Anjos de vidro escrita por Natália Scarione


Capítulo 1
Prólogo




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Estava frio. O ar estava gelado e entrava em contato com minha pele, deixando-a ainda mais pálida, me dando leves arrepios que não me incomodavam, eu amava frio, aquela sensação me trazia um conforto imenso e inexplicável, talvez o identificasse com minha alma... Nunca fui uma pessoa normal, sempre questionei razões simples da vida, sempre duvidei das explicações das pessoas sobre seres divinos, sempre admirei anjos, histórias de amor entre humanos e anjos pareciam-me hilárias, os anjos viam ao mundo como humanos experimentar como seria uma vida normal fora dos paradoxos que viviam em outra dimensão, e até mesmo aquelas em que uma pessoa de boa alma viraria anjo ao morrer... Porém nem tudo era visível e explicável pelo simples motivo de não ter provas o bastante para acreditar em mitos, criados por pessoas para dar razões em suas vidas, porém não demonstro isso, posso parecer alguém fora do normal, mas eu acredito que existe algo maior que tudo, maior que todos, havendo então uma luz e uma escuridão, algo maior que um Deus ou até mesmo um ser semelhantemente apenas mais poderoso do que a humanidade o imagina.

Sou apenas mais uma pessoa questionando a si mesma sobre sua personalidade, talvez em conflito?! Talvez só estivesse atrás de minha real pessoa enterrada em seus próprios conflitos e mistérios.

A dor que sentia as costas da cabeça era enorme, mas o desejo de sair daquele lugar monótono e naquele instante que se tornava insuportável era maior, a febre queimava até mesmo a aura da mesma, e ardia cada minúsculo milímetro de seu extenso corpo, os olhos cerrados estavam cansados assim como a menor, impossibilitados de piscar por deixar a dor que sentia ainda mais intensa.

Sentou-se a beirada da cama, gesticulou o pescoço, os braços e por último as pernas. Levantou-se sentindo uma tontura. Abriu os olhos claros cor de mel esverdeados e logo fechou-os novamente, a luz do abajur teria entrado fortemente em conflito com as córneas da garota, tirou as mãos do rosto e tentou novamente, até que conseguiu abrir os olhos o bastante para que pudesse visualizar a porta de seu quarto.

Calçou as botas, as luvas e por último vestiu um casaco que cobria seu minúsculo e delicado corpo, jogou os cabelos castanhos para trás já desarrumados pelos bruscos movimentos ao travesseiro, tentou ajeitá-los sobre seu ombro esquerdo, cruzou os braços e seguiu caminho até a porta ornamental branca.

Assim que a abriu, foi capaz de ouvir uma melodia vinda da sala de visitas já reconhecida pela mesma, sua mãe ao piano, a qual as últimas memórias da mesma era de uma terrível discussão que tivera, o assunto era novamente o namorado da garota, que ao contrário da menor ele vinha de origem humilde e simples, sem posse. Sua mãe desaprovava o relacionamento, achava que sua menina merecia mais que um suburbano que trabalhava meio período em um dos restaurantes da rede tradicional família Goulart a qual a garota pertencia.

A garota não ligava, seu amor pelo maior era grande, nada a impediria de continuar o relacionamento com o que seria o amor de sua vida. Estava disposta á encarar a vida e a morte, se preciso para ficar com o mesmo.

As lembravas traziam um tom negro á aura da garota, á sua mente e até mesmo a seu coração, não poderia aceitar aquilo, como sua mãe poderia ser tão baixa a tal ponto, de julgar pessoas simplesmente pelo o que possuem, ou pelo o “status” de cada... A garota não podia esperar mais já que sua mãe casará com seu pai por mero interesse pela conta bancária do bilionário Mark Goulart, claro a garota teria sido fruto de um golpe do baú... Seu pai a amava, porém vivia viajando acertando negócios, a mãe gastando e gastando, centenas e centenas, e por fim a garota isolada pelo mundo pela ingratidão dos pais procurava um refúgio na música e na poesia... E assim ela fazia relatos do que sentia e seu peito era aliviado e novamente a aura incandescente era restaurada.

Ficou ali parada observando-a por mais algum tempo, acomodou os braços sobre a “cerca” que cercava o segundo andar impossibilitando quedas, lágrimas escorriam do rosto materno, a garota identificou como sendo de saudades, reconheceu a música que tocava, tratava-se de “Ariel” a qual sua mãe teria composto em homenagem a filha mais velha, fruto do verdadeiro amor de adolescência da mesma, a qual já nascerá morta, a jovem criança morrerá ali, voltando aos céus, um paraíso enfim, enquanto a mãe não conseguindo se recuperar se mergulhou em um inferno pessoal.

Depois disso a mulher nunca mais fora capaz de amar, não podendo aceitar uma nova filha, não sabendo como lhe encaixar, teria depositado amor demais em um só ponto, e quando esse ponto se foi, ela apenas desabou. O amor de sua vida o que seria o pai da jovem criança, teria desaparecido após a notícia da gravidez. A garota não era capaz de ver por sua mãe, ela não se abria com ninguém e mais ninguém sabia o que ela sentia realmente, ela apenas afastava as pessoas... A garota nunca foi capaz de perceber sua mãe.

A canção estava progredindo, já se encontrava na metade, a garota virou-se, o lugar em que estava ficava ainda mais frio, e o chuvisco que vinha caindo na pele da jovem, agora estava ficando mais forte e mais feroz, lembrou-se de seu pai novamente, deixou que lágrimas caíssem, sentiu uma dor no peito insuportável, e em um instante estava convencida que sentia as dores mais terríveis que se houvera, ouvia vozes, preces e já não conseguia mais controlar suas próprias lágrimas... Seria como se sentisse e sofresse junto daqueles que lhe faziam os pedidos de socorro, a garota já não estava entendendo, estava confusa e tudo era anormal.

Apertou a cabeça com as mãos na tentativa de que as vozes parassem enfim... Fracasso. Começou a caminhar sobre o corredor que dava acesso a escada do segundo andar, o qual a garota se encontrava, as vozes ficavam mais intensas e podia ver flashbacks misturados aos clarões oferecidos pelos relâmpagos durante a tempestade, a garota estava enlouquecendo e apenas queria fugir daquilo, não sabia o porquê do mesmo.

O chão já estava escorregadio, a garota a cada volta dava um passo mais próximo da escada, sua mãe visualizou a agitação da garota, mas não fez nada para ajudá-la e continuava ali mesmo, as lágrimas engrossaram.

Até que enfim foi o fim.

Tudo quadruplicou as vozes, flashblack’s, os clarões, a melodia de “Ariel”.

Veio em sua mente o rosto de uma garota envolvida por luzes e vestida com uma roupa branca, aquilo lhe deu paz por um instante, a garota agora com os olhos fechados caminhava freneticamente até a escada, agora já não estava a um passo, sentiu uma alternação no solo, perdeu o equilíbrio, sentiu repentinas batidas sobre seus braços e pernas, perdeu o controle, sua mente ficou presa a imagem da garota da luzes, sentia-se leve e já não sentia mais frio.

Houve uma luz e tudo se fechou em escuridão.


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Notas finais do capítulo

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