Prólogo

Estava presa no trânsito. As estradas de Nova Iorque eram um caos no começo da noite – toda a gente saia do trabalho e dirigia-se a casa.

Eu não ia para casa, mas estava igualmente com pressa.

A fila andou mais uns metros e estagnou novamente. Estava assim há pelo menos uma hora! E eu que tinha saído de casa mais cedo pensando que ia chegar antes delas…

O meu telemóvel tocou no preciso momento em que eu lhe ia pegar para mandar uma mensagem às meninas a avisar do meu atraso.

                - Estou? – Falei calmamente. O número de onde ligavam era privado, pelo que eu não sabia de quem se tratava.

                - RENESMEE CARLIE CULLEN, onde raio é que te meteste? – Era Claire, a minha melhor amiga desde que éramos pequenas. – Tens noção do quão atrasada estás? Começamos a actuar daqui a 20 minutos e ainda nem ensaiamos! Renesmee, estás a ouvir-me? Responde-me!

                - Calma, Claire-bear. – Disse, tentando que ela me deixasse falar no meio da tempestade de palavras que saiam da sua boca – Se me deixares falar eu explico-te tudo. – Quando não a ouvi retrucar, prossegui – Estou no trânsito. Isto está terrível, não sei a que horas vou chegar. Já estou perto do Joey’s, mas o trânsito está parado.

- Ah… - Murmurou ela – MENINAS, ELA ESTÁ NO TRÂNSITO! – Gritou Claire. Eu afastei o telemóvel ligeiramente da orelha de maneira a não ficar surda, pois a minha amiga Claire era dotada de umas cordas vocais super potentes, mas quando deixei de ouvir qualquer som voltei a encostá-lo ao ouvido. – ESTÁS A OUVIR RENESMEE?!

Suspirei, revirando os olhos ao mesmo tempo. – Estou, Claire. Prometo que estou aí a tempo de actuarmos. Até já.

Desliguei o telefone antes de ela ter tempo de replicar alguma coisa.

Quando finalmente cheguei à porta das traseiras do Joey’s, o bar onde eu e as meninas tocávamos, faltavam cinco minutos para as nove horas, o que também significava que íamos entrar em palco dali a uns ínfimos cinco minutos!

Corri pela cozinha adentro, cumprimentando os cozinheiros e os empregados pelo caminho, sem ter tempo de ouvir as suas respostas, e entrei na salinha onde costumávamos guardar os nossos instrumentos.

Claire, Rose e Alice já lá estavam. Claire estava sentada em cima de umas colunas antigas, com as baquetas na mão, fazendo malabarismos com elas; Rose falava com Joey, tranquila, e Alice saltitava de um lado para o outro, murmurando notas em voz baixa.

                - Cheguei – Anunciei. Eles pareciam não ter dado pela minha presença, pelo que todos se assustaram quando falei.

                - FINALMENTE, RENESMEE! – Exclamou Claire – Já estava com medo que tivesse de ser a Rose a cantar hoje! Quero viver mais uns aninhos, sabes? – Disse ela, ganhando uma careta e uma língua de fora de Rosalie.

                - Bem, agora que a nossa estrela chegou, que tal entrarmos em palco? – Sugeriu Alice – Já está mais do que na hora!

Eu, Claire, Alice e Rose formávamos uma banda. Todas nós tínhamos o sonho da música, de viver apenas da música, de viajarmos pelo mundo e darmos a ouvir às pessoas as nossas músicas, as nossas experiências, as nossas histórias.

Claire, que era a mais enérgica das quatro, tocava bateria; Rose encarregava-se do baixo e por vezes do piano; Alice tocava guitarra e fazia os coros; eu era a vocalista.

Gosto de cantar, faz-me sentir diferente, outra pessoa completamente diferente. Faz-me sentir viva, feliz, como se estivesse no céu.

                - Vamos – exclamaram Claire e Rose ao mesmo tempo.

Entrámos em palco, o bar já estava bastante cheio. Tocávamos ali há alguns meses, e já tínhamos uma plateia fiel.

O bar era relativamente pequeno, mas era aconchegante e era o nosso pequeno refúgio.

                - Boa noite a todos! – Disse, ajustando o microfone à minha altura e sorrindo para a nossa pequena audiência. – Obrigada a todos por terem vindo e espero que desfrutem do nosso pequeno espectáculo tanto como nós!

Toda a gente aplaudiu, uns de pé, outros sentados. Sorri interiormente, sentindo-me plenamente feliz – era ali que eu pertencia, naquele meu pequeno mundo onde as palavras eram versos e a voz era música.

Ao fim de alguns minutos a cantar, já me sentia completamente envolvida por aquela atmosfera mágica. Era ali, naquele palco minúsculo e arranjado à pressa no meio do café do Joey, que a verdadeira Renesmee aparecia, e apenas ali. Considerava-me uma pessoa bastante reservada, envergonhada até, mas quando tinha o microfone na mão e as meninas atrás de mim a acompanharem-me, ficava completamente diferente, extrovertida, as vergonhas desapareciam e davam lugar à confiança e ao sonho de querer ser melhor.

E foi ali, enquanto cantava uma das minhas músicas, que o vi pela primeira vez. Estava sentado numa das mesas na primeira fila, e estava sozinho.

A sua pele morena e o cabelo escuro chamaram a minha atenção, mas foi apenas quando o olhei nos olhos, quando o nosso olhar se cruzou, que eu realmente vi…