Encontrei Verena sentada no chão observando, distraída, o início da reconstrução do Grande Salão, girando um flecha nos dedos. Aproximei-me da garota cujo os cabelos tocavam a terra.
– Bom dia, Verena. - disse, ela deu um pulo, assustada.
– Ah, oi, Astrid, perdão, naõ tinha de visto aí.
– Que nada, fui eu que te assustei. Posso me sentar? Ou você quer ficar sozinha...
– Não, senta aqui. - falou batendo no lugar ao seu lado, no chão.
– Então, você já comeu? - perguntei, tentando puxar assunto. - É que sem o grande salão não existem muitas opções, sem ofensa, mas soube que sua mãe cozinha muito, e Soluço também não é um dos melhores cozinheiros...
– Já comi sim. Eles são os piores cozinheiros do mundo. - falou ela, rindo. - Mas, digamos que eu saiba cozinhar um pouco. Aprendi sozinha, você acha que minha mãe sobreviveu como? Comendo aquela comida horrível dela?
– Nossa é tão ruim assim? - eu ri. - Mas na verdade, acho que a minha comida e a dos meus pais são muito piores.
– Duvido.
– Quer experimentar?
– Não, não, eu to bem.
– Imaginei que diria isso. - ri. - É tão ruim, que eu nem comi nada ainda.
– Se quiser eu faço alguma coisa pra você.
– Obrigada.
– Não tem de que.
– Verena... - quis mudar de assunto, apesar de estar divertido.
– Sim?
– Você sabe que eu tenho a mania de ficar espionando as pessoas e, me desculpa, mas eu meio que vi você e o Naldo ontem à noite e...
– Eu sei.
– Sério? Mas eu me escondi tão bem dessa vez, como você... - ela soltou um gargalhada.
– Não foi por sua causa. Nem havia notado sua presença até Brenna chegar, ela fala muito alto.
– E você nem falou nada?
– Bem, eu estava meio distraída... - ri de leve.
– É, eu percebi. - disse, a fazendo corar.
– Por favor não conta para minha mãe, nem para o meu irmão!
– Eu não pretendia. Mas não compreendo, os dois gostam bastante do Naldo.
– Eu sei! É por isso mesmo! Eles vão ficar pegando no meu pé! Minha mãe vai vir e ficar falando coisas como "Eu te avisei, mas você não nunca ouve sua mãe", " Por que você deixou o garoto esperando tanto tempo?", "Eu sabia!", " Que orgulho, minha filha, vocês são taõ fofos!". - falou a minha cunhada imitando perfeitamente a voz de Valka, fazendo-me gargalhar.
– Ai, Verena!
– Verdade, oras!
– Tudo bem. Mudando o assunto, Brenna me falou sobre um ex-namorado dela, qual era mesmo o nome dele...
– Erick.
– Isso. Brenna me abalou bastante com o que contou. Deve ter sido horrível, imagina, perder o namorado assim, se acontecesse com Soluço eu nem sei o que eu faria... Ela me disse que ele levou um flechad... - meus olhos encontraram a flecha no colo de Verena e me interrompi. - ...Enfim, ela entrou em detalhes, claro, e eu gostaria de saber se...
– Você quer que eu te conte o que aconteceu.
– Se não for incômodo, claro! Perdão estou sendo muito intrometida, isso não é da minha conta...
– Não, não tem problema. - ela me interrompeu. - Erick era um rapaz simpático, gentil e bondoso. Todos o adorávamos, era o coração do nosso grupo. Sempre sorridente e bem humorado, constantemente colocando-nos para cima. Conheciamo-nos desde os onze anos, ele havia se mudado para a ilha de Brenna e Naldo com o seu pai, que era caçador de dragões.
" Brenna se encantou com o garoto desde o momento em que o viu pela primeira vez, cabelos negros como piche e olhos castanho-avermelhados. Viraram amigos de cara. Eu não era tão próxima dele, não sei bem o por quê, só não o achava tudo aquilo, sabe? Não suportava o pai dele, nem minha mãe. Mas Erick não era como o pai, ele gostava dos dragões, mas não por amor, como nós, por simples fascínio, eu via isso em seus olhos toda vez que ele observava Vinola."
" Ele a olhava com voracidade, curiosidade, não com compaixão. Eu realmente não era a maior fã do garoto, não me preocupei tanto em conhecê-lo quanto Brenna. Ele não era mau, só que havia algo naqueles olhos famintos que me incomodava, mas ele fazia Brenna feliz, e era isso que importava. Eles começaram a namorar quando tinham quinze, eu não peguei muito a época em que namoraram, pois foi quando eu fui para Svart og Hvitt.
"Uma semana depois do meu retorno, estavámos em Osman Lambert quando um pequeno grupo de soldados de Drago atacou a ilha, eles haviam nos seguido. Eu tenho que admtir, eles podem ser os maiores idiotas desgraçados, mas são excelentes arqueiros, eles que me ensinaram. Mas como você sabe, o sangue deles é frio como gelo, saíram atirando flechas, para nos assustar, em alvos aleatórios. Não conseguiram me pegar, mas uma flecha acertou Erick, ele caiu no mar depois de ser atingido, seu corpo nunca foi achado."
– É interessante, quer dizer, não me entenda mal, me refiro ao de o corpo ter desaparecido, não quero parecer fria, mas não é um pouco estranho? - comentei.
– Sinceramente? Eu concordo com você. Eu nunca acreditei na morte de Erick, ou nele em si, e olha que, sem me gabar nem nada, eu costumo term um excelente intuição sobre as pessoas. - falou Verena. - Eu cheguei, a suspeitar de que ele era um espião, mas não ousei dizer isso a Brenna, ela já estava furiosa comigo quando ele faleceu, sempre acreditando que a culpa era minha, achei melhor não cutucar a ferida.
– Como poderia ser sua culpa?! - perguntei abismada. Tá bom e agora, o que mais seria culpa de Verena, o nascimento de Drago? A calvice do Bocão? Pelo amor dos deuses!
– Bem, se eu não tivesse ido para Svart og Hvitt, os soldados de Drago não teriam me perseguido, e se eles não tivessem me perseguido não teriam atirado em Erick. - respondeu ela.
– Para com isso, Verena! Nada disso é culpa sua!
– Tudo bem, vou ficar quieta.
– Você acha que ele está vivo?
– Olha, se ele estiver vivo está vivendo como traidor. E eu acredito que esteja, é uma suspeita cruel, eu sei, mas é simplesmente minha opinião.
– Não posso dizer o que penso, seria injusto levando em conta que não o conheci, mas creio que esteja certa.