If i remember escrita por Just a writer


Capítulo 7
I had everything and i had nothing




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Meu primeiro dia na escola foi tão assustador quanto achei que seria.

Eu estava parado na entrada, encarando aquele grande edifício com expectativas. Só havia visto aquele lugar uma vez num sonho/memória, e fiquei imaginando se Harriet estaria naquele lugar nesse dia. Sentia um comichão esquisito no estomago, misturado com ansiedade. Mas essa sensação foi logo quebrada quando Dawn deu um tapinha no meu ombro.

– E Então, como vai ser? – ela puxou a alça da mochila – Vai entrar ou já ta arregando?

Pensei no jantar que compartilhei com Dawn e a irmã dela, Tessa, e ainda era uma memória ainda muito vivida na minha cabeça. As interações entre as irmãs, o olhar que Tessa me lançava uma vez ou outra e parecia me compreender por dentro e por fora, e a ótima lasanha que forrara meu estomago naquela noite. As descrições de Dawn sobre a escola de Red Hill não batiam com as de Tessa, que parecia adorar seus anos escolares dourados.

– Vamos entrar – respondi. – Onde mesmo que eu tinha que estar?

– Na sala do diretor. Ele vai ter dar seu horário.

Dawn tinha me acompanhado até a escola, então não custaria nada me levar o resto do caminho.

Parecia que o corredor e seus ocupantes só tinham olhos para mim. Todo mundo, alunos e professores, me encaravam como se estivessem no zoológico. Aquilo era irritante. Em cantos os cochichos e fofocas rolavam soltas, todas penso eu, voltadas para mim e minha condição. O bom de ser considerado um aluno especial, todos te deixavam em paz quando você quer, a parte ruim, todos te deixavam em paz quando você não quer. Me perguntava se me esqueceriam quando recuperasse as minhas memórias.

Depois de falar com o diretor, que me deu meus horários e as coordenadas e a senha do meu armário, segui direto para a sala de aula. A primeira sessão de tortura era a de história. O rosto do professor tinha um aspecto de rato, e o resto do corpo parecia desnutrido. Pensava se ele conhecia o termo alimentação saudável.

Dei uma olhada na sala, e só havia uma cadeira sobrando, e assumi que fosse a minha. Ela estava bem no começo da fileira.

Ao me sentar, senti os olhares sobre as minhas costas, os alunos ao meu lado tiveram que desviar o olhar para não me encarar. Dei outra olhada em volta da sala, e todos fitavam suas carteiras. Mas não ligava para eles, só achei que Dawn estaria ali. Teria que enfrentar aquilo sozinho.

– Quem pode ler a página 67 dos seus livros? Evan? – o professor pediu, me encarando com olhos fundos.

– Provavelmente ele se esqueceu de como se lê! – uma voz berrou do fundo da sala. Imediatamente todos desataram a rir. Eu senti o calor subir ao meu rosto, e uma raiva explodia no meu peito.

O professor me olhou segurando a risada inevitável. Eu ainda arrancaria os braços e pernas daquela garça anoréxica.

– Eu posso ler – uma voz feminina anunciou do outro lado da sala.

Todos se viraram, inclusive eu, para ver quem se pronunciara.

Uma menina de cabelos ruivos flamejantes estava com o braço levantado. Ela tinha uma pele alva como a neve, os olhos verdes mais inocentes que eu já vira, e bochechas rosadas. Nossos olhos verdes se encontraram, e por um momento, apenas por um momento, eu tinha tudo e não tinha nada. Eu já não sentia mais raiva, e outra coisa tomava conta. Era como uma conexão instantânea, que não se quebrou quando desviamos o olhar.

– Tudo bem – a garça limpou a garganta. – Pode ler, Haley.

Enquanto a ruiva lia, e eu lutava para ler, também lutei para manter o sentimento arrebatador sobre controle. E ouvir a voz de Haley não ajudava em nada. Enquanto minha mente falava pare incessantemente, meu coração gritava continue, nunca pare. Tinha vontade de virar e encarar a ruiva sem parar, admirando suas feições e curvas, sua doce voz e seus lindos olhos. Eu sentia que não importava se ela deixasse de ser jovem e linda, era uma coisa que suplantava tudo o que eu já havia sentido. A minha vontade era incontrolável, era como se eu conhecesse ela desde sempre, então decidi dar um gostinho a mim mesmo. Lentamente, me virei para fitar Haley. Seus cabelos ruivos levantavam um pouco por causa da brisa sempre presente na sala de aula, seus olhos corriam o livro de historia, e seus dedos brancos seguravam o livro com força, transparecendo nervosismo. Por um segundo, seus olhos verdes, terminaram a linha do texto e escaparam para fora do livro, e me olharam, não com curiosidade, mas com ansiedade. Essa ansiedade de nós dois era quase palpável. Haley viu que eu a espiava, e com um sobressalto, fechou o livro e ficou encarando a capa. Só que eu não conseguia desgrudar os olhos dela, era como um imã e eu, um pedaço de metal. Um olhar pode revelar uma pessoa, ou revelar a si mesmo. E aquele olhar, me revelou que eu a conhecia, pois, pequenos pedaços de memória decidiram que iriam aparecer, e eu via uma garota ruiva, sempre a espreita, me olhando com olhos ávidos, sentada na base de uma escada, assistindo enquanto eu olhava em sua direção, mas não para ela, mas sim para outra pessoa ao seu lado.

Meu devaneio só fora quebrado quando o professor falou:

– Obrigado senhorita O’Brien. – Aquele nome não me era estranho – Evan Rowe! – A garça bateu com o seu livro na minha mesa, o que me fez dar um salto de susto – Pode, por favor, prestar atenção na aula?! Eu sei que sente falta de sua amiga Harriet, mas isso não é motivo para ficar encarando a irmã dela!

Eu me desliguei quando ele falou “Harriet” e “irmã” na mesma sentença.

Harriet tinha uma irmã, e ela estava logo ali, a algumas carteiras de distancia. Eu me sentia exultante e envergonhado ao mesmo tempo, se eu passava tanto tempo com Harriet, como eu não havia me lembrado de Haley?

Cochichos e risadinhas enchiam a sala enquanto eu olhava para baixo, encarando meu livro.

O resto da aula passou-se em silencio total e obediente, mas não conseguia parar de pensar em Haley. Eu sai da sala em silencio, ainda sentindo olhares sobre mim. Minha próxima aula era de filosofia. Mais uma vez, meu assento era na frente. Isso já estava se tornando irritante. Eu só percebera mais um lugar vazio no canto da janela, talvez o dono tivesse faltado, então me decidi me sentar ali. Mas quando fui passar pela porta, fiquei entalado no batente da porta com mais alguém. Só nos soltamos quando caímos de joelhos no chão. Livros e cadernos se espalharam pelo chão branco de mármore, e decidi pega-los, mesmo não sendo meus. Juntei três livros, e me levantei, ainda sem olhar o dono deles. Somente quando entreguei os livros, vi quem era a dona. Haley tinha certo pavor nos olhos, mas também certa ansiedade. Eu não sabia o que sentia, porque estava tudo num turbilhão de emoções e sentimentos.

– Obrigado – a ruiva sussurrou enquanto tomava os livros da minha mão.

E o resto do dia na escola se passou assim. Haley tinha as mesmas aulas que eu tinha, nas mesmas salas, no mesmo horário. Na hora do intervalo, quis conversar com Haley, mas não a achei. Fiquei com Dawn durante o intervalo.

Voltei para casa sozinho, pois não conseguiria pensar com Dawn ali comigo. Pensei em Haley, e o que ela poderia fazer. Ela poderia me ajudar, mas esse não era o meu foco. Queria entender o porquê de eu pensar tanto nela. Eu nunca pensava tanto sobre uma pessoa, ou com tanta persistência. Era como se sua mera lembrança viesse discretamente, e quando eu me dava conta, ela já havia tomado o controle de tudo.

Eu tinha que ver Haley.


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