Ferdinando estava pensativo em seu quarto, precisava terminar de escrever seu discurso, mas Gina não saia de sua cabeça. Pensava em como poderia fazer com que sua família, principalmente seu pai, a aceitasse. Mas antes disso, precisava fazer com que ela aceitasse ficar com ele, pois cada vez que o engenheiro agrônomo dizia que a amava, ela fugia. Mas Ferdinando não tinha dúvidas de que seus sentimentos por ela eram recíprocos, pois podia ver em seus olhos que também o amava. Lembrava de quando trabalhava com ela na lida, quando começou a se encantar por ela e perceber sua beleza. Como se arrependia de ter saído da casa de Pedro Falcão...após ter saído de lá, começou toda essa história de política. Gostava de morar com seu pai, mas sentia muita falta dos dias que passava com Gina e sua família. Dormiu com esses pensamentos.

Na manhã seguinte decidiu visita-los. Mas acabou tendo que deixar sua visita para mais tarde, pois seu pai gostaria de ler seu discurso.

Gina acordou de manhã com uma surpresa que não a agradou nem um pouco.

–Fia, vai tê mais uma pessoa pra vivê aqui com nois!– Disse Dona Tê, animada. Gina não estava nem um pouco: "Vixe, mais um come-dorme, quem será..." pensava. Até que viu o violeiro Viramundo na cozinha, tomando café. Lembrava de as vezes ter visto ele tocando viola na venda do seu Giácomo mas nunca tinha lhe dirigido a palavra. –Ele num tem onde durmi, então o pai dexo ele vivê aqui por uns tempo, pedido do Padre Santo. Então fia, seja educada co moço. -Continuou a dizer.

–Ara mãe mas num to falando nada. Então, dia Viramundo. - Disse, se sentando para tomar café. A única coisa que pensava era o que o Ferdinando diria quando soubesse dessa notícia...será que ficaria com ciúmes? Se lembrava de quando o engenheiro começou a viver junto com eles e disse que se casaria com a professora Juliana, nessa época Gina pouco conversava com o moço, mas depois de ouvi-lo falando isso se sentiu tão mal e com tanta raiva que até saiu da mesa. Pensava em como seria sua reação quando ouviu uma batida na porta. -Já vaai!–Disse Dona Tê, indo atender a visita. Como se pudesse ler seus pensamentos, Ferdinando apareceu na porta.

–Bom dia, Dona Tê. Como vai? Seu Pedro está? Preciso falar com ele urgente.–Dizia, sorrindo, enquanto entrava na casa. Mas seu sorriso logo desapareceu quando viu quem estava sentado tomando café na cozinha. Seu dia já não estava sendo bom após a conversa que teve com seu pai. Os dois haviam brigado e o coronel, além de não aprovar, rasgou seu discurso então Ferdinando não sabia mais o que fazer. Mas seu dia simplesmente piorou depois de ter visto o violeiro tomando café com Gina e seu Pedro Falcão. "Mas o que esse ai tá fazeno tomando café ca Gina?" se perguntava. Ela, após ver sua expressão de raiva, teve suas dúvidas quanto a sua reação respondidas. Era quase como a cara que fazia quando o ouvia falar bem de Juliana, até um pouco pior.

– Dia Ferdinando, o que ocê tá fazendo aqui essas hora? - Disse Pedro, tirando Ferdinando do transe. Tinha até esquecido do que tinha ido fazer lá, além de ver Gina.

–Ah Claro, seu Pedro, preciso falar urgente com o senhor, sobre a política e sobre meu pai...- Disse Ferdinando, ainda olhando com raiva para o violeiro.

–Vamo então fio, ai ocê aproveita e vê como tá as prantação. Eu já tava indo cá Gina mais o Viramundo pra lida - Disse Pedro Falcão, se levantando.

–Mas seu Pedro, tenho uma dúvida...Porque ele vai junto pra lida co cêis? - Disse, apontando para o violeiro.

–Mai que cabeça minha, esqueci de te falá! O Viramundo agora vai morá com nois por um tempo, até dá um jeito na vida e vai ajudá nois aqui no sítio né fia. - Disse Pedro, animado, sem perceber os olhares entre Gina e Ferdinando. A última coisa que Ferdinando precisava agora era de mais alguém atrapalhando seu romance com Gina. "E agora, se esse aí percebe a moça bunita que é a Gina e tô é perdido" Pensava, enquanto ia, chateado, conversar com o pai de Gina.