James me fitava com seus pequenos olhos, pareciam tão inocentes e indefesos agora que a cena fazia com que partisse meu coração mais uma vez. Eu acho que preciso de um tempo pra digerir todas essas informações, eu ainda tenho perguntas a serem feitas, mas eu creio que James já falou o suficiente por hoje. Não deve ser nada fácil contar coisas sobre essa, afinal eu nunca o vi desse jeito, ainda mais chorando. A imagem de um garotinho indefeso me vêm em mente e eu abraço James imediatamente.

Após alguns segundos, sinto os braços de James se voltarem em minhas costas, ele me abraça fortemente enquanto sinto seu rosto se esconder por entre meus cabelos caídos. Sou como um porto seguro para ele agora, penso como deve ter sido difícil para ele passar por tudo o que passou, um pobre garoto indefeso que teve de aprender a se virar tão cedo!

–Obrigada por confiar em mim. –Eu digo calmamente enquanto vamos mantendo a distância novamente. –Mas James, não é certo manter isso em segredo.

Seus olhos piscam fortemente.

–Pode não parecer, mas tem gente que depende desse lugar pra sobreviver. –Ele fala. –Denunciar esse lugar, seria como acabar com a esperança dessas pessoas.

–Mas James, você foi adotado. As pessoas precisam de uma segunda chance, precisam de oportunidades, precisam acreditar que merecem mais do que isso.

Ele se move na cadeira.

–Nem tudo é tão fácil quanto parece. –Ele respira fundo. –A maioria dessas pessoas não cursou nenhum tipo de escola, arrumar um emprego melhor não é algo que aconteceria com elas. Eu tenho amigos aqui, e sei que a situação melhorou muito do tempo em que eu vivia aqui, até os tempos atuais.

–O que isso quer dizer? –Pergunto.

–Quer dizer que o dinheiro que recebem pelo seu trabalho é, as vezes, melhor do que se estivessem trabalhando em um lugar mais digno.

Fico em silêncio pensando em tudo o que acabo de ouvir. É difícil pra mim acreditar que esse lugar é o abrigo de alguém, que esse lugar é o único lugar que muitas pessoas têm. Mas é a realidade, nem todos tem família e uma casa para morar como eu tenho, nem todos tem a sorte de se tornarem pessoas melhores.

–Precisamos manter esse lugar em segredo. –James interrompe meus pensamentos.

Fecho meus olhos e respiro profundamente.

–Tudo bem. –Eu digo. –Não contarei nada do que sei à ninguém.

Quando abro meus olhos novamente, me deparo com o sorriso de James. Eu já estava sentindo saudades desse sorriso.

–Preciso que prometa isso pra mim. –Ele diz se aproximando.

Sua boca para à milímetros da minha, eu sinto sua respiração e respiro o ar que expele de sua boca. Fresco e delicioso.

–Eu prometo. –Sussurro sorrindo.

Então, James beija meus lábios ternamente, sinto o seu sorriso quando seus lábios tocam os meus, e eu sorrio também. James aperta meu lábio inferior com seus dentes e o puxa com facilidade.

–Vamos embora daqui. –Ele diz imediatamente.

Sem que eu possa responder, sinto sua mão agarrar fortemente a minha e ele já está em pé. Me levanto rapidamente e sigo seus passos em meio à multidão.

Enquanto caminho, olho rapidamente para todos os cantos desse lugar. Quero guardar lembranças desse dia. Do dia em que James me contou coisas que talvez ninguém mais saiba.

Na saída, James cumprimenta seu amigo em um abraço apertado e promete voltar para que eles possam conversar melhor. Lembro-me de seu nome ao ouvir James o chamar. Djons é seu nome, ele continua a me olhar com olhos de desconfiança e agora eu entendo o motivo.

Subo na moto de James com mais facilidade do que da ultima vez, me junto pertinho ao seu corpo e aperto fortemente meus braços em torno de sua cintura, então ele acelera a motocicleta e já estamos nas ruas novamente.

Apesar do forte vento que bate em meu rosto, eu tomo coragem de erguer minha face e ir até o ouvido de James, mesmo estando com capacete, tenho esperanças de que ele vai me ouvir.

–Onde estava sua moto? –Eu grito contra o vento que seca minha garganta.

–Estava com um cara. –Ele diz apenas.

Fico sem entender nada por alguns segundos, mas James continua:

–Eu tinha a perdido em um racha. Apostei a moto e eu acabei perdendo, mas eu já a consegui de volta.

–Como? –Volto a perguntar.

–É errado roubar o que foi roubado de mim?

Eu não digo nada, essa frase me deixou ainda mais pensativa. James não tem juízo mesmo, e as vezes chego a conclusão que ele nunca terá. Vive se metendo em confusão e em brigas desnecessárias. Ele deve ter vários inimigos e eu queria que ele parasse com esses rachas.

–Por que sua mãe adotiva largou você na minha casa? –Eu pergunto engolindo vento novamente.

Ouço ele rir por alguns instantes.

–Deve ser por que eu não sou o filho que ela sonhava ter. quando ela me adotou eu ainda era pequeno, porém já sabia muitas coisas à mais do que qualquer criança da minha idade.

Sem dúvidas’ pensei.

–Ela não aceitou muito bem o meu jeito, deve ter se arrependido a vida inteira de não ter adotado outra criança ao invés de mim. –Ele ri. –Então agora que eu já sou maior de idade, ela arrumou uma bela mentira pra se livrar de mim.

Mentira?

–Ela não foi viajar, ela fugiu mesmo. – James solta.

Arregalo meus olhos e sinto eles arderem por causa do vento.

–Você vai morar pra sempre conosco? –Eu pergunto aterrorizada.

–Claro que não. –Ele ri. –Eu sei que isso não é o certo, por mais que eu queira ficar perto de você isso não seria o certo.

Ele continua:

–Eu vou arrumar um emprego qualquer, e com o salário que receber alugarei um lugar pra mim ficar, até que eu tome outro rumo na vida.

–Isso explica por que sua mãe adotiva não atende as ligações? –Pergunto.

–Suponho que sua mãe nunca mais verá sua grande amiga.

A resposta de James me faz rir, e eu volto a apoiar minha cabeça em suas costas. Não sei se eu quero que ele vá embora da minha casa, não sei se eu estou preparada pra voltar a ser a filha única outra vez.

{...}

Termino de lavar a louça em silêncio, James como um bom folgado já subiu para seu quarto. Será que todos os homens são assim? Levantam da mesa e não podem nem se quer levar o prato até a pia. Não sei se todos são assim, mas James é.

Saio do banheiro após escovar meus dentes e fazer minha necessidade fisiológica, e subo as escadas em direção ao meu quarto. São 2:35 minutos da madrugada, e as ruas estão todas em silêncio.

Quando abro a porta do meu quarto, levo um susto. Meus olhos se arregalam imediatamente, meu coração quase para, eu fico imóvel e meu sangue drena de meu rosto.

A janela está com a vidraça aberta, o vento que entra por ela, levanta e tira as cortinas do chão. Balança seu cabelo com harmonia e seu sorriso aparece em seus lábios. Engulo em seco ao sentir minha garganta seca, ele está em silêncio como eu, a única diferença é que ele está rindo, e eu não.

Dá um passo em minha direção, e eu me agarro forte contra a porta, o que ele está fazendo aqui?

–Saudades de você. –Ele diz de repente caminhando em minha direção.

Eu dou alguns passos para trás.

–Derek, fique longe de mim!

Assim que ouve isso, ele para, mas são só por alguns instantes, logo volta a caminhar com passos lentos até mim.

–O que você tá fazendo aqui? –Eu pergunto com medo.

Mesmo assim, fecho a porta atrás de mim. Se Derek está aqui à essa hora é por que se arrependeu de tudo o que disse pra mim, e talvez queira me pedir desculpas por tudo.

–Fale baixo. –Eu advirto.

Derek me abraça fortemente, e é bom sentir o seu abraço novamente.

–O que você tá fazendo aqui? –Eu volto a perguntar.

–Fiquei com saudades de você, e sei que te tratei muito mal depois da última vez que nos vimos. Me senti mal então decidi vir até aqui. Subi pela janela e fiquei te esperando aqui. –Ele contava aos sussurros. –Ouvi você e James conversar na cozinha, e depois escutei ele entrar no quarto dele. A vontade que eu tive, foi de pegar ele de surpresa e dar uma bela surra nesse cretino.

–Não diga uma coisa dessas! –Eu rebato. –Não quero mais confusão entre vocês dois. Você é muito doido em aparecer aqui logo agora.

–Onde vocês estavam? –Derek me pergunta rapidamente.

–Depois que saímos da sua casa, James me levou para algum lugar. –Lembro-me de que é segredo tudo aquilo e resolvo mentir. –Um lugar que ele gosta muito,tem várias pistas de skate e.... e a gente conversou lá.

Meu rosto deve estar vermelho, odeio mentir e essa parece ter sido a pior de todas as mentiras que eu já contei na minha vida.

–James não faz o tipo romântico. –É Derek quem diz.

–Eu sei que não, mas desta vez foi isso o que aconteceu. –Sinto meu rosto queimar.

Derek me olha desconfiado, mas logo se aproxima de mim.

–Tudo bem, vou acreditar em você. Mas agora chega desse papinho.

–Derek, você disse que tava tudo acabado entre a gente...

–Eu disse, mas esqueça disso agora. –Fala vindo em minha direção, e logo beija meu pescoço.

–O que tá fazendo? –Eu pergunto tentando me afastar.

–Sei que fiz burrada e te tratei muito mal, mas agora eu vou concertar tudo isso.

–Você bebeu? –Pergunto ao sentir cheiro de álcool.

Derek apenas ri, mas eu sei que ele bebeu. Tento me soltar, mas agora Derek me prende mais forte contra ele, minha vontade é de gritar, mas eu não posso. Então, continuo tentando afastar Derek de mim.

Ele me derruba na cama e logo já está sobre mim, eu tento sair dali mas parece impossível, o cheiro de álcool fica ainda mais forte e Derek me beija descontroladamente enquanto suas mãos tentam tirar a minha roupa.

–Derek.... Para! –Eu digo com medo.

Mas ele não me escuta e continua a me segurar.

–Tô com tanta saudade do seu corpo. –Derek diz em meio à gargalhadas. –Vou comer você todinha!

Ele continua a beijar meu pescoço,suas mãos estão em meu corpo me acariciando, mas Derek está bêbado! Me admira não ter percebido antes. Mesmo eu não querendo, ele continua com aquilo.

–Me solta! –Eu digo.

Então, escuto o barulho forte da porta se abrindo. Meu rosto se vira rapidamente em direção à porta, assim como o rosto de Derek.

–ELA MANDOU VOCÊ A SOLTAR!

É a última coisa que escuto antes de Derek ser arrancado de cima de mim. Me levanto da cama ainda assustada, e me deparo com uma briga corporal em meu quarto.

James deposita socos em Derek que tenta reagir.

–PARA! –Eu grito. –JAMES! ELE TÁ BÊBADO!NÃO!

–EU VOU MATAR ESSE DESGRAÇADO! –James grita e então pega Derek pelo colarinho da camiseta.

O levanta do chão, e antes que eu possa dizer mais alguma coisa, Derek é arremessado da janela.