Lost escrita por Beatriz


Capítulo 16
Babaca


Notas iniciais do capítulo

- Gente, i'm happy, okay. Na verdade eu tô é doida, dias indesejados devem estar perto, porque meu humor tá oscilando pra caramba, mas na maior parte.... Ah, esquece. Esse não é meu blog, não devo ficar de blá blá blá. Tá quase no fim :o Eu já escrevi até o 18! Leiam com I'ts Time (IMAGINE DRAGONS) se desejarem.



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Meu coração batia tão forte que não me surpreenderia se os dois naquele carro e a pessoa mais próxima à alguns quilômetros de distância o ouvisse. Eu tentei ao máximo não transparecer isso. Mas era muito difícil. Eu suava, e faltava muito para o verão chegar. E meu rosto estava bastante vermelho, dei uma olhada naquele espelho que há nos carros para ver o que tem atrás. Eu não seria fraca. Não transparecia medo. Eu não daria a ela o prazer que certamente queria: ver-me sofrer. Mesmo que sofresse, ela não saberia. Mesmo que morresse, ela não venceria.

O que me assusta não é a morte. É saber que ela matou meus pais, brincou comigo, e agora conseguirá novamente o que quer. Minha morte. Aquela que ela deixou para trás. Eu não quero que meus pais tenham morrido em vão. Porque todos os pais não iriam querer nunca que seus filhos morressem dessa forma cruel. E eles morreram, e eu aposto, fizeram de tudo para o que o mesmo não acontecesse a mim, uma criancinha na flor da idade. Não vou entregar de mãos beijadas isso a ela. Essa doente. Mas não vejo escapatória. Merda.

– Oh, oh – ela sussurrou rindo. Eu odiava aquela risada mais que a qualquer coisa no mundo, descobri. – Distraída? Pensando em quê? No Bri... an...? – Ela disse o nome dele vagarosamente para me irritar.

Brian. Ela me pegou. Ele está longe. Ele ficará em paz. Talvez tenha que se acertar com a namorada mesquinha, mas faz parte. Céus. A adrenalina e tantos sentimentos queimam neurônios das pessoas?! COMO PUDE SER TÃO BABACA?!

Babaca. Babaca. Babaca. Respire. Limpe seu nariz. Não respire tão depressa. Neutra. Tem que ficar neutra. Ela deu outro sorrisinho de lado e virou numa rua cheia de árvores e sem construção nenhuma aparentemente. Não, não. Tinha uma casa com grandes portões ao fundo. Ela era enorme. Ia me perguntar se o dinheiro dos meus pais tinha sido investido nela, mas ela não conseguiu o dinheiro. Se não tivesse armado contra mim, eu poderia muito bem sair dali aos 18, comprar uma casa, fazer faculdade. Eu tinha dinheiro. Deve ser por isso, talvez, que me davam uma pequena mesada que os outros não recebiam – as memórias estranhamente me voltavam, fragmentadas, de forma aleatória. Era da poupança. Eu nunca gastei muito do dinheiro, na realidade...

Voltando ao babaca. Atenção, Emma! Ela está adentrando na grande casa. Você... é... uma... completa... idiota... Emma Harrison! Quando tudo de estranho acontece, de quem é a culpa? Jane. E o que eu deveria ter pensando daquilo, se tivesse sido racional? Foi a Jane. Eu realmente pensei que ele poderia ter... Eu não acredito que pensei isso. Ele é bom demais pra fazer algo do tipo. E sabe quem não é boa demais?! Eu. E devo ficar aqui mesmo e morrer, porque sou uma babaca. Nã-nã-não. Foco, Emma. Está perdendo o foco. É isso. É sempre isso. Os sentimentos, o coração. Essas drogas sempre atrapalham.

– Vamos – ordenou.

Minhas pernas estavam bambas quando desci do carro. Eu quase caí na neve suja de lama. Eu não via a hora de a primavera chegar, mesmo que o frio seja sempre muito agradável. Oh, não. Eu não veria a primavera chegar. Duh. Eu caminhei a passos robóticos, seguindo a megera. Ela andava perfeitamente de salto na neve. Tinha posto a arma na bolsa chique. Iria demorar a pegar ela... Eu poderia tentar combate corpo a corpo e jogar a bolsa para bem fora do alcance dela. Eu poderia fazê-la sangrar um pouco com a minha miniatura de faca e correr. Parei para ver se ainda estava ali.

– Hm, algum problema? – disse mais áspera. – Bom, bom... Sabe que lugar é esse? – Apenas a encarei com ódio em resposta. – Era aqui que minha irmãzinha morava, a Sharon – e ao dizer isso, pronunciou “Sharon” com nojo. – Riquinha, ela. Sempre teve tudo o que quis. O sucesso, o amor, o cara, o dinheiro, a filha... Eu não fui muito bem sucedida quando jovem, mas desde que essa gracinha – e bateu na bolsa para dizer que era o revólver. – fez “BUM” eu pude ser um tanto feliz. Quer dizer, ela tinha tudo. Eu queria um pouco. Me divertir, pra variar...

– SE DIVERTIR?! – berrei, e depois me calei instantaneamente. Eu não aguentei. Ela era louca. Mas, céus, não falar por tanto tempo me fez ficar sem saber a diferença entre falar normalmente e berrar.

– Diversão. Cada uma tem a sua, menina ignorante. – Vejo que ela não estava mais usando da tática de docinho. Vai ver é bipolar. E fica mudando de faces a toda a hora, mas o fato é que a psicopatia não vai embora. – Eu sei que para vocês adolescentes se agarrar e ficar na internet é o melhor tipo de diversão. Mas eu aprecio minha arte. E, hm, eu poderia ficar falando de meus dramas e traumas a tarde inteira, mas vamos tomar chá para conversar, é mais decente e preciso demonstrar hospitalidade para honrosa visita.

– Doida – sussurrei. Ela gargalhou e começou a andar rapidamente.

Eu fiquei observando a casa e só pensava em uma coisa: era a casa dos meus pais. A casa que por pouco tempo eu vivi. Estava uma bagunça. Fiquei com vontade de saber o que aconteceu. Provavelmente era parte da herança e sem ninguém para fazer manutenção ficou assim por todos esses anos, abandonada. E seria minha quando atingisse a maioridade.

Ainda havia cacos de vidro no chão, uns poucos que foram deixados para trás. E meus olhos estranhamente pararam em cima de uma manchinha de sangue no canto da parede, perto da estante onde a TV ficava. Tão pequena e imperceptível. E havia fotos de uma mulher ruiva e de olhos parecidos com o meu na sala. Olhos brilhantes. Bochechas fartas e uma covinha do lado esquerdo. Era linda. Até mesmo em um porta-retrato em cima da prateleira em que estava com os cabelos bagunçados. Um homem de cabelos cor-de-mel beijava o topo de sua cabeça. E havia centenas de fotos de uma bebezinha loirinha e rechonchuda. Ela era tão sorridente. A mãe a olhava como se fosse, não a oitava, mas a primeira maravilha do mundo.

– Cansou de ficar observando? – resmungou. – Este lugar é nostálgico demais. Vamos por aqui. E você, Charles, não se esqueça do chá.

Eu a segui até uma escada que levava ao subsolo. Um porão. Ela foi me empurrando enquanto eu descia os degraus, e com um movimento firme me empurrou para uma cadeira velha e cheia de mofo.

– Seus olhos me dizem “Sem rodeios, por favor”. Mas eu não me importo com seus malditos olhos. E sou uma mulher bastante paciente. Enrolo um pouco, confesso. Poderia ter te matado assim que descobri que você vivia. Mas eu gosto de algo bem dramático, admito. Bem desenvolvido. – E gosta de brincar com a mente das pessoas, completei mentalmente. – Quando eu quiser. Como quiser. Você irá embora. Ficarei triste, oh... Não vou ter mais nenhuma sobrinha para atormentar. Mas, apesar de você ser minha sobrinha original, eu podia... Podia ser a titia Jane de várias outras e outros. Um passatempo. Não seria a mesma coisa. – Suspirou e ao se recompor, sentou-se elegantemente no degrau. – Já, já Charles irá trazer chá. Está sendo muito, muuuito entediante conversar com você, Emma. Herdou tanto da mãe. Preocupada com você e apenas isso. E claro, amores bobos. E ela se preocupava com amores que eram meus. Tão mesquinha. Casou-se com ele. Eu superei naquele dia, sabe. Foi legal. Você devia tentar parecer mais simpática, garota. Só fica aí parada bufando, que coisa feia.

E eu bufei novamente para provoca-la.

– Não sei como aquele tal Brian gosta de você. Ele é bonitinho. Você é tão ri... dí... cu... la... – Ela disse passando a mãe em meu rosto. Eu rosnei e bati em sua mão. Ela riu e fez que não com a cabeça.

– Ridícula é um adjetivo que deveria pertencer exclusivamente a você nesse mundo todo! – gritei.

– Senhora Hill? – Charles perguntou chegando com uma bandeja com um bule de chá e uma única xícara. Porcelana fina. Ela serviu-se e bebericou um pouco. Cuspiu ao chão e empurrou bruscamente a bandeja a ele.

– SEU ESTÚPIDO! Eu não disse o que queria? E você errou novamente! Inútil, rapaz inútil... Eu não gosto de pessoas inúteis. – E com um disparo certeiro, logo Charles estava debruçado nos degraus com o peito perfurado. – Droga – lamentou-se, e eu até estranhei. – Ele está aí com seu corpo gordo e agora eu não tenho quem tirar. Viu? Mais uma vez: inútil. – E chutou o corpo morto para um lado, fazendo com que a escada ficasse livre.

Pegou o bule de chá e lançou-o contra a parede, bem ao lado de minha cabeça. Ele espatifou-se no chão. Ela deu uma risada embargada e pisou na xícara. A perna da cadeira balançava.

– Porcelana de Sharon. Casa imunda de Sharon – murmurou, dando voltas. – Preciso dar um jeito em você. – Eu arqueei uma sobrancelha. Cedo demais para ela. – Não dessa forma, tola. Para que permaneça em minha companhia tão agradável. Dê-me isso que está em sua meia, agora. – Ela estendeu a mão. Fitei-a neutra. Sabia que deveria estar em seus conhecimentos, tudo estava. Mas... Droga! Como vou tentar algo desse jeito?

Brian – a voz na minha cabeça murmurava. – Obrigada por tudo. Desculpe. Eu sei que sou uma idiota, mas saiba que eu meio que te amo. E você é demais pra mim, por isso não se lamente. Todos morrem na vida um dia, é inevitável. As maneiras é que são distintas.

*NARRAÇÃO: BRIAN*

Acordei completamente atordoado. Era pra eu ter acordado feliz. A noite anterior foi a melhor de toda a minha vida, eu tenho certeza. Sei que Emma me deixa a duvidar muitas vezes, mas eu prefiro pensar que ela realmente gosta de mim. Prefiro ter uma pontinha de esperança de que seja recíproco, mesmo que seja babaquice. E é. Eu sou meio babaca. Todos são, é inevitável. Quando não são, às vezes se tornam, ou momentaneamente viram babacas. Mas todos têm o seu momento. Eu queria acreditar que não era a situação desesperadora que a levava a confundir seus sentimentos e me beijar como se realmente gostasse de mim. E depois que rodeei e rodeei lembrei-me do que me preocupava. Ah, é.

Eu acordei com dor nas costas por ter dormido sentado naquele sofá horrível. Mas não estava chateado, pois ela estava comigo. Estava. Onde Em se metera? Eu a procurei em todo o lugar e não a achei, e isso já me deixou de cara muito nervoso. Que idiotice. Sair por aí quando alguém quer te matar. Então uma garota apareceu do nada e pressionou algo em meu rosto que me deixou tonto. Novamente estava a dormir. Subconscientemente acordado, ouvia batidas de porta, gritos e murmúrios. E quando eu acordei não estava com meu casaco nem com as calça jeans. E tinha uma mancha no meu pescoço. Um “ADEUS” em letras garrafais num dos famosos bilhetinhos colado na geladeira.

É. É a hora.

Estava tentando me controlar. Eu quase sempre me controlei. Só não quando as coisas envolviam Emma. Ela iria ser pega, ela iria morrer. Ela foi idiota e... Deus, que coisa ridícula. Como, Emma? Sempre com suas idiotices e mais idiotices que nos ferravam. Eu nunca tinha ficado com muita raiva dela até então. Ela morrer não era uma opção. Mas onde? ONDE?! Beleza. Estou ferrado. Estou ferrado porque ela está ferrada, e sempre foi assim. Eu não quero criar hipóteses de como reagiria a sua morte.

Tudo estava dando certo e errado ao mesmo tempo. Momentos felizes em uma situação de desespero. Se apaixonar é muito mais uma merda quando a garota tem prováveis chances de ser assassinada. Mas eu ainda a amo, não é algo que dê pra se controlar, eu já disse.

***


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