Never More escrita por Matheus Henrique Martins


Capítulo 4
Entrando em Colapso




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– Eu nem consigo acreditar nisso.

Patty pousa seu copo de café na mesa oval de sua cozinha e respira fundo. Ela parece muito cansada, e não é por nada, disso tenho certeza.

A noite de ontem nos deixou tão esgotados que eu e Kate fomos obrigados a dormir na casa de Patty, uma estilosa e colossal casa com doze janelas de vidros e escadas gigantes.

A beleza da casa não me deixa surpreso, o pai de Patty é um republicano e trabalha muito, muito mesmo, o que para Patty significa que ele não é tão presente assim.

– Sei que na maioria de nossos casos as coisas desandam - ela prossegue sem se importar com meus pensamentos. - Mas dessa vez...

– Nem me diga - Katherine sopra sua xícara de chá de camomila antes de tomá-la. - Perdemos muitos inocentes, mas nunca daquela forma.

Eu tremo involuntariamente.

Depois de ter visto o corpo daquela mulher completamente esquartejado na floresta, minha cabeça está a mil com cenas horríveis e intrigantes.

Primeiro foi aquela correria para pergarmos o Vampiro e salvar a inocente, e então o garoto de cara séria e antipático que apareceu no meio da nossa missão. Quem era ele? E como conseguiu bloquear os poderes de Patty e Katherine? Ele é um Nightmare?

Tento me lembrar de algum traço ou algo nele que pareçam sobrenaturais, mas só me lembro de seu nariz grande e de sua voz irritante. E por que eu diria?

E quanto ao nosso fracasso, só posso lamentar. Graças ao Senhor Sou Antipático e Tenho Um Nariz Maior Que Tudo, o Vampiro conseguiu pegar a inocente e ela foi morta.

Droga, por que ela?

– White, - Patty chama minha atenção. - Sei que está chocado com tudo isso, mas eu sou a única aqui que consegue ouvir seus pensamentos, então diga algo, droga!

– Desculpe, gente. Sim, estou mais que chocado, e também muito confuso. Como perdemos o controle daquela forma? Nunca perdemos daquela forma.

– Verdade - Kate assenti. - Pela primeira vez, perdemos o completo controle das coisas. Foi como se tudo que pudesse dar errado... acontecia.

– E aquele garoto? - Patty questiona. - Quem era? Um Nightmare? Se bem que, ele meio que parecia humano. Não tinha olhos vermelhos ou pele esquisita.

– Talvez seja um lobo - eu rosno, pensando naquele nariz grande que poderia muito bem ser um focinho.

– Lobos não são capazes de fazer o que ele fez. - Kate me lembra. - Um fantasma?

– Talvez - Patty arregala os olhos. - Ele sumiu do nada depois...

– Fantasmas perturbam o equilíbrio natural, e não nossos dons.

– Talvez seja um tipo de fantasma diferente. Um fantasma bem poderoso.

– Me parece mais um demônio - eu murmuro.

– White, sei que não foi com a cara dele, mas podemos nos focar? - a voz de Patty assume um tom autoritário. - Temos um Vampiro a solta; O Garoto Trovão que disse ser como o White, ou nós, e mais outro garoto que nos atrapalhou ontem. Ou seja, temos três problemas e pecisamos dar um jeito de solucioná-los agora mesmo!

Eu sei que ela está muito certa, mas não posso deixar de impedir que minha mente pense no que ela diz.

Somos apenas três.

Nossos problemas recentes também são três. O garoto trovão, o Narigudo e o Vampiro.

Antes que ela diga mais alguma coisa, eu já até sei o que ela quer que nós três façamos agora. Nos dividir.

– Exatamente - ela assenti.

– Ahn? O que? Do que estão falando? - Katherine pergunta confusa.

– Sei que parece meio... deseperado, esse plano - Patty continua. - Mas temos que admitir que não temos muita escolha. E parece muito perigoso, ainda mais agora que estamos... falhando.

– O QUE ESTÁ TRAMANDO, PAT? - Kate pergunta, desconfiada.

– Que nós nos separemos.

Eu olho duas vezes para a garota de cabelo loiro e olhos verdes que conheço como se fosse por uma vida inteira, e que agora parece estar entrando em colapso.

– Não estou entrando em colapso - ela diz ríspidamente. - Só estou procurando uma solução. Vejam só, se nos livrarmos de nossos problemas separadamente, teremos mais vantagem.

– Você só pode estar louca! - eu guincho. - Patty, separados não somos nada, é mais provável que acabemos todos mortos!

– Não exagera, Light, você não é nenhuma flor delicada - ela revira os olhos. - Kate têm as visões dela e eu posso ler pensamentos. Não é exatamente suicídio.

– É um suicídio sim, - Kate diz rispidamente. - Você está sugerindo isso logo agora que minha visões e seu leitor de pensamentos começaram a falhar?

– Ela têm razão, Patty, isso é muito perigoso.

– Não muito. Até onde eu sei, o garoto trovão é inofensivo, e o outro garoto também, se bem que ele parece perigoso, já que pode nos bloquear...

– Ha! O Narigudo? Eu poderia acabar com ele num...

– Então acabe - Patty me interrompe. - Acabe com ele e só nos sobrará os outros dois.

– Eu acabo com ele!

Patty dá um sorrisinho de escárnio.

– Viu só? Não foi muito difícil, foi?

E então eu me dou conta de minhas palavras. Não acredito nisso, acabo de ser persuadido por Patty e agora estou concordando com o plano absurdo dela. Droga.

– Pensa bem - Patty aperta os olhos. - Por mais que você queira acabar com o Narigudo, você tem o poder mais letal de nós três.

– Isso é verdade - eu concordo, me sentindo importante.

– E se você acabar com o Vampiro, não teremos com o que nos preocupar. Tenho certeza que eu e você, Kate, podemos acabar com o Narigudo.

– Até que não é má idéia - Kate concorda. - E aí, só nos sobra o Garoto Trovão, porém, White disse que ele é como nós.

– O QUE ESTÃO PENSANDO? ISSO É LOUCURA... EU ... EU...

Eu paro de falar. Elas estão com aquela cara. A cara que diz não-importa-o-que-você-diga-já-é-tarde-demais, e eu suspiro derrotado.

Ao menos eu vou matar alguém, eu penso infeliz.

– Onde você estava?

Mais tarde, quando eu entro pela porta dos fundos de minha casa, Hayley para no meio da cozinha, me avalia e depois revira os olhos. Eu olho minhas roupas, que são exatamente as mesmas de ontem.

– Na casa da Patty, dormi lá.

Hayley faz uma pausa dramática.

– Preciso me preocupar?

– Não.

– Ok.

Eu dou um sorriso secreto, pensando que Hayley suspeite que tenho algo com Patty. Isso é tão absurdo, ela é apenas uma amiga, quase uma irmã, até.

– Por que a preocupação? Aconteceu algo?

– Se aconteceu?

Ela se vira na direção da sala e eu a sigo. Dan, Gordon, meu primo, e Miles estão no sofá em U, assistindo ao notíciario local.

Eu paro na soleira, assim que leio a sinopse da reportagem, congelo na mesma hora.

MULHER É ESQUARTEJADA EM FLORESTA NO GUARAPIRANGA RITUAL OU CONSPIRAÇÃO?

A estudante de Advocacia, - um reporter loiro e prestativo começa a dizer. - Daniela Mendes, de Vinte e três anos, foi encontrada morta e esquartejada na floresta do Guarapiranga ás sete e quinze desta manhã de Terça-feira. O departamento de policía de São Paulo não encontrou nenhuma pista ou indícios de quem pudesse ter feito isso. A hipótese de que o crime tenha sido realizado por um Psicopata por causa do modo como as partes da mulher foram cortadas sem nenhum pudor, com uma frieza incalculável. A família está inconsolável com a morte e um caso muito familiar foi estudado por...

Eu parei de ouvir e abeixei a cabeça, enconstando meu corpo na soleira enquanto sentia uma náusea forte me atingir, enchendo o ar ao meu redor com cheiro de sangue.

Mas que droga, eu poderia ter evitado tudo isso, poderia ter evitado a morte da moça, se ao menos eu soubesse como aquele garoto nos bloqueou...

– Que horror - Hayley estala a língua. - Essas pessoas precisam ser muito frias para fazerem algo assim.

Eu engulo em seco.

– Não se trata disso - Miles discorda. - Elas não precisam ser frias, só precisão querer fazer, e então fazem o que querem sem nenhum remorso. Não acha, White?

Sinto um arrepio na minha nuca. Ele está me encarando, os olhos azuis completamente desconfiados. Ele sabe. Sabe tudo, em parte. Provavelmente desconfia que tenho algo a ver com isso, e não está errado. Só não... sabe de tudo.

– Preciso ir me deitar, - eu subo para o meu quarto, sem precisar olhar para trás.

Pois sinto que ele está me encarando.

Duas horas depois, estou dentro de meu carro estacionado no meio-fio, olhando para o outro lado da estrada cheio de viaturas e vizinhos curiosos que só aparentam estarem intrigados.

Só aparentam mesmo.

Hoje é terça-feira, o último dia de folga que a escola St. Vicent deu aos seu alunos antes de retomar as aulas. E parece mesmo que incoveniente que eu tenha que encontrar um Vampiro e me livrar dele quando eu poderia simplesmente aproveitar o dia.

Que saudades de ser um garoto normal, perdi tantos amigos meus por causa dessas criaturas. Realmente não foi muito fácil lidar com meus poderes quando eu não sabia o que fazer, e meus amigos me acharam muito estranho naquela época.

Me mudei para outras duas escolas antes de vir parar na St. Vincent, e nessa eu realmente achei meu lugar. Não preciso forçar nenhuma amizade com ninguém e não me arrependo de ter feito as escolhas que fiz.

Embora que sempre haverá uma parte de mim que gostaria de voltar no tempo, para meus amigos Crsitiano e Thiago do terceiro ano, ou de minha namorada Milena Fernandes, e para meu antigo eu...

Um movimento súbito no meu retrovisor me fez pular.

Havia alguém atrás do carro, me fitando com olhos grandes e avermelhados. O Vampiro. Droga.

Muito cuidadosamente, eu saí de meu carro, fingindo nem ter notado ele, e continuei fitando as viaturas e as pessoas curiosas, controlando meu nervosismo.

E então, depois de alguns segundos, me virei e levantei a mão para arremessá-lo longe. Ele bateu as costas frias contra a parede e escorregou até o chão.

– Mas é muita coragem sua vir até aqui - eu disse me dirigindo até ele.

Ele se levantou rapidamente e sibilou para mim.

– O que é você? - perguntou numa voz ácida.

Sorri, achando graça no modo como seu rosto se retorcia, sem nenhuma ruga no rosto pálido, parecendo uma aberração. Se bem que ele é.

– Sou o que você pode chamar de Caçador de Aberrações. Eu mato coisas como você que são um perigo para pessoas como eu. Entendeu?

– Mas e se eu não for um perigo? - ele perguntou intensamente.

Eu apenas o encarei, meu rosto emitindo uma expressão vazia.

– E se eu não for como os outros? E se eu não me alimentar de sangue e não representar perigo para seus amigos ou para as pessoas que você conhece? Você poderia me matar?

Eu reflito por um segundo, minha mente vagando para o Garoto Trovão. Eu sou como você. Por favor. Isso não têm nada a ver com você. Você poderia matar alguém que não representa perigo?

Balanço a cabeça, ele está tentando entrar na minha mente, deve ser isso.

– Boa tentativa - eu dou um sorrisinho e o prenso na parede de novo, prestes a queimar o cérebro dele com apenas um pensamento. - Mas já estou nesse ramo a muito mais tempo. Vocês são todos traiçoeiros. Todos.

Ando até o meu porta-malas e pego uma estaca. Estou prestes a acabar com isso, quando de repente, sinto o cheiro inconfundível de gás encher o ar.

– Mas o que...?

Me viro e vejo que uma fumaça cinzenta está saindo do meu escapamento. Sem pensar duas vezes, eu tento deixar o local, mas já é tarde demais, meu carro explode em cem mil pedaços enquanto eu caio estatelado no chão da rua.

Em meio as chamas, procurei o Vampiro com meus olhos, mas não tinha nenhum sinal dele ali.

– Aí meu Deus, White!

Hayley estaciona seu Mercedes de qualquer jeito e corre até mim, os olhos chorosos e preocupados enquanto me abraça. Eu afago suas costas, sem saber o que dizer.

– Eu estou bem - eu digo.

– E o que é isso no seu rosto? - ela aponta para o meu curativo.

– Eu caí - digo, fazendo um gesto vago, todos sabem que sou um atrapalhado.

Ela respira fundo e me olha dentro dos olhos.

– O que aconteceu aqui? Eles me disseram que seu carro explodiu e que...

– Foi isso mesmo - eu aponto com a cabeça para o meu carro completamente destruído do outro lado da rua. - Já era.

– Mas como assim? Foi um acidente ou o que?

– Eu não sei - eu disse, honestamente. - Simplesmente... explodiu.

Hayley me olhou ceticamente.

– Simplesmente explodiu? Quer mesmo que eu engula essa? White, eu sou responsável por você! Não pode simplesmente fazer descaso dessa situação assim, eu me preocupo com você!

– Eu sei, eu sei - Os olhos dela estão chorosos, sinal de que está com medo.

– Vai ficar tudo bem.

Eu a abracei enquanto ela começava a chorar em meu ombro, tentando não só consolar ela, como a mim mesmo também.


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