A Pedra do Deserto escrita por Sanguini


Capítulo 26
Reunião Familiar II




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A noite estava fria, Nicole estava atordoada e só conseguia sentir o chão sacudindo ao seu redor, ao abrir os olhos, percebeu que não estava no chão, mas em um piso de acrílico preto, no alto havia o céu negro estrelado e uma carroceria aberta aos seus pés; cercada por dois ou três milicianos armados e desconhecidos com o rosto coberto. Ela forçou sua memória a ponto de tentar se lembrar como ela parou ali.

Ignorando o fato de estar com seus pulsos atados por algemas de plástico, ela tentou se levantar para ver o lado de fora porém, um dos milicianos jogou sua mão sobre a cabeça da gata e pôs no chão.

– Fique quieta, gatinha! - Disse em tom ameaçador. Apesar disso, a voz parecia feminina demais para ser um homem, nenhuma das pessoas armadas tinha uniforme, muito menos identificador de patente, não eram soldados nem rebeldes. Obedecendo-o, Nicole deitou sua cabeça no chão e fitou seu olhar na estrada atrás do carro, passando com velocidade. A luz ofuscante dos faróis dos carros que vinham atrás do comboio cegavam ela, que só podia esperar.

Nicole contou meia hora até os carros começarem a parar na margem da estrada, por algum motivo, ela achava que era o alvo daquela operação. Os três sentinelas que estavam no carro com ela levantaram-se junto com Nicole, que foi puxada por sua algema até a saída do carro.

– Pare com isso, está me machucando! - Protestou Nicole. O guarda, o mesmo que tinha dito pra ela ficar quieta, ignorou e continuou trazendo-a pelos braços junto com os outros dois. Só apenas quando ela saiu do carro, pôde ver que haviam muitos outros a sua frente, um enorme comboio, cada um com soldados, feridos e prisioneiros. Todos sendo levados para o meio do deserto noturno que congelava os ossos. Aos poucos, a estrada ia se afastando enquanto a pequena trilha por onde Nicole, os soldados e outros prisioneiros eram levados.

A tensão se manteve pesada até chegarem a uma região cercada por cercas de metal, com arames farpados no alto das cercas e algumas tendas militares no lado de dentro, Nicole sabia muito bem dos crimes de guerra que aconteciam na Líbia, mas tentou afastar da sua mente o pior. Após entrarem, a gata azul foi posta de joelhos junto com os outros, e assim como eles, tiveram seus olhos cobertos por uma venda preta antes de serem postos pra dentro de uma das tendas e a porta ser fechada.

O silêncio consumiu o lugar durante alguns segundos, até Nicole ouvir um dos prisioneiros à sua direita começar a falar.

– Você não é daqui, não é? - Disse ele com os olhos vendados, mas falava como se a visse.

Nicole exitou em responder.

– Não se preocupe, logo logo eu serei só mais um morto numa guerra sem sentido. - Continuou ele, Nicole achou que ele não representava ameaça e resolveu conversar.

– Quem é você, antes de tudo? - Perguntou Nicole.

– Meu nome não importa, mas eu faço parte dos... Bem, você deve saber, afinal conseguiu entrar lá sem ser percebida. - Ele falou com um tom calmo.

Nicole sentiu seus pelos se arrepiarem, ela não estava tão escondida como acreditava. Ela imaginou milhões de formas de como disfarçar e dizer que não sabia do que ele estava falando, mas ele parecia bem sincero.

– *gulp* Como sabe que eu não sou do "grupo" - Disse Nicole engolindo em seco.

– Você não parece nem um pouco com uma Fitzgerald, geralmente são cervos disfarçados de amendoim ou lobos. - Disse ele.

– Até onde eu sei, vocês nunca foram uma família. - Disse ela procurando palavras certas.

– Vocês está certa, nenhum de nós somos familiares ou algo assim, mas eles nos fazem selar um pacto de sangue cruel para que nunca nos separemos. - Disse ele.

Nicole dá um suspiro de impaciência.

– Pra que tudo isso? Pra que essa ambição de poder em troca de sangue? - Disse ela próxima de um grito.

Ele deu uma risadinha incrédula.

– Eu não quero poder algum, nenhum de nós quer. - Disse ele que, antes estava com calma, mas agora sentia seu coração bater mais rápido.

– Ele quem? - Perguntou Nicole ainda mais curiosa, tentando não assusta-lo.

Ele ficou alguns segundos calado, como se estivesse julgando se era o momento apropriado para falar sobre quem era tão supremo a ponto de criar uma mega organização daquele porte.

– Eu nunca vi ele, ninguém viu, nem sabemos o nome dele, costumamos chamar eles de Vult. - Disse ele agora mais nervoso.

– Vult? - Nicole agora começou a pensar naquele nome e o que ele poderia significar, por que Vult?

O homem respirou fundo e começou a falar mais, porém um barulho de chaves elétricas sendo abertas assustou os prisioneiros que estava ajoelhados e com as mãos atadas sob visão vendada.

– Eles voltaram. - Disse o homem que começou a hiperventilar em desespero, Nicole se imaginou o que de pior aconteceria lá que assustaria até mesmo um Fitzgerald.

– Droga! Nós vamos todos pro inferno! - Gritou ele apavorado. Nicole continuou tentando controlar o seu pânico.

Enquanto isso, naquela mesma tenta, uma oficial militar entrava a passos longos com suas botas militares, inspecionando um por um os prisioneiros que não pareciam nada satisfeitos. A mulher deu sinal para que seus soldados tirassem as vendas pretas, Nicole conseguiu enxergar os prisioneiros alinhados um ao lado do outro em uma linha de 10 prisioneiros, entre eles ela. Enquanto meia dúzia de soldados se posicionavam na frente deles.

A mulher de cabelos castanhos presos tira um documento de sua pasta e começou a lê-lo.

– Vocês, membros da organização Fitzgerald foram condenados por conspiração e sequestros, as FALL aplicarão a sentença. - Disse ela dobrando o papel e guardando-o.

Antes de dar a ordem de fogo, viu uma linda gata azul com as mãos presas enquanto chorava silenciosamente, a oficial reconheceu de imediato quem era e mandou um dos homens trazerem Nicole até ela, que foi trazida como mandava a ordem.

– Ora, ora, ora... - Disse a mulher curvando o corpo ficando cara-a-cara com Nicole. A gata azul também reconheceu a oficial.

– Comandante Olyo, você...

– Agora é tenente Olyo pra você. - Disse a oficial.

– Você foi rebaixada de ontem pra hoje? - Perguntou Nicole com um traço de risada no ar.

– Ha, ha, ha, Não é? Pois acredite, foi justamente a sua fuga e a morte de Dave que me derrubaram do comando geral. - Disse ela como se mastigasse uma lata de alumínio.

– Morte do Dave, mas o... - Nicole foi interrompida pela lembrança de que Dave forjou sua própria morte.

– Ah sim... Claro, Dave! É, ele morreu. - Disse Nicole tentando disfarçar.

A tenente tentou respirar fundo, não podia executar Nicole, pois sabia que ela era uma agente do Chest. Com raiva, ela puxou um canivete de seu bolso esquerdo e cortou a algema de plástico que pendia os pulsos de Nicole.

– Sorte sua que você é amiga do Chest, gatinha. - Disse ela com um tom de ódio.

Nicole esfregou seus pulsos que já estavam feridos, Olyo levantou a gata azul pelos braços e começou a trazê-la para fora.

– Vamos conversar na minha sala! - Disse Olyo controlando sua raiva.

Do outro lado da tenda, o misterioso homem olhava com orgulho para Nicole. "Boa sorte, Nicole!" Pensava ele.

...

Lá estavam os 5 na sala, Dave, Mrs. Fitzgerald, Penny, Darwin e Gumball; os três mais jovens estavam sentados no mesmo sofá enquanto Dave se posicionava ao lado da mulher-amendoim. Dave esperou alguns segundos antes de começar a falar.

– Ouçam bem vocês quatro, pois só vou falar uma vez. - Disse Dave atraindo a atenção deles. - Nós já temos problemas demais fora daqui, um monte de filhos da mãe dispostos a fazer o possível pra pegar cada um de nós e jogar numa cadeira de tortura, e brigar só vai adiantar o serviço deles! - Disse Dave com tom firme.

Gumball olhou para a mulher-amendoim com um misto de medo e raiva, combinação quase impossível de acontecer que Gumball conseguiu forja-la.

– O que você está olhando garoto! - Disse ela em tom ofensivo.

– Nada de mais... Apenas a vendo como você é capaz de ser insensível e ao mesmo tempo repressora com sua filha. - Disse Gumball em sarcasmo.

– Olha bem com quem está falando seu gatinho assustado! - Disse ela levantando-se. Ela não era tão alta quanto Gumball, ambos tinham quase a mesma altura depois de Gumball ter chegado aos 16.

Dave lançou um olhar para a mulher-amendoim, que imediatamente sentou-se com uma expressão entristecida no rosto.

– Você começou tudo isso. - Disse Mrs. Fitzgerald.

Dave olhou para ambos, o clima pesado no ar tirava qualquer vontade de negociar que ele tivesse, mas uma ideia surgiu naquele clima sórdido. A chuva começou a cair enquanto Dave se levantava.

– Acho que vocês dois precisam de um tempo a sós. - Disse Dave com um olhar calculista.

– O que? Você pretende deixar a mamãe e o Gumball sozinho? - Disse Penny com uma voz alterada, preocupada com seu amigo.

– Não se preocupe com isso, eu sei que eles vão se dar bem. - Disse Dave enquanto ia para a cozinha. - Vocês não vêm comigo? - Disse Dave.

Darwin e Penny saíram do sofá e foram em direção à Dave sem pensar duas vezes, deixando Gumball e a Mrs Fitzgerald sozinhos na sala escura enquanto a chuva deixava apenas as luzes de fora entrarem. A mãe de Penny olhava para Gumball com um olhas psicótico, quase como se estivesse fantasiando as mais diversas formas de fazer o gato azul morrer. Gumball então pensou em algo antes que os desejos dela se tornassem realidade.

– Então... Senhora Fitzgerald, sobre o que quer conversar? - Disse Gumball trêmulo.

Ela olhou pelo rosto do gato azul como se procurasse uma gota de água no oceano, depois fez uma expressão confusa.

– O que ela viu em você afinal. - Disse a mulher-amendoim, Gumball procurou responde-la, respirou fundo para tentar controlar-se.

– Eu... Eu amo ela, simplesmente isso. - Disse ele, agora um pouco mais calmo, mas ainda em alerta para qualquer movimento da mãe de Penny.

– Não foi isso que te fez ficar tanto tempo com ela, gatinho assustado. - Disse ela, Gumball começava a se irritar com aquele apelido.

– Olha só, eu não sei o por quê de você ter tanta aversão a mim, mas eu não sou igual a outros cara, seja lá quais outros a Penny tenha conhecido. - Disse Gumball em tom firme.

– Não é por causa disso... Não só por causa disso, a Penny não é só mais uma garota que você conheceu por aí, você e ela podem ficar em perigo se um dia se casarem, ou coisa do tipo. - Disse a mãe com preocupação na voz.

Gumball já estava cansado de tanto suspense, todo aquele clima misterioso que Dave e ela jogavam sobre ele e sua família já eram cansativos.

– Se você me disser com detalhes o que vai nos ameaçar no futuro, eu deixo em paz, não só vocês duas, como toda a família Fitzgerald. - Disse Gumball como um juramento.

Mrs Fitzgerald, que antes olhava para o jovem gato como nada mais que um garoto qualquer sem objetivos na vida, agora tinha um certo crédito por ele, porém, não se atrevia a abrir um sorriso a ele. O diálogo entre os dois era demorado e lento, as repostas e perguntas levavam um tempo até serem feitas.

– Hum, como eu posso confiar em você? - Perguntou a mulher-amendoim desconfortável, pois estava se sentindo a mercê da confiança de Gumball.

– A sua filha confia, você deveria confiar também. - Disse Gumball tentando parecer o mais responsável possível.

Sem responder, a mulher amendoim levantou-se, Gumball inclinou seu corpo e deitou sua costa no encosto do sofá em que estava sentado, imaginando que ela faria algo a ele, porém, ela foi em direção à uma estante com vários livros. Após procurar entra as páginas de um dicionário, ela puxou uma foto surrada e voltou para a mesa de conversa.

– Aqui está. - Disse ela entregando a lâmina de plástico para Gumball.

Gumball olhou para a foto e viu o Patrick Fitzgerald ao lado à Dave e um terceiro cervo que ele não conhecia, mas tinha uma cicatriz no olho esquerdo e vestia um casaco russo.

– Está vendo o velho de casaco? - Perguntou Mrs Fitzgerald mais aberta à Gumball.

Gumball olhou novamente para ele.

– Sim, o que tem ele? - Disse Gumball.

– O nome dele é Viktor, era grande amigo de Marverick, lembra dele? - Disse Mrs Fitzgerald.

– Marverick? - Perguntou Gumball intrigado

Nota ao leitor: Marverick é um dos personagens que aparecem em "Cartas de Elmore"

Mrs Fitzgerald assustou-se ao lembrar que Gumball não conhecia Marverick, então tentou o possível para mudar de assunto.

– Bem... Vamos ao que importa, ele é um dos principais chefes da nossa família, um patriarca que comanda a todos nós. - Disse Mrs Fitzgerald.

– Sim, mas isso não explica...

– Ele tem uma lista de sobrenomes em que dizia estar proibido a qualquer Fitzgerald ter um relacionamento mais íntimo que amigo com eles, a não ser para dar mais poderes à família. - Disse ela enquanto virava a foto que Gumball olhava, atrás haviam vários traços e nomes de famílias. Família pequenas de Elmore como os Wattersons, Wilsons, Rex, até mesmo famílias mais famosas como Tudors, Palevs, Wales, Rotchilds e Yeltsins.

– Puxa vida... - Dizia ele intrigado com os nomes da lista.

– Eu não sei por que, mas ele diz que essas famílias são uma ameaça, e que eu... Eu não deveria estar dizendo isso. - Disse ela preocupada, em um breve momento de arrependimento, ela levantou-se e foi em direção a Gumball para tomar a foto, mas ele conseguiu guardá-la, ele queria correr, mas sua perna estava incapaz.

– O que está fazendo, devolva isso já. - Disse ela tentando puxar a mão de Gumball que guardava a foto no bolso.

– Eu sei, mas eu posso tirar vocês dessa. - Disse Gumball enquanto ficava em uma briga de braços com a mulher amendoim.

– Eu não devia ter confiado em você, só provou ser um inútil, agora me dê isso. - Disse Mrs Fitzgerald sem controle enquanto tentava tirar a foto do bolso de Gumball.

Gumball e ela finalmente caíram sobre o sofá onde o gato estava sentado, a início, ela ficou irritada, rapidamente ele conseguiu imobilizar uma de suas mãos contra o encosto do sofá enquanto a outra ficava presa embaixo dele.

– Shh... Se acalme! - Disse Gumball tentando conter a amendoim que se debatia. - Silêncio, vai querer atrair o Dave? - Disse Gumball. Aquela frase fez ela parar imediatamente e recompor suas emoções.

– Não... Eu não quero. - Disse ela como um robô.

– Que bom, vamos voltar ao normal e não deixar isso acontecer de novo, tudo bem? - Disse Gumball soltando a mão dela. Uma vez com a mão solta, Mrs Fitzgerald levou-a até o rosto do gato azul e segurou-o, Gumball achou aquilo um tanto inesperado.

Ela deu uma leve risada.

– Você está exatamente igual a mim a 15 anos atrás, quando me apaixonei pelo Patrick. - Disse Mrs Fitzgerald com um sorriso amistoso.

Gumball não sabia exatamente como reagir, esperou que fosse uma armadilha da mãe de sua amiga.

– É... Hehe, mas você não foi sequestrado por uma dupla de maníacos, foi? - Disse Gumball rindo, depois percebeu a besteira que falou e tentou se corrigir, típico de Gumball. Ela suspirou profundamente e voltou a olhar para ele.

– Me desculpe por aquilo, eu estava tão perdida quanto você está agora. - Disse ela com um sorriso amigável.

– Obrigado... Eu acho. - Disse Gumball sem-graça.

– Bem... Acho que já pode me soltar agora. - Disse Mrs Fitzgerald, Gumball assentiu e levantou-se junto com a amendoim.

– Ora Ora... Parece que fizemos algumas amizades aqui, não é? - Disse Dave enquanto observava os dois lado a lado com mãos dadas. Mrs Fitzgerald ainda estava com receio de Dave, ele, por outro lado, não tinha mais a mesma sensação e jogou a arma que estava no colo de Mrs Fitzgerald.

– Se você confia nela, eu também confio. - Disse Dave olhando para Gumball, que sorria para ele.

– Venham, vamos para casa. - Disse Dave antes de abrir a porta da frente.


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