Se pudéssemos voltar no tempo, com certeza mudaríamos algo, mesmo que te digam :" não mude nada pois isso poderá alterar toda sua vida", a vontade de nos redimir ou de corrigir algum erro,falaria mais alto. Mas infelizmente não temos esse poder.

Sr. Lucio gastou parte de sua vida reclamando da ação de outras pessoas. Quando casado, reclamava da constante alegria e necessidade de aventura de Veronica; fora um Advogado muito respeitado, mas ao chegar na idade de se aposentar preferiu sair do emprego de forma honrosa, antes que passasse a odiar o que fazia; quando se divorciou, acabou desenvolvendo problemas graves por conta do estresse; o câncer de sua ex mulher, sua filha em fase de crescimento e muitos outros fatores, prejudicaram muito sua saúde, mas o que contribuiu para seu problema cardíaco, foi única e exclusivamente sua falta de vontade em viver.

Há meses vinha sentindo dores e mais dores, mas sua teimosia não lhe deixou fazer o tratamento adequado e Lua não sabia que seu estado era grave, porém podia sentir que nem tudo estava perfeito.

–Chamem uma ambulância!!! -Gritou Lua.
–Estamos ligando moça, calma vai ficar tudo bem. - Disse um dos turistas tentando acalmá - la.

A ambulância demorou cerca de 15 minutos. Sr. Lucio estava infartando de minuto a minuto e se não tivesse o atendimento correto logo, poderia ser fatal. Luana correu para chamar Augusta; o quiosque estava bombando, todos elogiaram o atendimento, a qualidade e a decoração do lugar. Augusta não poderia sair dali então chamou sua amiga que também conhecia o pai de Lua, assim ela poderia ajudar com a papelada já que menores de idade não podiam fazer isso.
Sol estava a caminho junto com Marcos e os pais dele, não sabiam o que havia acontecido, quando chegaram Augusta contou a Sol, o que a deixou desesperada, largou Marcos na praia e foi de ônibus até o hospital onde Lucio estava.

Os médicos foram rápidos, fizeram todos os exames e constataram que ele estava tendo pequenos infartos há um tempo, se ele tivesse procurado tratamento antes, poderia ter sido evitado, mas se demorassem mais alguns minutos ele poderia não ter aguentado. Seu coração estava fraco e suas artérias muito entupidas, ele precisaria de cirurgia. Luana estava chocada, nunca pensou que iria conquistar o carinho de seu pai e quando finalmente acontece, ele quase morre... Ela não aguentaria mais uma perda.

–Luana você comeu alguma coisa hoje? Está tão pálida minha flor... -Disse Amanda, mas Lua ignorou - Lua?
–Ah oi.. Desculpa... Eu comi sim.. -Respondeu Lua tentando prestar atenção. - Só não estou entendendo.
–Não tem o que entender... - Amanda tentou abraçar ela, porém não era daquele abraço que ela precisava.

–Sol... - Gritou Lua com a voz tremula.
–Meu amor, vim correndo quando minha mãe me contou. Me perdoe por não estar lá na hora...
– Não fala nada, só me abraça.

Quando Lua sentiu o corpo quente de Sol a abraçando, desmoronou. Chorou por muitos minutos e Sol chorou junto. Era daquele abraço que ela precisava, Sol sabia como deixá - la melhor.

A cirurgia estava preparada, Sr. Lucio não sabia muito bem o que havia acontecido, sua vista estava turva, sentira tanta dor que seus pensamentos ficaram atordoados, via os médicos, mas não entendia o que iria acontecer, até que uma cirurgiã muito gentil explicou o procedimento; em toda sua vida nunca havia pensado na morte, não se preocupava; "Se eu morrer, me enterrem", ele dizia. Mas depois de tudo o que tinha mudado naquele ano, suas perspectivas sobre a vida também mudaram.

" Eu preciso viver, preciso ver minha filha feliz, preciso ver meu sonho realizado, preciso sentir que concluí minha missão, não posso morrer agora não posso morrer", pensava desesperadamente, enquanto era anestesiado.

As horas passaram devagar, a agonia aumentou e tudo o que Lua conseguia pensar era em como queria sua mãe ali com ela, Sol pediu para que as enfermeiras dessem algo que acalmasse sua namorada, estava muito preocupada, mas queria que Lua não pensasse muito no que poderia acontecer, era momento para colocar a fé em prática.

–Senhorita Amanda? - Disse a Cirurgiã.
–Sim sou eu. - Disse Amanda levantando, Lua estava no soro, mas Sol correu para ouvir o que médica diria.
–O coração do Sr. Lucio estava muito fraco, por pouco não tivemos algumas complicações mas a cirurgia foi um sucesso. Agora ele está desacordado, mas em poucas horas já estará melhor, com o tratamento adequado, ele viverá muitos anos ainda!!

Sol correu e contou a Lua que estava tudo bem, Amanda assinou mais alguns papéis para poder ir para casa tranquila e depois de duas horas elas foram visitá - lo.

O coração de Lua estava acelerado, seu pai na UTI, não era uma imagem que gostaria de ver, mas se manteve forte. Só duas pessoas poderiam entrar, Amanda resolveu ligar para Augusta para dar a notícia e pedir para que alguém viesse buscar as meninas, enquanto elas entrariam para ver Lucio.

–Garotas podem entrar, evitem chorar para não fragilizá - lo, ele precisa sentir que vocês estão tranquilas para ficar tranquilo, tudo bem? - Elas acenaram que sim.

Ao ver seu pai naquele estado, Lua recuou, era muito difícil lidar com isso, Sol entrou e brincou com o sogro, eles começaram a conversar e Lua observou de fora, foi o que a acalmou para conseguir entrar e dar apoio ao pai.

Quinze minutos de visita, era pouco, mas foi o suficiente para que elas se sentissem aliviadas, ele ficaria mais uns três dias no hospital, então elas poderiam ir descansar, ao se despedir Lua tentou registrar cada segundo daquele abraço do seu pai, tinha medo, porém sabia que não seria a última vez.