O país secreto. escrita por Apenas eu


Capítulo 43
Uma surpresinha.


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente. Olha eu aq dnv *-*



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Estamos andando há horas.

Sequer cochilamos após aquele incidente com a metamorfa que se passava por Dianna e, cá entre nós, não acho que seríamos capazes disso. Andar é bom para distrair a mente; muito tempo parado faz a mente trabalhar demais.

A calcular pelo tempo em que o sol se pôs, eu posso supor que seja umas onze horas da manhã no meu mundo. Seria mesmo muito bom se eu pudesse usar algumas tecnologias por aqui. Eu nem sei que dia é hoje! Será que já completei dezesseis anos? Puxa, não tenho ao menos ideia da minha própria idade!

Solto um suspiro cansado, ansiosa pela hora em que pararemos e descansaremos. Sinto um braço pesar em meu ombro e percebo que é Larm. Mas estou esgotada o bastante para não ficar tensa com o que Liam vai pensar disso.

– Parece que você não dorme há décadas - Comenta ele. - Ficou chocada com o que houve com a metamorfa?

Seguro sua mão que está pendurada em meu ombro, esforçando-me para não deixar as pálpebras cederem.

– Está brincando? - Forço um sorriso. - Eu vejo isso todos os dias, é perfeitamente normal.

Ele sorri, me avaliando.

– Fico pensando em como você mudou.

Ergo o olhar para ele, curiosa. Seu rosto continua belo como sempre, e sua expressão é a mais tranquila possível.

– Mudei nada - Contradigo. - Você é quem vê coisa onde não tem.

Ele gargalha sonoramente, se inclinando para me dar um beijo no rosto.

A paisagem agora é quase toda verde. As árvores, os arbustos e a relva. As únicas coisas que se destacam são o vasto céu azul e as trilhas de terra, tal como a que seguimos. Giroy e Vedir vão liderando o grupo, logo seguidos de Demmie e Jayssa. Após eles vêm todos os outros, e por últimos estamos Larm e eu. Conversas enchem o ar, o que torna impossível prestar atenção em uma só. Então prossigo abraçada à Larm.

Larm e eu deixamos o grupo se afastar e ficamos para trás propositalmente. Ele olha em meus olhos, afastando o cabelo do meu rosto.

– Por que eu gosto tanto de você? - E me dá um beijinho rápido nos lábios e depois na testa.

– Porque é impossível alguém não gostar de mim.

Ele ri, se afastando um pouco de mim e segurando minhas mãos. Seus olhos estudam os meus, indecifráveis, e tudo o que quero é que esse momento dure para sempre. É esse o efeito que Larm tem sobre mim... Me faz querer congelar o tempo e estudar seu rosto até o fim da vida.

Uma gargalhada distante me traz de volta à realidade. Recolho minhas mãos das de Larm e giro o pescoço em busca da fonte da risada.

Ao longe, posso ouvir a um diálogo; claramente, há pessoas não muito longe daqui. Caminho hesitante em direção às vozes.

– ... Nessa bosta de lugar... - Diz uma voz masculina muito familiar.

Aguço a audição, me afastando ainda mais de Larm, que fica me avaliando com curiosidade.

– O quê...? - Ele começa.

– Shhhh!

Piso com cautela, me aproximando de uns arbustos. Sinto Larm me seguindo, mas ele não solta nenhum outro ruído.

– ... Poxa, eu estou feliz - Fala uma garota, um tanto indignada. - Você está vivo! Isso é bom, não é?

– É claro que é bom, cara - Concorda o menino. - Mas o que não é bom é você ficar rindo por aí. A gente tem que se concentrar em encontrá-los.

Avanço um pouco mais, passando por arbustos e serpenteando entre árvores. Larm vem em meu encalço, silencioso feito um camundongo.

– Achá-los não é tão simples, seu bobalhão - Reclama a garota, sua voz bem perto agora.

Desvio de mais árvores. É nesse instante que avisto a dupla. Eles estão sentados um de frente para o outro; ela traz um lenço e uma bacia com água, umedecendo o lenço e passando-o nos ferimentos do rosto dele, que sequer geme. Ele é um sujeitinho moreno de treze anos, cujos cabelos negros se desenvolvem em cachos. Ela, uma moça esbelta e bela, de cabelos verdes volumosos e olhos prateados.

Inacreditável. Meus olhos só podem estar pregando peças em mim.

Corro para eles com as pernas bambas e o coração saltitando. Os olhos enchem-se de lágrimas e estas transbordam no instante em que Will e Myafa me avistam e se levantam, vindo correndo ao meu encontro. Will cai em meus braços, mas Myafa passa direto por mim e vai na direção de Larm.

Will e eu nos abraçamos tão apertado que cambaleamos e quase caímos. Sentir seu abraço, sua respiração no meu cabelo, é tão bom que não sei descrever. Separo-me dele e fito seu rosto, tateando cada perímetro. Há cortes e feridas espalhados por ele dos quais brotam sangue lentamente. Ele está muito mais magro e alto do que quando saímos para a casa abandonada, mas o importante é que está vivo. Ele chora; chora mesmo, de verdade, sem medo de domonstrar sua emoção.

– Will! Ah, meu Deus, Will! - Rio atoa, dessa vez apalpando seus cabelos. Só quero ter certeza de que é real, de que não é um sonho. - É você mesmo?

– É claro que sou eu, sua boba - Ele também solta risadinhas, e seus olhos, mesmo marejados, sorriem, como os meus. - Quem acha que poderia ser?

Resolvo omitir a parte de que um metamorfo acaba de se passar por Dianna, pois não quero perturbá-lo com isso tão cedo. Só o que desejo é estar com meu irmão e aproveitar o tempo com ele; matar a saudade constante que senti com sua ausência.

– Deixa para lá - Respondo.

– Ah, não brinca! - Ele se separa de mim, ainda segurando meus braços. - Um metamorfo se passou pela Dianna? Caramba, que droga! Perdi o show.

Abaixo as pálpebras para ele.

– Não é nada educado ficar lendo a mente das pessoas.

Ele ri, espreitando Myafa por cima do meu ombro, o que faz o assunto da leitura de mentes ser deixado de lado. Ele sempre faz isso quando um assunto não te interessa e, sem dúvidas, esse é mesmo o Will. Meu irmão mais novo Will, e não um metamorfo doido para me matar.

– Olha aquilo ali.- Ele faz um gesto indicativo com o queixo.

Me viro bem em tempo de ver Myafa e Larm saírem do abraço.

– Eu tive tanto medo por você - Sussurra Myafa. - Medo de que não sobrevivesse. Faz tanto tempo que não te vejo, mas logo que te vi, já reconheci! Caramba, como você cresceu!

O sorriso de Larm aumenta, no passo em que ele ajeita os cabelos dela atrás da orelha. Diferente do reencontro entre Will e eu, o de Myafa e Larm é algo mais calmo, menos eufórico.

– Você ainda é aquela mesma garotinha, sabia? - Ele diz. - Minha pequena irmã.

Ela o abraça de novo, e ele fecha os olhos ao apoiar o queixo em seu ombro.

– Sabe, Gard, eu sempre me perguntei o que você fez depois de ir embora...

Solto o antebraço de Will aos poucos, percebendo que eu finalmente descobri o verdadeiro nome de Larm. Gard... De todos os nomes esquisitos desse mundo, Gard com certeza não entrava na lista de nomes que eu supunha ser de Larm. De qualquer forma, Gard não combina com ele como Larm combina, então que diferença faz?

Ele segura os ombros dela, beija-lhe a testa e diz em voz baixa:

– Senti sua falta, Myafa - E acrescenta - Só quero que saiba de uma coisa: meu nome é Larm, não Gard.

Meu sorriso é enorme quando torno a olhar para Will.

– Mas me explica, vai - Digo a ele. - Como foi que você chegou aqui?

Ele seca suas lágrimas com as costas da mão, fungando.

– Arismir tinha ido ao castelo e deixou Birc no comando - Conta. - Myafa conseguiu fazer a gente escapulir, mas Birc percebeu. Ele veio atrás de nós, tentou nos impedir invadindo minha mente. Dessa parte eu não lembro, acho que desmaiei, mas quando acordei...

Ele é interrompido por uma outra voz atrás de mim:

– ... Eu estava olhando para você.

Me viro imediatamente, arregalando os olhos em seguida. Empalideço ao avistar nada mais, nada menos, que o próprio Drafe em pessoa. São os mesmos cabelos loiros roçando os ombros, e os mesmos olhos cinzentos. Ele é bem mais alto, mais forte e mais bonito pessoalmente, embora esses sejam detalhes que eu me esforço para ignorar. Ao seu lado está Dianna, segurando seu braço com um enorme sorriso.

– Didi...

Agora estou mesmo confusa. Larm franze o cenho para mim e eu não sei nem o que dizer. Ela se solta dele e se lança em meu pescoço, soltando risadinhas ocasionalmente. Mesmo intrigada, passo os braços em torno da sua cintura.

– Ah, Emma, nem acredito que está viva! - Exclama, me esmagando. - Você não sabe como eu sofri ao pensar que você tinha morrido!

Me separo dela para olhar em seu rosto. Ele está iluminado, cheio de felicidade e, embora eu também esteja muito feliz, é impossível não ficar curiosa. Seus olhos brilhantes oscilam entre os meus, e o sorriso é daqueles gostosos de se ver, tão sincero quanto se pode ser.

– Temos que conversar, mocinha - Murmuro. - Há muito, muito mesmo o que dizer. - Em seguida, solto-a e me adianto para Drafe, evitando encarar seus olhos tão cinzentos quanto um dia tempestuoso.

Drafe permanece sério, com os braços musculosos - mas não exageradamente - cruzados sobre o peito. As sobrancelhas estão unidas como se ele pensasse fervorosamente em algo de uma importância magnifica, como, por exemplo, no que comeria no jantar. Eu diria que mede um metro e noventa, uns dez centímetros mais alto que Larm, mas não posso afirmar isso com convicção.

– Hmm... É Drafe seu nome, né? - Começo, com a voz vacilando. - Bem, eu só... Só queria saber o que deu na sua cabeça para você trazer a Dianna para cá e o meu irmão e Myafa...

Ainda na mesma postura, ele baixa o olhar para mim e sinto quase que um receio crescer no meu íntimo. Eu não sei do que esse cara é capaz, mas sei que ele pode sumir comigo num passe de mágica, e isso por si só já não é uma coisa boa. Levanto o queixo ao encará-lo, torcendo para manter a voz firme.

– Se... Se você estiver planejando algo ruim... Eu... Eu... Faço você virar churrasquinho, tá? Você não pode estar pensando que eu vou deixar você se... Se safar desse jeito. - Arrisco uns passos na sua direção, pigarreando e aumentando o tom de voz mediante a falta de reação dele. - Você está ouvindo? Eu não... Não gosto de falar sozinha!

Tranco os dentes, constrangida com a tensão que paira no ar depois dessas palavras. Meus olhos procuram os de Larm, e ele apenas mantém as sobrancelhas erguidas, com uma expressão que diz "não creio no que estou vendo". Engulo em seco, me convencendo de que é melhor ficar calada.

Mas a ação de Drafe em seguida faz meu queixo cair, porque ele simplesmente explode em gargalhadas. Gargalhadas graves e não muito agradáveis que me causam, respectivamente, surpresa, medo e raiva. Quando ele consegue se conter, eu já estou fervilhando de ódio, com os braços cruzados e um bico enorme.

– Desculpa... Desculpa - Ele se recompõe. - Juro que você me fez lembrar uma velha amiga, Demmitry... Bons tempos eram aqueles.

– Espero que ela te dê um bom sopapo quando te vir - Resmungo.

Os braços de Drafe se descruzam aos poucos.

– Você tem visto ela?

Olho outra vez para Larm, buscando aprovação para o que diria a seguir, e ele apenas assente em resposta. Torno a fitar Drafe.

– É, digamos que sim. - Falo, usando um tom mais seguro agora que ele abandonou todo aquele ar de superioridade. - Mas eu quero uma explicação. Primeiro você era doido pela Didi, um lunático profissional. Depois, do nada, resolve salvar ela, Will e Myafa e procurar trazê-los para nós? Eu queria mesmo acreditar na bondade das pessoas, mas, honestamente, isso não cola mais, sacou?

Ele assume a expressão pensativa e solta um suspiro exasperado.

– Pois é, garota - Diz, me deixando ainda mais brava - Você está certinha. Realmente, bondade é algo muito relativo. Por que ser bom se você pode ser mau e ter tudo o que quer num instante? - Ele lança uma piscadela para Dianna, algum ponto atrás de mim. - Mas, pensa comigo: se ser mau condiz em conviver com a culpa e a insatisfação porque conseguiu o que queria, mas não por inteiro e nem do jeito que desejava, será que vale mesmo a pena? - Ele soa mesmo muito sincero, todavia ainda há algo bem no fundo do peito que me faz desconfiar de cada palavra. - Eu sou a pessoa mais indicada para dizer isso, afinal já vivi ambas as experiências. Já tive a Dianna comigo por conquistá-la, quando me passava por seu amigo imaginário. No entanto, também já tive Dianna por ter forçado-a a permanecer comigo.

– Drafe - Ouço-a sussurrar, e em pouco tempo está parada ao meu lado.

– Eu a amo, de verdade - Ele diz a mim. - Mas sei que ela não estava feliz daquele jeito.

Outra vez, busco olhar para Larm e é inevitável sorrir quando vejo o seu sorriso.

– Até parece que foi só por isso - Diz Will, ao meu outro lado, estalando um por um dos dedos da mão. - Tem toda aquela parada de metamorfos querendo matar a gente, e ele sabendo que não ia conseguir proteger a Dianna sozinho. Ele nem ia salvar a Myafa e eu, esse filho da mãe, e só salvou porque a Dianna pediu. Ele está procurando é os velhos amigos dele. É fácil deixar eles na mão quando a chapa esquenta, mas quando precisa deles, o bichinho vem correndo que nem uma mariquinha.

– Ora, seu... - Drafe se precipita para ele, mas Dianna se adianta e segura seu braço para impedí-lo. Will, sem perder a compostura, ousa andar mais uns passos e apontar o indicador para o nariz dele.

– Eu não estou nem aí, seu mariquinha - Fala ele, com seu famoso tom zombeteiro e o sorriso debochado que eu detesto. - Não vou com a sua cara mesmo. Acha que eu tenho medo de você por você ser todo fortão e ter o dobro do meu tamanho? - Ele encolhe o dedo e dá de ombros. - Bem, só um pouquinho. Mas vem tirar marra comigo pra ver! Meu irmão é grande, tá legal? Quase do seu tamanho!

– ... E bem magrinho, por sinal - Giro os olhos. - Tá, Will, beleza, poupe o fôlego para as perguntas que vão te fazer lá na frente - E volto a atenção para Drafe, que parara de resistir logo que Dianna pegou em seu braço. - Demmie, Jayssa, Giroy e Vedir estão conosco. E também Doquo.

A calmaria domina seu rosto com a menção dos nomes. O que será que ele espera? Que seja recebido de braços abertos? Porque, francamente, não acho que vão se animar muito com o seu retorno depois da confusão que criara.


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Notas finais do capítulo

Will, Myafa e a Verdadeira Dianna



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