Irmãs Blood escrita por Raquel Barros


Capítulo 19
Viva.




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Sabe quando toma aqueles remédios para passar a dor e sua língua fica dormente?

É assim que me sinto.

Só que pelo corpo todo ao invés de só a língua.

Não sinto meus braços, minhas pernas, nem nada que se mova. E tudo esta escuro. Tão frio. Estou envolta em trevas e quero sair daqui. Quero que esse formigamento passe e que eu acorde. Como eu cheguei aqui? Eu não sei. E não quero saber.

Só quero a luz. Mas as trevas não querem me liberar.

O tempo no escuro passa mais lento, como se cada minuto fosse uma eternidade. Esse é o tempo aqui. Pequenas eternidades a cada nonagésimo de segundo. E forças para lutar e resistir é o que eu não tenho. E eu preciso resolver tanta coisa. Quero ver o Alef de novo. E quebrar alguma coisa na cabeça de Drakon. Nem que seja um misero vaso de barro. Eu tenho coisas para fazer nessa vida. Algumas básicas como casar, desde que seja com o Alef, ter um bebê bem pequenininho e fofo para cuidar, fazer uma viajem pelo mundo, ser bem sucedida... Eu só quero viver. Viver intensamente e abundância. De preferência sem mágoa ou rancor. E sem revelações que podem ser capazes de mudar meu modo de pensar. Eu não sei. Eu só queria andar descasa e tomar banho de chuva. Talvez um dia passar a semana toda de bobeira. Comer sem pensar em engordar. E viver. Só e somente viver. E vida é algo que não tem nesse lugar. Só o escuro. Mas de escuro já basta à noite. E se a escuridão tivesse que reinar eternamente, não haveria o amanhecer. Eu poderia aproveitar essa oportunidade de ficar em silencio para renascer. Como o sol.

Então quando eu acordar a primeira coisa que vou fazer é beijar o Alef. Mesmo que ele me rejeite e tal. Mas pelo menos tive alguns beijos dignos na vida. A propósito, porque ficamos tão paranóicos por causa de beijos? É tão sem noção. Todos no mundo têm seu próprio tempo. E se as pessoas não aceitam isso, beijinho no ombro para elas. Porque se fosse para todo mundo ser igual, seriamos todos iguais. Então só resta eu ser eu mesma. Apesar de que eu não sei quem sou eu. É. Quem sou eu? Civilmente sou Beverly Blood Ferriry, tenho quinze quase dezesseis anos, e amo de paixão um cara chamado Alef que não é humano e tem asas de anjo, meu pai não é humano e estou em duvidas se minha mãe é minha mãe mesmo e acho que sou adotada. Essa é uma Beverly medíocre, comum e que não vai deixar sua marca no mundo. A Beverly Blood é alguém mais presencial. É alguém que quer mudar o mundo e deixa sua marca nele. Essa é a Beverly que quer se soltar e fazer um estrago na vida dos idiotas que acham que podem mexer com ela. E eu só preciso acordar para fazer meu grande estrago. Só preciso da luz e de suas cores. Afinal, tudo no mundo tem luz. Exceto logicamente a nevoa preta, densa e opaca em que estou envolvida agora. E eu só quero achar a luz.

Meu desejo foi atendido.

Do nada um ponto dourado desceu de cima e começou a me envolver lentamente, começando pelos pés, subindo pelo tornozelo. Ouro dois pontos dourados apareceram. Um em direção as mãos e braços e a outra parecia me puxar. Eu estava flutuando. E era bom. Calmo e quente. A luz aconchegante que cura e restaura de dentro para fora. Que brota na escuridão como o nascer do dia na noite.

Meu corpo foi todo envolvido por luz e calor, enquanto flutuava para fora da escuridão.

E era bom e bonito. Eu estava me sentindo viva finalmente. Viva, feliz e radiante.

Meu braço destravou, não estava mais dormente. O estendi para alcançar a luz mais rápido.

A toquei.

Uma descarga elétrica percorreu o meu corpo. Junto a ele uma alegria que fortaleceu a alma. Depois subiu um formigamento por onde existia luz. A calmaria nasceu de um frio na barriga e se expandiu por todo o meu corpo. Então eu mergulhei na luz. E quando abri os olhos estava em meu quarto em Onyx.

Parecia uma eternidade que eu não o via. Os seus papeis de paredes estampados com flores e em fundo azul e seus moveis em estilo colonial branco pareciam mais vibrantes agora. Pelas leves cortinas tremulantes que tinha em minha cama, em um sofá azul tifane repousava o Alef. Parecia até miragem. O Alef dormindo em meu sofá.

Ele parecia certo lá.

E dormia como um anjo.

Não resisti e fiquei observando ele dormi.

Sua respiração calma e tranqüila, as sardas que pareciam ter se intensificado, as sombras que seus cílios faziam em sua rosada bochecha, o sorrisinho torto que ele deu. Alef suspirou pesadamente e repeti com ele. Acho que é perfeição de mais para uma pessoa só. E ele nem ronca. Talvez o Alef leve muito a serio o trabalho de ser um anjo. Talvez ele goste do sentido literal de tudo.

Levantei da cama na ponta dos dedos. E sentei no chão perto do Alef. Escorei minha cabeça no braço do sofá. Toquei sua bochecha. Meus dedos formigaram. Outro suspiro. Outra repetição. Eu queria saber o que ele esta sonhando.

Desisti da idéia antes de se quer pensar na idéia. Privacidade era algo bom. Eu gosto.

Suspirei e levantei novamente.

Foi o tempo de ele acordar.

–Vida? Ah, meu Deus. Razão você esta viva? Ou eu morri e fui para o céu?

Perguntou Alef levantando em um pulo. Acho que nunca vi esses olhos azuis tão brilhantes e felizes.

–Oi, Ale.

Sussurrei. Eu deveria ter saído antes dele acordar. Ou não deveria ter tocado-o.

Um sorriso se formou no rosto de Alef. Foi o suficiente para meu coração ir a mil. Ele era tudo o que eu queria, mas ter-lo poderia colocá-lo em perigo. Mas não tinha como eu não negar, eu estou perdidamente apaixonada pelo Alef. Por seu jeito fofo. Aquele sorriso torto, aquele olhar interessado e meigo. Eu gosto dele. Muito.

–Oi.

Cumprimentou Alef animado.

Dei-lhe um sorriso fraco. Era o que eu poderia fazer. Apesar de que eu queria abraçá-lo longamente, e depois beijá-lo. Pisquei os olhos para não chorar.

–O que houve?

Perguntou seu sorrindo morrendo aos poucos.

–Nada.

Respondi com a voz rouca. Que droga!

–Como assim nada? Vai chorar por nada? Suas lagrimas são muito valiosas para serem gasta com nada. É claro que tem alguma coisa. Eu te conheço Razão. Tem alguma coisa de incomodando. O que é? Eu posso ajudar?

–Não... Quer dizer sim. Você pode ajudar. Mas não precisa se importar.

–Eu quero me importar. Importo-me com você e com tudo que faz você. Isso inclui medos e inseguranças.

–Não Alef. É tarde. Um pouco tarde para isso.

–Não é não.

Discordou ele puxando-me para si.

Estávamos tão perto.

Levantei a cabeça para olhá-lo.

Sua beleza não tinha nem se quer diminuído. A barba mal feita, os olhos cansados e um sorriso torto. Um Alef um pouco mais adulto, não? E mais decidido eu creio.

–Fez aniversário?

Perguntei do nada. Ele realmente parecia mais velho. Só um pouquinho. Talvez fosse a barba mal feita. Alef sorriu.

–Esqueci.

Sussurrou ele em tom de segredo.

Gargalhei me divertindo com o fato dele ter esquecido o próprio aniversario.

–Quantos anos?

–Dezessete.

–Eu não sabia. Então você não vai ter presente.

Avisei sorrindo.

Alef suspirou, me encarando intensamente.

–Que foi?

Perguntei. Alef acariciou meu queixo.

–Sabe o que eu queria de presente?

–O que?

–Você.

Respondeu ele, em um sussurro em meu ouvido.

Um arrepio percorreu minha nuca. Brincar com os hormônios dos outros desse jeito não é legal. Mas eu não conseguia deixar de sorri. A felicidade era tão incendiaria quanto o fogo.

–Porque eu?

Perguntei acariciando seu queixo. Seu rosto estava a menos de um palmo de do meu. Posso senti sua respiração quente sobre meu rosto.

–Você só é simplesmente a mulher mais importante em minha vida.

Respondeu ele. Logo após pressionou seus cálidos lábios levemente nos meus. Seus lábios se abriram para os meus. Eu capturei seu lábio inferior com meus dentes e ouvi um som de surpresa nascer no fundo da garganta dele. Uma das mãos de Alef segurava meu rosto enquanto a outra estava na base da minha coluna, me mantendo tão perto que era difícil puxar o ar para dentro do meu peito comprimido. Eu estava arfando, mas ele também estava. Sua respiração se misturava com a minha.

Éramos só nós dois, tão próximos que mal contava como dois.

Só nós.

Ninguém mais.

+++++*+++++

O sol, quente na pele das minhas costas nuas, me acordou pela manhã. Eu não abri meus olhos. Eu estava feliz demais para mudar qualquer coisa, não importa o quão pequeno ela fosse. Os dedos de Alef esquentavam um pouco mais elas, e mandava arrepios para minha nuca. Sorri comigo mesma, quando ele começou a beijar minhas costas, fazendo cócegas quentes. Seus beijos subiram para meus ombros. Ele afastou uma mecha do meu cabelo a fim de encontrar um novo lugar para beijar. Acordar sentindo a respiração de Alef em minha pele era um sonho realizado que eu não sabia que tinha.

Eu ri quando sua boca atingiu um ponto sensível no meu pescoço.

– Bom dia, Amor.

Ele sussurrou.

–Bom dia, Anjo. Quer dizer, você não estava muito angelical ontem. Mas tudo bem.

–Depois de ver uns poucos estragos que fiz ontem. Bem, acho que você tem razão.

Concordou Alef. Quase levantei em um pulo.

–Que estrago?

Perguntei não acreditando. Alef fez cara de inocente. Não que fosse colar. Ele não é nada inocente.

Dei um beijinho rápido nele.

Ele estava tão lindo todo bagunçado que eu não resistir. Seu cabelo era uma bagunça perfeita, e ele estava tão quente que até a última partícula do meu corpo não queria nada além do que ficar aqui com ele. E aquele sorriso torto. Era o suficiente para borboletas mexerem em meu estomago.

Alef enterrou suas mãos em meu cabelo. Beijou meu queixo, descendo pelo pescoço até chegar aos ombros.

–Acho que quero casar com você.

Sussurrou ele.

–Depois vemos isso.

Avisei entre beijos. Minha visão periférica avistou uma situação no mínimo curiosa em cima de nos.

Ontem de noite eu estava tão nas nuvens que não percebi, mas a cabeceira da minha cama tinha sido quebrada. Não só a cabeceira, mas o quarto estava toda uma bagunça. Bem grande. Como eu iria explicar isso para meu pai? Tipo, pai preciso de uma reforma no meu quarto aprontei uma com meu guardião que deixou ele aos pedaços, sobrou só o colchão inteiro, porque até a armação da cama quebramos.

–Que estrago! Como é que vamos pedir outro quarto?

–Podemos dizer que um furacão passou por aqui. E realmente passou. Mas agora se vista e vamos tomar um belo café.

Propôs ele. Enrolei-me no coberto e peguei a camisa dele indo direto para o banheiro.

Quando me olhei no espelho vi que as marcas da noite passada não foram só no quarto. Minha pele tinha manchas roxas nos braços, costela e costas. Minha boca abriu em exclamação. Maravilha! Agora eu tinha hematomas. Balancei a cabeça. Isso não era nada ao que senti ontem. E eu ainda estou nas nuvens.

–Desculpa.

Pediu Alef escorado na porta. Elas eram bem sinceras.

Sorri para ele. E vesti sua camisa azul marinho.

–Eu posso me acostumar com isso.

Avisei segurando sua mão. Alef beijou minha testa.

–Eu não. Não gosto de vê-la machucada.

Resmungou ele.

–Alef. Podemos tomar café. Eu tenho uma família para ver.

Pedi carinhosamente.

–Idéia maravilhosa.


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