Isso (Não) é Mais um Romance Adolescente escrita por A Garota da Janela de Vidro


Capítulo 1
Ronnie


Notas iniciais do capítulo

Faz anos que eu deixei essa história arquivada e eu realmente me sinto péssima por isso.
O principal motivo para ter abandonado a escrita foi que ela simplesmente não era boa. Os erros de percurso eram péssimos e eu não sabia para onde estava levando a fic, mas mesmo assim ela teve seus quinze minutos de fama por aqui e eu recebi alguns puxões de orelha por ter excluído. Enfim, a minha escrita (e opiniões) amadureceram um pouco, mas isso não muda o quando escrever essa historia sempre me fez me sentir bem e que ela me possibilitou conhecer pessoas incríveis.
E se é para tornar Isso Não é Mais Um Romance Adolescente público novamente, então eu decidi dar o melhor de mim para terminar, mesmo que parte das pessoas que comentavam religiosamente em cada capítulo estejam fazendo outras coisas ou simplesmente não queiram mais romances. Vocês merecem saber o final de Logan e Ronnie.



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— Defina “para sempre” em uma palavra?  

A psicóloga escolar, senhorita Amélia Lancaster, podia ser conhecida por muita coisa, como por exemplo seu censo de moda questionável e favoritismo pelo sistema de rostinhos felizes ou tristes na ficha de seus alunos. Talvez você pudesse ouvir falar de seu cabelo loiro sempre impecavelmente penteado para trás ou seus brincos grandes (e aparentemente pesados a ponto de ameaçar rasgar suas orelhas, mas pensando bem isso poderia ser uma opinião só minha), mas posso ter certeza de que nunca ouviu falar sobre seu ótimo jeito sutil de começar uma sessão, porque ele parece ter morrido em algum lugar entre seu coração e sua alma. 

Seus olhos azuis gélidos me encaram daquela forma típica, um tanto impaciente quanto ao que eu tinha para dizer, e, Deus!, o que eu deveria dizer agora? 

Com um sorriso rápido, como se estivesse sendo avaliada (e eu estava!), comecei a maquinar algo simples. 

—Parece uma palavra poderosa para descrever com uma palavra. -Lancaster maneou a cabeça, ponderando, e gesticulou para que eu continuasse. —Acho que parece muito tempo. Tipo séculos e séculos. Uma espécie de ciclo sem fim. 

—Mas o que define nossa noção entre “pouco” e “muito” tempo é o que estamos fazendo, ou quem estamos. Como você se imaginaria em seu “muito tempo”? -ela perguntou novamente. 

Senti o couro de sua poltrona, marrom como uma uva passa muito velha e quase desbotando, rangendo conforme me ajeitava a procura de uma posição mais confortável.  

—Eu me imagino em algum lugar tranquilo, provavelmente sozinha, lendo ou desenhando. -NÃO ROA SUAS UNHAS AGORA, BABACA, ELA PODE INTERPRETAR MAL. Digo a mim mesma, quando meus olhos correm para minha mão esquerda, orgulhosamente apoiada no braço da poltrona. —Mas eu não imagino como se fosse um tempo solitário, ou qualquer coisa deprimente, sabe? Só parece bom ficar algum tempo sem algum estímulo de fora, só fazendo minhas coisas. Como um paraíso. 

—Defina “paraíso”? 

—Morte?! -Boa garota, confie no seu potencial por tocar na palavra morte dentro da sala de sua psicóloga educacional, StwartMinha mente me castiga. Será que dá para sair correndo e bater com a testa na parede e desmaiar? Quase não me importo com a dor da pancada. 

—Por que? 

—Não sei, mas todos dizem que vamos para o paraíso quando morremos, não sei se é uma lei natural. -Dei de ombros, presa na minha própria teia. 

—Você acredita nisso? 

—Não sei, acho que nunca tive motivos para não acreditar. -Dei de ombros novamente. 

—E no que tem certeza? -Ela tirou os olhos da prancheta e parou de anotar. 

—Talvez em nada, sou adolescente. 

—E por ser adolescente não precisa ter algo concreto para acreditar? -Ela sorriu se divertindo da situação. 

—Não, mas acho que agora que começo a ter certeza das coisas. -Dei de ombros pela, sei lá, terceira vez. —É complicado formular alguma opinião logica com tanta gente ao meu redor sempre deixando claro que sou jovem demais para isso e aquilo, então acho que ainda estou me encontrando. 

—Tudo bem, acho que está dispensada por hoje. -Senhorita Lancaster se levanta de sua poltrona, passando o braço direito pelo meu ombro. —Espero que a gente consiga retomar essa conversa em duas semanas. 

Pois eu espero que uma de nós bata a cabeça em um poste e sofra de amnésia recente. De preferência você. 

Com um aceno rápido de cabeça saí da sala, olhando para trás no processo para ter certeza de que a senhorita Lancaster não tinha acionado a enfermaria imediatamente no momento em que dei as costas com o protocolo amarelo –que é usado quando algum professor, aluno ou funcionário do domínio escolar percebe que alguém está com pensamentos depressivos e/ou suicidas. 

Quer dizer, eu não apresento esse tipo de sinal, então seria uma enorme perda de tempo. E uma preocupação desnecessária. 

De verdade, não é como se eu me importasse de estar quase sempre na sala da psicóloga da escola, visto que não sou um caso especifico e a maioria dos alunos está sempre lá também. E, honestamente, porque me importaria? Pelo lado egoísta e imaturo, graças a isso posso matar quantas aulas quiser alegando que não me sinto bem emocionalmente para aparecer na aula, se tiver um cartão da senhorita Lancaster. E pelo lado mais profundo de uma análise complexa, é algo saudável de verdade e o tipo de cuidado que mais pessoas deveriam ter consigo mesmas. É quase legal. 

Os corredores estavam se enchendo novamente, tinha acabado de perder a aula de matemática do primeiro tempo e não estava tão preocupada quanto deveria, no fim eu poderia pegar a matéria com Riley, a pessoa com o caderno de cálculos mais bem organizado que conheço e meu melhor amigo, e pegar uma explicação via Skype com Julie, minha amiga/gênio perigoso. Fui ao meu armário para pegar minhas coisas para aula de artes, só precisava de uns pincéis extras e o caderno de rascunhos, que estava realmente precisando ser trocado ou se desintegraria em minhas mãos. Com a cabeça quase dentro do armário, tentando checar se tinha tudo que eu precisava em mais, quase não percebi a presença de Logan Henderson passando com seu grupinho de "amigos”, esbarrando nas minhas costas apenas para deixar o estojo com meus pincéis, o fazendo cair no chão tão miserável que pensei que era um caso perdido. Puxei o zíper o mais rápido que consegui, checando o material dentro dele apenas para tomar notas do estrago... e parecia um milagre constatar que, fora um carvão de desenho ponta 3.2, nada havia sido perdido. O carvão nem era muito caro e estava ficando meio frio mesmo, nada que eu não pudesse resolver em casa, mas ele não estava totalmente inutilizado, o que não me impediu de olhar na direção de Logan como um desprezo genuíno. 

Caras como Logan Henderson tem uma quedinha por meninas como eu, porque não podia ter outra explicação lógica para todas as provocações durante boa parte dos dias letivos da nossa vida estudantil. E eu não me acho o melhor exemplar feminino quando levo isso em consideração, porque pelo menos cinquenta e cinco por cento do corpo estudantil do nosso colégio era feminino, então é seguro dizer que alguns espécimes são mais chamativos e interessantes sem desmerecer ninguém. Entretanto, havia uma cultura enraizada na nossa sociedade de que caras com físico atlético e ego inflamado poderiam se interessar por moças abaixo de sua cadeia alimentar, e devemos agradecer isso à Cinderela ou qualquer outra camponesa que se tornou princesa. Ou talvez aos milhares de filmes adolescentes que reforçavam a mesma ladainha de “ei, você pode mudar um idiota!”. Logan era o protagonista perfeito para os dois cenários, para ser o idiota irresistível ou o príncipe da Cinderela. Para provar meu argumento, mesmo sem conhece-lo, o pateta deu seu famoso sorrisinho de criança arteira quando é pego fazendo alguma travessura, e eu estava tão acostumada com suas provocações que nem me irritei além do esperado ou gritei alguma palavra ofensiva, para mim aquilo era uma coisa normal do dia-a-dia como tomar banho, escovar os dentes ou fazer cocô. Tudo bem normal. 

Os macacos bombados de Logan (que é como venho chamando seus amigos e, Deus, não me orgulho) riram como se isso fosse uma de suas piadinhas infames, mas se você olhar bem nunca tem muita graça e isso não é porque eu sou a vítima. Logan realmente é o que meu amigo Riley sempre diz, uma graça meio sem graça. 

—Olhe só, se não é Logan Henderson. -Cruzo os braços, respirando fundo antes de forçar um sorriso, e posso jurar que ele sorri ainda mais agora, o que o faz parecer ainda mais bonito do que se é permitido ser antes do meio-dia. —À que devo esse sinal auspicioso do universo? 

—Ronnie, devo dizer, você consegue ficar mais bonita todo dia. -O bastardo solta um suspiro cansado, quase exausto. —É quase como se sua falta de noção sobre estilo desse a volta e se tornasse estranhamente charmosa! Sério, não me canso de dizer isso! Como você consegue? 

Sopro uma risada, analisando meus tênis surrados antes de mirar novamente seus olhos ridiculamente azuis e tão quentes.  

—Já me infernizou, agora pode voltar a fazer suas coisas. -Fecho a porta do armário atrás de mim com o ombro. — Seja lá o que for. Talvez você jogue água gelada em um gato ou coloque o pé na frente de uma velhinha na calçada. 

Com um cambalear fingido, segurando o lugar em seu peito onde deveria estar o coração (digo estar pois nunca se sabe, né?), Logan olha para mim daquele jeito cheio de charminho adolescente e os caras em volta fazem um coro solidário, algo semelhante a uma vaia, mas o que eu entendo sobre linguagem masculina rudimentar do ensino médio?  

Os olhos dele reviram teatralmente antes de estarem fixos em mim novamente. 

—Droga, garota, você parte meu coração.  

—Faz parte do meu charme. -Digo, encenando o mesmo teatro que ele. —De que outra forma eu chamaria atenção de Logan Henderson? 

—E nunca disse que não gostava. -Ele pisca para mim antes de se afastar. 

Como eu disse, esse cara está caidinho por mim. E eu nem entendo o motivo. 

Terminei de verificar meus pinceis e lápis mais uma vez, porque eles são tudo de mais importante para mim depois dos meus pais e amigos, e os coloquei de volta no estojo, agradecendo ao primeiro ser celestial que me veio pelo milagre de tudo permanecer inteiro e Henderson não ter usado muita força no encontrão. Ou eu iria para o inferno e ele seria um projeto de homem morto. 

Faltando dezesseis minutos para a aula, caminhei para o corredor secundário destinado às atividades extras dos alunos, encontrando Julie, recostada na parede de recados do time de xadrez e atividades lógicas admirando as costas de Henderson enquanto ele fazia um “bate-aqui” com um garoto aleatório que saía da sala de informática. Arriscando um palpite, aquele garoto não devia ter trocado mais do que duas palavras com o glorioso rei da escola, mas ninguém recusaria qualquer convenção social que envolvesse Logan, nem mesmo um ridículo “bate-aqui”. 

Percebi o nível de hipnose da minha amiga quando parei ao lado dela e joguei uma mexa de seu cabelo negro e muito liso em seu rosto, não surtindo nenhum efeito. E deve parecer tosco que uma garota possa se interessar por um cara daquele jeito beirando ao esquisitíssimo, mas Henderson não era apenas alguém popular e falsamente agradável, ele era uma cruza entre uma revista adolescente e o sonho americano com duas pitadas de um charme infernal. Acreditem em mim, eu fui apaixonada por ele na quinta série e até hoje me pergunto como pude ser esse tipo de idiota, mas ele tem algo. Talvez um pacto. Além de uma bunda bem durinha e bonitinha, perfeita para jeans escuros e ele parecia ter uma coleção deles. 

Respirando fundo e me preparando para ser retribuída na mesma moeda, dei um leve empurrão de Julie, percebendo tarde demais que ela bateria as costas no quadro de avisos e faria um barulho pouco discreto. Bem pouco. Seus olhos negros, um tanto puxadinhos graças a sua herança chinesa, se fixaram em mim com uma fúria que nem mesmo assassinos de aluguel saberiam explicar. A ideia, pela primeira vez, pareceu tão idiota que não merecia o soco que ela retribuiu, mas eu não admitira em voz alta nem mesmo se minha vida dependesse disso.  

Ah, uma garota precisa preservar seu orgulho. Certo? 

—Você parecia uma estátua olhando para ele, quis te poupar o constrangimento. -Disse massageando meu braço, no lugar em que ela acertou. —Você vai me crucificar por ser uma boa amiga? 

—Não, mas só porque você é a única que eu tenho. -Julie me puxou para um abraço de lado enquanto me puxava para a sala de artes. —Esse não é um benefício do qual você deve se aproveitar sempre, porque não é tão bom. 

—Ah, fique tranquila, eu tento me manter sempre muito ciente da minha sorte. 

Juntas, caminhamos lado a lado pelo corredor, tentando desviar de alguns alunos que também andavam muito juntos. 

—Riley deixou o caderno dele comigo. -Ela diz tranquilamente, antes de desviar de um casalzinho parado no meio do caminho (Por que as pessoas fazem isso? Para no meio do caminho quando outras pessoas estão andando?) encarando um poster sobre a votação do baile de primavera. —Posso te dar uma aula rápida depois do meu treino de box, mas você vai ter que ignorar os gritos da minha avó com o meu avô. Ela está fula com ele por causa da cantadinha nada discreta que ele mandou para a assistente social do nosso bairro e isso vai durar a semana inteira. 

—Eles estão na sua casa de novo? -Pergunto tentando evitar a risadinha. Os avós de Julie são simplesmente adoráveis com uma pitada de raiva acumulada e pouco aproveitada por causa de velhice. 

—Sim, meu pai está quase surtando com isso. 

Dessa vez realmente rio, sendo acompanhada pela minha amiga. Acabamos escolhendo os dois últimos lugares disponíveis no círculo de cadeiras e cavaletes, de frente para a janela aberta. Uma cadeira está no meio do nosso círculo, ainda vazia, mas é um sinal de que teremos que fazer uma pintura de profundidade levando em consideração como a sala havia sido arrumada. Em geral, essas são minhas aulas favoritas, porque adoro testar minha habilidade fazendo jogos de sombra e luz em objetos, mas sei que há chances muito grandes de Julie sair ainda mais irritada da aula porque ela detesta desenhar objetos concretos. É a kriptonita e de metade dos alunos da nossa classe, exatamente por isso é quase religioso ter pelo menos cinco projetos assim durante o semestre. E meu professor, Sr. Madsen, não faz o tipo que se importa com olhares magoados ou irritados quando ocupa seu lugar de avaliador e educador. Na verdade, ele parece cagar para todos nós em tempo integral. 

O professor, como evocado pelos meus pensamentos, adentra a sala retirando seu blazer azul marinho e a turma toda fica naquele silêncio habitual, mas isso não dura muito mais que alguns segundos. Madsen deixa sua pasta na mesa e puxa a chave metálica do bolso de sua calça, destravando a fechadura do armário no canto da sala de artes. Lá dentro há uma infinidade de coisas e a maioria delas parece deslocada demais para habitar uma sala de aula, mas suspeito que isso faz delas exatamente adequadas para estar ali. Um arranjo torto de flores de plástico aparece nas mãos calejadas do homem e ele o traz para o meio do círculo com a cuidado que teria com um bebê recém nato. Parece um tanto adorável que um homem do tamanho dele tenha esse cuidado, mas também um tanto assustador por motivos que eu mesma desconheço. 

De pé no meio do círculo, depois de ter deixado as flores na cadeira, onde todos nós podemos olhar de um ângulo diferente, Madsen nos olha daquele jeito oculto e cheio de significado que um professor olha para uma turma de adolescentes barulhentos. Seus olhos cor de turmalina nos estuda enquanto ele ajeita seus cabelos castanhos acobreados um tanto ralos. Aos poucos vamos fazendo silêncio, uns cutucando os outros para que prestem atenção no homem vestindo camisa social branca e gravata vermelha. 

—Hã, vocês sabem o que eu acho sobre simplesmente deixar que vocês façam qualquer desenho bobo durante as aulas: perda de tempo. -Ele suspira pesado. —Sério, alguns de vocês são realmente esforçados em criar coisas realmente tocantes e esforçadas, mas a maioria só quer crédito extra e eu abomino essa maioria, digo isso com sinceridade. 

Um coro de risadinhas sobre envergonhada entre nós. 

Ele tem toda razão. Boa parte da nossa turma só foi formada porque todo aluno deve ter créditos extras para concluir o tempo de aulas implementados no código estudantil. Era isso ou fazer prova nas férias. Nem os alunos e nem os professores gostava muito disso, então as aulas de artes e poesia estavam quase completamente lotadas. 

—Então não quero ouvir burburinhos ou qualquer outra coisa meramente desagradável sobre desenhos de profundidade. -Ele diz de forma firme. —Pelo menos aproveitem a aula para aprender algo produtivo. 

Julie e eu nos olhamos antes de cair em uma risadinha secreta. Sim, cair. Nos esbarramos enquanto uma se apoia na outra atrás dos cavaletes. 

Aos poucos, começamos a rabiscar o rascunho do que seria o arranho futuramente. 

As aulas de artes costumavam ser meu santuário particular desde que entrei no grupo. Em casa era raro ter tempo para trabalhar em um projeto, pelo menos quando minha mãe estava por perto com toda a sua energia elétrica e contagiante. Eu não conseguia nem mesmo ler um cartão de visitas quando ela estava ao meu lado, e não porque ela é tão contagiante e enérgica que é uma maravilha ser filha dela e estar sempre em sua companhia. Então não me importo muito com o jeito carrancudo e irritadiço do sr. Madsen. 

Passo o lápis desenhando um ponto cruz no meio da tela e começando um rascunho do que seria a cadeira. Pelo canto dos olhos percebo uma agitação na porta da sala e vozes baixas, movida pela minha curiosidade levanto os olhos encontrando a figura de Peter Masset na porta trocando algumas palavras baixas com meu professor. Ele não é da nossa turma, nem mesmo faz aulas de artes pois seu negócio é a música, mas parece destino vê-lo justamente onde ele não deveria estar. 

Quando digo que Peter não deveria estar aqui é mais pelo fato de que artes é no mesmo tempo que música, então ele não poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo. Mas não me importaria com o fato dele estar quebrando regras, matando sua aula para estar do outro lado da escola se eu pudesse vê-lo pelo menos um pouquinho –mesmo que, estudando na mesma escola, eu o veja o tempo inteiro. 

Sinto um cutucão discreto de Julie no meu cotovelo, mas não ligo. 

Algumas meninas se interessam por Logan Henderson, outras por Cody Barrow (um projeto de bad boy do terceiro ano com uma gramática podre) e algumas até gostam de Lindsey Sherwood, porque ela foi eleita a garota mais sexy da nossa escola cinco meses consecutivos, mas eu, Ronnie Evangeline Stwart sinto minhas pernas tremerem como gelatina e borboletas entrarem em chamas no estomago por Peter Masset. E se fosse para dizer o que ele tem de especial, a resposta seria desinteressante demais para ser citada. Peter não era um rapaz feio, mas ele era um padrão masculino completo com sua pele dois tons mais pálida que o habitual na nossa cidade sempre ensolarada, seus cabelos castanhos um tanto ondulados nas pontas quase na altura dos ombros, seus olhos castanhos de cachorrinho e sorriso sem um vestígio de aparelho. Mas o que mexia comigo não era sua aparência, mas seu jeito sempre um pouco tímido e ainda assim tão animado quanto um filhote nos debates de Sociologia. O jeito como ele sorria quando acertava uma resposta no quadro, seu olhar doce para a janela em uma chata e sua voz de anjo eram minha kriptonita e eu odiava o efeito que isso tinha no meu coração. 

Sério, ele poderia me matar de arritmia cardíaca e nós nunca trocamos mais do que cinco palavras. Nos meus sonhos, não era exatamente assim que ele me matava (se é que é saudável imaginar seu crush te matando de alguma forma).  

A aura positiva de Masset envolve até mesmo nosso professor, que dá um leve sorriso e acena para alguma coisa que ele diz. 

O professor Madsen se vira para nós, caminhando para o centro da sala, e Peter o segue. 

—Turma, o sr. Masset quer dar um pequeno aviso para vocês. Podem largar seus lápis por um minuto.  

Peter parece um tanto surpreso pela forma que o professor o chama de “sr. Masset”. Ele nem mesmo imagina que eu já tive sonhos em que o chamava da mesma forma –vou manter o resto em segredo pela minha própria dignidade.  

—Eu não vou demorar muito. -Ele diz mais para o professor, que já se acomodou em sua mesa, deixando Peter entregue aos seus alunos pouco disciplinados. —Como todos sabem, haverá um baile de primavera antes do recesso. Nossa turma de música está selecionando algumas músicas para um cover ao vivo, alguns em acústico, e nós gostaríamos de pedir algumas sugestões do que vocês gostariam de ouvir. Há uma lista no corredor, ao lado da sala de instrumentos, e um no estádio coberto de basquete, mas vocês podem falar diretamente comigo, Marcus Costello ou Logan Henderson, nós vamos anotar todos os pedidos.  

E aí estava o único defeito de Peter Masset. 

Enquanto toda a turma parecia empolgada para ouvir os alunos da turma de música cantarem covers ao vivo no baile, eu pensava em como o universo uma menininha poderia ser cruel e sarcástica até demais.  

Como se esse fosse um universo paralelo e não o real, desafiando as probabilidades lógicas, Logan Henderson e Peter Masset, os maiores exemplos de seres humanos opostos, eram melhores amigos desde crianças.  

O sorriso de filhotinho de Peter iluminou todos nós enquanto ele deixava nossa sala depois de agradecer nossa atenção e ele volto para o mundo onde ele era quase irmão do cara que eu menos suportava no mundo inteiro. 

—Alguma vez você já pensou que o universo é uma vadia sem coração? -Pergunto a Julie, que me olha enquanto esfrega seu polegar em uma sombra atrás de uma das pernas do esboço de sua cadeira. 

—O tempo inteiro.  

Ela responde com um sorriso travesso. 


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