de trás dele, finamente sorrindo.

— Não é? Qualquer um perceberia que esse idiota se apaixonou por mim! - ele apontou, ainda rindo.

— I-isso é tão lindo, e vocês são tão jovens! - Asahi fungou, provavelmente se segurando para não chorar. Estava de fato, emocionado demais para dizer qualquer coisa; no fundo, era um grande romântico.

— Isso é mesmo muito bom, você finalmente tomou uma atitude de homem, Kageyama! - Nishinoya deu uns tapas meio fortes demais nas costas do levantador, fazendo-o se curvar. Parecia ter se recuperado do susto da revelação da noite anterior bem rápido, já que provocar seu kouhai podia ser muito mais divertido.

— Por que esconderam isso dos seus senpais!! - Tanaka correu na direção dos dois, agarrando-os em um emocionado abraço, com lágrimas escandalosas correndo pelo rosto. Kageyama queria morrer naquele momento. Por que esses caras tinham que ser tão embaraçosos - Quando foi que você se declarou, hein??

— P-p-por que todo mundo acha que fui eu quem se declarou? - ele bradou, indignado.

— Qualquer um deduziria isso! Você estava sempre tentando chamar a atenção do Hinata-kun… - Sawamura explicou por todos, que assentiram.

— Sentia ciúmes quando ele elogiava demais algum de nós… - Asahi lembrou.

— Sempre se preocupava com ele também! - Sugawara comentou, sorrindo - Era fácil perceber…

— Mas eu nunca notei nada disso! - Tanaka reclamou, sentindo-se deixado para trás pelos outros.

Kageyama bufou, irritado com toda aquela situação. Se todos eles já sabiam, poderiam ter poupado o trabalho de fazê-lo contar, e ainda, cortar toda essa conversa constrangedora. Porém, ao olhar para o lado e ver o semblante contente de Hinata, ele não conseguia ficar com tanta raiva assim, então apenas desviava o olhar, tentando disfarçar.

— Oe, oe, Rei - Tsukishima, é claro, não poderia deixar as coisas terminarem bem - Isso tudo quer dizer, que agora, nós temos oficialmente nosso Casal Real, hm? - ele sorriu, arqueando uma das sobrancelhas.

— Cala a boca, seu…

— Casal Real… - os olhos de Hinata brilharam ainda mais, enquanto ele parecia embevecido pela ideia que o outro explanou.

— Ei, idiota, não era pra você ficar feliz com isso!! - ele foi logo tentando cortar a empolgação do menor, com o rosto já adquirindo cor novamente.

— Mas Kageyama! - ele agarrou o braço do namorado, sem ligar para o que ele dizia - Casal Real! Isso não é legal?

— Não, não é! E para de fazer essa cara! - ele foi empurrando o rosto de Hinata, embora fosse meio óbvio que ele não fazia tanto esforço assim. A quem eles achavam que estavam enganando aquele tempo todo? Qualquer um repararia no relacionamento entre eles quando observasse de perto o bastante.

— Mas digam… - Nishinoya se aproximou, baixando a voz para um tom mais discreto, e abrindo um sorriso sugestivo - Até onde vocês foram?

— Wooow! - Tanaka berrou, logo entrando na onda de Noya e assumindo sua forma de “garota colegial ávida por fofocas” - Não me diga que vocês andaram se agarrando no vestiário ou na sala do clube!

Asahi corou mais uma vez, sobressaltado, e Tsukishima não conteve uma risada irritantemente provocativa.

— Vocês sabem que não podem fazer isso, não é? - o capitão repreendeu, colocando as mãos na cintura.

— Já chega disso! V-vamos embora, Hinata! - ele foi empurrando o ruivo pelos ombros na direção oposta, deixando os colegas de time para trás, sem resposta alguma.

Apesar do embaraço e das piadas, sentia-se um pouco mais leve depois de assumir seu namoro com Hinata para seus amigos. A reação deles tinha sido mais natural o que esperava, e eles eram pessoas compreensivas, que ficaram sinceramente felizes por eles dois. O que mais poderia esperar? Tudo estava correndo tão bem para ele que era quase um milagre.

— Você não está feliz, Kageyama? - quando enfim se afastaram da visão dos amigos, Kageyama se colocou ao lado de Hinata, discretamente segurando sua mão. - Eu fiquei preocupado com a reação do Tanaka e do Nishinoya-senpai ontem, mas tudo saiu bem, no fim…

— Sim… melhor do que o esperado… - o moreno assentiu, respirando aliviado. - Talvez nós possamos planejar logo como vamos contar para os nossos pais…

Os dois se entreolharam, e Hinata sorriu brilhantemente, da maneira que o fazia acreditar que nada nesse mundo poderia dar errado. Aquele calor, já conhecido, espalhou-se mais uma vez no seu peito, confortável e bem-vindo. Ele não conseguiu evitar sorrir de volta. Estava mesmo se sentindo tão leve e feliz, que poderia até sair flutuando por aí se não tomasse cuidado. Se ele soubesse que era tão bom estar apaixonado, teria tentado bem antes.

— Nee, Kageyama… - Hinata lançou aquele olhar que ele sabia muito bem que funcionava sempre. - Agora que, meio que...é oficial… hm… que tal…

Ele nem precisou completar a frase. Kageyama olhou ao redor, confirmando que estavam a sós no momento, e aproximou-se mais da parede do prédio ao lado, logo atrás da escadaria externa, onde seria menos provável ser visto.

— Você não tem jeito mesmo… - murmurou, tentando soar indiferente, embora sem tanto sucesso, já que continuava com aquele sorriso de canto brincando em sua face. Enlaçou calmamente a cintura dele com uma das mãos, enquanto a outra trazia seu rosto para mais perto. Shouyou tinha que ficar na ponta dos pés para alcançá-lo, mesmo com Kageyama já meio curvado, e isso era um pouco irritante, mas quando seus lábios se tocaram, esqueceu completamente disso, e de qualquer outra coisa que não fosse a pessoa à sua frente.

O beijo foi lento, calmo e doce. Longo, também. Como se comemorasse o fato de que muitos outros ainda viriam, e eles permaneceriam junto um do outro por muito, muito tempo. Não havia pressa, nem motivo para se afobar. Com seus sentimentos confirmados e reconhecidos, tudo parecia tão simples e fácil, que Kageyama mal conseguia recordar do sentimento de angústia e incerteza que anteriormente perdurou em seu coração.

— Que tal cinema nesse fim de semana?

Enquanto iam para casa, ao lado um do outro, perto o bastante para roçarem uma mão na outra mesmo sem estarem de fato segurando, Kageyama convidou. O rosto de Hinata logo se iluminou - ele andava tendo a mesma ideia.

— Um encontro? Ok, vamos ver aquela comédia nova que estreiou…

— Comédia não! Eu quero ver o filme de guerra…

— Não, é muito chato! Comédia!

— Guerra!

— Deixa de ser teimoso, Kageyama! Comédia é melhor!

— Os filmes que você escolhem são sempre idiotas demais. Como você. Eu quero ver o filme de guerra!

— Comédia!

— Guerra!

— O filme de super-heróis então?

— Hm… certo.

— Certo.








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Notas finais do capítulo

Waa~ nem acredito que consegui terminar XD Espero mesmo que tenham gostado! E para Lorea, você recebeu o presente de aniversário em parcelas mais demorado da história XDD mas parabéns~

Beem, talvez mais projetos com esses dois adorkables mais lindos venham? Se depender da minha mente cheia de ideias, certamente, mas eu preciso de motivaçãaao .___. beeem, as chances são prováveis~ Espero ver todos em alguma outra ocasião, e até algum dia o/

Agradeço pela atenção ;D E vou lá ver o ep de Haikyuu que saiu e eu não vi ainda aahhh ~~ bye bye~