O país secreto. escrita por Apenas eu


Capítulo 37
O sonho


Notas iniciais do capítulo

Oiie, queriidos e queriidas! Aí vai mais um capítulo feito com muito carinho para vocês... Alerta: pode ser um pouco decepcionante :P ou não



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Me vejo diante de árvores compridas, pedras gigantescas e uma cachoeira que chia aos meus ouvidos. Sei que estou sonhando e que, pela riqueza em detalhes do sonho, é apenas uma invasão de manipuladores. Cruzo os braços, esforçando-me para não sentir medo, e caminho descalça pelo chão pedregoso. Em minha mente, cogito a possibilidade de ser Giroy, todavia algo me diz que não passa de Birc, querendo me amedrontar.

Ando um pouco, aos tropeços, e uma garota loira e anormalmente pálida vem ao meu encontro, parecendo desesperada. Seu cabelo ondulado sacode-se a medida que ela corre, e os olhos são cinzentos feito um dia nublado. A camisola branca agita-se, e ela nem mesmo freia ao chegar em mim, fazendo nós duas cairmos.

Minhas costas arranham nas pedras e irregularidades do chão, e arquejo diante da dor. A menina, em cima de mim, rola para o lado e arfa, num desespero inacreditável.

– Você... Eu... Você...

Me levanto, fazendo uma careta quando minhas costas começam a queimar. Passo as mãos pelos cabelos e a ajudo a levantar. Ela é ligeiramente menor que eu e não parece ter mais que dez anos.

– O que houve...?

Ela inspira e expira profundamente três vezes, se tranquilizando.

– Olá, Emma Bouringor - Cumprimenta, roboticamente. - Me chamo Lissian Clinger, manipuladora, irmã caçula de Drafe Clinger. Vim porque...

– Espera. - Pisco, segurando a menina pelos ombros. - Você disse Drafe?

Lissian não responde, apenas me encara inexpressiva. Sinto um leve desconforto e ânsia em saber o que ela tem a me mostrar. Como sabe o meu nome, afinal? E como conseguiu penetrar a minha mente? As perguntas são inquietantes. A observo, esperando que diga algo, e ela não diz. Sentindo um nervoso percorrer meu corpo, tenho vontade de sacudi-la sem parar até que fale.

– Menina, você está me assustando. - É só o que digo.

Olhando-a assim, percebo o quanto se parece com o sequestrador de Dianna. Será que ele enlouqueceu depois que ela conseguiu escapar? Ou que morreu? De qualquer forma, isso não diz respeito a mim. Então por que sua irmã apareceu em meu sonho?

O ar gelado e a grama molhada sob meus pés não ajudam a me acalmar. Ouço pássaros. Corvos. E vejo a cachoeira borbulhar ao meu lado, cercada de pedras lisas e grandes o suficiente para me caber deitada. Se eu não estivesse tão preocupada, pararia para admirar a beleza do lugar. As florezinhas vermelhas espalhadas pelo chão, os sons encantadores da natureza... Mas eu sei que tem algo extremamente errado nisso tudo.

– Eu preciso te mostrar uma coisa. Que eu descobri ontem, você tem que ver! - A menina fala, voltando a se empolgar. Por seus olhos inchados, deduzo que andou chorando.

Em seguida, ela faz um movimento com as duas mãos e a cena desaparece. Estou dentro de uma cabana de palha e bambu - ao menos parece palha e bambu - e Lissian está jogada no chão, estremecendo e arfando. Uma vez, Birc me contara que é muito difícil invadir mentes a distância. Não imagino o tamanho da dificuldade que essa frágil e magricela garotinha está enfrentando.

Corro para ajudá-la, e percebo o quanto ela treme.

– Tudo bem? - Sussurro para ela, e ela assente, mesmo que não seja verdade.

Quando Lissian já está de pé, paro para ver o cenário. Há muitas carcaças empilhadas em um canto, assim como um cobertor rasgado e alguns potes de água. O chão está coberto de folhas e a porta da cabana é pequena o suficiente para que até mesmo essa garotinha passe abaixada. É de noite, como se estivesse anoitecido de uma hora para a outra, e a luz da lua invade a cabaninha. Olho para Lissian, sem entender, e ela aperta as unhas no meu braço para extravasar a dor. Aguardo, ansiosa e receosa, ao lado da pequenina.

Um rapaz se agacha ligeiramente e entra na cabana. Seus cabelos loiros roçam o ombro, e seus olhos cinzentos têm um brilho perverso. Eu me lembro dele. É Drafe. Ele está agora vestido com uma blusa de botões aberta, revelando o peito musculoso, e uma bermuda azul cheia de bolsos. Noto que sua mão direita está enfaixada e me pergunto o que lhe acontecera.

– O Drafe passou em casa há uns meses - Lissian murmura. Eu quase me esquecera que ela está ali. - Ele pegou aquele cobertor e alguns potes. Eu não o vi entrar, mas o vi sair. E com ele estava uma garota vestida de azul.

– Dianna...

Observo com atenção Drafe se sentar de pernas cruzadas e tirar a atadura da mão. Ele inclina o pescoço e chama, com a voz cansada:

– Venha, princesa. Você sabe que não pode fugir. Eu sou um teletransportador, vou te encontrar.

Entro em alerta e resisto à vontade de sair da cabana e ver a quem ele chama. Uma garota se abaixa e passa pela porta e percebo, com um sobressalto, que é Dianna. Mas como? Dianna está ao lado do meu corpo adormecido, neste exato momento. Ela não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo.

– O quê...? - Sacudo a cabeça. - Mas a Dianna está conosco, na floresta, agora. Isso é um truque?

Volto o olhar para ela e vejo a dor em seus olhos cinzentos e vazios. Ela consegue ser ainda mais fantasmagórica do que Jayssa, e, pela sua seriedade, duvido que seja brincadeira. Ela não sofreria tanto assim por diversão.

– Eu descobri isso ontem - Repetiu, fazendo um enorme esforço para falar. - Achei estranho o fato de ele nunca voltar pra casa. Então o rastreei. Eu posso estar onde quiser, quando quiser, e posso achar meu assassino sempre que quiser.

Meu coração dispara.

– Seu o quê?

Ela sorri de um jeito assustador e seus olhos vazios me encontram.

– Drafe me matou no auge dos meus onze anos. - Explica, e eu recuo com os olhos enormes de medo. - Eu sou um fantasma, Emma. Achei que tinha percebido. Nenhuma outra razão me daria poder suficienta para invadir seu sonho do outro lado do mundo. Nenhuma outra razão me faria ser a irmãzinha de um homem de sessenta anos.

Sessenta? Penso. E isso não é o pior. Um morto está conversando comigo. Eu nunca me senti tão assustada. Tento me tranquilizar, observando Drafe na tentativa de abraçar Dianna, e ela recusando-se. Essa Dianna está muito mais saudável do que a que retornou. Espera, no que estou pensando? Só há uma Dianna. Cabe a mim saber qual é a verdadeira.

– Por que... Po-por que ele te assassinou? - Gaguejo, apavorada.

– Isso não vem ao caso - Lissian responte, olhando para os dois. - Eu o encontrei aqui, com essa menina, e soube de imediato quem ela era por meus poderes de manipuladora. Eu vi muitas coisas na sua mente, vi medo, vi tristeza, vi saudade. Nomes. Haviam muitos nomes. O mais presente era Annabely.

– Oh, céus... - Sussurro, sentindo os olhos inundarem. O nó em minha cabeça começa a se desfazer. Dianna é esta aqui. A que reapareceu não passa de um mutante capaz de se metamorfosear. Como o vendedor de pipocas mencionado por Hellena. A menina fantasma está me contando a verdade. Não há como ela saber sobre Annabely.

– Eu vi o nome Emma - Prossegue. - Emma Bouringor. Passei muito tempo tentando rastreá-la, e a encontrei finalmente. O meu propósito era te avisar que meu irmão, meu assassino, estava com sua prima. Talvez você possa tomar alguma precaução.

As lágrimas escorrem por minhas bochechas, até cair a fixa de que a Dianna não está conosco. Isso explica absolutamente tudo; a mudança repentina em seu jeito de agir, sua nova maneira de falar, a ausência do seu brinco - que é fundamental para ela, por ser presente da mãe que pouco vê - sua aparição sem nenhuma justificativa... Oh, não...

– ... Drafe, eu não entendo - Ouço-a dizer. Daquele jeito meigo, que só ela tem. Ela apanha um dos potes com água, depois de finalmente conseguir se livrar do abraço de Drafe. - Se você gosta tanto de mim, por que não faz as coisas direito?

Drafe dá de ombros, com o braço esquerdo apoiado no joelho esquerdo e a mão direita estendida no chão, livre de atadura. Vejo a marca perfeita de dentes gravada nela.

– Você nunca vai gostar de mim - Diz ele. Ela se senta bem afastada dele, sobre as pernas, e beberica a água. - Então tem que ser assim.

– Não seja bobo - Ela gira os olhos. Seu cabelo cacheado está bem arrumado, e em seu rosto, as cores estão bem vivas, diferente do projeto de Dianna que apareceu para nós. - Como sabe que eu não vou gostar, se você nem tentou? E essas suas tentativas de me abraçar e me beijar a força são inúteis. Não gosto de caras que forçam a barra. Você é muito bonito, é sério.

– Você acha? - Os olhos dele se iluminam.

– Ah, sim. - Assente. - E se quer saber, gostava muito mais de você como amigo imaginário. A gente conversava, brincava, e não tinha nada de beijo forçado.

Sorrio, percebendo que ela está sabendo se virar muito bem com seu sequestrador.

Ele parece considerar, mas depois amarra a cara.

– Isso não interessa. Fique aí, princesa, que eu vou arranjar alguma coisa pra você comer. Se fugir, já sabe.

Ele sai e ela suspira, entristecida. Fito a menina fantasma e me preparo para fazer um pedido.

– Lissian, você se importaria em me manter informada caso aconteça algo com Dianna?

Ela sorri abertamente, mostrando os dentes empodrecidos de cadáver. Estremeço diante daquela visão.

– Sim, não se preocupe. Adeus, Emma.

Acordo de uma vez, ofegando e empapada de suor. Adeus, Emma. Adeus. Sacudo a cabeça e levo a mão à testa. Respiro fundo para me acalmar e olho diretamente para Dianna. Eu poderia matar essa farsante enquanto dorme, contudo não tenho coragem. Me levanto e perambulo para lá e para cá, com as imagens do sonho voltando à minha mente.

– Emma, fique calma - Digo a mim mesma, tremendo de frio e medo.

Pela cor alaranjada do céu, presumo que o dia já está se iniciando. Todos dormem em volta do que uma vez foi uma fogueira e, imaginando que estejam com frio, lanço uma rajada de fogo na direção dos cotocos de madeira, e o fogo se acende imediatamente, crepitando e estalando. É fogo mágico, afinal. Larm não está ali. Deve estar caçando.

Ajeito o vestido e recolho minhas sapatilhas do lado de Stive, as calçando. Pego um pouco de hímie - uma plantinha que mastigamos para evitar o mau hálito. - perto da garrafa d'água e a poucos centímetros de Hellena, e o coloco na boca. Tem um gosto amargo e refrescante, um pouco parecido com hortelã. Penteio o cabelo com os dedos e cubro o rosto sonolento com as mãos, girando nos calcanhares.

Eu estou vivendo isso mesmo? Ou sou esquizofrênica?

– Meu amor? - A voz grave de Larm me arranca de meus devaneios. O olho por entre os dedos e sinto vontade de correr até ele e abraçá-lo. Porém permaneço imóvel. - Acordada tão cedo.

Penso em dizer-lhe tudo o que vira no sonho, até mesmo para esclarecer minhas dúvidas. No entanto, quero esperar. Quero desmascarar a falsa Dianna na frente de todos para que, se ela tiver coragem, venha da boca dela a confissão. E, se ela disser que é verdade, eu cortarei fora a sua cabeça sem pensar duas vezes.

– Está nervosa? - Pergunta ele. Só então percebo que minhas mãos já não estão sobre o rosto e que, ao contrário, estão fechadas com força. Meu cenho está franzido e os lábios apertados. Suavizo a expressão e sorrio.

– Um pesadelo - Respondo. - Não se preocupe. Quer ajuda com a caça?

Gesticulo para o animal morto em sua mão e ele sorri também.


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Notas finais do capítulo

Beijinhos gente :3 perdoem os erros ortográficos - podem ser distração, ou porque eu não sei mesmo :P *errar é humano, mas pode ser ET também (porque eu sou um ET, se não sabem :3)



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