Abdication escrita por oakenshield


Capítulo 32
Capítulo 32


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora. Provas e tudo o mais. Anyway, estamos em reta final e é preciso juntar algumas pontas soltas. Espero que gostem do capítulo. É mais um capítulo de transição, afinal o próximo será, provavelmente, o melhor de todos, pois é o mais revelador. Vejo vocês lá embaixo. Boa leitura.



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Melanie segurou as mãos de sua mãe, que lacrimejava.

– Uma criança. Melanie, uma criança sempre é bem-vinda, mas agora...

– Eu não sei se é de Vincent - ela sussurra, envergonhada.

– Você não está pensando em tirar, não é mesmo?

– Não. Eu quero tê-la, por mais difícil que seja.

– Sua barriga vai crescer. Você precisa contar...

– Vincent sabe, mas se ele descobrir que pode não ser dele... Mãe, ele vai me matar.

– Então você precisa dar um jeito de sumir até ter esse bebê. Depois eu posso criá-lo até você arrumar sua vida.

Melanie concorda.

– Eu sou do Primeiro Exército agora. Posso fazer com que minha transferência seja inevitável... tenho amigos no TI. Eles farão isso por mim.

Valentina concorda com a cabeça, confiante.

– Vai dar tudo certo.

+++

Melanie sorri ao ver as pessoas batendo continência para ela. Mesmo ainda não sendo Comandante, ela era uma ídola ali, afinal a maior nota do PMI era sua. O teste para comando havia sido ontem e Melanie achava que tinha ido bem, porém o resultado sairia só semana que vem.

Ela caminhou até o elevador e desceu até o TI. Parou em frente a mesa do garoto de cabelos cor de trigo.

– Martin, posso confiar no seu silêncio?

Apesar de considerar o loiro um amigo, Melanie sabia que era necessário retribui-lo. Por isso, passou discretamente um maço com três mil notas para ele.

Martin sorriu.

– Minha boca é um túmulo.

+++

Melanie abre a porta, dando de cara com Vincent.

– Boa tarde - o homem de vestes negras entra em sua casa. Há uma sacola em suas mãos. - Peguei comida no caminho para nós.

Todo membro do Primeiro Exército ganhava um apartamento em um prédio chique no centro da cidade. Assim que foi anunciada sua alta nota, Melanie foi convidada para o Primeiro Exército, pulando todas as etapas necessárias. Ela aceitou. Vincent, para que os outros não achassem que ela estava sendo beneficiada por ele, liberou para que Melanie vivesse no apartamento, porém passa lá quase todos os dias.

Apesar de ter escolhido ficar com Josh, Melanie ainda gostava de Vincent. Algo dentro dela tremia ao vê-lo e isso era suficiente para causar duvidas dentro dela. De qualquer forma, não poderia causar bandeira. Precisava ser convincente de que Josh não era nada para ela e que Vincent era tudo.

Ela pega a sacola de comida e coloca em cima do balcão da cozinha americana, sorrindo para ele e o puxando pela gravata até a sala. Vincent a derruba no enorme e confortável sofá marrom e puxa sua cintura para cima, levantando seu vestido até o umbigo.

– Precisamos ter cuidado agora que tem alguém aqui dentro - ele deposita um beijo em sua barriga. Melanie ri com as cócegas e puxa Vincent para cima, tocando seus lábios.

– Não precisa se controlar.

+++

Os dedos de Vincent estão parados na barriga dela. Melanie se sente mal por dar esperanças a ele. Sabe que seu filho pode ou não pode ser de Vincent. Ama Josh, mas está tão confusa...

Balança a cabeça para chacoalhar esses pensamentos para longe e acaba acordando Vincent.

– Hum...

Ele quase nem parecia um dos homens mais importantes do país com aquele sorriso no rosto. Até parecia feliz. Sorrisos agora eram constantes nos lábios maliciosos de Vincent. As mãos que já mataram muitos corriam pelo corpo de Melanie todos os dias.

Quem é ela para julgar? Teve sua época assassina. Morria de medo de matar, se sentia culpada. Vincent tirou isso dela. A fez gostar de matar. Josh arrancou esse desejo do seu peito. Era incrível como ela tinha poder sobre aqueles homens, mas também era inacreditável que eles tivessem tanta influência sobre ela.

– Melanie?

– Sim.

– Obrigado.

Ela passa as mãos pelos cabelos negros e suados dele.

– Pelo quê?

– Por entrar na minha vida - ele senta no sofá. - Por fazer eu me sentir vivo novamente.

Ela sorri para ele. Vincent foi o primeiro homem que a respeitou e a valorizou. Isso foi tão importante para sua autoestima e para tantas outras coisas dentro dela. Ele a deu a oportunidade de ter muito mais do que imaginou. Ele entregou a ela o seu coração e pelo seu estar quebrado, ela aceitou de bom grado. Agora que estava com Josh, sentia como se, de certa forma, estivesse traindo Vincent e isso a machucava profundamente.

Mais tarde naquele mesmo dia, ela recebeu um holograma tanto quanto estranho. Falava sobre pesquisas antigas sobre A Praga, tinham laudos e receitas, o preço dos remédios, o número de mortes, os sintomas... vários arquivos sobre o assunto. Ela achou tudo aquilo muito estranho. Porém depois que seu irmão foi contaminado, ela realmente quis saber mais sobre o assunto. Quem mandou o holograma não se identificou.

– Vince - ela chama. - Você sabe algo a mais sobre A Praga que ninguém sabe?

Foi uma pergunta idiota. É claro que ele sabia e é óbvio que não a contaria.

– Esquece - ela fala logo em seguida.

– Bom, eu sei o que todo mundo sabe. As pesquisas estão avançando. Logo encontraremos uma cura definitiva.

– De onde surgiu essa doença?

Ele demora para responder.

– Bom... durante a Terceira Guerra Mundial. São apenas boatos, mas dizem que os estrangeiros a trouxeram para Manske.

– Como as pessoas são contaminadas?

Ele demora mais ainda. Está fitando o nada, mas não como se estivesse perdido, mas sim concentrado.

– Vince.

Ele não responde.

– Vincent - sua voz sai quase suplicante.

– Eu não sei, Melanie! - sua voz se altera. - Por que você tem que fazer perguntas sobre isso?

– Meu irmão quase morreu por causa dessa maldita infecção. É normal que eu queira saber mais sobre. Se for genético...

– Não é genético.

Ele tinha dito que não sabia segundos atrás...

– Como você sabe?

– Eu simplesmente sei. Não me faz perguntas, você vai me complicar.

Ela entendia. Tinha coisas que ele não podia contar. Mas não aceitava. Precisava saber mais. Tinha um bebê dentro dela. Se fosse algo hereditário, ela queria saber. Seu irmão quase morreu. Ela precisava saber.

E iria descobrir.

+++

Melanie caminha até o mural de aprovação. Ela havia passado! Deus... era inimaginável. Poderia ser bem mais do que era. Uma Comandante. A primeira mulher.

As pessoas a parabenizam. Além dela, nenhuma outra mulher foi aprovada. Ela sorri em agradecimento e se dirige até o banheiro para chorar de alivio. A porta, porém, é aberta. Tyler entra.

– Isso aqui é o banheiro feminino.

– Estamos com problemas.

– Que tipo de problemas?

– Os rebeldes estão quebrando o Laboratório Avançado. Parece que sua carreira como Comandante começa agora.

+++

Melanie olha para seus soldados e sorri ao constatar isso. Seus soldados. Ela os comandava agora. Ouviu instruções do General no pequeno ponto em seu ouvido e concordou com a cabeça.

– Tiros somente se forem extremamente necessários - ela fala. - Queremos contê-los, não matá-los. Precisamos deles vivos e ilesos para conseguirmos informações. Caso contrário, todos saímos perdendo.

Ela faz a equipe se separar por andares para cobrirem mais território em menos tempo. Precisavam ser rápidos. O Centro de Pesquisas estava isolado desde que a Praga havia se alastrado novamente por Meurer e até os militares precisavam de autorização especial e exames para entrarem. Os rebeldes, revoltados com a exclusividade da elite, decidiram invadir o centro.

Melanie observa os frascos quebrados aos seus pés. Líquidos de cores variadas, ampolas, seringas... tudo estava espalhado e escorregadio. Ao ver uma cientista conversando com um dos seus soldados, ela pediu para a moça se aproximar.

– Me conte mais sobre o ataque.

– Eles entraram quebrando tudo - ela conta com uma voz sussurrada. - Anos de pesquisa, milhões de notas, tanto esforço indo para o ralo.

– Sinto muito - Melanie fala ao ver a tristeza nos olhos dela. Aquela pesquisa deveria ser a sua vida. - De qualquer forma, alguém foi machucado?

Enquanto a mulher fala, a morena observa ao redor. Há algo estranho no ar, pesando-o. Ela sente dificuldade para respirar e sente uma leve tontura. Decide focar em algo para não cair. A blusa da cientista está rasgada e onde deveria estar a manga, está sendo mostrada sua tatuagem de lobo. Ele é negro e tem olhos cautelosos e profundos.

Os poucos cientistas no local parecem inquietos. No começo, Melanie achava que era tristeza, mas agora parecia muito mais do que isso.

A tatuagem. Ela focou na tatuagem quando mais uma tontura lhe atingiu.

–...e eles não levaram reféns. Apesar machucaram as pessoas, como eu disse, mas nada muito grave. Não havia nenhum soldado aqui para revidar mesmo. Em horário de almoço, quem imaginaria?

Nenhum soldado no Centro de Pesquisas mais importante de Meurer? Algo parece errado. E os rebeldes... como eles saberiam que na hora do almoço não haveria ninguém? Sim. Esse cheiro... algo está estranho.

– Alguém mais está sentindo cheiro de gás? - um dos soldados questiona. Melanie assente.

E então ao se virar e focar seus olhos na tatuagem novamente é que ela percebe. Os rebeldes tinham gente ali dentro. Como eles teriam tantas informações?

Melanie pensava que rebeldes eram pobres como ela um dia foi, sem instrução alguma. Se eles estavam infiltrados ali no meio de cientistas recatados, dedicados a vida toda ao trabalho...

Um estalo atinge sua cabeça.

– Bonita tatuagem - ela joga verde.

A mulher sorri com timidez e tenta cobri-la, mas não há manga. E é esse ato dela que faz as suspeitas de Melanie se confirmarem: a mulher era uma rebelde.

Os cientistas sempre foram tão discretos, um deles jamais faria uma tatuagem, não como aquela.

E aquele cheiro de gás...

Melanie olha para trás e vê os outros cientistas avançando. São cinco homens e mais duas mulheres, contando aquela com quem ela está conversando. Ela possui três soldados naquele andar e mais ela. Pelo ponto poderia pedir reforços.

– Reagrupar.

Sua voz é um sussurro, mas é suficiente para seus soldados virem até ela. Os falsos cientistas fecham o caminho.

– O que vocês fizeram com os verdadeiros pesquisadores? - Melanie pergunta com calma por fora, porém ela treme por dentro.

A mulher sorri.

– Eles devem estar queimando nesse momento.

Melanie age por impulso. Quando percebe, sua faca já está em punho e sua mão já atingiu o rosto da mulher. Sua faca desliza apenas uma vez pelo pescoço dela.

– E você queimará junto - a Comandante sussurra no ouvido da rebelde antes de jogar seu corpo ensanguentado no piso branco.

É o estopim. Eles atacam. Melanie e seus soldados revidam.

– Precisamos de reforços - ela fala no ponto enquanto sua faca rasga o antebraço da segunda mulher. - Olá? Comandante H para Team M - ela chama. - Comandante Whitmore? Comandante H exige contato com Team T.

Ninguém responde. Ela ouve uma pancada e seu ponto zombe por um breve segundo. Tudo parece silencioso ao seu redor, mesmo tendo homens se matando e sangue escorrendo por seus braços, fazendo o ponto quase cair de sua orelha.

– Fiquei sabendo que você estava me procurando - uma voz familiar parece ecoar no ar, mas Melanie sabe que é apenas ela que pode ouvir. - Você jamais me encontraria, então vim até você.

– Veronica Herzog.

Melanie quase pode vera mulher sorrir do outro lado.

– Venha até mim, Melanie Hemingski. Seu destino está traçado e chegou a hora de você descobrir toda a verdade.

+++

Tyler acordou tossindo. Havia sentido um cheiro horrível de gás e foi tentar descobrir o que era, quando acabou levando uma pancada na cabeça. Ao levantar, percebeu que seus soldados haviam sido atacados também.

– Onde estão os outros?

– Os rebeldes fugiram, Comandante. Não prevemos que eles tinham tamanha tecnologia.

– Eles nos fizeram desmaiar com gás. Isso não é nenhuma inovação. Nós os subestimamos e por achar nosso inimigo uma presa fácil, nós fomos derrotados.

Tyler olha ao redor.

– Onde está o Team M?

– Foram derrotados no salão principal.

– E a Comandante Hemingski já voltou para o campo?

– A Comandante Hemingski está desaparecida, senhor.

+++

Melanie olha ao redor. A tecnologia dos rebeldes é realmente bem mais avançada do que ela imaginou.

Quando saiu do Centro de Pesquisas de Meurer, havia um jipe a esperando. Veronica Herzog realmente sabia que sua curiosidade não a deixaria em paz.

Melanie contou o tempo de viagem, mas acabou desistindo. O jipe foi passando por várias paisagens. As árvores deram lugar a um cenário mais rasteiro até que ficou seco. Estavam em um terreno enorme e vazio, fora dos limites de Meurer.

O motorista desceu e em meio as gramíneas puxou uma corda, mostrando um buraco médio e escuro.

– Mas...

– É subterrâneo - é tudo o que ele fala. - Você vai primeiro?

– Não mesmo.

O homem suspira e quando ela pensa que ele vai se jogar na escuridão, ele fica de joelhos e se apoia em algo. Uma escada. Alguns segundos depois, ela ouve a voz dele ecoar:

– Pode vir.

Melanie desce com cuidado. Quando sente o chão em seus pés, suspira de alívio. Ela corre para alcançar o homem, que não a espera. Ele caminha por um corredor escuro e silencioso, até que para. Melanie percebe que há um elevador e arfa de surpresa. Aquilo parecia tão irreal nos tempos de hoje! Abrigos subterrâneos, elevadores debaixo da terra...

O homem aperta o número cinco. Em vez de subir, o elevador desce. Quando para, as portas não se abrem. Onde estava o número cinco na parede deu lugar a uma espécie de visor.

– Identificação - uma voz feminina e robótica fala.

– Damien Hansen.

Antes estivera nervosa, mas agora estava mais calma e a luz era melhor ali. Conseguia ver claramente como o tal Damien Hansen era bonito. Sim, Melanie via. Cabelos castanhos escuros, olhos verdes misteriosos, músculos fortes contra a camisa social. Lembrava muito Josh. Porém algo em seu rosto era mais familiar ainda.

– Identificação completa, por favor.

Ele respira fundo.

– Damien Hansen Aguirré.

Aguirré. Não pode ser.

– Identificação de digitais.

O visor que antes estava negro agora tem a marca de cinco dedos. Damien posiciona os seus no painel. Depois de escanear, a mulher-robô fala:

– Código.

– Mesmo que a morte chegue, eu defenderei a honra do meu povo. Se tiver que morrer tentando, o véu cobrirá o meu corpo ensanguentado e eu partirei em paz.

Eram belas palavras. Aquelas pessoas realmente defendiam a causa rebelde de corpo e alma. Eles estava prontos para dar sua vida por aquilo que acreditava. Melanie foi assim uma época. Sempre quis ser Comandante. Quando teve que ir para às ruas e a realidade chocou-se contra ela, percebeu como o governo era podre. Então viu a oportunidade de realizar um sonho antigo e tudo aquilo em que ela acreditava voltou como uma onda forte. Ela estava pronta para morrer pelo seu país.

Quando as portas se abriram, a boca de Melanie abriu em um O de surpresa. Seu queixo caiu. Era além de impressionante, era belo. Magnífico. Tudo tão moderno!

Há um balcão onde há uma mulher-robô informando as pessoas dos horários, deveres e um homem-robô tira dúvidas, dá informações de localização, hora e etc. Há vários sofás brancos espalhados e pessoas estão sentadas mexendo em telas de vidro médias e pequenas, lendo livros ou revistas, conversando e rindo. Há várias televisões espalhadas dando informações de vários países, não só do continente Manske.

Ela viu pessoas passeando de jalecos, alguns de luvas sujas de alguma experiência que não foi bem sucedida, outros impecáveis, provavelmente médicos. Ela viu pessoas de terno caminhando para lá e para cá. Viu idosos, crianças, adultos e adolescentes. Viu também mulheres grávidas e olhando para cima, viu que o teto não era branco como na maioria dos lugares, mas sim era pintado da cor azul do céu e com nuvens desenhadas e até alguns raios de sol aparecem meio escondidos. Parece tudo tão real.

– Bem-vinda, Melanie Hemingski - a voz familiar de Veronica Herzog a chama. - Estava a esperando.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo vai ser extremamente revelador! Espero que tenham gostado. XOXO.



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