Never More escrita por Matheus Henrique Martins


Capítulo 6
Novo Interesse Amoroso




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– Deixa eu ver se entendi. Você estava na escola, de repente, olhou dois skatistas, notou que um deles se parecia com o Garoto Trovão e o outro com o Narigudo Antipático... E quando resolveu confrontá-los, você conseguiu nocautear o Narigudo e, depois de um interrogatório na sala de aula, você quase matou o Garoto Trovão. Mas aí o parceiro dele te esfaqueou por trás. Foi isso?

Ignoro Patty e toco a cicatriz na minha barriga, sentindo uma dor insuportável. Depois de eu acordar no estacionamento e Kate nos levar de um modo possessivo para fora dele, ela e Patty me levaram até minha casa e me disseram tudo.

Antes de a sineta do fim do intervalo tocar, Kate teve uma visão – eu estirado no chão da sala. Mas foi apenas isso, ela não tinha conseguido ver o Garoto Trovão, Steve, e nem o Narigudo.

As duas me encontraram jogado no chão da sala devastada com carteiras espalhadas, meu sangue escorrendo e quase se transformando numa poça embaixo de mim.

Para que ninguém perguntasse, elas se esconderam comigo no armário do zelador, antes que qualquer aluno voltasse e esperamos o fluxo de aluno entrar em suas salas.

E então me levaram até o estacionamento.

Agora estávamos em meu quarto, Patty andando de um lado para o outro nele, Kate de pernas cruzadas no chão e eu esparramado em minha cama, agonizando de dor.

– Steve... - eu digo, ofegante.

– Quem? - Kate se inclina.

– O nome do Garoto Trovão... - eu tento dizer entre espasmos. - O nome dele é Steve.

– Ah - Patty não sabe bem o que dizer depois dessa.

– Ele te disse isso?

– Disse.

– O que mais ele te disse?

Eu paro, pensando um pouco. É meio difícil pensar com meu estômago embrulhando, literalmente, por causa do maldito Narigudo.

– Fica calmo - Patty para de andar e vem até mim. - Nós logo vamos levá-lo ao hospital, tente suportar.

– Não! - arfo. - Não podem me levar lá!

– Por quê? - Kate pergunta.

– Porque Hayley vai descobrir - ela tem uma amiga no hospital - e eu não posso continuar preocupando ela, não depois da explosão do meu carro. Ela ainda esta pagando pelo conserto.

– E o que quer que fazemos? Não vamos deixar você morrer aí.

– Não está tão ruim - engulo em seco. - Eu já passei por coisa pior...

– Passou nada, mentiroso - Patty aperta os olhos. - Eu sei que você esta se fazendo de forte. Precisamos te ajudar, White, e logo...

Estou prestes a insistir mais, quando de repente nós três escutamos o som da porta se abrindo no segundo andar.

– Olá? - escuto a voz de Bart, alta e exclamadora. - Alguém em casa? Ou alguma alma penada?

– Droga, o Bart! - Kate se levanta.

– O que vamos dizer a ele? - Patty se vira pra mim.

Respiro fundo - ai.

– Distraíam ele - peço. - Digam que vocês estavam aqui... e que eu caí no sono, sei lá...

– Nós vamos - Patty assenti. - Por favor, aguente firme.

Digo que vou ficar bem e elas me encaram de cara amarrada antes de saírem. Viro meus olhos para o teto, tentando ouvir algum som do segundo andar e desfocar minha mente da dor.

Ele acertou bem numa área delicada. Minha barriga magra não vai suportar o corte, eu sei disso, mas acredito que as garotas vão conseguir distrair Bart por um tempo - porém se não conseguirem...

Meu devaneio é interrompido por um barulho na minha janela e viro a cabeça de lado. Puta merda, eu vou morrer. Não penso nisso porque tem um buraco no meu estômago, nem porque acho que vou morrer mesmo - mas porque ele esta aqui. Health.

O Narigudo está com as mesmas roupas de horas atrás, de pé ao lado da janela, me encarando com uma expressão séria e severa. Vejo que ele se aproxima um passo cauteloso de mim e quase fico com medo.

O que ele pode fazer de pior? Terminar o trabalho?

E então outro som na janela me faz virar a cabeça, outra pessoa entra no meu quarto. Steve, com a mesma roupa de antes também, mas ele me encara de uma forma diferente.

– Droga, White - ele anda até o lado da cama.

– Veio terminar o trabalho? - digo arfante, pensando se as garotas chegariam a tempo.

– Não exatamente - ele me responde indiferente e então olha minha barriga. - Eu diria três minutos, se for com precisão.

Três minutos? De que merda ele esta falando? Da minha morte?

– Estão vindo - Health diz a Steve de repente.

– Tranque a porta - ele responde, os olhos ainda na minha ferida.

Health vai até a porta e gira o trinco. Em seguida, batidas insistentes começam a vir detrás da porta.

– White, abra! – alguém grita, talvez Bart.

– Droga, White! – Steve reclama baixo.

– O que esta havendo? - a voz de Bart pergunta, soando assustada.

– Anda logo - Health sibila para Steve. - Elas estão chutando a porta.

Pisco uma vez e me preparo para minha morte enquanto Steve se debruça no meu corpo, e é o que eu penso - mas quando ele paira suas mãos perto da minha ferida, sem na verdade tocá-las, levo um susto - e então um brilho.

Um brilho meio celestial e discreto saí das palmas de Steve que estão viradas para mim, crescendo e brilhando mais enquanto ofusca minha ferida. Enquanto observo chocado, sinto a dor na minha barriga... ceder.

Aos poucos, sinto o embrulho no estômago parar e minha respiração ficar normal aos poucos. Meu batimento cardíaco também esta desacelerando suavemente e meu corpo relaxando aos poucos.

Enquanto escuto os gritos e os chutes das garotas ficando mais altos e Bart tentando a maçaneta, fecho meus olhos. Ele esta me matando, eu vou morrer.

E enquanto espero, de repente escuto algo:

– Pronto.

Abro os olhos e Steve esta se afastando de mim, os olhos brilhantes e a expressão aliviada. Espera, aliviada? Sua boca esta mesmo curvada em um sorriso e sua expressão de repente fica mais alegre, quase zombeteira, até.

– Não tem de quê - ele me olha ironicamente, os olhos castanhos brilhantes, antes de se virar para Health. - Vamos, antes que o irmão consiga arrombar a porta.

E então os dois pulam pela minha janela, um de cada vez, Health com frieza e rapidez, Steve parando para me dar uma última olhadela significativa, da qual não entendo a intensidade.

Fico na cama por mais seis segundos, pensando que talvez eles vão voltar e terminar o trabalho, mas eles não voltam. Penso que vai acontecer algo e eu vou morrer, mas nada além de minha respiração normal e branda.

Estou bem.

Levanto-me da cama num átimo e olho pela janela, mas não tem sinal deles. Vou até a porta do quarto e tento a maçaneta, Patty para com a mão no ar, Kate chuta o nada e Bart vai com tudo pra frente, junto com a porta.

Por um momento eles só me olham, congelados.

– Você tá bem? - Patty pergunta.

Tateio meu corpo.

– Estou ótimo, por que não estaria?

– Ah... - ela deixa essa passar, me olhando significativamente.

– O que é isso na sua camiseta? - Bart pergunta.

O sangue.

– Isso? - toco de leve. - Minha caneta estourou, só isso - aproveitando a oportunidade, acrescento essa: - Por que toda essa euforia na minha porta?

– Bom... - Kate me olha, intrigada.

– Er que... nós... - Patty franze os lábios.

– Eu realmente não sei - Bart começa. - Eu vi essas duas lá embaixo, perguntei sobre você, mas de repente elas correram aqui para cima e começaram a tentar abrir de um jeito escandaloso. Você estava preso?

– Não, nada disso... estava apenas indo trocar de roupa.

– Jura? - Bart questiona ceticamente, os olhos percorrendo a camiseta.

– Eu ia, mas vocês me interromperam - me defendi.

Olhei para as garotas e elas continuaram quietas, esperando que minha tentativa de mentir para Brad convencesse ele, para depois me interrogarem sobre o que tinha acontecido de verdade.

De leve, vi Patty assentir.

Bart respirou fundo por um momento, trocou um olhar com Kate, que fingiu estar confusa também e então deu de ombros.

– Quer saber? Esqueçam - ele se virou para ir embora. - Às vezes é melhor nem saber de nada.

Quando ele saiu, aproveitei para sorrir para minhas amigas, mas então Patty me empurrou com tudo e Kate fechou a porta atrás dela depois de entrar.

– Pergunta - Patty levantou um dedo. - Que merda estava acontecendo aqui?

– Ué, você não ouviu?

– Eu ouvi sim - ela apertou os olhos. - Eu ouvi você, pensando em um momento que alguém estava entrando pela sua janela, mas então... nada, perdi completamente sua "voz" - O que aconteceu?

Eu estava prestes a dizer algo, mas então outra coisa completamente diferente veio em minha cabeça.

– O Narigudo - respondo. - Foi ele... foi ele quem bloqueou vocês... esse é o dom dele.

– Quê? - Kate arquejou. - Como isso é possível?

– É o dom dele... - disse, simplesmente.

– Foi ele quem nos bloqueou naquela noite... isso quer dizer que ele bloqueou a visão de Kate naquela tarde também?

– Exatamente... acho que eles estão conspirando com a gente... apesar de que Steve disse que é como eu, não pode ser verdade, eles não ajudaram muito na noite com aquela mulher... se bem que ele disse que Health estava apenas tentando ajudar a mulher, mas sei lá... enfim, eles disseram que estudam na nossa escola desde o começo do ano...

– Eles podem estar por trás disso há meses - Patty sussurrou.

– Não caia em nada do que eles te disserem, White – Kate diz. – Ele e o amigo dele são dois manipuladores, aposto que só querem matar você, como um deles quase fez hoje.

Eu procuro acreditar nela, mas então algo me ocorre no mesmo segundo.

– Se eles me queriam mesmo morto, então porque se deram o trabalho de virem até aqui me curar?

As duas olham minha ferida, depois se entreolham uma vez, confusas.

– Talvez... – Patty começa, mas se interrompe.

– Quem sabe... – Kate aperta os olhos, tentando dizer algo coerente.

Mas então eu as ignoro, também muito confuso, me lembrando da expressão de Health – como se estivesse sido arrastado para uma festa muito chata.

E a de Steve, a expressão ainda mais esquisita – como se estivesse aliviado por ter conseguido me curar sem nenhuma intervenção de minhas melhores amigas.

Por que ele ficaria aliviado?

Algumas horas depois, a tarde esta quase chegando ao seu fim, um crepúsculo se estendendo na cidade de um jeito belo e emocionante. Eu poderia perder tempo, ficar de bobeira olhando a paisagem.

Faz apenas duas horas que Patty e Kate me deixaram sozinho, e com uma camiseta cheia de sangue para lavar e várias incógnitas. Obviamente, eu continuava confuso pela atitude de meus supostos inimigos.

Será que Steve estava falando a verdade?

Eu sabia que não devia confiar nele, mas as atitudes dele – tanto na sala, quando ele ficou irritado com seu amigo ao tirar o facão de mim – quanto por vir até a minha casa, onde minhas duas amigas perigosas estavam, apenas para me curar.

Com a cabeça rodando, decidi sair de casa e dar uma volta. Não foi tão fácil, uma vez que tive que convencer que Hayley estava preocupada demais, Bart um pouco desconfiado e Miles me encarando com um olhar de um assassino passional.

Não estava sendo fácil mesmo lidar com tudo essa semana, desde o dia em que a visão de Kate se interrompeu e Steve entrou no nosso caminho, trazendo um mistério novo e um amigo misterioso com ele.

E o pior é que um Vampiro que tentara me matar ainda estava por aí, talvez escolhendo outro inocente para servir de manchete em algum canal de TV.

Eu tinha andado quase dois quarteirões até agora, subindo as ruas sem pressa – quanto mais eu demorasse, melhor. Sei que não deveria, ainda mais quando sou alvo de um Vampiro no momento, mas ou era isso, ou ter que aguentar meus problemas já naturais – Vampiros, poderes bloqueados, pessoas mortas... ah, que saudades de ser normal.

Enquanto eu devaneava com uma vida sem poderes, um carro cinza-escuro andava bem de leve ao lado da calçada onde eu me encontrava. Travei na mesma hora, me preparando para algum ataque.

Mas então o carro parou e eu escutei o zumbido da janela baixando.

– Aceita uma carona?

Era ele. Steve. Estava sorrindo levemente enquanto me olhava da janela do motorista, os olhos castanhos parecendo cautelosos enquanto desligava o carro.

– O que você esta fazendo aqui? – perguntei, de pronto, menos alerta do que achei que estaria.

– Bem – ele desviou o olhar uma vez, tirando as mãos do volante. – Eu acho que precisamos conversar.

Com essa eu me retesei um pouco, não me movendo nem um milímetro.

– Precisamos? – ergui uma sobrancelha.

– Olha, eu vou entender que você me ache um total sociopata – ele suspirou. – Mas eu prometo a você que se entrar nesse carro, eu vou te explicar tudo de louco que aconteceu nessa semana.

As palavras foram intensas, não pude deixar de notar que seus olhos também pareciam bastante sérios. Será que estava falando a verdade?

– E se isso for um plano seu para me sequestrar?

Para minha surpresa, uma sugestão de sorriso apareceu no canto de seus lábios.

– Eu não estaria conversando com você, se fosse esse o caso – ele respondeu, mas então seus olhos ficaram gentis. – Entre, por favor, eu posso explicar tudo.

Hesitei mais alguns segundos, mas então notei que no banco do carro de trás havia um box de DVD’s de Supernatural. Que sociopata em potencial levaria isso ao andar de carro.

– Melhor que não esteja mentindo – ameacei, andando até a porta de trás.

– Pode ir na frente – ele disse, se debruçando para abrir a porta.

Franzi o cenho enquanto contornava o carro, mas então pensei em algo enquanto colocava o cinto de segurança.

– Um sociopata em potencial não deixaria que alguém ficasse atrás dele em um carro, não é?

Mais uma vez, para o meu espanto, ele riu enquanto ligava o carro.

Steve dirigia bem concentrado, os olhos sempre à frente, nunca olhando para o lado quando eu olhava, nem olhando para trás quando um carro parava atrás dele. Parecia focado no que fazia.

Mas quando pigarreei de leve, quando o sinal estava vermelho, ele virou a cabeça pela primeira vez.

– O que foi?

– Nada – respirei fundo. – É que já fez onze minutos que entrei no seu carro, e você ainda não me disse uma sequer palavra – deixei meu tom ficar mal humorado no final.

Ele riu de novo, parecendo presunçoso.

– Desculpe, é que quando estou dirigindo, eu fico muito absorto.

– Percebe-se – murmurei.

Ele apertou os olhos para mim, um sorriso debochado enquanto continuava a falar.

– Então, White – ele começou. – Vamos falar sobre isso.

Assenti, mas então balancei a cabeça.

– Como sabe meu nome?

Sua expressão ficou um pouco séria.

– Não pode me fazer outra pergunta? – ele propôs. – Tipo, por que te curei? Por que nunca faço nada quando você me ataca e...

– Não, não posso – eu o cortei. – Quero saber como me conhece – falei com intensidade. – Como conheci a mim e minhas amigas?

Ele suspirou, mas quando o sinal ficou verde, ele recomeçou a andar.

– Seguinte, eu não conheço suas amigas – ele começou num tom de quem parecia aborrecido. – Conheço apenas você.

Não sei por que, mas me arrepiei com o modo como ele respondeu a pergunta. Conheço apenas você.

– Tá – respondi. – Mas como me conhece?

– Minha amiga Tânia que me disse seu nome – ele prosseguiu. – Ela me contou que vocês tem aula de biologia juntos, toda quinta.

Eu podia me lembrar de uma Tânia, ela era magra, ruiva e tinha uma voz estridente do tipo de que acordava você, mesmo estando do outro lado da sala. Era muito irritante.

– Sim, me lembro dela – respondi.

– Lembra? – ele se virou para me olhar rapidamente.

– Lembro, não somos muito próximos, mas eu definitivamente lembro – revirei os olhos. - Enfim, por que ela falou de você para mim.

Steve me olhou uma vez, confuso, antes de continuar.

– Ahn... você não sabe? – ele franziu a testa.

– Não sei o que? – minha expressão espelhava a dele.

Ele parecia querer rir, mas então balançou a cabeça de leve.

– O que é? – questionei, impaciente.

– Eu provavelmente vou morrer depois de te dizer isso, mas, ela tem uma queda por você.

Fiquei uns dois segundos absorvendo essa, me lembrando de Tânia apenas falando comigo para pedir as respostas de alguns exercícios. Mas então me olhando desnecessariamente por um tempo antes de voltar para o seu lugar.

Com essa eu tive que rir.

– Ela fala de você todo o tempo – Steve continuou. – Era impossível não saber quem era você, ou onde você estava, ou o que você estava vestindo hoje.

– Isso é loucura – comentei. – Eu não consigo imaginar...

– Você com ela? – ele perguntou. – É, nem eu.

– Não é isso – franzi o rosto. – Não consigo imaginar uma garota daquela escola gostando de mim.

Steve me olhou outra vez.

– Por que não?

Abri a boca pensando em responder, mas então senti que estávamos nos desviando do assunto.

– Então você me conhece pela sua amiga – desviei do olhar dele. – Porque ela não para de falar de mim. Que coisas exatamente ela fala?

– Bem, ela fala quando te viu, que expressão você estava fazendo, sobre seus amigos...

– Austin e William?

– Principalmente – Steve assentiu. – Semana passada ela estava tentando tomar coragem para perguntar seu nome a eles.

Eu ri.

– Mas por que ela queria perguntar se já sabia?

– Não me pergunte – ele respondeu. – Eu tento não entender metade das coisas que ela faz ou diz.

– Tipo ela estar afim de mim?

– Não, isso eu posso entender perfeitamente – ele respondeu, me avaliando.

Não respondi, um pouco confuso. O que ele quis dizer com isso?

– Tudo bem, - disse, depois de uns segundos. – E aonde isso se encaixa nessa semana? O que fazia na minha casa aquela noite?

Ele vagou os olhos um pouco pela estrada antes de responder.

– Eu já disse, eu estava fugindo.

– Sim, mas não me disse o que ele era. Disse que não sabia o que ele era.

– E eu não sabia até alguns dias – ele assentiu.

– Como assim?

– Aquela noite em que você e suas amigas estavam na floresta, Health o estava seguindo. Fizemos um plano para emboscar ele; ele me seguiria, como esteve fazendo o mês inteiro, e então nós o mataríamos, juntos.

– Vocês montaram uma emboscada contra o Vampiro aquela noite?

– Era isso o que estávamos fazendo. Até que ele dopou com aquela mulher, depois dopou com vocês e...

– E ai a mulher morreu – completei, num tom sombrio.

– Exatamente – ele prossegue. – E depois ele fugiu, e não tínhamos como saber o paradeiro dele no dia seguinte porque perdemos ele completamente de rota.

– Ele explodiu meu carro – disse, me lembrando.

– Quê?! – Steve se virou para mim.

– No dia seguinte, ele estava me seguindo – expliquei. – Tive uma breve briga com ele, estava quase pensando em mata-lo, mas... – me lembrei do que eu pensava naquela tarde; as palavras do Vampiro me fazendo lembrar de Steve.

– Mas? – Steve me tirou do meu devaneio.

– Mas ele explodiu meu carro – engoli em seco. – E depois fugiu enquanto eu tentava não morrer queimado.

Steve ficou em choque, o rosto tão branco quanto o de seu amigo, Health, enquanto ele absorvia essa. Também parecia sentir dor, talvez por pensar em alguém quase sendo morto em uma explosão.

– Por que ele estava te seguindo? – seu tom era aborrecido. – Por que estava tentando te matar com uma bomba se poderia simplesmente... – ele deixou de completar essa parte.

Dei de ombros.

– Honestamente, eu não sei – respondi. – Eu e as garotas pensávamos em ir atrás dele logo depois disso, mas aí eu vi você e seu amigo hoje – confessei. – E isso meio que desfocou tudo hoje.

– Entendo – seu tom era suave. – Suas amigas pensam que eu e Health somos dois psicopatas, não é mesmo?

– Tecnicamente, elas pensam que vocês são Nightmares.

– Somos o que? – ele guincha.

– Nightmares – respondo. – Significa pesadelos, em inglês. É a palavra que usamos para classificar criaturas sobrenaturais como Vampiros, Lobisomens, Bruxas, Fantasmas, Zumbis e etc.

– Existem Zumbis? – ele me encara, perplexo.

– Sim, eles costumam aparecer mais em datas festivas – respondi, simplesmente. – Você não deveria saber disso?

– Deveria? – ele ergueu uma sobrancelha.

– Você não disse que era como eu?

– Eu quis dizer que eu tenho dons, como você – ele explicou. – Mas eu não saio à noite caçando essas coisas e eliminando elas.

– Então você nem tinha conhecimento de nada disso?

– Claro que eu tinha – ele suspirou. – Mas é que pra mim isso tudo foi sempre um mistério, eu nunca soube por que nasci assim. Só o que sei é que curei meu primo uma vez, quando ele caiu de uma árvore.

– Ah – compreendi.

– Meus pais nunca souberam o que me dizer – ele continuou falando, os olhos distantes. – Nunca entenderam isso, nem eu, pra ser sincero.

– Sei como se sente – assenti. – Eu nunca me entendi, nunca entendi de onde isso tudo veio. Só o que sei é que o resto dos meus irmãos são completamente normais.

– O meu irmão também – ele comentou.

– Health é seu irmão?

– Não – Steve riu. – Por que perguntou isso?

– Sei lá – dei de ombros. – É porque desde que vi vocês dois juntos, não paro de pensar no quanto são próximos. Parecem até irmãos.

– Eu meio que o considero um – ele comentou, intensamente.

– E quanto a Health? O conhece há muito tempo?

– Sim, estudamos juntos desde o primário, mas só fizemos amizade no meio do quinto ano.

– Foi quando descobriu o que ele era?

– Não, mas eu sabia que ele era alguma coisa, porque todos na escola comentavam que ele tinha inventado uma história sobre um homem na floresta tentar pegar ele.

– E era mentira?

– Na época, eu não tinha certeza, mas dois meses depois, no Halloween, ele veio até a minha casa, me pedindo ajuda, falando sobre um homem que o estava perseguindo.

– E você acreditou nele?

Steve sorriu um pouco, antes de continuar.

– Tive que acreditar, porque um segundo depois o tal homem o seguiu até a minha casa, e tivemos que nos livrar dele juntos.

– E o que o homem era?

– Não sei – ele admitiu. – Mas com certeza não era apenas um homem.

Eu estava absorvendo cada história com tanta facilidade, ouvindo tão calmamente, que nem percebi que eu não estava mais desconfiado e que Steve não tentou nem uma vez se livrar de mim.

Avaliei sua postura concentrada, tentando imaginar se ele estava tramando comigo, e não consegui. Ele estava sendo sincero, não iria inventar uma coisa tão absurda como Tânia Irritante gostar de mim.

– Então é isso – voltei a falar. – Você e Health não são dois monstros que estão planejando acabar comigo e com minhas amigas?

Agora estávamos na rua da minha casa, a rua um pouco silenciosa enquanto a noite começava a avançar aos poucos, tomando seu lugar de direito.

– Não – ele riu. – Sabe, aquela noite, quando o raio quase me acertou, eu quase nem podia acreditar que tinha ido parar na sua casa, nem sabia o que dizer quando te vi, só queria era fugir daquele cara.

– E como sabia que eu podia te ajudar?

– Uma vez, eu e Tânia fomos espionar você na sua casa – ele confessou. – Ela não viu, mas eu vi.

– Viu o que?

– Você estava fechando a porta da sua casa sem toca-la - ele respondeu me atirando um sorriso zombeteiro. – Usando os dons para um bem maior, hein?

Eu ri de volta.

– Eu estava com pressa, acho – confessei. – Faço isso muito. Você nunca fez isso?

– Calma, aê – ele riu. – Eu não vou sair por aí curando todas as pessoas que eu encontrar na rua por impulso.

Nós dois rimos e, por um segundo, enquanto eu fixava meu olhar em seu sorriso e ouvia sua risada alta, quase me esqueci de tudo. Ele também parecia me avaliar de volta, e quase pensar o mesmo.

Depois de uns segundos respirando calmamente, ele se remexeu no banco.

– E então, está tudo esclarecido para você? – seu tom parecia cauteloso.

– Em parte – assenti.

– Bom, espero então que da próxima vez que nos vermos, você não tente me matar, por favor.

– Não vou – prometi.

– Em você eu acredito – ele confessou. – Mas e quanto a suas amigas?

– Eu vou conversar com elas – disse, mas então algo veio a minha mente. – Espera um pouco.

– O que foi?

– No dia em que você foi pedir minha ajuda na minha casa, um pouco mais cedo, por que Health bloqueou Kate quando ela teve uma visão?

Steve franziu o rosto.

– Ele não bloqueou – ele respondeu, me olhando nos olhos.

– Então quem foi?

– Eu não sei – ele respondeu ainda me olhando nos olhos.

Depois dessa, abri a porta do carro e dei a volta para entrar em casa, até uma última coisa me ocorreu.

– Ei, Steve – me recostei na janela.

– O que foi?

– Por que você veio até a minha casa, mais cedo?

Ele franziu a testa.

– Para te curar – ele gesticulou para minha barriga.

– Eu sei, mas por quê? Kate e Patty estavam bem aqui, elas poderiam ter matado você.

Ele então se recostou na janela, o rosto bem próximo do meu, antes de responder.

– Eu estava disposto a correr o risco.

A intensidade dele me desarmou. Seus olhos castanhos ficaram brilhantes, como mais cedo, quando ele me curou. Parecia cheio de um alivio inexplicável.

Minha cabeça girou de perguntas. Por que ele faria isso? Por que se preocuparia com um estranho que estava disposto a mata-lo?

– Te vejo amanhã? – ele interrompeu meu devaneio.

Me afastei do carro.

– Sim, até amanhã, Steve.

Ele sorriu de repente.

– Você lembrou.

– Como assim?

– Eu só disse meu nome uma vez – ele explicou. – E você não esqueceu - isso é estranho.

Eu sorri de volta.

– Achou que eu não me lembraria só porque seu amigo tinha acabado de atravessar meu estomago com um facão?

– Eu contava com isso – ele assentiu.

– Bom, Steve – destaquei o nome. – Eu sou bastante estranho, já devia saber.

– Devia mesmo – ele murmurou, ainda com traços de humor.

Ele então deu partida e eu me virei para minha casa, me sentindo um pouco menos agoniado do que estava antes.


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