Durante o resto do concerto, não consegui desviar o olhar daquele estranho, tão misterioso e encantador. Ele também me fitava, directamente nos olhos, o que me fazia corar.

À medida que o tempo passava, estava sempre à espera que chegasse alguém e se sentasse ao seu lado, acabando com as minhas tão pequenas e inexplicáveis fantasias.

Mas nunca chegou ninguém.

No fim da nossa actuação, toda a gente aplaudiu, e o meu olhar não se desviou do dele enquanto ele se levantava e nos aplaudia. Corei novamente, algo que ele não deve ter reparado devido a toda aquela mistura de luzes artificiais presente no pequeno recinto.

A multidão começou a dispersar e perdi-o de vista. O meu coração começou a bater mais depressa quando me apercebi que ele não estava em lugar nenhum onde o pudesse ver, e eu estava a ficar incrivelmente desesperada por isso.

Não me reconhecia, eu nunca me havia comportado assim, muito menos por um estranho que tinha visto apenas uma vez. No entanto, esse estranho tinha-se apoderado de mim de uma forma doentia e incrivelmente aditiva.

Não parava de o procurar por entre as pessoas, mas não o conseguia encontrar.

Desisti.

Quando me virei para ver as meninas, elas já tinham saído do palco e eu fui atrás delas. Estavam na salinha dos instrumentos, com Joey e a sua mulher Andy, a comemorar mais um espectáculo – era um ritual que tínhamos. Depois de cada espectáculo, vínhamos para esta salinha e comemorávamos mais um desafio cumprido. Era simples, mas fazia-nos sentir mais confiantes e acarinhadas.

                - Estava a ver que querias ficar a noite toda agarrada ao microfone – Disse Claire, tragando em seguida todo o conteúdo do seu copo.

Não disse nada, apenas fui buscar um pouco da bebida – cerveja – e sentei-me nas colunas a bebê-la em silêncio.

                - Que bicho é que te mordeu? – Perguntou Alice, vindo-se sentar ao pé de mim – Estás estranha.

Olhei para ela, esperando responder-lhe. No entanto, a minha atenção estava toda noutro lugar, noutra pessoa.

                - Renesmee? – Voltou Alice a dizer, desta vez abanando a mão para cima e para baixo à frente da minha cara.

                - Eu acho que ela está em choque ou algo do género – Disse Rose – Ouvi a minha tia dizer uma vez à minha mãe que quando contou ao meu tio que estava grávida do Henry, ele entrou em choque e ficou mais ou menos assim como ela está.

Revirei os olhos, suprimindo uma gargalhada. – Francamente, Rose, eu não estou em estado de choque coisa nenhuma! – Disse, recebendo três suspiros simultâneos como resposta. Voltei a revirar os olhos. – Estava apenas… distraída, é só isso.

                - Hmm… - Disse Claire, aproximando-se do sitio onde eu estava – Distraída com o quê?

Nesse momento, alguém bateu à porta da salinha e entrou.

Várias coisas aconteceram a seguir: o meu coração parou de bater – eu senti-o mesmo a parar, e depois a voltar a bater a um ritmo frenético e rápido; todo o sangue do meu corpo aflorou às minhas bochechas, deixando-as vermelhas e boas para a atenção alheia; o meu estômago deu uma volta brusca, fazendo-me ficar tonta por segundos.

                - Posso, Joey? – Disse ele, o estranho. O meu estranho, o rapaz misterioso do concerto.

Durante os minutos que se seguiram, os meus olhos não se desviaram dele. Vi, portanto, quando ele andou pela sala em direcção ao Joey; vi a expressão da sua cara quando cumprimentou todas as minhas amigas e as felicitou pelo espectáculo. E vi, por fim, um sorriso hipnotizante nascer no seu rosto quando se dirigiu a mim.

                - Renesmee? – Chamou Alice

                - Sim. – Respondi, não tirando os meus olhos do rosto do desconhecido.

Eu não sabia o que se passava comigo, apenas que aquele homem misterioso mexia comigo de uma maneira como nada antes o tinha feito. Era como… como se a gravidade tivesse mudado.

                - Ren, este é o Jacob, o filho de um grande amigo meu. – Disse Joey, vindo na nossa direcção – Jake, esta é a Renesmee.

Ele sorriu e eu corei.

Ficámos todos a falar durante algum tempo. Joey informou Jacob de todos os espectáculos que fazíamos ali no bar, e este prometeu que viria ver-nos mais vezes. Sorri internamente com aquela promessa, e não consegui evitar a cor que ascendeu às minhas bochechas quando ele olhou para mim.

Quando já eram horas de ir embora, despedimo-nos todos uns dos outros e fomos todos juntos até à porta, excepto Joey e Andy, que tinham de fechar o bar. Rose e Alice iriam juntas para casa, e eu e Claire íamos para a nossa, também juntas.

Ia já em direcção ao carro quando oiço alguém chamar-me. Virei-me de imediato, reconhecendo aquela voz rouca e estranhamente familiar.

                - Renesmee – Ele disse, vindo a correr na minha direcção. E na de Claire…

                - Sim? – Disse, ou melhor, sussurrei, com a voz fraca e a falhar-me devido à intensidade do seu sorriso.

Olhei fixamente para ele mais uma vez, era impossível desviar os olhos dos dele. Reparei que ele corou ligeiramente e não consegui evitar sorrir mais abertamente.

                - Bem… ah.. queria saber se não querias ir tomar um café um dia destes?... – Eu fiquei parada a olhar para ele durante mais uns segundos, enquanto as suas palavras eram absorvidas pelo meu cérebro. Era possível que ele estivesse a convidar-me para sair? Ele deve ter reparado no meu olhar confuso e assustado, porque apressou-se a dizer – É cedo de mais, não é? Eu sabia que não devia ter dito nada… - Ele disse esta última parte tão baixo e rapidamente que eu mal consegui ouvir. – Bem, então vemo-nos depois!

Ele ia-se a afastar quando o meu cérebro pareceu acordar e, sem que tivesse reparado no que estava a fazer, aproximei-me dele e disse, tão rápida e atrapalhadamente quanto ele me tinha convidado:

                - Quando e a que horas?

Ele sorriu, e eu corei mais uma vez. Parecia ter-se tornado um hábito desde que o vira pela primeira vez…