O país secreto. escrita por Apenas eu


Capítulo 60
É tão difícil dizer adeus...


Notas iniciais do capítulo

Bebezões azuis?? Oieew .-.



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É no primeiro andar do castelo que eu vejo a cena mais horrível da minha vida. A guerra havia avançado, e tomado o castelo, então há mortos e sangue até onde meus olhos podem ver. Pessoas agonizando, feridos gemendo em desespero, pessoas assustadas em prantos... A guerra é isso, afinal. Me sinto como se tivesse entrado em um daqueles relatos sobre guerra que eu lia na aula de história... Só que mil vezes mais angustiante. Minha vontade é de começar a chorar, mas nem disso sou capaz.

A um canto, vejo Will debruçado sobre um dos corpos, sacudindo-o em vão. Por um instante, acho que pode se tratar de alguns dos meus amigos, ou parentes, mas logo que vejo uma cabeleira azul estendida pelo chão, constato que é Isie. Hellena segura no meu braço e me força a seguir em frente, serpenteando entre mortos e poças de sangue.

Mais adiante, avisto Jayssa e Demmie. A garota da água chora incontrolavelmente enquanto a telepata a ampara com palmadinhas nos ombros. Quando os olhos de Demmie encontram a mim e à minha prima, eles estão tomados de ódio e rancor. Engulo em seco, lembrando-me da luta na sacada. Vedir, apesar de ser imortal, muito provavelmente não sobreviveria à uma queda tão grande. E quanto a Giroy... Talvez não tivesse sido uma grande ideia deixá-lo lá em cima, sozinho.

Passamos pelas duas com um incômodo pedido de desculpas entalado na garganta.

Os próximos que vemos são Doquo, Liam e Larm. O velho está quase todo coberto de sangue, com feridas horrorosas espalhadas pelos braços e rosto e uma aparência cansada. Liam, que segura o arco com a mão esquerda, tem um machucado sanguinolento no ombro, e suas calças e blusa estão imundas. Seu rosto tem uma mistura muito nojenta de sangue e lama, e os olhos verdes estão serenos apesar de tudo. E o Larm... Ah, o Larm. O que eu mais quero é me lançar em seus braços e dizer o quanto estou feliz em revê-lo. Eu até sinto minhas pernas se movimentarem para correr, mas Hellena me impede agarrando meu pulso. Lanço-lhe um olhar indagativo, que é respondido pela mais séria sacudidela de cabeça. Olho de novo para Larm. Ele está todo empertigado, punhos cerrados, a harpa na cintura. Sua espada sangrenta está firme na mão direita, seu cabelo empapado de suor gruda-se em sua testa. Larm também não está em boas condições. Eu consigo ver cortes enorme em seu ombro e em seu braço. Talvez, se eu o abraçasse, ele nem aguentaria a dor.

Me forço a ignorá-lo e ir adiante.

Assim que Hellena e eu estamos prestes a transpôr a porta e encontrar a luz tênue do entardecer, ouço meu nome ser chamado às minhas costas.

– Emma...!

Mal me viro e sou surpreendida por uma moita de cabelos que faz cócegas no meu nariz. Enrodilho a cintura de Dianna, apoiando o queixo em seu ombro.

– Emma... Eu... Pensei que...

– Obrigada por se esquecer de mim - Diz Hellena. O que, certamente, deveria ser  uma piada, mas que soa mais como uma acusação.

Dianna se separa de mim. Seus olhos estão marejados, e seu rosto está escarlate. Os cabelos cacheados apontam em todas as direções, e ela está bem, por mais que pareça esgotada.

– Hellena, eu...

– Onde você esteve? - Disparo, interrompendo-a. - Quero dizer, resgatou o Chris, não é?

Seu rosto se transforma em uma careta, de quem se esforça para reprimir as lágrimas.

– Depois que vocês foram - Começa a explicar. - Os vampiros vieram, logo seguidos de metamorfos montados em dragões. Os vampiros eram nossos inimigos e os metamorfos, aliados. Assim que eles chegaram, Doquo mandou que Myafa e eu fôssemos para a floresta, enquanto Drafe resgatava os prisioneiros e trazia-os para nós.

– Deixa eu adivinhar - Intervém Hellena. - O plano deu errado?

– Mais ou menos. - A voz de Dianna falha. - Myafa e eu ficamos esperando, mas nada nunca vinha. Então resolvemos interferir.

– Vocês piraram?! - Exclamo, sem conseguir me conter. - A Myafa está grávida! Se alguma coisa acontecesse com esse bebê... Ou com vocês duas...

Primeiro, Dianna parece surpresa em ouvir que ela está grávida. Contudo, em seguida, sua expressão se altera para tristeza novamente.

– Myafa e eu achamos a cela, mas estava vazia. - Ela engole em seco. - Inicialmente, eu pensei que Vindre tivesse matado-os antes de chegarmos, mas logo mudei de teoria. Achei que Drafe fosse um traidor. Que tinha tirado Chris, Annabely e Júnior de lá e matado-os, ele próprio.

Abro a boca para responder, mas não consigo. Birc tinha me avisado. "O vilão nem sempre tem que ser mau, e o mau nem sempre é visto como vilão". E se ele estiver certo? E se Drafe apenas fingiu estar do nosso lado para, no fim, nos apunhalar?

– Júnior pode estar morto, por ser um sem-dom - Hellena diz, sombria. - Annabely está livre e esteve com a gente lá em cima há pouco. O nosso grande problema é o Chris, que pode muito bem ter dado um jeito de fugir. Nem sempre há apenas duas alternativas, se a gente olhar com clareza.

Dianna se demora em observá-la.

– Você pode estar certa.

– Dianna!

A voz fina e infantil partira de trás de Dianna. Ela gira nos calcanhares, saindo da minha frente e liberando meu campo de visão... Então vejo a garotinha pequena e magra, com o cabelo castanho agora solto sobre os ombros e o vestidinho rosa completamente amarrotado e manchado. Ela sorri tão abertamente, que aquece meu coração.

– Annabely! - Grita Dianna, correndo para encontrá-la.

– Dianna!

As duas estão perto de um abraço quando a fatalidade acontece... Às vezes eu penso no quanto a vida é curta, e no quanto um adeus não dito pode doer. Naquele momento, quando Annabely desabou nos braços de sua irmã com uma flecha atravessada nas costas, as palavras "Você também não!" piscaram em minha mente e eu tombei sobre os joelhos. Com a visão enevoada, avisto o arqueiro a um passo da morte... Ele está em um canto, sentado em uma poça de sangue, e abaixa o braço logo após o tiro... E então morre.

Me forço a levantar e, vacilante, caminho até as duas. Dianna agora está sentada, amparando a cabeça de sua irmãzinha no colo enquanto ela profere suas últimas palavras:

"Eu te amo"


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Notas finais do capítulo

Emocionalmente abalada :'(
Desculpa, Annabely. Eu não queria te matar... ;-;



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