Lost escrita por Beatriz


Capítulo 9
Apenas respirar ar puro


Notas iniciais do capítulo

- Ai, CARAMBA, morri. Eu não posso dar spoilers na nota e tal, mas eu nunca tinha escrito, em todas as minhas tentativas... nunca tinha chegado nessa parte. Espero que esteja bom, espero mesmo. Ouçam com I'm a Mess (adivinha de quem?! Ed Sheeran), porque só por esse título eu já acho merecido que seja a trilha sonora da Em heueh'. Obrigada leitores que me fazem sorrir e me incentivam a continuar! Comentem! :)



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A minha mente deve ser a mais confusa da face da terra, eu sei. Mas o pior mesmo é quando você tem que conviver diariamente com ela. Será que eu era assim mesmo ou a grave lesão na cabeça me tornou pirada? Bom, são respostas que provavelmente eu nunca conseguirei preencher. Quando eu disse oi pra Brian depois de tudo aquilo, o meu rosto começou a queimar como se houvessem brasas vivas sobre a minha bochecha. Ele respondeu o mesmo oi sem graça e pegou algo para comer. Foi a primeira vez que o vi assim, cabisbaixo, triste, sem querer ser (ou parecer, não sei) legal comigo. Ele estava bem estranho, eu não o culpo.

Mas a minha falta de ar nessa prisão, isso ainda não passou. Eu ainda quero mesmo sair pra fora. Respirar ar puro, mesmo que seja de uma grande cidade e ele não seja exatamente tão puro assim. Eu posso não estar em um ambiente tão pequeno, mas isso me dá muita claustrofobia. Engraçado é que me disseram que eu era fechada. Será que me sentia sufocada dentro de mim mesma? Bom, quem sabe. Só sei que esperei a poeira abaixar pra de fato falar com Brian, e ainda foi um grande esforço. Todos os dias anteriores até o dia 20 foram um completo borrão pra mim, aquela mesma sensação. Como se eu tivesse bebido garrafas e mais garrafas de uma bebida alcoólica muito forte mesmo, mas durante todo esse tempo eu nem vi bebida. E não acho que eu queira.

– Ei - chamei Brian, que estava jogado no sofá assistindo TV. Ele não parecia prestar atenção, não mesmo. - Eu ainda quero sair. Não desisti.

– Ah, claro - respondeu suspirando e se ajeitou.

– Você coloca cadeados e trancas novas nas portas e nas janelas, mas você não tem esse direito sobre mim, tá legal?! - Parei. Percebi que sempre que eu falava com ele eu era grossa, diferente dele, sempre calmo e prestativo. Mas é algo inexplicável. Ele desperta essa fúria em mim. - Já é quase Natal... Me deixa sair daqui pelo menos agora, fala sério.

– Tá, tudo bem. Eu não tenho mesmo direito de controlar a sua vida. Vamos sair. Agora...? - Ele se levantou.

– Por mim tudo bem - respondi. Então ele se encaminhou a trocar de roupa, e depois que ele saiu do quarto, fiz o mesmo. Descemos as escadas em silêncio, o clima ainda não tinha melhorado por completo. Resolvi falar algo pra quebrar aquele silêncio estranho: - Vai ser só um passeio, né... Afinal, eu não tenho como ficar gastando por aí. Você vai comprar algo pra sua família? Digo, tia, prima e tal?

– É, acho que sim. Podemos comer alguma coisa. - Em seguida deu de ombros. Permanecemos em silêncio até chegarmos à uma padaria. Sempre fazíamos comentários aleatórios que não envolvessem nada de significante. - Vai querer o quê? - perguntou.

– Hm, tanto faz. O que você pedir.

Sentamo-nos e comemos alguma coisa muito gostosa que tinha queijo e tomamos café. Eu realmente estava ficando aflita com tudo isso. Esse silêncio, essa tensão. Mas se um cara tenta te beijar e você foge, tem que lidar com as consequências. Talvez fosse mais estranho se eu tivesse o beijado, não...? Das duas formas eu me sentiria mal. Quando eu olhava para ele e percebia que ele também me olhava tudo piorava. Então eu tentava me distrair observando pessoas, coisas e tudo mais. Tentava dar um sentido para aquilo que eu estava fazendo.

Olhava para casais conversando felizes sobre o dia-a-dia, mães e filhos lanchando e pessoas sozinhas passando um tempo e bebendo algo. Percebi que tinha um cara me olhando. Não dava para ver realmente se ele estava me olhando, estava de óculos escuros. Mas depois de cinco minutos eu olhei para aquela direção novamente e ele continuava a me encarar, sem ao menos tentar disfarçar. O que será que ele estava olhando? Eu estava feia demais? Tinha café no meu rosto? Tentei limpar minha cara, mas não havia nada. Eu poderia não estar bonita, mas não estava exatamente estranha... Ignorei-o por cinco minutos mas ele continuava ali, vidrado, com a cabeça virada para me encarar. Sinceramente, aquilo já estava ficando estranho e perturbador.

– Brian, vamos embora - sussurrei. Ele olhou para mim sem entender nada. - Vamos. - Desta vez era eu quem estava dando as ordens.

– Mas eu nem terminei de beber meu café - resmungou, o que me pareceu muito idiota no momento. Eu fiz um gesto discreto com a cabeça para o cara careca e estranho de óculos escuros. Com os olhos semicerrados ele fez que sim com a cabeça e se levantou. Pagou a conta e nos retiramos.

– Depois de um tempo eu fui perceber que ele estava me encarando o tempo todo, Brian. Isso é muito estranho - argumentei.

– Vai ver ele só te achou bonita - brincou, mas não achei graça.

– Ah, dane-se. Tirasse uma foto. Ele tem problemas, é sério.

Ouvi passos seguindo-me compassadamente. Poderia ser qualquer pessoa seguindo a mesma direção que nós, mas não era. Eu sentia, eu sabia que não. Olhei para trás como se estivesse procurando algo. Lá estava o paranoico. Dei uma cotovelada nas costelas de Brian, que se retraiu e me olhou feio. Então ele viu o que eu tinha notado e começou a andar mais rápido.

– Vem - mandou, mas ele estava andando rápido demais para eu conseguir acompanha-lo. Se eu corresse a coisa ficaria estranha. Segurei a mão dele e tentei andar no mesmo ritmo. - Será que...

– Acho que sim. - Já tínhamos andado bastante e o cara ainda continuava à nossa espreita. Quando fui me dar conta já tínhamos entrado em outro bairro, aparentemente. Eu desconhecia essa parte da cidade, era na direção contrária do apartamento do Brian. - Espera - pedi, ofegante. Parei, recostando-me na parede. Sei que eu devia continuar a andar e andar... Mas eu estava cansada. Há tempos não caminhava assim. - Ainda? - Ele fez um meneio com a cabeça indicando que sim. - Droga.

Por um momento permiti-me fechar os olhos. O que ele queria me seguindo? Eu pensei que era uma tia. Bom, ela tinha citado um ajudante... Ele iria me levar até ela? Ele só queria me assustar? Eu precisava esvaziar minha mente desses pensamentos, me acalmar um pouco, mas é inevitável.

– EMMA! - ouvi Brian gritar antes de ser arrancada do lugar que estava. Abri os olhos. Alguém estava agarrado ao meu braço, dessa vez não era Wood. Era ele. Eu tentei me desvencilhar, mas sem chances. Me arrastou para um beco. - Solta ela! O que você quer?!

– Ah, é que a minha chefe me deu ordens para ter um pouco de diversão e contar à ela. Já está ficando entediada, mas tem que seguir os planos... - disse com uma voz rouca e sem emoção. Apertando o meu braço mais do que nunca, me jogou para perto de uma lata de lixo. - Como eu posso me divertir? Tem alguma sugestão, rapaz? - Começou a passar seus dedos nojentos por meu rosto, meu queixo. Eu queria muito dar um soco naquele cara, mas novamente estava inerte. Não de medo, mas de aceitação. Eu só me machucaria se tentasse algo, ele devia ter mais de 1,90 e era bastante forte.

Apenas consegui ver Brian com a expressão mais desesperada do mundo em seu rosto, os punhos cerrados e muito ódio em seus olhos. Ele não estava tão desesperado assim nem quando disse que gostava de mim. Nem quando viu aquele bilhete.

– Eu posso te dizer como eu quero me divertir, com você! - E depois disso saiu da inércia e deu um soco na cara daquele maluco. Era como se ele tivesse reunido todas as suas forças naquele ato. Vi sangue escorrer do nariz do homem. Brian pegou seu braço, imobilizando-o. Um sorriso sarcástico no rosto daquele que estava sendo, hm, agredido. - QUANDO EU TE SOLTAR, VOCÊ VAI DAR O FORA E NÃO VAI MEXER MAIS COM ELA! ESTÁ OUVINDO?!

– Ah... - suspirou e começou a rir. - Às ordens, super-heróizinho - cuspiu as palavras. - Mas tenha consciência, só porque vou embora, isso aqui não acabou. Não era hoje, como disse, que coisas vão acontecer de verdade. Mas elas vão...

– DÁ. O. FORA. - falou entredentes. Então torceu o braço do cara mais uma vez e o soltou. Este ainda sorria, como se alguém o tivesse apenas beliscado. Saiu andando lentamente, virou-se ao chegar na esquina da rua e nos deu um sorrisinho.

Quando ele já tinha sumido de vista, permiti-me escorregar e sentar no chão sujo. O rosto entre as mãos, eu não queria chorar e demonstrar fraqueza. Eu não devo chorar. Ao invés disso, limpei meu rosto por onde aqueles dedos imundos tinham passado e murmurei com raiva. Eu fiquei assim por muito tempo, minha mente estava tão vazia quando naquele dia. Apenas respirava, ainda ofegante.

Então repassei a cena em minha mente. Se divertir comigo?! Como assim?! O que ele faria se Brian não tivesse feito aquilo? Como será que ele se divertiria? Eu não quero nem criar suposições sobre isso... Brian... Ele... Acho que nunca na minha vida - talvez exceto os meus pais, dos quais não me lembro - alguém se preocupou assim comigo. Ele se arriscou. Eu sei que ele é forte, mas aquele cara se entregou porque ainda não era hora, ele mesmo disse. Ele poderia muito bem ter reagido e então Brian se machucaria... Por mim.

Quando reuni forças para me levantar, eu me deixei levar por aqueles sentimentos. Sem razões, sem pensamentos, sem questionar. Minha mente confusa não iria atrapalhar agora. O meu coração poderia ser estúpido, mas ele estava certo, afinal. Com meu rosto ainda molhado, eu não tinha controlado umas poucas lágrimas, aproximei-me do rosto dele. Puxei seu rosto para perto do meu para que não precisasse ficar na ponta dos pés. Ele entendeu. Era óbvio. Era o que eu queria no momento, assim eu esqueceria de tudo. Ele passou seu braço pela minha cintura. E com nossos lábios unidos, toda aquela intensidade me fez esquecer de qualquer preocupação. Éramos só nos dois ali, mais nada importava naquele momento.

Eu deveria aproveitar o momento, pensar demais é o que, de fato, estraga tudo.


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