Meus olhos seguiam constantemente as bolinhas de papel que voavam pela sala. Conseguiria prestar atenção em qualquer coisa menos na professora ou na matéria. Acho que teria caído no sono se não fosse pela bolinha de papel que me atinge na cabeça. Abro-a e leio o que estava escrito com uma caligrafia garranchada.

“Ei idiota, qual seu nome?”

Olho para trás para ver quem havia jogado e encontro ela olhando para mim me olhando com o olhar brincalhão. Era a aluna nova, Katniss Everdeen.

“Por que quer saber?” escrevo e devolvo o papel para ela.

Não demora muito para que eu receba uma resposta.

“Geralmente me dou bem com pessoas tapadas.”

Apenas olho feio para ela, e ignoro todos os seus bilhetes até o final da aula. O sinal bate e eu saio da sala o mais rápido possível, não por causa de Katniss, mas porque não aguentava passar nem mais um minuto naquela sala de aula claustrofóbica. Tentava driblar as pessoas do corredor lotado para chegar o mais rápido possível em meu armário. O que poderia ser um objetivo extremamente fácil se não houvesse uma manada de patetas indo na direção contraria.

Não demora muito para eu perceber uma animação fora do normal em toda aquela agitação. Algo realmente fora do normal. Tipo, por que todos andavam exatamente para toda a direção? E por que tanta pressa?

Seguro o braço da primeira pessoa que vejo.

–Pra onde todos estão indo? –pergunto.

–Parece que tem uma briga feia lá atrás. –diz a garota com uma animação infantil. –Finalmente alguma coisa esta acontecendo nessa escola!

E ela volta a saltitar animada para a direção que todos seguiam. Briga feia?

Por algum motivo isso não me soava bem. Quem estava brigando? Corro para o local onde todos estavam indo. Recebo diversos xingamentos e empurrões e quando chego lá entendo porque aquilo não me soava bem.

Marvel, meu indefesso e burro, irmãzinho mais novo estava no meio do circulo, juntamente com um loiro que eu vira poucas vezes circulando pela escola. Marvel estava com o nariz sangrando e ainda tentava avançar contra o loiro que era duas vezes seu tamanho.

Suspiro.

Marvel, de novo não.

–Parem. –grito, mas todos em volta gritavam e sustentavam a briga.

Tento chegar mais perto. Empurro todos e tudo que esteja em meu caminho até que chego em frente do circulo.

–Vai pra cima dele, Marvel! –grita um garoto ao meu lado.

–Cala a boca! –digo a ele. O garoto se encolhe provavelmente pensando que eu estivesse apoiando o loiro. Espere...eu conheço ele. –Você é Beetee? Achei que fosse amigo dele!

–Eu sou. –responde. –É por isso que o estou apoiando.

Dou um tapa em sua cabeça.

–Ai!

–Faça eles pararem. –mando.

–Você já viu o tamanho do garoto?

Reviro os olhos dando outro tapa em sua cabeça. Se ele não me ajudasse, eu teria que fazer sozinha. Avanço para o meio do circulo.

–O que esta fazendo? –pergunta Beetee.

Entro na frente do loiro antes que ele despontasse outro soco em Marvel. Seguro seu punho, mas de qualquer maneira ele machuca minha mão. O loiro olha para mim, seu olhar era voraz.

–Veio ajudar o namoradinho? –pergunta ele.

–Ele é meu irmão.

Ele ri alto.

–Clove? –sussurra Marvel.

–Clove? Esse é seu nome? –ele sorri, um sorriso um tanto maníaco. –Não me importo em bater em mulheres.

–Ohh! –geme a multidão.

Sorrio de volta.

–Muito menos eu. –e dou um soco em seu rosto, o que com certeza ele não esperava.

–Vadia.

Seu rosto estava vermelho e a multidão ria.

Quando ele estava pronto para me dar um soco, sinto alguém me jogando no chão e entrando em minha frente. Marvel leva novamente outro soco e cai no chão.

–Covarde! –grito de pé novamente.

O loiro ri.

–Que fofinha, mas quer mesmo fazer isso?

Chuto sua virilha, sem responde a pergunta. Ele geme e se abaixa um pouco tento dar uma joelhada em seu rosto, mas dessa vez o garoto é mais rápido e segura meu tornozelo o torcendo. Grito.

Ele ri, e continua a me segurar.

–Quer continuar brincando?

–Solta ela, cara. –pede Marvel ainda caído no chão.

Mordia o lábio com força.

–É impressão minha ou esta enrolando? –provoco.

A plateia estava mais silenciosa do que antes. Ele aperta meu tornozelo com mais força, mesmo não podendo ver seu rosto podia sentir sua hesitação.

–Covarde! –grita alguém. –Vai mesmo bater em uma garota?!

Antes que ele possa responder, o garoto solta meu pé. Penso que é porque tinha desistido, mas não, muito ao contrario. Beetee, o garotinho miúdo e medroso que conhecia Marvel desde pequeno, havia avançado nele. Eu não era a única surpresa, o garoto também estava surpreso, assim como Marvel e o resto dos espectadores.

Beetee estava com os punhos na frente do corpo, provavelmente tentando imitar as brigas que via na TV.

–Vai encarar? –pergunta hesitante, tentando manter a voz firme.

O loiro revira os olhos e se volta novamente pra mim.

Seu punho atinge minha mandíbula, mas não tinha nem um terço da força que eu sei que ele tinha. Eu não deixaria barato, sei que ele não me machucaria de verdade. Não podia, não na frente de todas essas pessoas.

–É o melhor que pode fazer? –questiono.

–Ohh! –urra novamente a multidão.

O loiro olha para todos. Estava preso. Não poderia bater em mim, porque eu era uma garota e não poderia não bater em mim, porque todos estavam olhando.

Beetee o atinge nas costas de surpresa. Tenho que admitir que me surpreendeu também. O loiro se vira furioso em sua direção. Sei que se desse apenas um soco mínimo em Beetee, o menino desmoronaria.

–Ei! –chamo.

Ele se vira e eu soco seu nariz com toda a minha frente. O tinha pegado totalmente de surpresa, suas mãos voam em direção do nariz que sangrava.Digamos que ele não pareceu muito feliz de ter levado um soco de uma mulher.

Beetee tenta segurar seu braço, mas ele avança em mim de qualquer maneira. Suas mãos estavam em volta de meu pescoço e meus pés quase saiam do chão e de qualquer maneira eu não dava nem no ombro dele. Mas outra pessoa entra na briga. Só consigo ser uma trança escura e logo em estava no chão.

Katniss Everdeen, a garota que havia me chamado de tapada, estava tentando atingir Cato. Agora eram quatro contra um, contando que um dos quatro estava sangrando no chão, um era pequeno e magrelo, a outra era uma garota que ninguém conhecia, e a outra, eu, não batia nem no peito do garoto. Finalmente era uma luta justa... bom até outro garoto gigantesco entrar no circulo.

Era loiro e tinha olhos claros como o outro, mas as diferenças paravam por ai. E eu o conhecia.Era Peeta Mellark.

Peeta agarra Katniss por trás deixando ela de frente para o outro que a olhava furioso. Nada bom poderia vir desse olhar. Levanto novamente o mais rápido que posso, com as mãos raladas, o jeans sujo e quase rasgando nos joelhos e avança no loiro. Avança nele da forma mais desesperada e bizarra possível.

Pulo nele. Meus braços vão em volta de seu pescoço ele segura minha cintura por puro impulso e nós dois caímos no chão. Eu não sinto o impacto por ter um loiro gigante para amortecer a queda, já ele geme de dor.

–Vadia. –geme e eu rolo para o lado.

A multidão urrava, gritava e alguns até riam. Beetee olhava espantado para todos, Marvel continuava no chão, Katniss sorria para mim e Peeta olhava indefeso para a situação.

–Mas o que é que esta acontecendo aqui? –pergunta uma voz que faz todos se começarem a se dispersar o mais rápido possível.

Menos nós, que estávamos realmente muito acabados para fugir agora.

Era o diretor Haymitch Abernaty.

Bufo.

Você realmente tinha que chegar só agora?

...

Não havia escutado muito do diretor, já que só fiz aquilo para me defender, no final, eu, Beetee e Katniss logo fomos liberados. Marvel e o loiro estavam na enfermaria. Peeta? Ninguém realmente se importava.

Katniss ri.

–Você foi incrível! –ela exclama. –Mal chego no colégio e já me deparo com uma briga dessas!

Rio um pouco, afinal tinha sido divertido. E eu teria que rir bastante, antes que essa historia toda chegasse aos ouvido de minha mãe.

–Por que os dois estavam brigando, afinal? –ela pergunta e nós duas olhamos para Beetee.

–Marvel estava procurando uma briga há semanas. –responde tímido. –Só que achou com a pessoa errada.

–Quem era ele? –pergunto.

–Cato Ludwig. –responde Katniss. –Ele chegou aqui na mesma semana que eu.

–Ele estudava em um colégio particular caro da região, mas foi expulso.

Olhamos para Beetee, curiosas.

–Como sabe? –ele olha para mim com seu jeitinho nerd de sempre.

–Tenho minhas fontes.

Eu e Katniss nos entreolhamos .

–Okay... –assopramos rindo.

–Minha mãe vai me matar. –ele se lamenta.

–Você foi corajoso lá fora. –diz Katniss dando de ombros. –Se lembre disso quando estiver de castigo.

Beetee cora ligeiramente. Provavelmente é a primeira vez que alguém o chama de “corajoso”.

–Tem razão! Eu fui corajoso! –ele pula. –Há! Eu fui corajoso pela primeira vez na vida. Toma essa, mundo!

Rimos até o sinal bater e termos que ir para as salas para nossas ultimas aulas do dia.

...

–Qual é, Marvel? Me perdoa! –peço igual pedi durante todo o trajeto de volta.

Ele a abre a porta de casa, sem me responder.

–Ele ia acabar com você. –digo a ele.

–E daí? –pergunta se virando bruscamente para mim. Mesmo sendo o mais novo, Marvel era vários centímetros maior do que eu. –Pelo menos as pessoas saberiam que eu o enfrentei sozinho! Mas agora vou ficar conhecido pra sempre como o garoto que ficou no chão enquanto a irmã mais velha dava uma surra no badboy idiota da escola.

–Pra sempre? Estamos no ensino médio, nada dura pra sempre!

–Talvez não pra todos, mas vai dar um motivo pra Cato me encher o saco pelo resto da vida.

–Ele não esta nem no mesmo ano que você. –rebato. –Talvez nem o veja mais, ele pode ser expulso por hoje...

–E você também. E eu, e Beetee e aquela garota...

–Katniss. –digo.

–Katniss, ta tanto faz. Se Cato fosse expulso todos nós seriamos, ou seja, não vai acontecer.

–Me perdoa!

–Não!

E a campainha toca.

–Nunca vou te perdoar Clove, nunca. –e ele abre a porta.

Nossas bocas se abrem em um grito silencioso que logo tem que se transformar em um sorriso falso. E exclamamos ao mesmo tempo:

–Tia Effie!