Não Sou Quem Você Imagina! escrita por Gilraen Ancalímon


Capítulo 31
Capitulo 31


Notas iniciais do capítulo

Olá meninas, como estão?

Então... eu resolvi postar mais uma vez esta semana, e vejam bem, este capítulo deve ser o maior que eu já postei desta fic, espero que gostem. Muito obrigada pelos comentários deixados para a minha pessoa, e tbm continuo aguardando por novos, att semana que vem.



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[RECAPITULANDO]

A sra. Patrick desceu mais um degrau, parou de cantar e apertou os olhos, tentando focalizar a platéia que a observava atônita.

— Onde está Anne? — gritou com voz aguda. Havia chegado o temido momento.

Jane sentiu que todos os olhos se voltavam em sua direção. Os convidados estavam chocados. Fitzwilliam parecia divertir-se. Mary não escondia a piedade, e Charles... parecia pronto para assassiná-la.

O rosto vermelho lembrava um incêndio devas­tador, e os olhos cravados em seu rosto exigiam respostas.

Jane sentiu uma forte vertigem.

Olhou para a mãe de Anne mais uma vez e lamentou não tê-la trancado no quarto.

O que a sra. Patrick diria a Charles... e diante de toda aquela gente?

Seus dias em Mahoning Valley estavam contados.

***

Jane viu o vaso de cerâmica que fazia parte da decoração da escada e teve a impressão de estar participando de um filme de terror. A sra. Patrick continuava descendo os degraus com passos incertos, a mão buscando um ponto de apoio.

Penélope entrou na sala carregando uma ban­deja com o serviço de chá em prata polida. No­tando o grupo de convidados parado no meio da sala, parou hesitante.

A criada estava levantando a cabeça para des­cobrir o que causava tanto interesse, quanto a sra. Patrick tropeçou e agarrou-se na samambaia exuberante plantada no enorme vaso de cerâmica. O vaso balançou e o peso da planta empurrou-o por cima do corrimão.

As mulheres gritaram.

Charles atirou-se para a frente e jogou Pené­lope no chão, alguns metros longe de onde havia parado. O serviço de chá caiu com um estrondo, e logo outro som ensurdecedor ecoou pela sala, resultado do choque entre o vaso de cerâmica e o piso de ladrilhos importados. Estilhaços voaram em todas as direções, e a terra escura cobriu parte do corpo de Charles e da apavorada Penélope, alcançando os pés de alguns convidados.

Uma das mulheres gritou novamente.

Jane não conseguia mover-se. O som ensur­decedor ainda ecoava em seus ouvidos. Uma gar­galhada estridente soou no meio da escada.

A sra. Patrick havia caído e permanecia em uma posição indigna, sentada sobre um degrau com as pernas para cima e os cotovelos no chão, os cabelos em desalinho e o ridículo chapéu torto sobre a cabeça. Um dos sapatos ameaçava cair de seu pé.

Se tivesse direito a um único milagre em sua vida, Jane teria pedido para que o chão se abrisse e a tragasse.

Charles ajudou Penélope a levantar-se e os dois limparam a terra das roupas.

Certa de que não poderia suportar nem mais um instante de humilhação, Jane deixou a sala e subiu a escada tão depressa quanto a perna ferida permitia.

Mary assumiu o controle da situação e sugeriu que todos retornassem as atividades que haviam sido propostas. Um dos homens riu.

A mulher caída na escada ergueu a cabeça ao notar que Jane aproximava-se. Temendo que ela dissesse ou fizesse mais alguma tolice, Jane se­gurou-a pelo braço e, com firmeza, ajudou-a a le­vantar-se, empurrando-a escada acima.

— Mas o que é isso?

— Fique quieta, sra. Patrick. Já promoveu seu espetáculo. Agora vai voltar ao quarto.

Chegaram ao corredor do segundo andar, longe dos olhares e ouvidos das outras pessoas. A mu­lher soltou-se com um movimento brusco.

— Onde está minha filha? Vim ver minha filha.

Jane empurrou-a pelo corredor.

— Como pode saber que está no lugar certo? Desde que chegou, não teve um único instante de lucidez.

— Não estou no lugar certo? Esta não é a casa dos Bingley?

— Sim, é a casa dos Bingley. — Jane a fez entrar no quarto e fechou a porta.

A mãe de Anne aproximou-se da garrafa sobre a mesa de cabeceira e despejou o líquido dourado em um copo. A bebida transbordou e molhou a superfície de madeira polida.

Jane usou uma toalha para enxugá-la.

— Então, onde está Anne?

— Há algo que devo lhe dizer sobre Anne, mas não pode ser assim.

— Assim como?

— Nesse... estado em que se encontra.

— E em que estado me encontro, benzinho?

— Embriagada.

— Eu, embriagada? — E esvaziou o copo de uma só vez. — Bobagem. Ainda sei o que estou fazendo. Onde está minha filha?

Jane parou para pensar.

O que aconteceria se retirasse todas as bebidas do aposento e voltasse quando ela estivesse sóbria?

Poderia ser pior. Ou­vira dizer que as pessoas habituadas ao álcool tornavam-se violentas quando eram impedidas de beber. E ela tinha o direito de saber sobre sua filha.

— Sra. Patrick, acho...

— Caroline.

— O quê?

— Meu nome é Caroline. Ou Carol, se preferir. Mas não me chame de sra. Patrick.

— Está bem, Caroline. Receio ter más notícias so­bre Anne.

Ela se sentou na cama.

— Eu sabia. O bastardo abandonou-a, não é?

— Quem?

— Fitzwilliam Bingley, o grande escritor do teatro. Com quem mais ela se casou?

— Bem... com ninguém, que eu saiba. Não, ele não a abandonou. Fitzwilliam está morto, Caroline. Não sabia disso?

— Sim, eu sabia. Pensei que pudesse tê-la dei­xado quando voltaram dos Estados Unidos, ou algo parecido.

— Por que ele faria isso?

— Porque não somos exatamente do mesmo nível.

Jane ouvira Anne dizer algo parecido quando ela manifestara o temor de não ser aceita pelos Bingley.

— Minha Anne é uma linda mulher. Tem per­nas tão lindas que poderia conquistar qualquer homem com elas.

Jane abaixou a cabeça para esconder o des­gosto provocado pelos comentários vulgares.

— Imaginei que ele continuaria se divertindo até Anne engordar, e então sairia em busca de mulheres mais jovens e atraentes.

— Pois enganou-se. Ele a amava muito.

Caroline fez um gesto de desdém.

— Então, qual era a má notícia? Ele ficou pobre? E quem é você, afinal?

— É sobre isso que quero conversar.

— Fale de uma vez.

Jane começou a explicar tudo que acontecera. Contou a Caroline que estivera no trem para o oeste porque esperava conseguir um emprego e um lu­gar onde pudesse viver com seu bebê. Falou sobre como havia conhecido Fitzwilliam e Anne e como acabara sendo confundida com a sra. Bingley.

— O que está dizendo, menina? Quer me con­vencer de que... — Ela encheu o copo mais uma vez e bebeu com avidez.

— Receio que sim. Anne morreu no acidente.

— E quanto ao... ao corpo?

— Não sei o que aconteceu. Fitzwilliam foi encon­trado e Charles teve de ir reconhecê-lo. Depois mandou o corpo para cá para a realização do fu­neral. Se ninguém procurou por Anne, o que é bem provável, já que todos acreditam que eu seja ela, não tenho ideia do que pode ter acontecido...

— E quanto ao seu pai? Acha que ele foi avisado sobre sua presença no trem?

Jane assentiu.

— Minha bagagem estava no vagão de carga. Eu possuía papéis e livros que podem ter sido usados para a identificação dos meus pertences, e acho que a companhia devolveu tudo ao meu pai.

— Talvez tenham mandado o corpo de minha filha pensando ser o seu.

Jane não pensara nisso antes. Talvez o pai a jul­gasse morta! E talvez considerasse o castigo merecido.

— Como pode ter certeza de que Anne morreu?

— Se estivesse viva, ela já teria ido procurá-la. Ou teria vindo em busca dos Bingley.

Caroline fez um movimento afirmativo com a ca­beça, os olhos cheios de lágrimas e a mão trêmula em torno do copo.

— Ela era boa para mim. Fui uma péssima mãe, mas ela me amava. E sabe de uma coisa? Não estou surpresa. Tive um horrível pressenti­mento sobre aquela viagem, sobre o casamento de Anne e o tal Fitzwilliam. Sabia que algo de muito ruim acabaria acontecendo. E minha filha se foi.

— O que aconteceu foi um acidente, sra. Patrick. Ninguém teve culpa, e não havia como prever que aquilo aconteceria.

disse para não me chamar de sra. Patrick. Pattie foi um desastre em minha vida, e prefiro esquecer que um dia ele existiu.

— Desculpe. Caroline... E sinto muito por Anne. Ela foi uma das pessoas mais bondosas que conheci.

Depois de alguns instantes de silêncio, Caroline respirou fundo e ergueu os ombros.

— Não nasci mesmo para ser avó. Na verdade, também não nasci para ser mãe. Mas Anne teria sido uma boa mãe. Ela cuidou de mim. E agora, quem cuidará de mim?

Jane encarou-a com um misto de piedade e espanto. Não havia mais ninguém no mundo para sustentá-la e ampará-la.

Era só isso que pensava da filha?

Caroline passou cerca de trinta minutos alternando entre a auto-piedade, o sofrimento e a revolta. Seu comportamento devia ser sempre instável e difícil, Jane deduziu. Era uma alcoólatra, e até se casar com Fitzwilliam, Anne devia ter cuidado dela da melhor maneira possível.

As lágrimas que interpretara como sinal de tris­teza eram de auto-piedade. Caroline só queria saber de onde viria a próxima garrafa. Era exatamente o que Charles pensava de Jane, e ela, Jane, ajudaria a esconder a verdade dele.

— Bem — disse finalmente —, posso cuidar de você, desde que eu continue aqui. Enquanto todos pensarem que sou Anne, não terão motivos para estranhar minha... generosidade, digamos.

— Sim?

Odiava-se por acrescentar mais uma mentira à farsa, mas precisava de mais algumas semanas.

— Quer dizer que posso ficar aqui? — Caroline olhou em volta.

Devia ser o lugar mais confortável em que ela já estivera. Sem mencionar a comida de boa qua­lidade e a bebida gratuita.

— Por algum tempo. Enquanto todos pensarem que sou Anne.

— Não vai ser muito fácil — Caroline respondeu, olhando-a da cabeça aos pés. — Mas também não será impossível.

— Muito bem. Sempre que estiver bebendo, vai ter de permanecer aqui, no quarto — disse, colo­cando as condições. — O que, pelo que percebi, deve representar noventa por cento do seu tempo.

— Detesto sermões, mocinha.

— Quase matou uma das empregadas, humilhou os Bingley diante de importantes clientes e fez papel de tola. Vai ficar neste quarto, a menos que eu a autorize a sair. No entanto, se desistir da bebida, a história será diferente.

— Sabe de uma coisa? Acho que não vai ser muito difícil fingir que você é Anne, afinal. Aque­la menina me adorava!

— Posso imaginar. Temos um acordo, então?

— Você é Anne. E eu fico aqui até você dizer que posso sair, querida.

— Se sair daqui ou deixar escapar alguma coisa sobre a verdade, nós duas seremos postas para fora a pontapés. Talvez possa voltar para o lugar de onde veio, mas eu não. Como é evidente que não encontraria emprego em lugar nenhum, é me­lhor manter a boca fechada e tomar muito cuidado.

— Sou alcoólatra, meu bem, não idiota. Vou ficar aqui e fazer uma festa particular. Gosto de ler os jornais. Acha que posso conseguir alguns?

— Farei com que sejam trazidos para cá todos os dias, assim que o sr. Bingley terminar a leitura. Assim ficará ocupada.

— E quanto a... bem... eles?

— Os Bingley? Vou conversar com eles e pedir desculpas.

— Faça-os perceber que morre de vergonha de mim. Isso é sempre muito convincente. E como­vente também.

Jane virou-se. Como se Anne houvesse tido de fingir!

— Deixei biscoitos e geléia na bandeja. Coma-os e beba todo o café. Mandarei chá fresco mais tarde.

— Veja que tipo de bebida os milionários têm em casa, sim? Quero beber com estilo.


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