Lost escrita por Beatriz


Capítulo 24
Quando tudo acaba


Notas iniciais do capítulo

- Para esclarecer, não é de fato quando tudo acaba... Ainda tem mais uns dois capítulos, mas entendam... Comentem? ç_ç leitores, tantos fantasmas. Tristeza, é tanta. Mas felicidade. Eu estou perto de fazer algo que nunca consigo: concluir uma história! Beijos q



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Eu estava preparada. Só aguardando. Meio confusa sobre o que fazer. Mas sabia que poderia me defender. As vozes, uma em cada ombro, diziam “Você deveria acabar com ela. Agora há possibilidades” e a outra “Sua mãe não iria gostar que você matasse a irmã dela, mesmo ela tendo feito o que fez”. E eu me esforcei bastante para que aquele debatezinho não me levasse toà loucura. O fato é que estava muito confusa quanto a isto.

Mas o argumento do anjinho era mais válido. Eu não sou igual a ela, não. A insanidade não me atingiria. Que eu saiba isso não é contagioso. Mesmo que Jane tenha acabado com a minha vida, eu não faria o mesmo. Ao menos não utilizaria métodos semelhantes. O meu plano era me defender dessa vez. Eu realmente tinha sido um verme inútil, mas como eu faria qualquer coisa? Não via solução. Agora eu tenho. E então eu a entregaria novamente para a polícia...

Isso me intrigava. Como é que ela conseguira escapar? Mas eu não ia achar a resposta sozinha. Sei que não.

Toc-toc-toc.

– Olá, Em? – Dei um pulo ao ouvir o meu nome sendo dito daquela maneira. Mas era a voz de uma senhora. Luce... Ela nunca me chama dessa forma. – Gostaria de perguntar se sexta-feira vai estar livre?

– Oh, er... Não... Me desculpe, Luce. Mas compensarei domingo, que tal? – propus, meio hesitante.

– Sem problemas. Você já está fazendo o bastante. – Ela já ia saindo e deixou a porta encostada, mas voltou no mesmo instante. – A propósito, você conhece um tal de Brian Wood?

Aquela pergunta atingiu o meu peito e me fez sentir uma dor excruciante no coração. Logo quando eu estava começando a progredir. Começando a sofrer menos. Eu suspirei pesarosamente e tentei não parecer esquisita quando menti:

– N-não.- Mas acabei por gaguejar. – Por que, hein?

– Recebi uma ligação desse rapaz procurando por você. Deve ser outra Emma Harrison... E ele só ligou no hotel errado. – Mas aquela hipótese ingênua não era verdadeira, ela sabia que eu havia mentido. Retribuiu meu olhar triste e fechou a porta delicadamente.

Eu tentei dormir para ver se diminuía a dor. Rolei na cama por duas horas e meia até o cansaço físico me esgotar.

O taxista me deixou desconfiadamente naquele lugar deserto em frente a uma casa abandonada. Eu apertava toda a hora a minha cintura, onde estava escondida uma faca um pouco maior que a de antes. Eu não desejava precisar usá-la para valer, só estava com ela para evitar que Hill tivesse sucesso em me matar. E tentaria utilizar das minhas poucas habilidades aprendidas no curso de defesa. Tinha uma corda amarrada na cintura por debaixo do casaco. Me sentia meio ridícula, é evidente. Mas era uma necessidade.

Dessa vez não haveria Brian nem nada. Apenas eu e ela. Eu só queria conseguir contê-la de vez, porque ela já estava me irritando com essa porcaria de ficar se safando toda a santa hora. E eu tinha que conseguir de fato prendê-la. Já eram três assassinatos de que eu estava ciente. E mais duas tentativas. Ela tinha que apodrecer ali.

Eu estava adentrando a casa, e o gramado estava bastante alto e molhado. O céu meio nublado. A pintura da casa enorme estava descascando. Meio infiltrada. Eu entrei e me sentei no sofá. Coloquei a faca escondida, mas num lugar de fácil alcance. Nunca se sabe quando sua tia vai tentar arrancar sua cabeça.

O céu já escureceu e pontinhos brilhantes preenchiam-no. Eu estive encarando um ponto fixo inexistente por horas. O toc-toc dos saltos me acordou. Instintivamente pus a mão onde a faca estava escondida. Ela arreganhou a boca mostrando os dentes amarelados e pôs a mão na cintura.

– Um prazer – sussurrou.

– Igualmente – sibilei com os olhos semicerrados.

Levantei-me e dei alguns passos para trás, em direção à escada. Ela já pegou o que escondia na cintura. Sabia que com o empecilho que houvera da última vez tentaria ser mais rápida. Eu comecei a pensar o que uma faca faria contra um revólver.

– Não vai fugir, vai? – perguntou com um falso tom doce na voz.

– Não mesmo – rebati.

Eu não iria fugir, só iria bolar alguma coisa. Um momento de distração e já estava no topo da escada. Havia um vaso de plantas enorme perto de uma porta. Impulsivamente, o peguei, meio cambaleante, e joguei na enorme sala abaixo. Nem um caquinho em Jane. Ela não era tão ruim assim.

Somente a luz da sala estava ligada. O resto da casa estava bastante escuro. A lâmpada da sala começava a queimar, o que era uma droga. Não que eu tivesse medo do escuro. Mas como se proteger do que não vê?

Toc-toc-toc. O som do salto tintilando novamente. Mas eu não conseguia identificar de onde. Não saberia localizar qualquer interruptor. Pior para acha-la, melhor para me esconder. Tentei controlar minha respiração. Me saí até bem nisso.

– Não adianta... Se esconder – disse num sussurro audível. Sei, confuso. A lâmpada da sala tinha piscado de vez. – Que tal tentar cobra cega? Eu tenho uma pontaria instintiva maravilhosa!

– Bom para você. – Apenas mexi os lábios. Comecei a tatear silenciosamente em busca de alguma maçaneta. Toquei em uma. Como abrir a porta sem fazer barulho.

– Posso te farejar. Posso farejar seu medo – cantarolou e voltou a andar, notei, pois ouvia o barulho do seu salto.

Não, não pode. Pois não o sinto.

Um barulho diferente ali em baixo. Uma pequena chama bruxuleante flutuando no breu da enorme casa no andar debaixo. Girei a maçaneta e cambaleei para dentro do pequeno cômodo. Talvez um banheiro. Fechei a porta sem fazer muito barulho e girei a chave. Tentei achar o interruptor. Fiquei me perguntando se haveria algum risco... Estava fechada... Mas já andei conhecendo o talento de Hill para arrombar as coisas, por isso melhor não arriscar. Segurei firme a faca atrás de mim e saí do banheiro.

Ande cautelosamente. Mesmo assim ainda quase escorreguei no mármore da escada. Estava me sentindo muito estranha com aquela faca. Mas eu não era uma psicopata. Não iria matar ninguém. Eu não sou assim, não tenho esse sangue frio. Não sou como Jane. Apenas não quero morrer aos dezessete anos, apesar de não encontrar motivos evidentes agora para estar viva. Só o anseio de alguém que quer viver algo.

Senti um metal frio no meu braço. Como reflexo bati nele, derrubando-o. Era apenas uma pequena estatueta. Topei finalmente com algo humano. Rapidamente derrubei sua arma, mas ela colocou a mão no outro lado da cintura. Segurei seus braços com toda a força que reuni, mas ela cravou suas enormes unhas em mim e sentia que meu braço sangrava. Comecei a torcer seu pulso. Armas no chão. Uma garota magricela tentando derrubar alguém. Um soco na altura da minha sobrancelha e mais um tapa na minha bochecha esquerda. Um chute no estômago dela e parece que isso foi suficiente para detê-la por um tempo. A contive e a derrubei no sofá.

Uma mulher amarrada novamente. Um olhar de ódio que cintilava direcionado a mim. Um sorriso singelo em meus lábios. E eles sangravam um pouquinho. Peguei a faca para me certificar de que ela não fugiria. Ela abriu a boca com um ar de incredulidade a envolvendo.

– E agora? O que fará? Vai me matar? – sibilou.

– Não – disse, o mais firme que pude.

– Claro que não. – Ela deu uma risadinha. – Você não é forte o suficiente.

– Matar não é ser forte. Saber lidar com as coisas e as pessoas sem querer eliminá-las é que é ser forte. Saber relevar, saber não ser idiota... Saber não se deixar levar por sentimentos tolos. Saber reconhecer o amor.

– Mas que baboseira é essa? – perguntou. – Amor? Olha, querida, você fala muita coisa sem sentido. Que é que isso tem a ver?

– Você tinha amor. Mas os sentimentos tolos e a vozinha no seu ombro, a voz impertinente, a fez pensar que não. Só porque algumas coisas não dão certo, não quer dizer que a sua vida está acabada. Corra atrás delas, releve. Eu sei que não parece ter sentido. Mas você realmente achava que sua irmã não a amava para te matar? Só por que algumas coisas não deram certo para você e deram para ela? Porque, olha... Não, não há motivo suficiente para explicar isso e nunca haverá. – O tom da minha voz era surpreendente calmo.

– Não conte que esse discursinho vá me comover, viu? – disse cética.

– Nunca contei. Não é para convencer ninguém. É só para você saber o que penso.

– Entretanto, não estou nem aí para o que pensa.

– O seu caso é grave. Você não liga para mais nada. Só ouve a voz da insanidade e obedece. Não há mais sentimentos no seu coração...

– Uma pergunta?

– Uma afirmação.

– Sentimentos. Coração. Amor. Sua mãe também usou disso quando eu a matei. Isso é coisa de gente desesperada, entenda. E ela mentiu ali porque estava desesperada.

– A sua mágoa é impressionante.

– As suas mentiras são intragáveis.

Um dar de costas para acender a luz de fato. Um descuido. Um barulho. O último barulho. Parece que algo perfurou as minhas costas.


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