Isso (Não) é Mais um Romance Adolescente escrita por A Garota da Janela de Vidro


Capítulo 2
Logan


Notas iniciais do capítulo

Então, essa fic foi escrita entre 2013/14, então meio que ela ainda se passa nesse mesmo período porque foi uma época legal... ou pelo menos eu me lembro que foi, antes das fake news, biroliros e músicas ruins nas rádios.
Antes esse capítulo era inteiro sobre um treino ou um jogo no estádio da escola (é, ele era meio confuso) do Logan e, eu juro, não tinha nem mil palavras. Era realmente bem amador.
Boa leitura, espero que gostem da reedição.
(Eu também mudei bastante o Liam Henderson. Ele era meio que o cara chato que não tinha muito motivo ou carga dramática para ser chato. Sério. Ele era meio que o grão de arroz que cismava em colocar todo mundo para baixo durante a fic e um dia, lá pelos últimos capítulos postados, eu decidi dar um câncer para ele. Permitam-me dizer que Liam, pelo menos agora, faz um pouco mais de sentido e não é a nuvem negra da história. #JUSTICEFORLIAM)
(Originalmente, Peter não existia na primeira vez que escrevi a história. Basicamente, mesmo que tivesse uma parte na narração, o Logan não tinha uma vida pessoal além de irritar/paquerar a Ronnie, então achei justo que quando reescrevesse a história ele deveria ter pelo menos um amigo fiel -parecia meio triste antes.)



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O caderno de biologia parecia intocado desde que o tirei da mochila naquela manhã, depois do intervalo entre as aulas. A folha pautada, branca com linhas azuis, parecia zombar de mim enquanto as informações sobre respiração aeróbica e anaeróbica se acumulavam no quadro como um labirinto de palavras tortuoso e cheio de curvas. Todos pareciam tomar notas sobre a aula, até mesmo Zack, e ele nunca toma notas de nada, o que não me preocupa na medida que deveria preocupar. 

Primeiramente, na semana seguinte teria um teste valendo vinte e cinco por cento da nota, o que era bastante coisa para simplesmente deixar de me importar. E depois, a minha nota não andava grande coisa na matéria para selecionar o quanto de conteúdo eu iria achar interessante o bastante para me importar. Mesmo que tentasse focar minha mente em um único lugar, naquele quadro branco cheio de palavras escritas com piloto azul em uma grafia horrível. Em alguns pontos, parecia que o sr. Ezequiel havia tido um derrame enquanto escrevia e sua letra foi se tornando cada vez menos legível, até se tornar apenas uma rubrica esquisita.  

Um cutucão me chamou a atenção. 

Depois outro. 

E no terceiro eu estava pronto para ficar puto e fazer uma cena no meio da aula. 

Acho que é universal que todos odeiem cutucões, mas ainda assim as pessoas ignoram isso e acham que seria incrível fazer isso em algum momento de suas vidas. Hoje, Elliot Sanders achou que seria uma boa ideia me cutucar durante a aula para passar uma bolinha de papel amassada. Tomei o papel de sua mão e virei novamente para frente, nem mesmo me importando em agradecer ou qualquer coisa assim. 

Seus olhos são lindos, mas com toda certeza prefiro os meus. Sem eles não poderia te olhar todos os dias. 

Quer ir ao baile comigo?? 

xxMaisie" 

Segurei a vontade de rir enquanto o professor colocava novamente a data da prova no quadro. 

Ninguém mais parecia se importar com o fato de que um idiota estava rindo de uma cantada tão besta, mas Maisie Williams olhava na minha direção com um sorriso igualmente cheio de significados. Ela fazia literatura comigo duas vezes na semana e era irmã do goleiro do time da escola, um cara legal e sem muito estrelismo futebolístico de ensino médio -o que já caracterizava qualquer atleta da escola como sendo um cara legal.  

Maisie tinha cabelos em um tom rosado, muito cacheados, descendo pelos ombros de uma forma que a fazia parecer uma celebridade do rock do final dos anos noventa. Quando olhava para ela era fácil perceber que ela não tinha problemas em chamar atenção pela forma que não se envergonhava por ser bonita e fora dos padrões de medidas em seus jeans largos e tops personalizados em casa. Hoje ela vestia um que dizia “Celebrity Skin” em lantejoulas amarelas no tecido lilás. Sorri para Maisie antes de virar para frente e começar a escrever minha resposta. 

Infelizmente, eu não era uma pessoa que ia aos bailes de escola. 

Não porque eu tivesse algum pânico ou história traumática. 

Eu nem mesmo sei se tinha um bom motivo para não ir. Só era um instinto biológico. 

Um satanista não entra em um culto evangélico, porque não aproveitaria nada dos sermões, e eu não ia ao baile da escola pelo mesmo motivo. Não havia nada demais em estar no colégio mais um dia da semana em que eu poderia não estar. 

E se eu fosse, precisaria de um terno. Um terno daqueles que me deixassem ligeiramente ok para merecer buscar a filha de alguém em casa, e esse modelo costuma ter mais zeros na etiqueta do que eu tenho em disposição. Isso sem contar que precisaria ralar para conseguir as chaves do carro do meu irmão mais velho, e ele não deixaria barato nem mesmo se eu implorasse e apelasse para o jogo sujo, colocando minha mãe na jogada. Então toda a ideia de um baile parecia cansativa demais por apenas algumas horas dançando com uma garota (mesmo que ela seja bonita, porque posso afirmar que é) enquanto uma inspetora mede com uma régua o quão perto estamos um do outro. Esforço demais, então não, obrigado! 

Repassei a bolinha de papel para Elliot Sanders, e ela passou pela mão de outros sete anos alunos antes de chegar em Williams. A garota olhou para mim com um meio sorriso e deu de ombros, copiei seu gesto.  

Antes de voltar minha atenção para frente, Peter me olhava com uma curiosidade divertida e, no momento em que o sinal tocou, eu sabia que ele não me deixaria em paz enquanto não conseguisse algumas respostas. 

—Beleza, idiota, começa a falar. -Ele dizia enquanto colocava o braço nos meus ombros, fazendo com que nós dois tombássemos um pouquinho para frente enquanto tentávamos tomar o ritmo do corredor lotado de alunos.  

Peter idiota Masset é meu melhor amigo desde que posso me lembrar, ou até mesmo antes disso. 

Como filho da amiga da prima da minha mãe, ele sempre esteve em todo lugar em que eu me lembrava. Festinha dos meus primos, jantares de ação de graças, festas na piscina, churrasco em jogos internacionais de futebol ou reuniões bobinhas entre parentes. Como os mais jovens entre as crianças desse tipo de evento, nós acabamos nos juntando como uma tática de autopreservação, assim poderíamos escapar das conversas constrangedoras dos mais velhos antes mesmo de entender porque elas eram de fato constrangedoras. Peter era quase como um irmão ou algo ainda mais profundo –uma sombra.  

—Quais motivos uma garota teria para falar com um garoto nessa época do ano? -O desafiei a adivinhar. Isso era outra coisa meio sem graça de se fazer, mas as pessoas também estavam sempre fazendo uma vez ou outra de suas vidas. 

Peter parece pensar com cuidado, tentando processar todas as variáveis. 

Ele é esse tipo de cara, que está sempre pensando com cuidado, talvez por isso quase ninguém consiga acreditar que ele tem um pingo de paciência para ser meu melhor amigo. Caras como Logan Henderson são os que começam uma briga, enquanto caras como Peter Masset terminam uma. 

—Hã, deixa eu pensar. -Ele diz alisando o queixo liso. —Baile de primavera? 

—Baile de primavera. 

—Quantos convites até agora? -Peter aperta de leve meu ombro. 

—Por enquanto, só o dela.  

—Acha que consegue bater o recorde esse ano?  

As sobrancelhas de Masset arqueiam de modo sugestivo e eu sei do que ele está falando. 

—O que eu ganho esse ano?  

Novamente ele parece pensar com cuidado sobre o assunto, analisando todas as probabilidades antes de me dar uma resposta. 

—Que tal assim, eu consigo uma pulseira de passar uma tarde inteira no aquário de Silbian Valley e uma casquinha de sorvete? 

 Parte do nosso ciclo de tradições era: Peter sempre apostava que eu não conseguiria receber mais convites do que no baile e/ou festa anterior. Se eu vencesse, ganhava algo dele, e se ele vencesse era eu quem perdia algum dinheiro. 

Silbian Valley é um centro de vida marítima na cidade vizinha, porque é meio obvio que nada de realmente legal chega até esse fim de mundo que chamamos de lar. O pai de Peter, sr. Masset, trabalha lá desde que nós éramos crianças e ele é o cara perfeito para conseguir qualquer entrada para qualquer atração especial do parque. Uma vez, no meu aniversário, eles me deram de presente uma noite inteirinha no planetário pré-histórico, com uma disposição aproximada de como estariam as estrelas no céu cinco bilhões de anos atrás. 

Não era exatamente algo que a gente já não fizesse sempre que podia. Em geral, nós íamos ao Silbian Valley com mais frequência do que qualquer pessoa que morasse nas proximidades, mas era como se o lugar nunca perdesse aquele brilho mágico da primeira vez. Principalmente o aquário, minha parte favorita da exposição. 

Então seria eufemismo dizer que meu sorriso só cresceu quando Peter disse meu prêmio, que eu com toda certeza ganharia ainda que não conseguisse bater meu recorde do baile passado em convites –porque eu estava realmente convencido de que isso não iria acontecer, quais as probabilidades das mesmas pessoas que foram recusadas outras vezes tentarem me chamar novamente?  

—Beleza. -O empurro com o ombro. —Se eu vencer seu prêmio vai ser um pouco mais modesto. Alugo todos os filmes da franquia Premonição e assistimos no meu porão, com direito a pipoca e refrigerante. 

—Melhor. Prêmio. Do. Mundo. 

Nós rimos juntos, chamando a atenção de algumas pessoas no corredor. 

—Ah, eu sei que você odeia toda a essa coisa de baile, mas preciso da sua ajuda. Você conhece quase todo mundo da escola e metade das pessoas aqui nem sabem que eu sou. -Peter e eu paramos em frente aos nossos armários, onde eu guardo meu caderno e livro de biologia e ele pega alguns cartazes bem coloridos. —O clube de música está fazendo um projeto de cantar covers no baile, sabe, a escola não tem dinheiro para uma banda ao vivo por causa das reformas no refeitório e na sala de teatro. Então os alunos poderiam participar indicando músicas para nós, assim todo mundo curtiria o show. 

—Tudo bem, estou entendendo, mas onde a minha ajuda se torna necessária? 

—Bom, eu iria te pedir permissão para colocar seu nome nesses panfletos. -Minha cara deve ter continuado demonstrando uma expressão bem confusa pelo modo que Peter revirou os olhos. —Sabe, para que as pessoas achem que você faz parte do projeto e nos mandem as músicas. Por favor, eu realmente preciso disso! 

—Isso soa como enganação. -Ri da sua expressão cheia de suplica. —Mas tudo bem, pode usar meu nome nos cartazes. No fim, eu acabaria tendo que te ajudar a catalogar as músicas mesmo, acho que não tem problema se eu pegar umas indicações de alguns alunos também. 

—Ei, eu não te pediria para me ajudar de qualquer jeito. Quando você fala assim parece que eu não consigo existir nesse mundo sem você, como se fosse um órgão do meu corpo. 

—Eu suspeito que seja isso mesmo. -Dou de ombros, levando um soquinho no braço do idiota. —Sou seu braço direito, coincidentemente o braço da punheta. 

—É oficial, eu me demito do posto de seu amigo. -Ele se afasta de mim com os braços erguidos em rendição. —Isso é demais até para mim. 

—Que nada, você me ama! 

 

☺☺☺☺☺☺ 

Acho que não faço o tipo atlético como parte dos caras da minha escola, porque não sou tão alto como boa parte dos jogadores do time da escola. 

Não fico deslocado entre eles, consigo me impor quando estou no campo, mas é quase perceptível que não dou tão duro quanto eles para manter a massa corporal em um nível intimidador e não me importo muito com a minha postura em campo. Apenas tento não levar um chute ou um soco, ou sair do campo com um osso quebrado, e sou realmente muito bom nisso. 

Parte de jogar futebol era porque eu precisava de pontos extras e eu sabia um pouco sobre o esporte. A família Henderson tinha um histórico, desde o meu avô todos os caras da nossa família foram para a faculdade com bolsas de esporte e tinham orgulho disso como não se orgulhavam de mais nada no mundo. Quando nascia um rapaz, era hora de comprar sua chuteira e mandar fazer uma camisa personalizada. E, enquanto driblo um zagueiro, não tenho certeza se sentindo a mesma empolgação em campo quanto sentia nos meus primeiros jogos de quintal ao lado dos meus primos e tios. Não sei se gosto tanto de estar aqui, no topo do mundo, com a bola nos pés e a decisão do jogo nas costas no último minuto nas costas, tanto quanto eu gostava quando tinha dez anos e fiz parte do meu primeiro time de bairro. 

Liam Henderson, o treinador do time e meu irmão mais velho, quase sai pulando pelo campo quando chuto direto para o canto do gol sem muita dificuldade.  

Todos jogadores pulam em mim, nos lançando no gramado bem regado e aparado. Eu sorrio um pouco com a empolgação de todo mundo, até mesmo a torcida que acompanhava o treino parecia animada com o placar no final do mano-a-mano entre os titulares e os reservas.  

Liam veio correndo até nós, jogando sua prancheta no meio do campo de qualquer jeito. 

Era raro conseguir deixar o treinador Henderson empolgado com qualquer coisa, porque Liam ainda tinha a lembrança fresca do que era estar em campo junto com seu próprio time na posição de capitão. Ele sabia exatamente como era aquilo e não estava disposto a facilitar para qualquer um de nós. Por isso todo mundo o adorava e odiava. 

O treinador era uma versão dez anos mais velha de mim mesmo. Os mesmos olhos azuis escuros, os cabelos castanhos com fios dourados e o rosto de maxilar rígido que demonstrava poucos sorrisos. Claro que meu irmão era mais atlético que eu e isso o fazia parecer mais um armário do que uma pessoa de verdade, mas fora isso era impossível não dizer que éramos irmãos. 

—Bom treino, pessoal! -Ele diz com um sorriso simples, sem muito alarde, e sabemos que isso é o mais feliz que ele vai parecer até conseguirmos a taça da temporada dos campeonatos regionais chegar ao fim. —Realmente foi um bom treino. Mas Steve precisa melhorar sua defesa e Bryan deve passar mais a bola, esses erros são coisas de iniciantes e, sinceramente, é inadmissível que um jogador vá para as regionais cometendo esse tipo de falhas. 

Todos nós absorvemos suas palavras como um mantra. 

—E Logan, você precisa de mais agilidade no campo. Perdeu três jogadas limpas por desatenção. -Meus olhos se elevam em sua direção e, por puro instinto, encolho meus ombros. Claro, ele não ia me poupar de um sermão. —Você é o mais veloz e mais ágil em campo, mas precisa manter seu ritmo ou seu talento vai ser inútil. Estamos no meio das regionais, gente, não é hora para entregar metade do esforço, metade da dedicação ou metade do trabalho duro de anos e anos se dedicando ao esporte. Sabem o quanto a escola investiu em vocês, o quanto os alunos esperam pelo título no corredor central da escola, então vamos dar o melhor para que isso aconteça. 

Alguns são empolgados por sua voz, levantando os punhos e soltando grunhidos animados. 

Sim, às vezes nós estamos tão cansados que tudo que fazemos é soltar uns grunhidos de uns para os outros como rinocerontes.  

Liam continua seu discurso. 

—Seus pais e mães querem esse orgulho, de poder ver seus filhos com a taça, as medalhas e toda a pompa que um campeão pode ter. Vocês não querem isso? -Ele pergunta, alguns “sim” são ouvidos entre os rapazes. Liam sorri para os garotos, gostando da resposta. —Esse é o momento das suas vidas! Façam vale a pena! 


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