Lost escrita por Beatriz


Capítulo 17
Pensamentos felizes


Notas iniciais do capítulo

- Comentários, omg, cadê vocês pessoas? aoihsioqh' bom... eu não faço ideia do que falar, sério. Uma música aqui? Já disse que elas necessariamente não tem relação com o capítulo, ok?! Let me go (AVRIL LAVIGNE) é uma boa.



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A cadeira havia se quebrado e eu estava jogada no chão, sem nenhuma vontade de me sentar com dignidade. Amarrada e com um pano na boca. Totalmente desnecessário. Eu não gritaria. Gritar pra quê? Aquele lugar era totalmente afastado. Fico pensando o que levou meus pais a se mudarem para um lugar tão isolado. Cacos de porcelana perfuravam minhas pernas e mãos. Eu estava tensa demais para chorar. Um pouquinho de sangue no assoalho. É só decoração. O meu senso de humor negro às vezes me assusta, eu sei.

Sem esperanças. Uma hora a luz no fim do túnel se acaba, se dissipa. Uma hora um sorriso se fecha em gélidos lábios sem expressão. Uma hora gente feliz e apaixonada jaz sem sentimentos embaixo de montes de terra. Uma hora tem que acontecer.

Últimos pensamentos felizes.

E se é assim, eu me permito alguns últimos pensamentos felizes. Desviar meus pensamentos daquilo. Uma válvula de escape nas memórias despreocupadas. Eu sei que não funcionará por muito tempo, eu não consigo me desconcentrar. A não ser que... Mas não. Não estará. E pensará como sou idiota, porque ele me amava demais para um dia me trair. E irá se enraivecer com a minha falta de confiança e idiotice.

Na realidade, nem éramos namorados. Por que disto? Porque eu o amava. “Meio”. Eu tinha dito que meio que o amava. Tão insegura com relação a sentimentos. Coitado dele, ele me ama e eu meio que o amo. Realmente não o mereço. Ainda não compreendo o porquê. “Eu não posso controlar”, ele me dissera. Eu esperava que meus pensamentos fossem transmitidos a ele por ondas até sua cabecinha linda. Divaguei demais.

Eu não me entendo. Talvez seja eterno. Eterno até que ela me mate. Estava lá em cima resolvendo qualquer bosta, disse que queria bolar algo divertido. Divertido. O conceito de diversão dela nunca me será aceito. Porque a diversão pode ser relativa, mas isso não é se divertir. No fundo da minha alma eu tenho dó dessa pessoa que perdeu completamente a sanidade e agora tem sérios problemas psicológicos que nem os melhores profissionais da área conseguiriam resolver. Amargura. Falta de amor no coração. Eu já debati muito em minha mente sobre os sentimentos. É melhor que eu os sinta. Isso quer dizer que sou humana.

Ela não é. Com certeza não é humana. Até os monstros se ofenderiam se eu desse o nome deles a ela. É o exemplo mais insano da loucura em pessoa dentro de um corpo aparentemente normal, apesar das fortes olheiras que devem representar noites perdidas com seus planos para um serial killer, quem sabe. A falta de sentimentos. É isso o que acontece. Ela faz com que alguém mate outro alguém por causa de um chá. Ela faz com que pessoas matem irmãos por sentimentos completamente estúpidos. Mas eu não acho que haja volta para ela, não estou sendo negativista.

Voltando aos pensamentos felizes? Eu não consigo me concentrar.

Sentir ou não sentir, amar ou não amar? Se desesperar ou não se desesperar? Morrer ou não... Ah, essa aí não tem opções. Querer morrer ou não querer? Agora, sozinha no mundo, a única pessoa a quem minha morte remete de fato é Brian. Mas ele já sabia desde que descobrimos a carta. Ele podia ter se livrado disso, ele quis continuar. Ele poderia ter abdicado de seus sentimentos por mim, eles poderiam passar. Não passaram. Ele poderia ter tido uma vida normal e feliz sem mim. Que ele sofra sem mim ou que ele sofra comigo? – me pergunto. Mas na verdade, eu já disse isso, não sou eu quem decido nessa droga. Não sou eu quem vai apontar uma arma pra minha cabeça.

E eu fico sempre entre as duas questões, porque eu sou totalmente contraditória e indecisa. O meu maior defeito. Eu só tenho uma única certeza agora, é, eu tenho certeza.

Lembro-me de quando lhe disse que não precisava de um cara para me salvar. Bom, eu preciso. Eu preciso mas eu não terei. Ele nem saberia como chegar. O objetivo era ter lembranças felizes e me distrair? Quando você sabe que a pouco morrerá, é difícil dispersar seus pensamentos preocupantes.

Lembrei-me de quando dançamos. Lembrei-me de todas as vezes em que nos beijamos. E de quando eu estava deitada no sofá com minha cabeça em seu ombro. Do nosso primeiro beijo. Este foi seguido de mais um fato preocupante. E no calor e desespero do momento, eu o beijei. Mas o que sinto por ele não é fruto do desespero. Eu sei. Vi seus dedos entrelaçados aos meus. E ele me abraçando. Ele dormindo e eu o cobrindo. Esse último remete ao episódio em que fui mais idiota em minha vida. Foi difícil escolher, eu sou idiota sempre, mas isso... Isso foi de longe o pior. Lembrei-me de quando ele me viu naquele Café. Estava chorando, estava perdida. Estou perdida. E ele me ofereceu ajuda.

“Grey is my favorite color”. Perder-se em seus olhos cinzas à la Tâmisa é um bom passatempo. A inércia. Tudo que está parado tende a continuar parado. Como eu, garota amnésica, me lembro desse conceito da física? Boa pergunta. Meu cérebro é doido. Tão doido quando naquele dia em que acordei do coma. E eu tendo a ficar parada aqui. Não há como escapar. Mas eu vou fazer questão de que ela saiba que ela não ganhou. Eu não vou chorar.

Eu nunca vou ver a primavera novamente. Eu nunca verei a minha cor favorita. Eu sei que estou sendo melodramática, mas um grande pedaço do bule cortou-me o braço e a perda relativamente grande do sangue me faz ficar maluca. Eu nunca mais terei a minha droga, a droga que me faz esquecer de quaisquer problemas. Nunca nem ficarei confusa. Ele nunca me pediria pra, sei lá, ser a namorada dele – mesmo que eu duvidasse disso mesmo que vivesse. Isso está demorando demais. A tortura mental, eu não a aguento.

Era isso o que ela queria.

Pensamentos felizes, vamos lá. Iluda-se fingindo que Brian está te beijando agora. Tente. Tente tirar sua mente desse mundo. Assim haverá apenas uma casca de Emma quase inconsciente jogada ao chão. E ela não terá exatamente o que matar. Uma Emma flutuante, feliz, sua mente pensa em amores, não em dores. Ela não está mais aqui. Não há mais preocupações.


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