Depois de entregar o bilhete, o professor entregou uma autorização para ser assinada pelos responsáveis.

Eu não consegui pensar direito na viagem, normalmente eu ficaria empolgada, mas agora foi diferente, eu só pensava em como a Sarah deveria estar. Eu estava tentando afastá-la do Nicholas justo para ela não se machucar, mas foi tudo por água abaixo. O jeito como ela gritou comigo ontem, sem dúvidas não está sendo fácil. Mas foi um pouco infantil da parte dela, eu só estava tentando ajudar, não precisava me tratar daquela forma.

No recreio eu estava caminhando ao lado da Mira, quando ela falou, mexendo no celular:

– A Aril foi rápida. Postou ontem de tarde uma matéria sobre mim, e colocou o título de “A Rapunzel de Welsburg”, que fofa! E conseguiu atualizar hoje com “O Sumiço de Sarah”.

– Você já conhece a Rádio Corredor?

– Claro, você acredita que algumas pessoas me chamaram de Rapunzel hoje?! Essa escola é demais! – ela sorriu.

– Pois é – olhei para os lados -, você viu a Sarah?

– Não.

Avistei-a.

– Lá! – apontei e corri até lá – Sarah, posso falar com você?

Ela estava sentada na grama, debaixo de uma enorme árvore, que ficava ao lado da pracinha infantil.

– Eu não quero falar com ninguém, por enquanto. – ela não deu à mínima, nem olhou para mim ou para a Mira, que estava do meu lado.

– Por favor Sarah, eu estou implorando!

Ela ignorou completamente.

– Pare de ser tão infantil Sarah Walker, deixe de ser teimosa! – fiquei irritada e as palavras acabaram saindo sem querer - Cansei de correr atrás de você o tempo todo!

– Eu não estou pedindo para você correr atrás de mim, Angelina Finkler! – ela revidou no mesmo tom – Para de encher o saco! Vai viver a sua vidinha idiota e me deixa em paz!

– Vidinha idiota? Idiota é você que se diz minha melhor amiga, mas não confia em mim!

– Eu confio, mas preciso de espaço pra mim mesma! O seu namorado deve estar de esperando, então ocupa seu tempo com ele e não comigo!

– Esse é o seu problema, não é?! Meu namorado? – estava com raiva da Sarah, dá teimosia dela, não medi as palavras – Eu não tenho culpa que você se apaixonou por ele, e ele se apaixonou por mim! Se você me tratar mal cada vez que um garoto te magoar, nunca faremos as pazes!

Ela não falou nada, mas parecia me corroer com o olhar. Levantou e saiu.

– Angelina, está tudo bem com você? – perguntou Mira desconcertada, que havia assistido tudo.

– Está. Eu acho que peguei pesado com a Sarah. Você pode não contar isso a ninguém?

– Claro, eu nem quero dar uma de intrometida.

Angelina Off

Sarah On

Saí de lá correndo. Como a Angel pode falar aquelas coisas? Não importa se é verdade ou não, não era necessário jogar tudo na minha cara!

Não olhei para trás, subi as escadas com raiva. Eu não podia chorar, não podia derramar uma lágrima sequer, eu tinha que ser forte! Angel idiota, Nicholas idiota, todos são idiotas!

– Ei, o que aconteceu? – Caleb segurou meu braço.

Eu estava de costas pra ele, nem virei-me para olhá-lo, apenas puxei meu braço de suas mãos bruscamente e continuei caminhando por aquele corredor vazio.

– Eu falei com você! – dessa vez ele me puxou, ficamos frente a frente, mas eu não olhei em seus olhos, fiquei cabisbaixa. – Eu vi você subindo as escadas, por que está estranha?

– Eu não devo satisfações a você! – fui aumentando o tom de voz ao longo da frase, e por fim lhe dei um soco no rosto.

Continuei caminhando feito uma psicopata sem noção e fui até a sala de vídeo, que ficava um pouco a frente, uma sala onde ficamos para assistir filmes ou coisas assim, ela quase sempre estava vazia. Tentei abri-la, mas estava trancada. Chutei a porta duas vezes com muita força e quebrei as dobradiças, lá liberei toda a raiva que sentia. Derrubei classes, chutei cadeiras, as atirei na parede e gritei bem alto.

Caleb entrou na sala, tirou a cadeira que estava em minhas mãos e segurou meus braços.

– Você ficou maluca? – ele gritou comigo de uma forma assustadora – O que você está pensando sua retardada?

Desviei o olhar e enchi os olhos de água, mas segurei o choro.

– Olha o que está fazendo! O que deu em você? Me bater e destruir uma sala da escola?! – ele apertou meus braços.

– Você está me machucando.

– O que deu em você? – ele bateu minhas costas na parede e me colocou contra ela.

Escorreu uma lágrima, e mais outra, minhas pernas frouxaram e eu caí no chão.

– Nunca vou esquecer de você, nem daquele dia... – relembrei.

Flashback On

Era férias de verão, e eu havia viajado com a minha família para uma casa de campo. Infelizmente a Angel não pode ir junto, pois foi visitar uma prima no Canadá. Eu era pequena nessa época, tinha nove anos, estava entediada, pois minha melhor amiga não estava lá para me animar. Resolvi procurar um pouco de aventura e entrei em uma pequena mata perto de casa. Fui caminhando e observando tudo em volta até que percebi a presença de alguém.

– Uau, que borboleta bonita! – era o Nicholas.

Eu sabia que a família dele tinha uma casa de campo naquela região, mas a gente nunca se encontrou lá. Ele parecia estar fascinado por uma borboleta colorida e começou a segui-la, eu o segui minuciosamente, não queria que ele me visse. Passei por cima de umas pedras e me escondi atrás de uma árvore.

– Vem aqui borboleta, eu não vou te machucar. – falou ele sorrindo e caminhando mais para longe.

Eu tropecei e caí, quando olhei novamente ele já não estava lá. Caminhei um pouco até um pequeno lago, observei tudo em volta e tentei acha-lo, mas foi em vão. Quando resvalo em alguma coisa e caio dentro d'água.

– Ahhhhh!!! – comecei a me debater desesperadamente.

Eu nunca senti um desespero tão grande. O lago era fundo e eu não tocava os pés no chão, não conseguia respirar e isso dava uma agonia enorme, como se alguém estivesse esmagando os meus pulmões.

– Socor...blobloblob!!! Socorro!!

Eu cansei de me debater, quase nem conseguia me mexer mais, meu corpo foi afundado e eu fui fechando os olhos lentamente, quando senti alguém me puxando de volta para a superfície.

– Vem, eu vou te pegar! – Nicholas segurou meu braço e estava me levando para fora d’água.

Já na terra, tossi um pouco e cuspi água.

– Sarah?!

– Nicholas?!

– Então era você?! Que bom que está bem! – ele me abraçou e eu sorri feito uma boba.

FlashBack Off

– Você me colocou contra a parede, salvou a minha vida e fez eu me apaixonar por você. Eu te odeio, Nicholas! – falei chorando.