Abdication escrita por oakenshield


Capítulo 35
Capítulo 35


Notas iniciais do capítulo

A reta final se aproxima. Mais e mais segredos serão revelados.



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Melanie escuta tudo de forma atenta.

— Jessica na verdade é Latasha Dzerjinsky, filha adotiva de Mikhail Dzerjinsky.

— Dzerjinsky... esse sobrenome... eu já ouvi antes - a morena comenta.

— Mikhail ajudou na rebelião de Johann. Quando o pai de Vincent causou a morte do presidente Smith e assumiu o controle, Mikhail se feriu em batalha e foi deixado de escanteio na divisão das conquistas.

— Os generais que o ajudaram foram os chefes dos países que se formaram - ela lembra. - No primário estudei sobre isso, quando o ensino ainda era gratuito.

— Sim - Andrew concorda. - Mikhail foi jogado na periferia como vários soldados de baixa patente ou feridos de guerra. Mesmo com sua ascensão no Exército e com sua fidelidade a Johann... nada disso foi suficiente. Bom, pelo menos para o pai, já para o filho...

Andrew levanta da cama e caminhou até a escrivaninha.

— Parece que o Vincent adolescente não é nada do Vincent que conhecemos hoje. Como Mikhail sempre foi próximo da família Fieldmann, quando Johann faleceu e Vincent assumiu, ele buscou Mikhail, mas esse também já havia morrido. Ele encontrou Latasha, sua filha adotiva.

—  Como Jessica foi ser adotada por Mikhail?

— Mikhail foi apaixonado pela verdadeira mãe de Jessica.

— Jocelyn - Melanie se lembra da vizinha e Andrew assente.

— Jocelyn trabalhava na Marinha quando engravidou. Mikhail estava em uma viagem para o que hoje é Ahnmach. Ele se apaixonou assim que a viu e ela contou que não poderia ficar com ele pois estava grávida de outro. Jocelyn foi afastada do trabalho quando a barriga começou a crescer e quando Mikhail se feriu e foi parar no mesmo bairro que sua antiga paixão, decidiu assumir a criança. Ele a chamou de Latasha. 

— Por que Jessica não tem mais o sobrenome dele?

— Quando soube que ele era ligado aos Fieldmann, ela decidiu tirar o sobrenome. Ela nutria tanto ódio por Johann, pelo governo... afinal seus pais estavam naquela situação de pobreza por causa disso. Quando Vincent a procurou e ofereceu dinheiro, ela recusou. Ele disse que tinha uma dívida com Mikhail, que ele sempre foi mais pai dele do que o próprio Johann e que não o ajudou quando ele mais precisou e se arrependia.

— E ela?

— Ela não aceitou o dinheiro, mas eles conversavam constantemente. Ela gostava de trabalhar na fábrica de armas, a lembrava do pai - Andrew continua. - Um dia, sua mãe a deixou com ela e ela teve que cobrir o turno de outra garota. Então ela a levou junto. E viu, pela primeira vez, sua aptidão com armas.

— Eu?

— Sim. Você. Naquela época ela e Vincent eram praticamente confidentes já. Ela contou, um dia, que tinha uma afilhada que tinha muito talento. Vincent riu, dizendo que ninguém sem treinamento tinha a aptidão que Jessica dizia que você tinha. Você gostou tanto, que sempre pedia para sua madrinha te levar com ela. Um dia, ele viu com seus próprios olhos, nas câmeras da fábrica.

— Eu... - Melanie repete. Se lembrava daquela época com nitidez. Já era adolescente.

— Ele a queria no PMI. De qualquer jeito. Ficou encantado. Sua madrinha disse que você nunca entraria por vontade própria, afinal você odiava o governo, odiava o próprio Vincent. Então ele disse para ela criar uma oportunidade. Jessica fez você perder sua identificação.

O chão de Melanie parece ter desaparecido debaixo dos seus pés. É como se o ar a faltasse. Jessica... perder a identificação era como nem ter existido. É uma das piores coisas que pode acontecer com qualquer pessoa em Meurer.

— Eu a achei na rua aquela noite a mando dele. A levei para minha casa e a incentivei a ir para o PMI a mando dele. Vincent, porém, achava que você precisava estar realmente motivada, que deveria dar o seu melhor, tudo o que você tinha. Por isso decidiu infectar o seu irmão com A Praga.

Ela morreu naquele momento. Se achava que o que tinha descoberto antes era ruim... isso... isso era imperdoável.

— Jessica sabia?

— Ele contou e ela desaprovou totalmente. Rompeu qualquer amizade que eles construíram durante aqueles anos.

Mesmo assim, ela sabia. Sabia e não contou. Nunca pediu por uma cura. Melanie que teve que lutar por ela.

Ela se levantou da cama e se dirigiu até a porta com lágrimas nos olhos.

— Aonde você vai? - Andrew perguntou.

— Tirar satisfação.

— Melanie...

— Eu preciso ouvir da boca dela, Andrew. Por favor, não tente me impedir. Você não vai conseguir.

Ele respira fundo.

— Eu preciso fazer algo também. Eu te deixo lá e depois de busco então, tudo bem? Não vou deixá-la perambulando por aí sozinha com Vincent a ameaçando dessa forma.

Ela concordou e sorriu para ele.

— Apesar de como começamos, você se tornou um verdadeiro amigo.

Ele sorriu forçadamente e tocou o rosto dela.

— Você sabe que eu queria ser bem mais do que isso.

Melanie abaixou os olhos. O dedo indicador de Andrew passeava por sua bochecha.

— Drew...

— Eu sei - ele sussurrou. - Eu sei. Estou conformado. É só que... você ainda mexe comigo.

Ele suspirou e tirou a mão.

— Mas não se preocupe. Vai passar.

+++

Andrew caminha de um lado para o outro, impaciente. Conrad está o fazendo esperar há poucos minutos, afinal ele apareceu de surpresa, mas mesmo assim...

— Ele irá recebê-lo - sua filha mais velha avisa Andrew.

— Obrigada, Paige - ele agradece. Ela o conduz até o grande e antigo escritório de Conrad Beckering.

— Desculpe vir essa hora, Sr. Beckering - Andrew pede assim que entra. - Mas há uma dúvida me perturbando. Minha mãe me disse que o senhor poderia me esclarecer algumas coisas.

Ele aperta a mão de Andrew e aponta para a cadeira de couro em sua frente para que ele se sente.

— Apenas Conrad, por favor. Sim... sua mãe... sinto muito por ela. Deve estar sendo muito difícil o dia de hoje para vocês.

Com tantas coisas em sua cabeça, Andrew só pensou na mãe pela manhã e no começo da tarde até o encerramento do enterro. E se sentia culpado por isso. Se entreteve tanto com Melanie, compartilhando informações e contando segredos, que por alguns momentos esqueceu que sua mãe havia morrido naquele mesmo dia.

— Sim - Andrew concorda, cruzando as mãos no colo. - Antes de morrer, ela me disse para o procurar. Disse que você me contaria toda a verdade.

Conrad assente e começa a falar, mas sem olhar diretamente para ele:

— Você e seus irmãos não são exatamente irmãos de verdade.

Então ele olha para o moreno.

— Foi dito que Josh era adotado, mas não é verdade. Chiara e Herbert eram recém casados e queriam ter filhos, mas estavam tendo dificuldades. Após uma briga, ele ficou a noite fora de casa. No dia seguinte eles se acertaram. Porém, algumas semanas depois, ele disse que tinha uma mulher grávida dele. Chiara ficou sem chão e disse que não queria mais vê-lo. Herbert foi embora. Um bom tempo depois, eles se reencontraram em uma festa e Chiara descobriu que a mãe da criança morreu no parto. Ela perdoou Herbert pela criança, pois achava que ele não merecia crescer sem mãe.

— O menino era Josh - Andrew constata e Conrad assente.

— Uns dois anos depois, Herbert chegou com outro menino em casa - o pai de Beatrice e Benjamin agora é mais cauteloso com as palavras. - Chiara enlouqueceu achando que fosse outro filho dele, mas Herbert negou. Ele teve que fazer um exame de sangue para provar que não era mesmo pai do menino.

Andrew se arrepia até a espinha.

— E de onde vinha esse menino?

— Esse menino foi sequestrado como retaliação de guerra. Ele é o irmão perdido de Caine Archiberz, primeiro rei de Frömming - Conrad sorri com candura. - Esse menino é você, Andrew.

Parece que um balde de água fria caiu em cima da sua cabeça. Um choque de realidade. Ele não era filho da sua mãe, muito menos do seu pai. Ele era um sequestrado, um perdido. O irmão de um rei.

— Já sua irmã... - Conrad continua, apesar do choque nos olhos do menino. - As brigas entre Chiara e Herbert eram constantes. Em uma dessas noites em que ele saiu para dormir fora, Frederick Whitmore foi até a casa de vocês para uma reunião e encontrou sua mãe sozinha. Triste. Ambos começaram a tomar vinho e, nove meses depois, sua irmã nasceu.

— Heather é filha de Frederick? - ele gagueja. - Mas Tyler... ela namorou Tyler.

— Seu pai não sabe até hoje a origem de sua irmã. Ninguém sabe. Ele jamais poderia saber. Chiara escondeu isso do mundo. Imagine o desespero quando Heather começou a namorar Tyler. Um dia, ela não aguentou mais e contou para Tyler. Ele contou para sua irmã e, em meio a discussão, ele bateu o carro. Depois do acidente em que Heather quase ficou em uma cadeira de rodas, ela nunca mais quis vê-lo. Ele aceitou de bom grado.

— Deus... minha família é louca - ele sussurra. - Como você sabe disso tudo?

Conrad sorri.

— A família de sua mãe sempre foi poderosa. Já eu, era um bastardo. Filho da dama de companhia da pequena Chiara com o pai dela.

— Você é meio-irmão da minha mãe.

Ele sorri.

— Graças a influência de sua mãe, consegui um bom casamento. Uma das amigas dela, Angeline.

— É por isso que você sabe de tudo.

Ele assente.

— É por isso que eu sei tudo.

+++

Melanie se aproxima de sua casa. Pula a pequena cerca. Ela entra pelos fundos com o intuito de surpreender o irmão. Ele, porém, dorme no pequeno quarto abafado. Ela, então, segue pra sala. Para no estreito corredor ao ouvir a voz de Jessica. 

— Veronica me procurou - a voz de sua mãe soa baixa, como se fosse um segredo. - Ela conheceu Melanie.

— A colocamos no PMI exatamente para isso, Valentina - Jessica murmura, olhando para os lados. - Não podemos recuar agora.

— Melanie foi para o PMI para salvar Derek.

— Derek só está doente para Melanie entrar no PMI - a madrinha continua, agora de forma mais agressiva. - Ou você se esqueceu do que Vincent fez?

— Derek já estava doente, Jessica. Vincent fez isso para punir Callum. 

— Callum sempre trabalhou pra ele, aquele traidor...

— Callum estava infiltrado para Veronica. Sempre esteve.

— Não pensei que vocês três ainda mantivessem contato - Jessica soa irônica.

— Assim como eu não pensei que você trabalhasse com Vincent no começo.

— Melanie? - a morena escuta a voz do irmão atrás de si. Ela se vira. Valentina e Jessica olham para ela. O irmão sorri e caminha devagar para abraçá-la.

Melanie, porém, está abalada demais para retribuir. Ela se vira para a mãe.

— Você sabia...

— Mellie... - a mãe se aproxima. A morena segura o pulso do irmão e o puxa para trás dela.

— Não! - ela continua a se afastar. - Você sabia!

— Você está aí há quanto tempo? - Jessica pergunta.

— O tempo suficiente - Melanie sussurra. - Latasha.

— O que está acontecendo? - Derek pergunta, tentando se desfazer do aperto de Melanie, mas a mais velha não deixa.

A morena se vira para o irmão, decidida a contar.

— Você lembra quando eu perdi meu identificador? - o irmão assente. - Ele não foi perdido. Foi extraviado por Jessica para que eu entrasse no PMI.

— E por que ela faria isso? - Derek sussurra.

— Porque ela trabalhava com Vincent e ele me achava boa com armas, por isso me queria lá dentro.

— Mellie... eu não entendo...

— Mas isso não foi o suficiente - ela continua. - Vincent achou que não era o suficiente.

— Melanie, por favor - Valentina pede. - Vamos resolver isso.

Ela segura o irmão pelos ombros.

— Você foi infectado com A Praga para que eu entrasse no PMI, porque perder o meu identificador não era motivo o suficiente. E elas - a morena aponta para a mãe e para a madrinha - elas sabiam.

— Eu rompi com Vincent assim que soube - Jessica conta. - E me senti culpada, por isso contei para sua mãe. Juntas, fizemos de tudo para você se recuperar, Dec.

Mas o irmão parece com tanta raiva quanto a mais velha.

— Eu não quero estar no meio dessas intrigas. A minha vida não é uma peça de xadrez. Eu não sou um peão - ele se afasta até mesmo de Melanie. - Eu estou cansado de vocês me manipularem.

— Derek! - Melanie o chama, mas ele já saiu as cambalhotas pelos fundos.

— Olha o que você fez - Valentina parece furiosa.

— O que eu fiz? Vocês o usaram em próprio benefício, brincaram com a vida do meu irmão!

— Nós não sabíamos - Jessica tenta se explicar. - Como você soube?

— Não importa. O que importa é que isso acaba aqui e agora - Melanie caminha até a porta dos fundos. - Derek vai embora comigo.

+++

— É um belo apartamento - Derek comenta ao entrar e Melanie sorri. 

— Tome um banho. Você vai amar o chuveiro.

O irmão sorri de volta para ela e se dirige para o corredor. Melanie, ao ouvir a porta se fechando, pega o holograma e contata Vincent.

— Estava na hora - ele reclama. - Estava pronto para visitar sua família.

— Vou ter que ficar no apartamento - ela conta. - Tirei meu irmão de casa e como ele ainda está debilitado ficarei com ele aqui.

— Só por hoje - ele concorda. - Amanhã quero os dois aqui em casa.

— Meu irmão não vai querer morar com você. Ele o odeia e sabe que só está doente por sua causa.

— Não me importa. Os dois aqui em casa amanhã.

E ele desfaz o holograma. Melanie suspira e joga o aparelho longe, mas ele se recusa a quebrar.

Precisava ir embora.

Enquanto a conversa de sua mãe e Jessica percorre sua mente, ela pega o pequeno aparelho do chão e decide fazer a ligação.

— Que surpresa mais agradável - a mulher sorri para ela.

— Veronica - Melanie a cumprimenta. - Preciso da sua ajuda.


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Notas finais do capítulo

E aí?



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