Laços de Sangue e Fúria escrita por BadWolf


Capítulo 8
Adivinha Quem Veio Te Visitar


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!!

Ufa, finalmente consegui um tempinho para postar!
Peço desculpas se deixei alguém esperando. Eu espero que vocês não tenham me abandonado por isso.
E que está desejoso de saber das "tretas", boa notícia: esse é o último cap doméstico. Simplesmente, não pude deixar de cortá-lo, foi uma idéia que tive há algum tempo e que espero que vocês gostem.

Boa leitura!



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Mrs. Hudson era uma mulher que prezava as regras da boa sociedade. Agora, ela tinha uma inquilina casada, em uma casa com dois homens solteiros. Embora ela ainda não tivesse conhecido Mr. Sigerson - ou simplesmente não sabia que já o conhecia -, ela não queria provocar um derramamento de sangue, ou mesmo colocar a reputação da moça em risco. Afinal, ela era uma boa moça, prestativa e educada. E faria o que fosse preciso para garantir isso.

Para a senhoria, o maior perigo em Baker Street era o Dr. Watson, por ter sido noivo e também por andar sempre com seu jeito galante e conquistador, quase irresistível. Era ele que mais preocupava Mrs. Hudson, mas ele estava fora de casa agora, ocupado com seu dever como médico. Havia Mr. Holmes ainda. Ele parecia apenas tolerar a presença de Mrs. Sigerson. Jamais demonstrou qualquer atratividade por ela. Mas ainda assim, ele não deixava de ser um homem. Talvez apenas não demonstrasse, por respeito ou educação, o que fosse, mas Mrs. Sigerson era, de fato, uma mulher atraente, e ele deveria ter consciência disso. Os homens sempre têm. Mesmo os mais frios...

A senhoria suspirou. Deus, ter uma inquilina mulher foi mais difícil do que eu julguei.

–Mr. Holmes? – perguntou a senhoria, ainda com a porta entreaberta e o corpo do lado de fora do aposento.

–Sim, Mrs. Hudson?

–Er... Há algo mais que deseje?

Sim. Privacidade e algumas horas sem ser importunado. – Não, Mrs. Hudson, por quê pergunta? – disse Holmes aparentemente ocupado com um livro.

–Bem, eu vou me retirar.

–Bom, por mim tudo bem. Creio que não precisarei de nada. Tenha uma boa noite. – disse Holmes, com a voz educada.

Quando a senhoria saiu, ele deitou-se no sofá, esperando.

Agora seria questão de tempo.

Holmes fechou os olhos. Abriu. Faltavam quinze minutos. Fechou, e abriu depois. Quatro minutos...

De repente, um grito feminino.

Ele ria sozinho, dentro da sala. Sabia bem de quem era aquele grito. Ele tinha pago alguns xelins para o Irregular Wiggins jogar um rato na janela de Esther. Esperou por cerca de dez minutos, e disfarçou a graça que saía de si do episódio misterioso. Até que se ouviram batidas à porta.

–Mr. Holmes? – era a voz de Mrs. Hudson. Holmes se lamentou. Não era para ser a senhoria... Ela deveria estar dormindo ainda... Talvez o grito de Esther tinha sido mais alto que ele presumia.

–Sim? – ele perguntou, abrindo a porta, deixando tanto Mrs. Hudson quanto Esther adentrarem.

–Mr. Holmes, desculpe incomodá-lo, é que... Há um rato no meu quarto! – gritou Esther, apavorada.

–Um rato?! Realmente? –Holmes fingiu surpresa e pôs um ar de riso.

–Não ria disso, Mr. Holmes! A questão é séria! – disse a senhoria, irritada.

–Posso ver. – Holmes segurava o riso. – Ah não... Vocês querem que eu mate o rato, é isso?

As duas, de braços cruzados concordaram.

–O senhor é o homem da casa, Mr. Holmes, é seu dever fazê-lo! – pediu a senhoria. – Ou cometerá a indelicadeza de deixar duas damas fazerem isso?

–Não, mas é claro que não! Mas afinal, a senhora não tem um cachorro? - perguntou Holmes, cinicamente, à Esther.

–Ele está com tanto medo quanto eu. - Esther cruzou os braços. - Além de quê, ele é um filhote, e pode não ser páreo para a ratazana que eu vi.

A senhoria interviu. - E não é bom que ele mate o rato, Mrs. Sigerson. Não sabemos que tipos de doenças essas criaturas asquerosas trazem das ruas. Seu animal pode adoecer se comê-lo.

Holmes deu de ombros, fingindo despreocupação. Mas na verdade, nem mesmo ele tinha contado com o fator Billy. Seu plano poderia ter sido frustrado pelo cãozinho serelepe. Ainda bem que ele se mostrou um tanto covarde, ele pensou;

Suspirando, ele voltou a dizer.

–Tudo bem, mostre-me onde ele está.

Em instantes, Sherlock Holmes estava no apartamento de Esther.

–Mrs. Hudson, vá buscar uma vassoura. Ou espera que eu mate o animal com as minhas próprias mãos? – a senhoria obedeceu ao pedido de Holmes, indo pegar uma vassoura em seus aposentos, deixando os dois sozinhos.

–Aposto que isso é armação sua... – cochichou Esther. – Watson passa uma noite fora, e algum engraçadinho joga um rato no meu quarto...

–Ora, reconheça que o plano foi bem-arquitetado. – disse Holmes, com graça.

–Não estou achando graça nenhuma de ter um rato em meu quarto... – ela disse, incapaz de colocar raiva na voz, diante do que poderia estar prestes a acontecer caso o plano realmente desse certo.

Holmes e Esther ouviram os passos de Mrs. Hudson, e se afastaram.

–Aqui está, Mr. Holmes. Uma vassoura.

–Obrigado, Mrs. Hudson. Agora, vamos matar este animal.

Sherlock Holmes matando um rato. Essa será imperdível...

Esther levou Holmes até o quarto, acompanhado de Mrs. Hudson, muito temerosa. Enquanto o detetive vasculhava o cômodo, com as duas mulheres por cima das cadeiras, nada foi encontrado. A busca se estendeu até o restante do apartamento, em vão.

–Eu acho que ele desapareceu. Isto é, se é que houve algum rato aqui... – zombava Holmes.

–Acha que estou mentindo, Mr. Holmes? – irritava-se Esther.

–Talvez. Vocês, mulheres, sempre exageram em tudo, vendo coisas que não existem. O que será da próxima vez, uma barata? Ou uma vespa?

–Não precisa ser grosseiro com a moça, Mr. Holmes! Se ela disse que viu, ela realmente viu! Onde está o seu cavalheirismo?

–Neste momento, no andar de cima, esperando que eu resguarde a Santidade do meu sono. – Holmes bocejou. – Foi deveras divertido estar com vocês, senhoras, mas não vejo o quê mais fazer, além de colocar uma ratoeira e esperar que o animal siga seus instintos primitivos e seja morto por esta armadilha.

–Oh sim, e até que ele cumpra seus “instintos primitivos”, eu dividirei o mesmo quarto que ele? – perguntou Esther, brava.

–Sim, me parece ser esta a melhor alternativa.

–Não mesmo! Eu não vou dormir no mesmo cômodo que um rato! – disse Esther, com pavor. Mrs. Hudson parecia concordar.

–De fato, Mr. Holmes. A moça não pode dormir sob tais circunstâncias. Mrs. Sigerson, a senhora pode dormir comigo, se quiser. Eu não tenho um quarto de hóspedes, mas não me importo de dividir a cama com você, dada a emergência da situação...

–Não! – interviu Holmes, desesperado, quando viu que seu plano iria fracassar. – Mrs. Hudson, porque dividir sua cama se Watson não está aqui esta noite? Mrs. Sigerson pode dormir no quarto dele.

Mrs. Hudson não pareceu gostar da idéia de ver Holmes no mesmo aposento que Esther.

–Bom, eu posso ficar no quarto de Watson, temporariamente, e você, Mrs. Sigerson, usar o meu quarto...

–Não penso que a cama de Watson seria uma boa opção às suas costas, Mrs. Hudson. O próprio Watson queixa-se que seu colchão é fino, e está pensando em trocá-lo. – Holmes se aproximou de sua senhoria. – O que foi, Mrs. Hudson? Está pensando que agirei de maneira imprópria com Mrs. Sigerson?

Mrs. Hudson pareceu sem reação, frente à objetividade de Holmes. Ela não esperava que ele fosse lhe perguntar sobre isso de maneira tão direta, na frente de Sophie.

–Não, Mr. Holmes...

–Acha-me capaz de cometer qualquer indelicadeza, indiscrição ou libertinagem com uma mulher casada?

–Não, é claro que não, Mr. Holmes! O senhor é um homem decente! Eu sei disso! Tudo bem, eu não vou me importar com isso. Mrs. Sigerson, desça comigo, para arrumarmos suas coisas e preparar o quarto de Dr. Watson.

Enquanto Esther reunia seus pertences, como travesseiro e cobertores, Mrs. Hudson resmungava, enquanto lhe alertava.

–Isso é impróprio, muito impróprio! Um homem solteiro, dividindo seus aposentos com uma mulher casada... Céus! Eu sinto muito ter de coloca-la sob tal situação, Mrs. Sigerson, eu confesso que jamais aconteceu nada assim com nenhum de meus inquilinos...

–Tudo bem, Mrs. Hudson. – dizia Esther, tentando conter sua excitação em estar às sós por algumas horas no mesmo aposento que Holmes, depois de mais de um mês separados.

–Mr. Holmes é um homem bom e decente, mas nenhum homem é de plena confiança... Tome cuidado, e não lhe dê provocações. Ele pode pensar algo errado a seu respeito.

–Tudo bem, Mrs. Hudson.

–Às seis em ponto, quando vou comprar o jornal, eu vou passar nos aposentos dele e verificar se está tudo bem.

–Tudo bem, Mrs. Hudson.

–Ele recebe aqui, em meus aposentos, mulheres dos mais variados tipos. Algumas até de reputação duvidosa, e outras que só faltavam se lançar ao seu colo. Ainda assim, nunca vi se aproveitar de nenhuma, ao menos não na minha frente. Mas há carne debaixo daquele sarcasmo e desprezo perante nós, mulheres, eu sei que há. Cedo ou tarde, poderá se revelar, e espero que não seja com você, senão eu me sentirei deveras culpada por isso.

Esther parecia surpresa. Mrs. Hudson parecia conhecer a Holmes melhor do que ela poderia presumir.

–Watson diz que ele despreza o sexo feminino. Tem ojeriza por sentimentos.

–Ninguém tem ojeriza por sentimentos. E só o que ele faz é evitar, manter a distância. Talvez, algo o tenha machucado, algo que nem o Dr. Watson saiba, por isso esse comportamento repelente com as mulheres... Enfim, estou só teorizando. E como ele próprio diz: não se deve teorizar sem dados.

As duas riram.

–Tenha uma boa noite, Mrs. Sigerson.

Esther subiu as escadas rapidamente, como se desejasse aproveitar cada segundo que tinha conseguido agora para ficar ao lado de Holmes. Assim que abriu a porta e foi trancá-lo, foi surpreendida por um afoito Holmes, que lhe abraçou por trás, beijando-lhe pelo pescoço, provocando-lhe.

–Ela lhe disse quando irá checar? – perguntou Holmes, com a voz ofegante, mas calculista e ciente dos riscos.

–Seis da manhã. – ela disse. – Quando comprar o jornal.

–Então, temos três horas e quarenta minutos. – ele disse, segurando a moça pelas coxas, que se encaixou rapidamente em sua cintura, sendo conduzida até o seu quarto.


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Passava das quatro da manhã. Esther repousava seu rosto sobre o peito de Holmes. Seus olhos estavam quase fechando, mas ela ainda queria conversar.

–Ainda está acordado? – ela perguntou, quase em um sussurro.

–Sim. – ele disse, abraçando-lhe mais. – O que foi?

–Morar ao seu lado está sendo maravilhoso. – ela disse. – Mesmo que ninguém saiba sobre nós dois, mesmo que tenhamos que esconder...

–Mesmo que você me provoque debaixo da mesa... – observou Holmes, esboçando um sorriso.

–Mesmo que você morda meu pescoço enquanto estou passando perto de você no corredor... – Esther riu, e depois ficou séria. – Eu... Nunca mais me senti sozinha, não como antes.

Holmes sorriu. – Era exatamente este o meu propósito, minha cara. Apesar de nossas visitas noturnas terem diminuído consideravelmente por conta disso. – ele disse, arrancando uma risada baixa de Esther. – Agora, estamos longe e perto ao mesmo tempo, mas ao menos estamos melhores do que antes.

–Tenho certeza de que daremos um jeito nisto. Confio em suas faculdades lógicas para achar maneiras eficientes de nos ver com mais privacidade.

–Da mesma maneira como confio em você e sua extrema capacidade de improvisação e de sair de situações complicadas. – ele disse, dando-lhe um beijo. – Eu espero que minhas maneiras ríspidas dos últimos tempos não tenham lhe ferido.

–Em momento algum. – ela disse. – Contando que você não se importe que eu lhe retribua na mesma moeda.

Holmes riu, deixando um momento de silêncio entre ambos.

–Mrs. Hudson conversou comigo, antes que eu subisse. Disse para tomar cuidado contigo. – disse Esther, em tom de zombaria, arrancando um sorriso de Holmes.

–Realmente? Sempre pensei que ela confiasse em mim.

–E confia. Pois aposto que ela preferiria dormir no chão a ter de me deixar dormir aqui, se fosse Watson, e não você, nesta situação. Mas ainda assim, ela... Ela me disse algumas coisas sobre você que me surpreenderam. Coisas que nunca parei para pensar e que...

Esther ficou em silêncio.

–Continue. – disse Holmes, por fim.

–Bem, ela me disse... Ela me disse que...

–Esther, Esther... – interrompeu Holmes. – Agora você me deixou deveras preocupado. O que pode ser capaz de te deixar hesitante de falar comigo?

–Bom, não é nada grave, apenas algumas coisas que eu nunca parei para refletir. Algo a respeito de... Bem, sua desconfiança e desprezo com as mulheres.

–“Desconfiança e desprezo com as mulheres”. Nem parece que acabei de... De me deitar com uma. – disse Holmes, sempre inseguro quanto ao termo com que se referia às noites que passava com Esther. Isso a fazia rir, mas aquela situação estava séria demais pra isto.

–Você sequer sorriu com minha última afirmação. – disse Holmes, sentando-se sobre a cama. – O que Mrs. Hudson disse? Agora estou intrigado...

Esther também se sentou sobre a cama.

–Algo sobre seu passado. Ela acha que alguma coisa aconteceu para você sempre agir desta maneira.

Para surpresa de Esther, o semblante de Holmes fechou-se, coma mera menção da palavra “passado”. Mas foi algo muito rápido. Depois, ele disfarçou, tentando achar graça disto, soltando um meio sorriso e uma risada incompleta. Entretanto, era tarde demais.

–Aconteceu algo, não é? Eu sabia! Não tente disfarçar, Holmes. Eu já percebi que o assunto te desagrada.

–Claro que não... – ele mantinha o mesmo ar falso.

–Por favor, não minta. Pode omitir, se se sente melhor com isso, mas não minta.

Holmes suspirou, ficando sério. – Tudo bem, eu não gosto de falar sobre esse aspecto de minha vida. Mas se isso faz você se sentir melhor, saiba que nunca houve outra mulher na minha vida além de você. Aliás, você deve saber melhor sobre isso do que qualquer pessoa.

–Você sabe muito bem que o amor não está estritamente relacionado à ocorrência de beijo, ou sexo...

Holmes corou-se. Não gostava de ser confrontado com o assunto, em seus próprios termos. Ela continuava.

–Existe amor platônico, á distância...

–Já ouvi falar do “amor e suas extensas variações”, mas jamais as senti. Fim do assunto. – ele disse, deitando e virando-se.

Esther não parecia satisfeita.

–Nem mesmo Irene Adler?

Holmes riu, sinceramente. – Muito menos Irene Adler, você quis dizer. Claro que não! Esther... Você sente ciúmes de uma mulher da qual eu troquei apenas meia dúzia de palavras? Além disso, eu teria de ser um masoquista para me apaixonar pela mulher que conseguiu me derrotar!

–Bom, eu te enganei por anos e, no entanto, estou aqui, não estou? – ela disse, de braços cruzados.

–Você está me provocando, Esther, sei disso. Quer que eu me exploda de raiva e diga toda a verdade. Bela estratégia de obtenção de informações, realmente o Governo Britânico fez um bom trabalho em seu treinamento. Mas lamento dizer, esse assunto tem uma pesada pedra sobre ele, da qual não tenciono mover.

Passaram-se alguns minutos.

–Não digo que jamais lhe contarei, Esther. Mas não será esta noite.

Esther se retraiu. O tom da voz dele era sério, e triste também.

–Oh, Holmes...

Ele a puxou para um beijo, com intensidade, como se sua vida dependesse disso. Ela correspondia com igual retribuição. Passava das quatro da manhã, mas nenhum deles se importava com isso, entregando-se àquela paixão desenfreada que lhes consumia, como se o amanhã sequer existisse.


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Notas finais do capítulo

Ah, que momento mais "cute"!!
E quem gostou disso? Aposto que vocês terão saudades desses divertimentos domésticos. Quando as coisas começarem a esquentar (e eu quis dizer o caso, seus malandrinhos, rs) vocês sentirão falta disso.

Bom, o próximo cap já começa a entrar um pouco no caso (só um pouco), depois as coisas começarão a engatar. Infelizmente, eu gosto de escrever de um modo meio sem pressa, revelando as coisas pouco a pouco, então...

Enfim, espero que goste, e deixem seus reviews!! A opinião de vocês é valiosíssima!

Um grande bj e até sábado/domingo!!



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