Guardians escrita por Julio Kennedy


Capítulo 9
Fim da hipocrisia


Notas iniciais do capítulo

Bom dia/boa tarde/boa noite
Desculpem-me pela demora na entrega do capitulo. Ele estava terminado a algum tempo, mas estava em revisão! Achei um capitulo bacana, apesar de curto nos padroes da fic.



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Os jornalistas sortudos que haviam conseguido um lugar dentro da coletiva se acotovelavam. A imprensa do mundo todo estava presente, direta ou indiretamente. Will odiava aquilo. Desde o tumulto de pessoas, as perguntas maldosas, as artimanhas dos jornalistas e até mesmo odiava a posição de destaque que era forçado a ficar. Ele pensou no tempo que passou jogando videogame dois anos atrás e sentia tanta saudade daquela época sem preocupações e dos amigos que nunca mais viu que quase não ouviu a pergunta do repórter a sua frente.

– As pessoas querem a verdade sobre o que esta acontecendo – o jornalista de cabelos loiros disse com arrogância – as pessoas nas ruas estão amedrontadas. Os ataques recomeçaram e a população não sabe se esta segura.

As luzes do hotel piscaram por um segundo e Will viu pelo canto do olho que os seguranças e os poucos agentes do RAD ali presente se alvoroçaram. Alguns se entreolharam, outros colocaram a mão no ouvido e começaram a falar. Os jornalistas, por incrível que parecesse, pareceram não notar nada de anormal e continuaram a olhá-lo.

Will sempre pensava no que ia responder antes de abrir a boca. Seu punho fechado com força sobre a mesa tremia. Essa não era a vida que ele queria, ele estava cansado – isso não foi uma pergunta, foi uma afirmação. São duas da manhã, por favor, não desperdice meu tempo.

Lud olhou pra ele por um instante um pouco assustada. Ela agora conhecia Will bem o suficiente para saber que ele estava a ponto de explodir. Uma jornalista alta com cabelos grandes e castanhos se levantou – vou tentar ajudar meu colega de profissão aqui – disse ela olhando para o jornalista que perguntou anteriormente e recebeu de volta um olhar de ódio – a única resposta que queremos é; quais propostas o RAD tem para proteger a população? As pessoas querem dormir tranquilas.

O silêncio se fez, apenas um flash resplandeceu antes que Ludmila tomasse a palavra – estamos estudando algumas propostas. Temos um modelo de segurança...

– Não minta, Lud – Will a interrompeu. O garoto se levantou da cadeira e viu o olhar repreensor de Mustang no fim da sala por um instante. Sentiu as pernas tremerem e a voz de Ludmila murmurar baixinho pedindo que ele não fizesse.

Uma multidão de vozes eclodiu enquanto Will apertava seu punho fechado contra a mesa. Ele respirou fundo e pensou em Jonas, pensou no que ele faria e a coragem veio mais uma vez – o RAD sabe tanto quanto vocês, ou pelo menos é o que ele nos informa. Eu e Ludmila lutamos em campo na batalha de Belo Horizonte, Chicago e tivemos uma pequena participação na Rússia.

– E vimos o resultado disso, não foi? – um jornalista que estava na primeira fileira comentou sarcasticamente.

Will o encarou por dois segundos e voltou a falar – infelizmente, apenas em Chicago tivemos sucesso. Mas agora eu e minha parceira não passamos de marionetes, uma estratégia de marketing, mandados pra frente dos holofotes para desviar a atenção.

Dezenas de fotos começaram a ser tiradas e os comentários dos repórteres que haviam diminuído tomaram uma magnitude caótica. Will viu pelo canto do olho que Mustang vinham percorrendo as fileiras de cadeiras o mais depressa que podia. Ele estaria no palco em instante e quem poderia saber o que iria acontecer.

O garoto ergueu sua voz e continuou – aqueles digimons estão na Austrália e metade da população de lá já foi dizimada. O RAD não sabe por que eles ainda não atacaram, nem tampouco que atitudes tomar em relação a eles. O nosso continente será o próximo, tenham certeza – quando Mustang finalmente alcançou o palco, Will sentiu um puxão no braço. Ludmila o olhava com pavor.

– Se querem respostas fiquem a vontade para perguntar ao chefe do serviço de inteligência Brasileiro, Alex Mustang – disse Will apontando para o enorme homem negro que havia acabado de pisar no palco.

Mais uma enorme remessa de fleches começou a iluminar a sala. Mustang se recompôs, sorriu cinicamente e começou a andar em direção a Will no centro do pequeno palco.

Will o encarou enquanto aproximava-se mais do microfone – e depois de animadamente anunciar o apoio financeiro oferecido por essa instituição governamental, eu quero anunciar meu desligamento do RAD.

Mustang segurou forte o braço de Will quando o alcançou e com um sorriso disse ao garoto – você não sabe o quanto vai se arrepender disso.

Will se lembrou da explosão da bomba dimensional e da sensação de ter perdido o que o mantinha em pé – é no arrependimento que mora o diabo – ele afirmou pulando do palco e correndo entre o mar de jornalistas.

Ludmila teve o impulso de segui-lo, mas Mustang a segurou. Dezenas de perguntas começaram a ser feitas uma atrás da outra enquanto Will se esforçava para empurrar os jornalistas.

Assim que chegou ao saguão correu até o elevador que estava quase se fechando. Parou ofegante lá dentro e cumprimentou sem graça a mulher com vestido de festa que o encarava de olhos arregalados.

Assim que chegou ao nono andar viu os agentes do SI vestidos com seus ternos pretos resguardando as entradas dos quartos. Will acenou para eles enquanto entrava no quarto onde Murilo havia ficado. As luzes voltaram a piscar e o garoto suspirou, estava começando a ficar paranoico.

A porta se abriu com um estrondo e o Guardião lá dentro se assustou olhando furiosamente para a porta. Murilo estava sentado em frente à televisão em um sofá de couro marrom. O agente se levantou em um salto e começou a gritar.

– Você esta louco? Você tem noção do que vai acontecer – os gritos foram perdendo altura até que seu tom de voz se tornasse normal – eles vão cair matando Will, você é só um contra o serviço de inteligência e o RAD.

O garoto passou a mão pelos cabelos castanhos enquanto adentrava no gigantesco quarto – não sou um qualquer, sou um Guardião. Onde esta Shoutmon? – ele perguntou.

– Você não entende, não é? – Murilo respondeu parecendo apavorado. Will o encarou confuso – eles os levaram. Shoutmon e Angemon. Assim que você começou a abrir o bico, o pessoal da brigada de São Paulo entrou aqui e os levou.

Will correu até a porta o mais depressa que pôde, mas assim que colocou o pé para fora dois seguranças o agarram e o jogaram de volta no quarto. O garoto caiu no chão com olhos arregalados – temos ordens para não deixá-lo sair – disse com um tom sério o brutamonte antes de fechar a porta.

– Temos que sair daqui, eles ainda devem estar no prédio – disse Murilo com as mãos na cabeça – Angemon não pode ficar longe de Vinicius.

– Como? – Perguntou Will se levantando. Ele caminhou apressadamente até a janela e olhou para baixo. Uma queda de nove andares. O garoto desejou que Mailbirdramon ainda estivesse viva, quem sabe não funcionaria.

Pensou em correr até a porta e socar os seguranças, mas nem ele nem Murilo teriam capacidade física para fazer isso. Murilo parecia apavorado, andava de um lado para o outro murmurando coisas sem sentido.

Will queria gritar, queria bater em alguém, mas queria mais do que tudo nunca ter se envolvido nisso. Infelizmente o destino é caprichoso e tudo acontece da maneira como ele quer.

As luzes voltaram a piscar, mas dessa vez com mais intensidade. Os dois agentes olharam com estranheza para o teto, onde as luzes piscavam freneticamente.

– O que está acontecendo? – Murilo perguntou. Um segundo depois a iluminação havia voltado ao normal.

– Não sei – Will respondeu segurando uma cadeira. Ele a ergueu acima da cabeça e caminhou até a porta.

– O que você está fazendo? – Murilo perguntou. Infelizmente ele já sabia a resposta – tá bom, o que vamos fazer com o outro? – Will apenas deu ombros.

Murilo correu até a cama e de cima do criado mudo pegou o pequeno objeto prateado que ali se encontrava – sério mesmo, uma faca de manteiga? – Will perguntou com uma voz esganiçada.

– Você tem alguma ideia melhor, sabichão? – o nerd apenas balançou a cabeça negativamente.

Murilo caminhou até a porta e suspirou. Colocou a faca no bolso da calça e assim que colocou a mão na maçaneta, Will gritou – não...

O garoto o olhou assustado – o que tá pegando? – Murilo perguntou encarando o nerd. Ele nunca havia reparado nisso, nunca teria imaginado que estaria presenciando tal fato. Will estava tremendo, a cadeira sobre sua cabeça balançava com o vibrar dos braços do garoto – vamos conseguir – Murilo incentivou.

Will balançou a cabeça fazendo um sinal positivo e as luzes se apagaram. Em um primeiro momento a única coisa que ouviram foi sua própria respiração ofegante. Um instante depois, o aparelho que estava no sofá começou a emitir o som típico.

O D-ark de Murilo esta emitindo o sinal de alerta.

Gritos começaram a ser ouvidos. Eram os seguranças. O barulho de tiros de elétrons ressoou e algo bateu forte na porta a fazendo balançar. Will e Murilo recuaram instintivamente.

O D-ark emitia um apito ascendente quando os geradores de segurança do prédio começaram a funcionar e a luz preencheu o quarto. Murilo e Will se encararam e viram o pavor nos olhos um do outro.

Murilo girou a chave na porta e recuou o mais depressa que pôde, encontrando o olhar repreensor de Will – se esconda – o garoto sugeriu.

A maçaneta foi girada e a porta sacudida uma vez. Quando Will deu por si ele estava atrás do sofá agachado olhando desesperado sobre o braço do sofá. Murilo havia se jogado embaixo da cama.

Então a porta recebeu uma enorme pancada e som de madeira estalando preencheu o quarto quando ela foi arrancada das dobradiças. Will se abaixou o máximo que pôde, tremia e sua respiração estava ofegante.

Ele fechou os olhos com força e sentiu raiva de si mesmo por estar tão apavorado.

– Murilo? – uma voz juvenil chamou. O nerd não acreditou a princípio, pensou que estivesse louco de pavor. Mas quando a voz do garoto chamou novamente Will tomou coragem para se levantar.

– Saia de perto dele – Will viu Murilo gritar enquanto saia correndo debaixo da cama e se jogava na direção da entrada. Quando o nerd finalmente olhou por cima do braço do sofá se deparou com Vinicius de mãos dadas com uma criatura de quase dois metros.

O Digimon vestia uma burca vinho e seu rosto era coberto por uma camada de pano meio amarelada, a mesma cor das asas de pendiam em suas costas. Sua face não era visível, mas grandes olhos amarelos brilhavam da escuridão.

– Ele ficara bem enquanto estiver próximo a mim, Guardião – o Digimon disse a Murilo que parou a um metro de distância dos dois. Vinicius parecia pálido e cansado, Will imaginou ser por causa do horário.

Murilo fechou o punho com força e Will pode sentir a raiva exalando dele – eu sou Wisemon, sem perguntas, temos que sair daqui.

Will então reconheceu a voz – foi você, você me alertou do ataque hoje mais cedo.

Os olhos do Digimon alcançaram o garoto e Will sentiu como se estivesse nu frente à criatura. O mesmo tipo de sensação que havia sentido com Urielmon. A sensação de estar sendo medido, mas não em dimensões numéricas, mas sim pelos seus atos.

Murilo encarou Will rapidamente e depois se abaixou e olhou diretamente pra Vinicius – você está bem?

– Não. – O garoto respondeu.

Will estava pasmo com a aparição a sua frente. O Digimon era imponente e seu rosto envolto pela escuridão o tornava misterioso e assustador – venham depressa – Wisemon pediu fazendo um movimento largo com a mão.

O nerd saiu detrás do sofá e começou a caminhar lentamente em direção ao Digimon. Desconfiado, Will colocou a mão no ombro de Murilo que compreendeu o gesto enrijecendo automaticamente o corpo.

– Afinal de contas, aonde você quer nos levar? – Murilo perguntou olhando preocupado para a mão negra do Digimon sobre o ombro de seu irmão.

Wisemon fez um som estranho e respondeu com indignação na voz – atrás de seus parceiros, obviamente.

O Digimon ergueu as duas mãos e orbes de cores diferentes surgiram sobre cada uma delas. O chão sob eles pareceu perder a firmeza e um segundo depois estavam afundando em algo que tinha a mesma consistência que água, porém era bege e possuía inscrições.

Will sentiu como se estivesse flutuando, por quase um minuto não conseguiu ver nem ouvir nada. Temeu que tivesse morrido até que de repente novamente sentiu o chão sob seus pés e uma avenida super movimentada explodiu frente a seus olhos.

– Onde... – ele tentou perguntar, mas Wisemon o surpreendeu acertando um furgão preto com um soco que deveria ter uma tonelada de força.

As poucas pessoas na rua começaram gritar enquanto o furgão capotava se chocando a um poste que partiu imediatamente, mas não caiu.

Will ouviu Murilo gritando e se assustou com a quantidade de carros que havia naquela hora da noite na rua. O hotel estava no fim da rua e alguns jornalistas que estavam ali mais próximos dispararam os fleches das câmeras.

Uma explosão aconteceu e de dentro do furgão, pelo buraco da porta recém arrancada saíram Shoutmon e Angemon. Murilo suspirou de alívio abraçando seu irmão.

Wisemon fez uma mesura para os dois digimons e mais uma vez Will sentiu o chão debaixo de si sumir. A escuridão tomou conta de tudo novamente. Agora ele só podia esperar.

***

A noite havia sido longa e cansativa. Ludmila estava apavorada e tentava a todo custo obter informações de Will, mas além de estar presa em seu quarto, Mustang havia retirado todas as oportunidades dela conseguir informações do mundo exterior. A televisão havia sido arrancada da parede, seu celular tomado e o telefone fixo destruído.

O dia havia amanhecido e ela não conseguiu dormir um minuto que fosse. Já tinha olhado pela janela vezes incontáveis, mas apenas se frustrava a ver o enorme número de furgões de jornalistas lá embaixo.

Quando decidiu se deitar um pouco e conseguiu adormecer caiu em sono profundo, acordando repentinamente com a porta se abrindo com brutalidade. Dois seguranças entraram segurando armas e junto a eles veio Melanie com uma expressão horrível.

– Quanta tristeza – disse a mulher em um tom calmo – eu esperava mais de vocês.

Ludmila se levantou com um salto e começou a gritar, ainda desorientada pelo sono – eu quero saber o que aconteceu com Will e Murilo. Onde eles estão?

Um dos seguranças foi até Lud mais depressa do que ela poderia imaginar e agarrou seu braço com tanta força que ela se contorceu de dor – tenha mais respeito – ele impôs.

– Eles estão onde merecem – a mulher respondeu no mesmo tom – andem, levem-na.

Enquanto a garota era arrastada pela porta, ouviu pela primeira vez os gritos exaltados que vinham do lado de fora do prédio. Foram abafados por alguns minutos enquanto eles desciam pelo elevador, mas assim que as portas de metal se abriram no primeiro andar o som explodiu em seus ouvidos.

– Temos que sair pelos fundos – um dos seguranças disse ao outro assim que se depararam com a multidão se contorcendo nas gigantescas janelas de vidro do hotel Wood Royal.

– Quem são eles? – Ludmila perguntou estupefata.

– O que você e Will procuraram – respondeu Melanie andando depressa na sua frente – as revoltas começaram. O GAT se pronunciou ontem e o vídeo tomou conta de todas as redes sociais.

Eles alcançaram as escadas e começaram a descer em direção ao estacionamento – GAT? – Perguntou Ludmila sem rumo – Grupo Anti-Digimon? O que eles disseram?

– Nada de mais – respondeu a senhora entrando em um carro grande e preto – apenas a mesma besteira que disseram um ano atrás para dar início ao caos.

Ludmila foi jogada a força no banco e logo os seguranças estavam sentados do lado dela. Melanie se sentou no banco da frente e no volante estava Renato, o líder da Brigada de São Paulo.

– Isso não vai ser legal – ele comentou levando o carro para a porta da garagem. Ludmila começou a se sentir mais angustiada do que antes. Estava tendo sonhos com isso há meses e agora parecia que estavam se tornando realidade.

Assim que a porta se abriu o som dos gritos se intensificou. Dezenas de pessoas cercaram o carro e alguns começaram a entrar correndo na garagem – o vidro é escuro o suficiente para que vejam aqui dentro – comentou Renato buzinando vezes seguidas enquanto mais e mais pessoas espremiam seus rostos contra as janelas.

Demoraram quase dois minutos para se desvencilhar da multidão e encontrar uma montanha de jornalistas mais a frente – espero que estejam satisfeitos com o que conseguiram – vociferou Melanie, demonstrando pela primeira vez raiva.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Deixe sua opniao, me xingue, sei la. Fale comigo!



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