Anjo Travesso escrita por Vanessa


Capítulo 33
Streep.


Notas iniciais do capítulo

Oi amados! Demorei um bucadinho né? eu sei xD
tô bem feliz devido às novas favoritações e aos acessos recebidos. Obrigada mesmo.
Não briguem comigo, mas eu fui cruel dessa vez ASHAHSA' Boa leitura =*



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Olho para James por alguns segundos sem entender nada. Sua moto? Onde ela estava todo esse tempo? Porém, James estava tão furioso que achei melhor não o questionar sobre isso, não agora.

Me aproximei da moto e a fitei rapidamente com os olhos, enquanto James continuava a me puxar pela mão, assim que chegamos mais próximo, James soltou minha mão e com uma habilidade incrível, em um simples salto, ele já estava sobre a moto. Com os pés no chão James equilibrava todo o peso da motocicleta, segurava firme em seu guidão como se aquilo fosse uma bicicleta. Logo, seus olhos estavam nos meus, como em um convite para o paraíso.

Estendeu sua mão sorrindo e eu logo à peguei, dando impulso coloquei uma das pernas no lado contrário da motocicleta e sentei-me no confortável banco de couro. James pega minhas mãos e coloca-as em sua cintura, sinto o seu sorriso mesmo com ele estando de costas para mim.

–Segure-se. –Ele adverte.

Faço como ele pede, e me aproximo mais dele com meu corpo. Estou literalmente grudada nele, sinto todos os seus músculos contra os meus. Segurando firme em sua barriga cruzo meus dedos e estou pronta para ir onde ele queira me levar.

James não perde tempo, e com muita habilidade dá a partida na moto, que começa a roncar. Respiro fundo e sinto meu coração acelerar, estou na garupa de um mestre dos rachas. Dou um sorriso com o pensamento. Então, James acelera e a motocicleta se move de forma rápida para a frente.

Onde ele quer me levar? Estou ansiosa de alguma forma. James passa por nossa casa e pega uma Rua à esquerda. Mal consigo ver as pessoas na rua de tão rápido que estamos indo. James continua acelerando constantemente e eu sinto o sangue se alterar em minhas veias. Estou sendo tomada pela adrenalina.

Por sorte, nenhum semáforo está no vermelho e penso como isso é possível, estão todos verdes para mim e para James. Estamos voando pelas ruas e eu nem sinto mais minhas pernas, estou em estado de medo profundo.

Então, James dobra mais algumas quadras e para em frente à um bar que eu nunca visitei antes.

–Chegamos. –Ele anuncia. –Pode descer.

Ainda meio tonta, me seguro em seu ombro e vou descendo da moto calmamente. No reflexo dos vidros escuros do bar, vejo a situação do meu cabelo. Ele está todo despenteado, parece que eu acabei de sair de uma guerra, rapidamente passo meus dedos entre os fios com a intenção de colocá-los todos em seus devidos lugares.

James se aproxima sorrindo.

–Comprarei um capacete pra você quando possível. –Ele passa sua mão pela minha cintura e me puxa lentamente. –Você tá linda, vamos entrar.

–Por que viemos aqui? Não to entendendo. –Eu digo.

–Se você quer mesmo saber mais sobre mim, entre. –É o que James diz.

Saber mais sobre ele? O que ele quis dizer? Seu passado? Sua infância? O que o trouxe até aqui? É tudo o que eu quero saber, só não entendo por que ele me trouxe a esse bar. Por fora parece ser bem pequeno, sem contar que esse bar não é nem um pouco famoso por aqui. Eu ao menos nunca ouvi falar, está bem retirado do centro e só o que eu posso ver aos lados e na rua, são galpões de empresas. Ergo minha cabeça para cima e identifico o nome do bar ‘Verty Shara Streap’ mas que merda será essa?

James coloca seu capacete no guidão da motocicleta e pega em minha mão, vamos nos aproximando da porta de entrada e eu já posso escutar a música alta, mas não consigo identificar qual o cantor nem o gênero, é apenas uma batida.

Conforme vamos nos aproximando, o ar se transforma em uma fumaça cinza que não tem cheiro de fumaça. É dióxido de carbono usado em shows, teatros e filmes, minhas aulas que química serviram para alguma coisa, penso. Por que tudo isso? Teremos show? Na portaria, somos barrados por um homem negro, ele usa roupas pretas com tons de rosa, e usa um chapéu na cabeça.

–Fala ae irmão! -Ele cumprimenta James com um meio abraço, e em seguida se volta pra mim. –Quem é?

James olha pra mim que devo estar vermelha agora.

–É uma amiga. –James diz.

O homem negro continua a me fitar de forma meio estranha, ele parece desconfiado.

–Ela é de confiança Jaz? –Ele pergunta.

Jaz?

James sorri.

–Total.

Assim que diz isso, o rapaz negro de chapéu dá mais uma breve olhada pra mim.

–Bom te ver por aqui outra vez. –Ele aperta a mão de James e nos abre passagem.

James volta a pegar a minha mão, agora me puxando para dentro do estabelecimento, o som da música fica ainda mais alto e a visibilidade por causa da fumaça fica ainda pior. Seguro a mão de James firme enquanto vamos passando por meio das pessoas. Está um calor insuportável ali dentro, mesmo assim as pessoas dançam e bebem à vontade. Algumas garotas estão sem blusa e algumas sem sutiã, e os homens estão quase todos sem camiseta. Eu olho horrorizada enquanto sou puxada por James.

A música é um batidão, e sinto meus pés grudarem no chão por causa da cerveja derramada. O cheiro é de chiclete de morango, porém está completamente abafado aqui dentro. Vamos caminhando por entre as pessoas que continuam a dançar, elas se esbarram em mim e eu quase caio ao chão. Algumas abrem passagem para nós, e alguns homens mexem comigo enquanto passo. Sinto alguém passar a mão em minha bunda mas permaneço caminhando com medo de olhar para trás.

Ao longe, tem uma espécie de palco e vejo um homem sem camiseta e sem calça, ele usa apenas uma cueca, uma gravata e um chapéu. Ele é o Dj, e está dançando conforme a batida. Ao lado dele, tem várias mulheres dançando apenas de lingerie.

James continua a me puxar pela multidão, eu jamais poderia imaginar que um lugar como esse existisse no Texas. Vejo mais à frente, algumas mesas. Pessoas bebem por ali e algumas até estão cheirando pó na mesa. Meus olhos se arregalam com a cena. Eu puxo a mão de James e paro de caminhar imediatamente.

James para também, vira-se para mim e entende por que eu parei de caminhar.

–Vem Carrie. –Ele grita me puxando outra vez.

Sinto a mão dele se apertar mais forte contra a minha, e isso me dá um pouco de confiança para continuar.

Passamos pelas mesas, e nos sentamos em uma bem excluída das demais, fica longe do palco mas a música continua alta. Há um homem sentado ali com uma mulher, os dois vestem roupas pretas com detalhes em rosa, ambos usam chapeis e gravatas. James puxa uma cadeira e eu me sento envergonhada enquanto ele cumprimenta o casal.

Em seguida, ele senta ao meu lado e deposita sua mão na minha perna. Eu permaneço em silêncio enquanto ele, a mulher e o homem conversam. Eu não consigo entender nada do que eles falam, o som está muito alto. Mas percebo que eles se conhecem a um bom tempo. James não vai me apresentar à eles?

Depois de um tempo, o casal se levanta e sai levando uma garrafa de Whisky que James ajudou a beber. Eu continuo sentada imóvel. Quero sair daqui, meus ouvidos não aguentam mais tanta poluição sonora. E o cheiro de chiclete de morango está me enjoando.

James vira seu rosto para mim depois de alguns segundos, parece que agora ele percebeu que não está sozinho.

–Você tá bêbado? –Eu grito em seu ouvido.

Ele ri de canto.

–Claro que não.

–Por que me trouxe pra esse lugar? –Continuo em seu ouvido. –Eu quero ir embora.

Ele se mexe na cadeira.

–Carrie tenha calma, logo a batida vai cessar e nós vamos poder conversar, então você vai entender por que eu te trouxe aqui.

Assim que diz isso, James vira o rosto e continua a admirar as pessoas na pista. Eu estou chateada mas fico quieta no meu canto. É um absurdo a visão que estou tendo, conforme o calor vai aumentando, as pessoas vão se despindo. Vejo mulheres apenas de calcinha na pista de dança, e o pior, se esfregando nos homens. Isso me dá enjoo.

Então, de repente. A música vai parando e a batida vai ficando mais baixa. O DJ que está no palco começa a falar sobre o tal show. Ergo minha cabeça para tentar entender o que está acontecendo. Depois de alguns minutos de suspense, a música retorna. Mas agora é uma música mais lenta, calma e sensual, no palco mais fumaça é soltada, e quando podemos enxergar, quatro mulheres saem do meio da escuridão e vão até a luz. Elas estão vestidas de uma forma inusitada. Uma está de coelhinha, a outra de enfermeira, a terceira de policial e a última de mulher gato.

Cada uma sobe em uma espécie de palanque, e conforme a música vai tocando, elas começam a dançar. James tira minha atenção delas.

–Pronto, agora que a música tá mais calma a gente pode conversar. –Ele diz olhando em meus olhos.

–O que é isso? Um bar de Streep Tease ?

–Exato. –James responde.

–O que diabos eu estou fazendo em um bar de Streep Tease? –Minha voz se exalta, estou começando a ficar sem paciência.

James segura a minha mão por alguns segundos, eu o olho sem entender. Então ele leva minhas mãos até sua boca e me beija com ternura.

O que tá acontecendo aqui?

Olho ao redor, e agora as dançarinas já começam a se despir. Homens estão assoviando, gritando, gravando com câmeras e alguns tentam passar a mão nas pernas dançantes das dançarinas.

Volto meu rosto à James e ele continua com minhas mãos. Agora ele as segura em sua testa, seu rosto está abaixado e ele está inquieto.

–James? –Eu pergunto assustada.

Então, seu rosto se levanta calmamente. James está? Está chorando?

Seus olhos estão completamente vermelhos, e vejo lágrimas dançando em seu rosto. Descem até seu queixo e pingam sobre a mesa.

–James o que foi? –Me aproximo dele.

Ele continua segurando minhas mãos e eu estou com medo, o que é isso agora? James chorando? Para o mundo que eu quero descer!

–Carrie, eu... eu fui criado aqui. –Ele solta aos soluços.

Meus olhos se arregalam imediatamente e sinto meu coração apertado em meu peito, James criado em uma casa de Streep? Mas sua mãe, amiga da minha.... como?

–Eu nasci em Dallas, lá minha mãe e eu morávamos em uma casa parecida com essa. –Ele vai dizendo. –Eu tinha 5 anos de idade, quando a policia descobriu o bar e prendeu todos os responsáveis, entre eles estava a minha mãe. Que se prostituía.

Meus olhos não param de piscar e eu estou congelada.

–Minha mãe biológica não é a amiga da sua. Eles apenas me adotaram depois de um tempo. Eu fiquei em um reformatório enquanto minha mãe biológica continuava na cadeia. Lá eu aprendi muitas coisas, algumas das quais me arrependo até hoje.

James vai contando:

–Você não tem noção do que acontecem nos reformatórios. Eu quase fui morto ou quase me matei. Eu estava ficando louco eu tinha apenas 5 anos.

–James calma. –Passo minhas mãos por seu cabelo. –Se não quiser contar, tudo bem.

Ele respira fundo outra vez.

–Fiquei dois anos naquele inferno quando minha mãe biológica veio me buscar, ela saiu da cadeia e conseguiu a minha guarda, não me pergunte como. Então, eu, ela e um bando de cafetões que saíram da cadeia também, viemos para cá. Aqui tudo parecia mais fácil, mais tranquilo e então eles encontraram essa casa. Aqui já funcionava uma boate, e minha mãe continuou a se prostituir, ela se afundou nas drogas...

–James não precisa me contar. –Tentava de alguma forma o acalmar.

–Eu fui matriculado em uma escola, e quando me perguntavam onde eu morava eu tinha vergonha de responder que era em uma maldita boate e que minha mãe não passava de uma vagabunda que nem ao menos sabia quem era e onde estava meu pai.

–A tarde e a noite eu trabalhava aqui, ajudava a servir bebidas a limpar o chão. Minha mãe mal tinha tempo pra cuidar de mim, eu via as vezes ela apanhar dos cafetões, ela era realmente agredida por eles Carrie, mas eu não podia fazer nada eu tinha 7 anos e tudo o que eu tinha era essa boate.

–passei fome, frio e passei a apanhar também. Um copo mal lavado já era motivo de uma surra. –James fitava a mesa como se as lembranças passavam claramente por seus olhos.

–Então depois foram chegando mais prostitutas pra cá, algumas já tinham filhos e eles se tornaram meus irmãos, a gente se ajudava nas tarefas e eu fui feliz por alguns meses. Até que um dia, minha mãe apanhou tanto que ela não resistiu.

Lágrimas já corriam por meu rosto, essa é a infância de James? Meu coração estava ainda mais apertado e eu não conseguia dizer nenhuma palavra a mais para o consolar.

–Quando ela morreu eu tinha 8 anos, ela morreu praticamente nos meus pés. Ela não era uma pessoa má, nunca foi, a vida foi a única malvada aqui. Então depois as coisas pioraram ainda mais, eu fui obrigado a me prostituir também.

O que? Não! Como?

–Eles pagavam um preço alto por crianças.

–James você foi abusado? –Perguntei rapidamente, eu estava horrorizada.

–Somente mulheres se interessavam por garotinhos como eu. Eu não fiz nada que a minha obrigação. Dava prazer à elas como elas mandavam, e tudo o que eu sei sobre sexo eu aprendi ali com 8 anos.

–Meu Deus! –Eu não conseguia dizer mais nada.

–Os outros garotos foram submetidos à mesma situação, conforme a gente foi crescendo a gente entendeu que ganhávamos muito, mas recebíamos pouco. Então a gente tentou fugir mas logo nos encontraram, afinal a gente não tinha pra onde ir. Eu tinha 11 anos quando a policia descobriu esse lugar, mesmo sendo em um lugar restrito e sem grandes movimentos, uma denuncia trouxe policias até aqui. Alguns fugiram, outros foram presos, já eu e o resto das crianças fomos levados para um abrigo. Se passaram mais dois anos até que eu fui adotado. Esse lugar voltou a funcionar com o passar do tempo, depois que alguns amigos meus saíram do abrigo eles voltaram pra cá.

–O homem da portaria é seu amigo? –Perguntei sem jeito.

–Ele é o Djons. É meu braço direito, morou algum tempo no mesmo abrigo que eu, mas ele nunca teve a sorte de ser adotado por ser negro, então quando fez 18 anos ele foi largado na rua e então voltou pra cá.

–Ele se prostitui?

–Não, ele teve sorte por aqui.

–Se você não tivesse sido adotado, o que teria acontecido com você? –Pergunto sem exitar. Eu preciso de respostas.

–Provavelmente eu teria virado um cafetão ou algo do tipo. Mas esse lugar teve mudanças, hoje é uma casa de Streep, mas naquele tempo não.

–Ninguém se prostitui aqui?

–Algumas, mas a gente mantém isso em segredo. –Ele responde me fitando. –Você não pode contar nada sobre isso à ninguém.

–Eu....

–Carrie. –Ele me interrompe. –Eu confiei em você.


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Notas finais do capítulo

PS: Desculpem qualquer erro de digitação.
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