Abro meus olhos lentamente e bocejo. Sinto alguma coisa acariciando meus cabelos e sorrio com o toque de Jace. Começo a desenhar círculos com os meus dedos em seu peito nu.

–Bom dia- ele diz beijando o topo da minha cabeça.

–Bom dia- sorrio e lhe dou um selinho- Dormiu bem?

–Tá brincando? Acho que nunca dormi tão bem. E você?

–Posso dizer o mesmo- me arrepio quando seus dedos passam pelo meio das minhas costas expostas.

–Eu lamento informar, mas hoje é nosso ultimo dia no paraíso. Amanhã de manhã temos que cair na estrada.

–Podemos pular essa conversa, não é?

–Com certeza. Quer ir aonde hoje? Cinema? Praia? Lojinha de esquina com fliperama?

–Todos eles.

–Muito bem então. Eu vou tomar um banho e depois nós decidimos aonde ir.

Ele se levanta e vai até o banheiro. Espreguiço-me na cama enorme e me levanto, segurando o lençol para cobrir meu corpo. Visto uma calcinha e pego uma camiseta de Jace jogada sobre sua mala. Enquanto ele esta no banho, fico jogada na cama brincando com minha câmera.

Jace sai do banheiro sem camisa, apenas com uma calça de moletom. Mesmo que já o vi assim antes, ainda me impressiono. Viro em sua direção, ajusto o foco e o zoom e tiro uma foto dele de surpresa.

–Você seria um perfeito modelo.

–E já não sou?- reviro os olhos.

Passamos o dia fora do hotel, caminhando na praia, em um restaurante árabe, no cinema, comprando CDs, livros e até mesmo algumas HQs. Tiro mais fotos do que tirei no ano inteiro provavelmente.

Voltamos para o hotel no inicio da noite. Tomo um banho e visto minha camiseta do pijama e me aconchego junto a Jace na cama enquanto assistimos Doctor Who. Ele me questiona sobre muita coisa e no meio de perguntas, risadas e beijos, durmo em seus braços. Um bom jeito de terminar nossa ultima noite no paraíso.

Xx

Já estou bem cansada de onze horas e meia dentro do carro quando percebo que Jace não está no caminho para a minha casa.

–Jace- bocejo e esfrego meus olhos- Onde está indo?

–Você não queria conhecer meus pais?

Quase dou um pulo com isso e o encaro completamente atônita.

–Não posso ver seus pais hoje!

–Acha mesmo que sua mãe irá deixar outro dia? Temos que ir hoje.

–Mas eu estou fedendo a fast food, meu cabelo está pior do que um ninho e estou com cara de sono. Além de estar com uma roupa não apropriada e amassada.

Ele ri e me analisa.

–Para mim está bom- reviro os olhos.

–Você não conta.

–Estou indo para minha casa. Você pode tomar um banho e se arrumar lá.

–Ótimo.

Volto a cochilar até chegarmos ao apartamento de Jace.

Chegando, tomo um banho e me livro dos resquícios da viagem longa e exaustiva, ficando mais desperta e menos... Asquerosa.

Me visto, evitando usar jeans surrados, moletom, tênis e ser mais feminina. Com certeza deu trabalho, mas fico feliz com o resultado.

–Como estou?- pergunto parando na frente de Jace, que por sinal já está pronto.

–Nossa- ele se levanta do sofá e pega minha mão, me fazendo dar uma volta. Dou risada conforme ele puxa meu corpo contra o seu e beija meu pescoço e desce as mãos até o final das minhas costas- Podemos repetir o que rolou no natal...

–Jace- ele ergue as mãos com o olhar que o lanço e dá uma risadinha. Seus dedos se entrelaçam com os meus.

–Muito bem. Ponta?- balanço minha cabeça e ele beija minha testa- Vai ocorrer tudo bem.

Chegamos à grandiosa casa dos pais de Jace. Eu sabia que ele tinha dinheiro, mas não tanto dinheiro para ter uma casa dessas.

Quando ele toca a campainha, não demora até que alguém apareça. Um homem com um charuto, alto como Jace abre a porta com um sorriso e olha para nós. Percebo que ele sabia sobre nossa visita, pois seu cabelo está bem arrumado e está vestindo um terno com um corte perfeito.

–Finalmente- ele abraça Jace, que parece meio sem jeito com o gesto. Com certeza é seu pai.

Os traços são muito parecidos e ambos têm cabelos loiros, mas o cabelo de seu pai tem algumas mechas esbranquiçadas. Os olhos não são como os de Jace, mas sim azuis.

–E quem seria a dama que te acompanha?- ele pega minha mão e beija as costas dela.

–Clary. E Clary, esse é meu pai, Stephen.

–É um prazer- digo baixinho, porém em um tom audível.

Entramos e na sala de estar a mãe de Jace nos recebe sorrindo e nos abraçando. Percebo que eles sentiam falta de Jace, mas ele se parece meio desconfortável e deslocado. Vejo de quem ele puxou os olhos dourados.

Conversamos sobre gostos e eles me contam algumas histórias de Jace quando pequeno, o que me faz rir muito. Jantamos comida italiana enquanto continuamos a conversar. Com o tempo, tanto eu quanto Jace nos soltamos mais e ficamos mais a vontade. Os pais dele são, ou ao menos aparentam, ser legais.

Jace toca piano depois do jantar e das conversar. Fico admirada com seus dedos longos deslizando pelas teclas, combinando as notas e produzindo uma música que faz meu coração derreter. Os pais dele e eu olhamos para ele enquanto sua concentração está totalmente voltada para o piano. Sento-me ao seu lado e ele sorri, ainda olhando para as teclas.

E finalmente a hora que eu temia. A hora em que preciso voltar para casa.

Jace me leva para casa depois da casa dos seus pais. Por mais que eu queira fugir, essa hora tem que chegar em algum momento.

Ele me abraça com força e me beija. Quando me afasto, vejo seus olhos preocupados olhando nos meus e lendo cada preocupação e angustia minha. Ele sabe como me sinto.

–Eu... –ele coça a nuca- Me liga se as coisas não ficarem muito bem.

–Ok- dou um sorriso quebrado e desço do carro, pegando minhas malas e olhando para ele uma ultima vez antes de abrir o portão.

Não sei qual fera enfrentarei, mas as coisas irão mudar depois de hoje.

POV Jace

Chego em casa e me jogo no sofá, passando as mãos pelo cabelo. Tiro meus sapatos e minha jaqueta. Minha mãe surge e senta ao meu lado.

–Parece preocupado.

–Não, só estou com sono- minto. Ela não sabe que viajei, acha que fiquei em meu apartamento. E muito menos sabe que fugi com Clary.

–Adorei sua namorada, deveria trazê-la mais vezes.

Fico surpreso com suas palavras e não sei o que dizer. Apenas a encaro, boquiaberto e sem reação. Ela ri uma vez e passa um braço envolta dos meus ombros.

–Fico feliz por ter encontrado ela. Vejo o jeito que a olha. Ela deve ser muito importante a ponto de nos apresentar.

–Ela é- olho para minhas mãos, envergonhado.

–Nunca apresentou nenhuma namorada antes. Na verdade você nunca namorou sério, não é?

–Como sabe? Você nem fica aqui.

–Por que eu sou sua mãe- ela aperta minha bochecha e faço uma careta, fazendo-a rir. Não lembro a ultima vez que sentei e falei com minha mãe, muito menos a fazer rir- Agora vá, levante essa bunda redondinha daí e vá colocar um pijama enquanto eu faço uma pipoca para a gente assistir um filme. Chame seu pai.

O que deu nela?

Apenas me levanto e vou colocar o pijama, como ela disse. Chamo meu pai e quando chegamos na sala, a pipoca e o refrigerante já estão ali.

–Vamos, me ajudem a escolher o filme- diz meu pai.

Xx

Depois de assistir três filmes, acabo dormindo no sofá e minha mãe me acorda para eu ir até meu quarto. Não foi nada mal passar um tempo com meus pais, pelo contrario, foi melhor do que eu esperava.

Chego ao meu quarto e me jogo na cama. No momento que desbloqueio a tela do celular para ver as horas, recebo uma ligação.

–Clary?

–Jace.

Ela não precisa dizer mais nada para eu perceber que ela está em meio a lagrimas e soluços.