Eu não entendia muito bem onde estava. O quarto, pelo que me parecia, era pouco iluminado. Apenas uma vela no centro de uma mesa de madeira redonda, clareava um pouco a escuridão.

Tudo parecia tão silencioso e sombrio, que eu, gélida, olhava para os lados confusa. Onde estava? E como havia chegado ali?

O ranger de uma porta antiga me retirou dos devaneios tão rápido que senti-me pular. Eu estava sentada ao chão, que, de pedra, era congelante.

Quando finalmente a figura que havia adentrado o cômodo chegou próximo da vela que pude ver seu rosto. Este no qual era perfeito! Pele branca e lisa, lábios rosados e cabelos negros que presos em um coque, utilizavam de uma coroa para lhe enfeitar. A mulher não me parecia familiar, mas pelas vestes notei que era da realeza. Vestia um vestido longo, verde-escuro, que com detalhes em prata lhe davam forma.

– Regina! - Outra voz surgiu ao quarto, a mesma não era aparente a minha visão, mas pelo som pude notar que vinha do fundo do cômodo, onde a escuridão lhe acomodava. - Esperava por sua visita hoje...

– É claro que viria, minha querida amiga! Malévola me contou tudo sobre seu plano deliciosamente perfeito!

– Malévola virá?

– Mais tarde, talvez.

– Preciso de todas aqui... Ou melhor, todos! Até James Gancho convoquei. - Gancho? Malévola? Estes me eram familiar. Em todas as festas em meu palácio, sempre havia o momento das histórias. E Aurora sempre falava de Malévola, e como sua perversidade era extrema. E Gancho, me recordo da pequena Wendy comentar sobre ele.

– Ótimo! Muitos viram querida amiga, pode ter certeza... Nossa vingança será completa. E bem, já enviou a carta para o seu peixinho predileto?

– Sim! A querida Ariel não espera com o que pode lhe acontecer. Meus informantes me disseram que Tritão não acreditou na filha... Haha.. Mas é claro, ele nega a ver a realidade. - Ao ouvir meu nome, meu estômago congelou, elas sabiam que eu estava ouvindo? Juntei os joelhos e os abracei, mantendo-me mais próxima da escuridão.

– Hahaha! Esse povo de final feliz gostam de acreditar que nós, nunca iremos retornar! Idiotas.. Enviei a minha carta para Branca de Neve hoje cedo. Aposto que ela não dormiu essa noite.

– Espero que o mesmo aconteça com todas! Não crer na verdade, e assim os pegaremos com surpresa!

– Sim, a surpresa sempre assusta mais, é impressionante. Mas, Úrsula, apareça.. Quero ver você.

– Claro, claro... - Ouvi os tentáculos de Úrsula se movimentarem sobre o gélido piso de pedra. Até que a mesma chegou à luz da vela. Sua aparência era horrível! Cabelos mais brancos do que nunca, pele pálida e olhos azuis tão claros que quase me pareceram transparentes.

– O que aconteceu com seus olhos? - Indagou, Regina.

– Estou cega provisória mente. Mas na verdade, não cega completamente. Eu vejo as almas, não as pessoas. A sua no caso querida Regina, está tão negra que me dá orgulho de ser sua amiga.

– É claro, a infelicidade sobre meu ser é tão grande! Tudo por causa de Branca de Neve... Aquele defunta que deveria ir para os raios do inferno de Odides!

– Não meta Odides nisso! - Virou-se Úrsula contra a vela, voltando para a escuridão. - Ele não merece ter o ser tão desprezível como sua querida enteada Branca de neve como residente de seu mundo. Espero um dia, eu, ser mandada para lá... Mas até o momento, necessito me vingar da sereia idiota.

– Tem razão, mas para pelo menos essa vida fazer sentido, devemos nos vingar daqueles que nos causaram tanta infelicidade e amargura nesta vida...

– Afinal, Regina, você nunca me contou o que Branca lhe causou de tão mal..

– Nunca? Irei lhe contar agora...

" Há muito tempo atrás, querida Úrsula, eu era uma jovem, tenho que admitir, como Branca de Neve... Tão ingenua, tão pura.. Tão boa!

Eu vivia em uma fazenda, onde nesta me apaixonei pelo cuidador de cavalos. Ele era perfeito! Lindo e romântico... Era o meu verdadeiro amor. Porém, minha mãe, uma grande feiticeira, odiava-o! Ela queria me ver casada com algum homem poderoso e rico que me desse tudo... Mas, por hora não havia feito nada ao jovem rapaz.

Um dia, uma garota de uns oito anos de idade apareceu à propriedade da fazenda, em um cavalo descontrolado. Eu, como uma boa pessoa, parei o animal e ajudei a menina.

Esta menina, muito grata por eu ter a salvado, voltou em poucos dias à fazenda com seu pai, o rei de Blancales... Ele, muito gentil me pediu a mão em casamento por ter salvado a sua filha, o seu bem mais preciso! Minha mãe me forçou a me casar com ele, e eu tão apaixonada pelo criador de cavalos, resolvi fugir com ele.

Marcamos de nos encontrar no estábulo para enfim fugirmos. Quando todos estavam dormindo, eu fugi para lá e o encontrei, mas, ele não estava só. A garotinha, filha do rei, estava lá! Com lágrimas nos olhos, me perguntava se eu não seria sua mãe. Eu, com dó a lhe expliquei tudo! Disse que não estava apaixonada pelo seu pai e sim pelo criador de cavalos. Até lhe disse onde iriamos ficar, para se um dia ela quisesse me visitar, eu a receberia de braços abertos.

A maldita contou tudo para minha mãe, que foi atrás de mim. Chegando ao local onde eu e ele estavamos, ela arrancou o coração do rapaz e o esmagou, matando-o! E me forçou a retornar. Eu com o ódio da perda em meu coração, fui forçada a me casar com o rei e jurei vingança contra a defunta, Branca de neve! "

– Interessantíssima história Regina, me explica muito...

– Úrsula, eu detesto aquela princesa estúpida!! Eu quero que ela morra, MORRA! - Gritou Regina, com tanta raiva no peito. A mesma, deu um chute a mesa de madeira que mantinha-se com a vela no meio, fazendo-a desabar ao chão e apagar-se.

Ofegante, sentei sobre o colchão macio de minha cama, suada. Sentia-me com dor de cabeça e muito assusta! Olhei para o lado, vendo Eric dormindo tão profundamente que nem se abalou por eu ter acordado.

Pensando em tudo que havia sonhado, refleti... Tudo iria recomeçar, a época de terror em toda a história! As bruxas iriam retornar, e tudo que eu tinha seria arrancado de mim. Melody, Eric, papai, minhas amigas, minhas irmãs! Tudo, eu estava perdida.

Aqueles pensamentos tristes, fizeram-me desabar em lágrimas e em soluços. Fazendo com que Eric acordasse.

– O que foi meu amor? - Perguntou-me, sonolento.

– Ela está de volta! - Disse-lhe perdida em lágrimas.