Abdication escrita por oakenshield


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, queridos.



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Melanie volta para a casa de Andrew pulando de alegria. Ela toca a campainha e agradece aos céus por ele não ter sido otário o suficiente para entregar a ela a chave da sua casa. A porta é aberta.

– Andrew, olha só - ela levantou o seu identificador. - Eu acho que agora posso me inscrever para o PMI e...

Ela para de falar quando vê que o garoto que abriu a porta não é Andrew. O cara é um pouco mais alto que Andrew e do que ela. Melanie não está acostumada com pessoas mais altas do que ela. Os cabelos loiros dele tem um tom diferente, algo entre o claro e o escuro, bem indefinido, seus olhos são azuis levemente escurecidos, a barba do queixo por fazer, lábio superior fino e lábio inferior grosso e ela tem a impressão que já viu aquele nariz em algum lugar. Ele está usando uma camisa social azul e ela está desabotoada. Ela não deixa de notar o seu corpo bem definido e os músculos sendo marcados pela camisa que é um pouco larga.

– Ahm... oi - ela consegue dizer.

Melanie percebe que ele está com um prato pequeno na mão e um garfo de prata em outra. Ele está comendo uma torta, aparentemente de limão.

– Se você quer se inscrever para o PMI, é melhor se apressar - ele fala. - As inscrições encerram hoje.

– Ah - é tudo o que ela consegue dizer.

Melanie já tinha visto caras bonitos, muito bonitos e lindos. Tyler Whitmore e Andrew Duninghan estavam entre eles, o irmão dela também, Derek, mas ela nunca havia visto alguém como ele. Os cabelos loiros bagunçados, a camisa abotoada de forma errada, o glacê da torta sujando o canto da boca e... ela suspira.

– Quem é você?

Ele arqueia uma sobrancelha.

– Você está na minha casa. Sou eu quem deveria fazer essa pergunta.

Melanie vasculha a sua memória e lembra que Heather mencionou que ela e Andrew tinham um irmão mais velho, treinador do PMI e com apartamento próprio no setor Fieldmann.

– Melanie - ela murmura.

– Melanie - ele parece estar saboreando o seu nome. - Melanie. Hum, nome legal.

– E o seu?

Antes que ele possa responder, alguém atrás de Melanie responde pelo garoto loiro:

– Josh? - a morena reconhece a voz como de Andrew, mas mesmo assim se vira. - O que você está fazendo aqui?

– Vim ver como vocês estavam. Sem os gatos em casa, sabe como é, os ratos fazem a festa.

Andrew bufa e abre caminho para dentro de casa, batendo com o ombro no ombro do irmão. A garota percebe que o irmão do meio está carregando sacolas da padaria.

– Josh também é um nome legal - ela murmura bem baixo para que Andrew não escute. Depois de seguir Andrew, ela jura que viu Josh sorrir antes de bater a porta.

– Você vem até a minha casa e começa a comer da minha torta - Andrew força uma cara de surpreso e cruza os braços. - Vamos falar a verdade, Joshua.

O loiro olha para a garota.

– Quem é ela?

– Uma convidada.

Ele olha para Melanie dos pés a cabeça. Ela está usando uma roupa que pegou emprestada de Heather: uma calça apertada, um top verde e uma jaqueta preta por cima. A morena dizia para si mesma que as roupas de Heather não eram muito diferentes das que ela e as outras garotas usavam nas ruas. Na verdade, a maioria das prostitutas do norte usavam calças coladas por causa do frio.

Josh parece estar pensando a mesma coisa que ela.

– E desde quando você convida prostitutas para a nossa casa?

Melanie percebe o tom ofensivo na sua voz, mas não ligou. Estava acostumada com as palavras de baixo calão proferidas pelos homens com quem convivia.

– Minha casa - Andrew o corrige. - Essa deixou de ser a sua casa há muito tempo.

– Minha casa sim - Josh fala. - Casa da minha mãe. Minha casa.

Melanie sentiu o clima estranho no ar.

– Olha eu acho melhor eu ir para a cozinha - ela pega as sacolas das mãos de Andrew.

– Melanie, você não precisa...

– Sim, ela precisa - Josh o interrompe. - Esse é um assunto de família.

A morena se retira para a cozinha sem falar nada, tira as compras das sacolas, mas acaba ouvindo a conversa. A cozinha é a poucos metros da sala, não há como não ouvir.

– Eu não quero brigar com você, Drew. Eu vim aqui só para conversar.

– Não há o que conversar. Heather quase morreu por causa do seu amigo...

– Tyler não é meu amigo. Ele é o irmão da Amber, também é treinador do PMI e nós moramos no mesmo prédio. Só isso. Eu nunca fui com a cara dele e quando nossa irmã quase morreu por causa daquele desgraçado... eu surtei.

Não havia como confundir. Não havia como ser coincidência. Quantos Tylers poderiam viver em Meurer e serem treinadores do PMI? Sempre são convocados apenas quatro treinadores há cada cinco anos. Não é possível.

A risada de Andrew interrompe os seus devaneios.

– Eu lembro. Você foi preso.

Outra risada toma conta da sala. Uma risada alta, selvagem e grotesca. A risada de Josh.

Parece que risada ridícula é algo de família, Melanie diz para si mesma e começa a rir sozinha.

– Por agressão. Que ridículo! Eu ainda não acredito que ele teve a cara de pau de ir até a delegacia para me denunciar porque eu soquei a cara dele. Eu que deveria ter denunciado ele por dirigir embriagado e quase matar uma menor de idade.

– É. Eu me odeio até hoje por não ter partido para cima dele também.

– Você é passivo demais, Drew. Esse é o seu problema. As coisas acontecem ao seu redor e você parece uma planta humana. Se mexa mais, Drew. A vida está rolando.

Andrew se emburrece.

– Eu sou relaxado, é diferente. Não me incomodo com tudo ao meu redor. Ajuda com o coração.

– Ah, que coração! O meu vive disparado. Reclamo de tudo, invoco com tudo...

– Por isso que eu digo que você ainda vai morrer de um ataque cardíaco e não por uma bala perdida.

Josh volta a rir. Melanie, que estava bebendo água na cozinha, acaba cuspindo tudo com o som engraçado que ele solta.

– Senti sua falta, irmão.

– Conviveremos bastante nos próximos meses, Josh. Se eu passar no PMI...

– Você vai passar.

– Sim, eu vou. Bom, nós nos vemos lá.

Melanie está limpando a água que derrubou quando alguém tropeça nela e ela cai.

– Mas que inferno...

– O que você pensa que está fazendo agachada ai?

Melanie respira fundo.

– Nada - ela diz, se sentindo a vontade para sentar no balcão da cozinha. - Então você é treinador do PMI, hum?

– Sim.

– Acho que eu também irei te ver nos próximos meses.

– É mesmo? - ele dá de ombros enquanto joga o pano molhado pela janela para o jardim.

– Aham. Eu vou entrar para o PMI.

Ele zomba dela.

– Você?

Ele se encosta na pia da cozinha e cruza os braços.

– Qual é o problema? - ela pergunta, balançando os pés.

– Você é uma prostituta - ele fala como se fosse óbvio.

– E daí?

– E dai que você nunca iria passar pela prova.

– Eu sei ler e escrever - ela fala - e se tivesse uma faca nas minhas mãos agora, teria rasgado a sua orelha em duas.

Ele parece achar graça enquanto vira-se para lavar as mãos na pia da cozinha.

– Acho que você precisaria usar outros talentos se quisesse entrar no PMI.

Melanie sai do balcão e anda até ele. Nenhum sinal de Andrew. A morena caminha até o primogênito dos Duninghan e coloca suas mãos por baixo da camisa social dele. Ela percebe como é definido e bom de tocar.

– Já seduzi o seu amigo Tyler várias vezes - ela sussurra no seu ouvido e morde a sua orelha de leve. - Eu tenho a impressão que com você não seria tão diferente, J.

+++

É o dia da prova. Melanie está nervosa. A primeira prova é escrita e ela teme não passar. Não se preparou tanto assim quanto os outros concorrentes. Todos ali são filhos de nobres ou de caras ricos e ela é o quê? Uma prostituta filha de operária? Que chances que ela tem?

Melanie começa a pensar que o seu sonho de passar na prova não passava de um delírio. Ela nunca passaria, afinal. Foi tudo uma ilusão. Ela pensa em desistir, mas os portões são fechados. Não há mais saída.

Ela sente alguém segurar a sua mão. Andrew.

– Boa sorte - ele murmura para ela. - Eu realmente espero que estejamos juntos lá.

Ela assente, concordando. Andrew não está olhando para ela, por isso ela tem que dizer:

– Boa sorte para você também - ela lhe dá um beijo estalado na bochecha. - Eu espero que você esteja lá com ou sem mim.

Melanie pegou o seu identificador falsificado e o passou no detector. Ele libera a sua entrada e ela olha para trás. Andrew sumiu no meio da multidão. A morena suspira e sai pelo prédio procurando o seu nome gravado em alguma porta. Há três andares no prédio, dez salas por andar. Ela acha o seu nome na sétima sala, por sorte, porque minutos depois as portas são fechadas e depois que isso acontece, todos sabem que não há como entrar.

Os inspetores fazem chamada. Quando chamam o seu nome, ela responde com uma voz trêmula. A mulher que está aplicando a prova tem os cabelos loiros presos em um coque, a pele pálida com sardas, olhos azuis conhecidos, lábios finos e um sorriso forçado.

– Eu sou Katie Whitmore e irei aplicar a prova hoje - a mãe de Tyler, Melanie percebe. - Na prova existem trinta questões, mas saibam que as mais importantes são as de história. Não há nada mais honroso do que saber a história do seu país e de como ele surgiu em meio as cinzas.

As três horas da tarde em ponto, segundo o relógio, todos ficam de pé e o hino nacional de Frömming começa a tocar. O holograma do lobo de juba avermelhada é projetado no quadro e Melanie posiciona a mão direita sobre o peito e abre a boca para cantar, tentando esconder a sua raiva.

O nervosismo volta a tomar conta do seu corpo quando ela pega a caneta para responder as questões da prova. A prova que pode garantir dinheiro para a sua família, o seu futuro e a vida do seu irmão.

Derek depende disso. A vida de Derek depende de você, Melanie, ela diz para si mesma. Vamos lá. Vamos lá.

Vamos lá.


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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam dos comentários. Xoxo.



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