Gaia olhou para Meridius com cautela depois que o arcanjo do paraíso a levou para uma sala com janelas grandes e obras de artes antigas. Haviam diversos quadros que cobriam as paredes, imagens que aprovaria apreciar em qualquer outra ocasião.

Mas não hoje.

Os anciões entraram em contato com ela na noite anterior durante a madrugada enquanto a filha dos elementos caminhava por uma das florestas que os humanos haviam sido presenteados em seu mundo. E a mensagem que seus superiores pediram para passar a Meridius, não era nada agradável.

E era exatamente por esse motivo que Gaia preferia estar diante de Dimitrius, o arcanjo que ela temia e desejava distância, ao invés de estar em frente do imperador do paraíso para lhe dar noticias ruins.

A filha dos elementos tinha em mente que faria parte da destruição desse anjo que escondia seu coração em volta de diversas barreiras e ela jamais havia desejado isso.

— Já fazia um bom tempo que eu não a via, Gaia.— Meridius falou de maneira fria, mas de forma que não demonstrava que ela não era bem vinda.

Infelizmente, a filha dos elementos não podia dizer o mesmo sobre ele. Gaia sempre estava observando os arcanjos, sempre atenta caso algo os levasse a loucura e ela tivesse que proteger tudo aquilo que seus pais criaram.

A única pessoa que se permitia ser vista, era por Patrick. O tenente de Maximus era alguém realmente agradável para conversar quando ele desistia de ser arrogante e se livrava da ideia de que estava traindo alguém ao falar com ela.

— Não vivo para ser vista ou ser sociável.— Ela o respondeu com a verdade.
— Eu entendo.— O arcanjo a encarou com seus olhos escuros, olhos que continham faíscas da morte. Faíscas que diziam que ele não sentia piedade por aqueles que tentavam destruí-lo.— Então me diga o que a fez sociável essa noite.—
— Os anciões se comunicaram comigo.— Gaia desviou seus olhos para o chão.— Eles sabem sobre seus poderes.—
— Eu imagino que nada pode ser escondido deles como escondo dos meus irmãos.—
— Meridius, a forma que seus poderes cresceu é... assustador.— Ela falou.— Nenhum outro arcanjo chegou a esse nível antes. Tudo o que três arcanjos podiam fazer juntos, você pode fazer sozinho.—
— Eu devo me sentir honrado?— O arcanjo não demonstrou nenhuma emoção, o que apenas fazia Gaia se sentir apavorada.
— Não mais.— A filha dos elementos sussurrou. Gaia levantou seus olhos para encará-lo, deixando claro em sua mente que ela não tinha motivos para temer esse arcanjo. Meridius e seus irmãos eram pessoas que jamais a machucariam e mesmo que tentassem, não existiria nenhuma chance dela sair como a pior da situação. E os poderes do anjo a sua frente poderia estar crescendo, mas não se igualavam aos dela.— Os anciões não querem que esses poderes morram com você e eles vieram até mim para dizer que desejam um herdeiro.—

Os poderes dos arcanjos sempre eram hereditários e no momento que Meridius tivesse um filho, no futuro sua criança teria a mesma quantidade de poder que ele tinha. E os anciões desejavam isso, não importava a consequências.

— Bom, você pode dizer para eles que minha esposa e eu estamos trabalhando nisso quase todas as noites.— O arcanjo falou depois de arquear sua sobrancelha e tal sinceridade fez com que as bochechas de Gaia corassem. Ela, definitivamente, não precisava saber com que frequência o casal fazia... aquilo.
— Meridius...— Gaia falou de maneira hesitante, pois não sabia como dizer o que os anciões queriam dele e ela também não desejava falar o que a levou até ali naquela noite.— Eles não querem esperar por isso.—

Meridius a encarou em silêncio e por sua expressão, apesar de calma, ele não compreendeu o que a filha dos elementos falou. E nem poderia.

— Você deve anular seu casamento com Niffie e se casar com outra para gerar um herdeiro.—
— O quê?— As palavras fizeram Gaia congelar, elas soaram tão frias e perigosas que demonstrou que o verdadeiro motivo de tantas pessoas temê-lo.— Como você ousa entrar em minha casa e dizer isso?—
— Eu não estou aqui para ofendê-lo e não vim por que quis.— A filha dos elementos o lembrou rapidamente antes que sua raiva o tirasse do controle e esquecesse totalmente da ordem de mantê-la viva e segura.— Os anciões ordenaram e não posso ignorá-los.—
— Eu não irei anular meu casamento.— Ele rosnou.— Os anciões devem aceitar essa demora.—
— Niffie possuí apenas 2% de chances para engravidar, é impossivel que exista uma criança nascida do relacionamento de vocês.—
— Então não existirá uma criança.—
— Meridius...— Gaia tentou falar, mas o imperador do paraíso a olhou de forma tão mortal que toda sua coragem acabou.
— Você pode dizer minha vontade a eles a qualquer hora.— O arcanjo começou a caminhar em direção da porta e quando passou por ela, a filha dos elementos se virou para encarar suas costas escondida por asas.— Essa reunião acabou.—
— Eles vão matá-la!— Gaia quase gritou aquilo, mas seu tom alterado e baixo foi suficiente para pará-lo antes de sair daquela sala.— Os anciões vão matá-la se você não cumprir a vontade deles.—

Meridius se virou para encontrar os olhos claros dela.

— Eles não sonhariam com isso.— Era uma ameaça, uma ameaça que fez Gaia sentir medo, mas que não era o suficiente para apavorar os anciões.
— Você sabe que isso não é um blefe, Meridius.—

Gaia viu algo se modificar nos olhos escuros do anjo naquele momento.

Ele também não considerava a ameaça um blefe.

— Eu não posso fazer isso.— Meridius sussurrou.
— Os anciões vão lhe dar apenas dois dias para se separar dela.— Gaia falou com sua voz tremula e se odiando por isso. Ela já estava destruindo um casamento, não precisava demonstrar que era tão fraca quanto sua aparência.
— Existe alguém?— Meridius perguntou, não precisando de mais palavras para fazê-la compreender que ele perguntava sobre se existia uma escolhida para ocupar o lugar de Niffie.— É claro que existe, os anciões não fazem nada pela metade, não é mesmo?.— O anjo sorriu de maneira fria depois de encará-la enquanto esperava uma resposta.— Quem é ela?—
— Victoria, a filha de Alira e Caleb.— Gaia o respondeu e rapidamente falou novamente para adicionar outras palavras quando o olhar do arcanjo mudou para algo ainda pior.— Você não pode matar Victoria, Meridius. Além de ser inocente e não saber de nada sobre esse assunto, nossos superiores arrumariam outra angelical e ainda assim matariam Niffie.—
— Então eu não tenho escolhas.— Meridius a encarou e uma expressão amarga surgiu em seu rosto.— Eu tenho que destruir Niffie por que ela não pode me dar um herdeiro, simples assim.—
— Ninguém tem escolhas, Meridius.—
— Por que eles querem um herdeiro com a mesma quantidade de poder que eu tenho?— Ele perguntou.— Eu preciso de uma explicação coerente para entender esse absurdo.—
— Eu não sei.— Gaia desejava ter a resposta para a sua pergunta, mas ela não tinha.— Eu sinto muito, mas tudo o que eles disseram foi que seus novos poderes devem ser compartilhados com um filho.—
— Vá embora.— O arcanjo ordenou depois de alguns segundos em silêncio e antes que ela tivesse a chance de perguntar o que ele faria, a filha dos elementos viu que aquele não era o momento certo.

As mãos de Meridius começaram a tremer e mesmo depois de serem fechadas em punhos, elas continuaram. O anjo fechou seus olhos por um breve segundo e quando os abriu novamente, uma luz dourada surgiu em meio daquela cor escura apenas por um momemento, como um rápido flash.

Seus novos poderes estavam descontrolados por causa da sua raiva e Gaia sabia que ele podia machucá-la, mesmo acidentalmente. E se existia algo que ela não desejava, era criar outro tipo de problema para o arcanjo do paraíso. Então, antes que Meridius pedisse novamente para ela se retirar, a filha dos elementos saiu daquela sala.

Seu coração doía pelo anjo, principalmente por saber que ele faria a escolha certa para não machucar sua esposa, mas ainda assim ninguém podia negar que Niffie e Meridius se amavam. E por causa dos anciões, esse amor provavelmente acabaria em destruição.