X.x.x.x.x 2 - Childhood Taste

Suspirei pela décima vez, encarando o resto do líquido rosa no frasco em minhas mãos. Retirei a tampa e coloquei o frasco embaixo de meu nariz, experimentando sentir novamente uma das coisas que mais me agradavam.

E uma delas era o cheiro maravilhoso de gengibre.

Para tantas outras pessoas o gengibre era ruim e tinha um gosto horrível. Bobagem. Para mim, que cresci com tantas receitas variadas, era um dos aromas mais atraentes do mundo. Meu gosto por gengibre se estendia desde a chás a biscoitos, tais como minhas latas com Tritões de Gengibre. Meus favoritos. Era impossível resistir.

O som de batidas na porta me tirou dos devaneios com a Amortentia, e olhei para o relógio, constatando surpresa que já estava atrasada. Levantei e andei correndo para abrir a porta para a entrada de meus alunos, que esperavam impacientes. Lancei um olhar severo para cada cara feia que me encarava e comecei a aula para o segundo ano.

Enquanto todos os Ravenclaws e Gryffindors executavam os feitiços da aula, meu olhar frequentemente se dirigia à gaveta onde eu havia guardado o pequeno frasco. Eu sabia muitíssimo bem que uma poção daquelas era perigosa, mas ultimamente nada me atraía e... Bem, Amortentia era simplesmente irresistível. Terrivelmente enlouquecedora.

Tentei me concentrar em manter a postura séria que me era característica, e principalmente minha atenção aos detalhes dos objetos que eram transfigurados, e consegui algum sucesso na maior parte do tempo. Ninguém percebeu, ou pareceu notar. Tirei pontos de certos alunos e concedi alguns outros até o término daquela primeira aula. Não foi tão difícil quanto imaginei que seria.

Organizei rapidamente a sala antes dos outros alunos entrarem e voltei a pensar como esse frasco de poção do amor tinha vindo parar em minhas mãos. Se bem me lembrava, Albus havia dito que Horace a tinha preparado para mim, embora tenha ficado tão nervoso ao começar a explicar a procedência do líquido rosado. Mas não deveria ser motivo para eu me preocupar, não? Uma poção crua, apenas. E com crua, queria dizer que não havia nenhum outro motivo para temer sentir o cheiro "natural" dela. Era simplesmente o que me atraía. Poderia ser algo bom, se não fosse um de meus maiores problemas.

Não, esse era definitivamente o maior deles.

O sinal tocou novamente e minha próxima aula havia começado sem que eu me desse conta. Automaticamente expliquei o assunto, perdendo-me facilmente nas palavras. Olhava para o teto, para os rostos de meus alunos, para o chão, e depois meu olhar voltava para minha própria mesa, ansioso. De repente uma curiosidade passou por minha cabeça, tanto que me fez perder a fala enquanto explicava um conceito básico para um aluno.

Estava bem claro quais eram meus cheiros favoritos, mas e os de... Dele...? Ah, não, vamos, Minerva, não seja tola. Pare com isso. Ele é só seu amigo... Mas o que Albus sentiria? A poção estava tão próxima dele e era impossível ele não ter sentido algo... Talvez, naquela hora que ele suspirou profundamente, estivesse um pouco atordoado como eu fiquei e...

– Professora? - Chamou o Gryffindor que me fez a pergunta acadêmica. Ainda aguardava a resposta. Retomei a explicação como se não tivesse parado em momento algum.

Citei alguns exemplos e conferi a atividade que havia passado na aula anterior, um pouco mais alerta do que antes. Bom Merlin, já estavam conversando sobre minha falta de atenção.

– Silêncio! - Ordenei, um pouco irritada - Se eu ouvir mais uma palavra, vocês farão dois rolos de pergaminho sobre as principais características de um objeto transfigurado!

Todos os alunos se calaram imediatamente, e voltaram a fazer a nova atividade que eu havia proposto.

Minha imaginação estava fora de controle, e eu deveria ser um pouquinho mais cuidadosa com minhas ações. Mas, infelizmente, a curiosidade de saber o que meu amigo mais gostava estava tomando uma grande parte de minha concentração, ao mesmo tempo que minha mente formulava tantas hipóteses com relação aos doces que Albus adorava.

Geléia de amora, Acidinhas, Gotas de Limão, Delícias Gasosas, Penas de Açúcar, Chocolate... Hm, ah... Sorvete de Limão?

Balancei a cabeça, me repreendendo por pensar nisso. Não era de minha conta, não dizia a respeito sobre mim... Albus poderia até reclamar muito educadamente sobre essa minha "curiosidade" e...

E se fossem mais que doces?

Percebi, então, que eu não sabia muito sobre meu melhor amigo quanto imaginava. Suspirei, me dirigindo sob olhares cautelosos de meus alunos até minha gaveta. Tirei a lata e a abri, pegando um de meus biscoitos de gengibre, um tanto decepcionada comigo mesma.