O país secreto. escrita por Apenas eu


Capítulo 48
Malditos Lobos


Notas iniciais do capítulo

Oiie Gente :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/516672/chapter/48

Sabe aquelas vezes em que você vê sua vida inteira, como um filme, passar diante dos seus olhos? Aqueles momentos em que você sabe que vai morrer, mas espera que seja da melhor maneira possível?

É assim que me sinto.

Depois que Delli e Feln chegaram conosco na aldeia dos lobos, eles simplesmente se metamorfosearam em morcegos - sério, morcegos de verdade - e abandonaram meu irmão e eu nesse lugar totalmente desconhecido e perigoso.

Assustados, e vendo a morte se avizinhar, Stive e eu damos as mãos.

A morada dos lobos é uma combinação nojenta de carniça semidevorada, troncos de árvores caídos cobertos de musgo, e tecidos úmidos e sujos, que suponho ser o que traz o desagradável odor de cachorro molhado. Torço o nariz, apertando ainda mais os dedos de Stive.

– Emma - Ele sussurra.

Ergo o olhar para seu rosto livre de expressão; seus olhos castanhos focados em nenhum ponto específico. É nesse instante que percebo: Stive é um adulto. Mesmo que pareça um simples menino às vezes, a verdade é que ele já é um homem - um homem de dezoito anos. Luto contra a vontade de me lamentar, de abraçá-lo e começar a dizer coisas sem sentido... E, ao invés disso, murmuro:

– Que foi?

Observo seu pomo-de-adão subir e descer. Um barulho distante de algo colidindo contra a água nos faz ficar alarmados. Mas, ainda assim, ele não abandona o assunto inicial:

– Você sabe que vamos morrer, não sabe? - Ele solta minha mão de mansinho, e recua. - Sabe que depois de hoje, ninguém mais vai nos ver vivos.

Prendo o fôlego, balançando a cabeça negativamente.

– Só que eu tenho uma coisa para dizer a você antes de morrer - Ele sorri, suavizando a expressão. Seus olhos brilham em um divertimento insensato... Quase de conformidade. - Eu não costumo dizer isso, mas tenho que falar. Porque é isso que eu penso.

Ofegando de desespero, não posso dar qualquer passo que seja em sua direção. Observo-o recuar e recuar, com o coração apertado. A verdade é que ele tem razão: vamos morrer, de fato. A alguns minutos. E é inevitável pensar no que os outros vão sentir quando não nos virem mais. Parece que eu estava certa desde o princípio... Eu jamais voltarei para casa.

Stive olha por cima do ombro, atento ao som pesado de algo se aproximando. Ele me lança um olhar de soslaio e um sorriso de canto.

– Eu preciso falar isso: - Ele suspira. - Você é uma idiota.

Fico boquiaberta, mas não por muito tempo. No instante seguinte, um lobo enorme e pardo salta dentre as árvores e aterrissa graciosamente a poucos metros do meu irmão, nos estudando. Parece cogitar o melhor meio de acabar conosco. Abafo um grito, cobrindo a boca com as mãos.

Lobos não falam, mas se falassem, presumo que esse diria: "Ora, ora, parece que o jantar veio até mim!" Sacudo a cabeça, aturdida. Stive, por incrível que pareça, não se mostra apavorado, nem chocado, como eu. Ele gira nos calcanhares e aponta para o lobo, o que o faz desabar. Apenas a cabeça do animal pode se mover, pois o restante do corpo está imóvel pelo poder de Stive.

Stive olha para mim - mesmo sendo completamente improvável, ele ainda sorri.

– Emma, foge. - Pede. - Vai embora daqui, agora. Eu dou conta.

Amarro a cara, fazendo um rápido movimento com as duas mãos e lançando uma rajada de fogo no lobo imobilizado. Com um último uivo, ele vira cinzas, deixando apenas uma pequena chama a queimar na relva.

Stive pisca para mim, incrédulo, e então pigarreia. Recolhe sua mão e a esconde no bolso da calça surrada.

– Bom - Ele dá de ombros. - Até que...

Sua frase é interrompida quando toda uma matilha surge ao redor de nós, com saltos tão majestosos quanto o do primeiro lobo. Eles nos cercam, e uivam em uníssono, investindo contra nós com passadas preguiçosas. Stive volta correndo para perto de mim, girando a cabeça para ver todas as caras gigantescas dos lobos - em sua grande maioria, sujas de lama e... Sangue.

Os pelos da minha nuca se eriçam, o coração bate veloz. Vejo Stive estremecer, e seguro seu antebraço. Bom, é o fim.

Todos os lobos saltam ao mesmo tempo, rosnando enfurecidos, exibindo os dentes afiados como troféis. Ainda que esteja com medo, encaro-os e faço o meu melhor para detê-los, lançando bolas de fogo para todos os lados, que em sua grande maioria os acertam.

Enquanto jogo as bolas de fogo, observo que muitos deles se desfazem em cinzas como o primeiro. Isso me motiva a continuar, e acelero o processo. Alguns lobos hesitam, vendo o que está acontecendo com seus colegas, e fogem de volta para de onde vieram.

Dou uma gargalhada, me animando por estar no controle da situação, ignorando o fato de novos lobos irem aparecendo conforme eu matava os outros. Todavia, minha alegria some no exato momento em que sinto algo me puxar pelo vestido. Olho por cima do ombro.

– Emma!

É Stive. Presencio ao exato momento em que um lobo o arrasta pelas pernas, e seus dedos se desprendem da minha roupa. Em seu rosto, a figura explícita do desespero. Em seu olhar, o medo indescritível de morrer. Eu presencio ao instante em que outros lobos se unem ao primeiro... E eu já não posso mais ver o rosto do meu irmão.

– Stive! - Berro profundamente, até minha garganda arder. - Stive! Stiiiiive!

– Emma!

Meus joelhos ameaçam ceder, e o choro é instantâneo. Começo a soluçar sem parar, sem conseguir respirar direito.

– Nããão - Grito, vendo os lobos devorarem-no. - Nããão! Por favor! Stive!

Uma dor exorbitante no meu braço me faz lembrar dos lobos. Sinto-me ser arrastada também, e a raiva toma a vez da tristeza.

– Me larga! Me largaa! - Bato o pé no chão, extravazando toda a angustia e o ódio presentes no meu coração. O resultado é uma explosão. Vejo o fogo partir dos meus pés e se estender pelo chão, subindo na forma de uma parede de três metros de altura. Todos os lobos que tem o mínimo de contato com esse fogo, viram cinzas e espiralam pelo céu.

O fogo permanece.

Desabo de joelhos, escondendo o rosto nas mãos e desmontando-me em lágrimas. Eu ainda não posso acreditar que meu irmão está morto... Não posso...

– Por quê? - Sussurro, gaguejando. - Por que o Sti-Stive? Quem vai me pro-proteger agora?

Espreito por cima do ombro e o que encontro faz meu coração gelar. É a roupa dele, manchada de sangue, e alguns restos mortais... Dele...

Engulo em seco, quando minha boca se inunda de saliva. Todo o fogo da explosão se extingue de uma vez só. Meu estômago revira. Me inclino para frente e vomito tudo o que há para vomitar, até minha barriga doer.

Em seguida, minha vista escurece. E então desmaio.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Nada a declarar ;'(



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O país secreto." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.