Abdication escrita por oakenshield


Capítulo 30
Capítulo 30


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora.



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Melanie coloca uma calça montaria preta e o casaco de estampa militar por cima de uma blusa preta de mangas compridas. Graças a Deus e a Vincent, as roupas militares femininas não eram mais como antigamente: calças largas, vestidos no joelho...

Colocou um amarrador no pulso, guardando-o para amarrar o cabelo mais tarde. Desceu as escadas da mansão, dando de casa com uma Hillary também pronta.

– Então, Comandante - a Fieldmann sorri para ela. - Bom dia.

– Ainda não estou lá - Melanie também sorri -, mas um dia vou chegar.

– Bom, eu consegui uma posição média no Primeiro Exército - Hillary conta, enquanto as duas seguem para a cozinha. - Pedi ao meu pai para que fosse tratada como qualquer outra pessoa. Ele é muito profissional.

Melanie concorda, enquanto pega um pedaço de torta de limão na geladeira.

– Não tenha tanta certeza disso - a voz de Kimberly invadiu os ouvidos das duas. - Se ele colocou essa aí no Exército, com certeza não é tão profissional quanto todos pensam.

– Eu entrei por mérito - Melanie fala, sem olhar para a esposa de Vincent.

Hillary se levanta da mesa como quem diz essa é a minha deixa e beija o rosto da mãe.

– Fique calma - sussurra.

– Eu estou.

Depois que Hillary sai de lá, Melanie também se levanta, indo para a sala de estar. Kimberly segue em seu encalço.

– Não vai durar, sabe. Vincent sempre traz vagabundas para dentro de casa. O maior tempo que duraram aqui foi três meses e pelas minhas contas, você já chegou nessa marca. Logo será descartada.

– Talvez se você satisfizesse seu marido, ele não precisaria trazer outras mulheres para cá - Melanie dá de ombros. - Não é culpa de nenhuma delas se você não tem capacidade para isso.

– Meu marido. Você está certa. Ele é meu. Ele pode trazer quantas prostitutas ele quiser para cá, ele ainda será meu marido e você nunca ocupará a minha posição, ao lado dele no quarto real.

Melanie ri.

– E eu nem quero isso. Pelo amor de Deus. Não quero ser dessa realeza maldita que vocês tanto se vangloriam, mas que só traz problemas.

Então ela se vira para encarar Kimberly. Ela usa um vestido rosa tubinho um pouco acima dos joelhos, os longos cabelos loiros presos em um coque perfeito, a maquiagem bem feita, destacando os olhos azuis. Apesar de já ter seus quarenta e poucos, ela está inteira e a morena não entende porque Vincent tem amantes se a mulher dele é tão bonita.

– Não importa o seu maldito quarto - a morena rosna para ela. - É no meu que ele dorme todas as noites.

+++

Depois do árduo circuito, Melanie foi para o vestiário. Estava toda suja por ter se esfregado na terra para que seu corpo não tocasse os fios eletrocutados do circuito. Assim que sentiu a água gelada contra o seu corpo, suspirou, fechando os olhos. Ouviu um barulho na porta e quando os abriu, viu Josh vindo para cima dela, selando seus lábios.

Ela enrolou os braços ao redor do pescoço dele e o puxou mais para si. Ele a pressionou contra a parede gelada, sua perna entre as dela. Josh desligou o chuveiro e Melanie sentiu ondas frias em sua coluna.

– Alguém pode nos ouvir - ele murmura, buscando fôlego.

– Foda-se - ela rosna, subindo no colo dele. - Eu não me importo com os outros.

Josh a aperta tanto que Melanie não consegue mais controlar os gemidos. Seus lábios quentes contra o pescoço dela, enquanto sussurram seu nome de forma quente, mordiscando a sua orelha...

Eles ouvem a porta ser aberta e duas mulheres conversando. Uma das vozes é Hillary e a outra Melanie reconhece como sendo a de Savannah.

– Mas ela está morando na sua casa - a garota de cabelos lilás insistiu. - Como você consegue conviver com isso?

– Melanie é legal. Meu pai me pediu para ser compreensiva. Eu estou sendo.

– Você não deveria estar do lado da sua mãe?

– Eu sempre estou. Porém é preciso saber a hora de recuar e a hora de agir. Se eu quero ter a minha vingança contra o meu pai, é preciso ter calma.

– Não sei como você consegue conviver com ele depois de tudo que ele te fez. Certamente eu teria surtado.

– E eu surtei, por um tempo. Você lembra, não é? Passei seis meses na clínica. Foi horrível. Além de ter feito tudo aquilo contra mim, ele ainda me internou. Não o perdoarei nunca por isso.

Melanie encara Josh, como se perguntasse se ele sabia de algo. Ele negou.

– Matt também o odeia e ele descobriu um grupo de selvagens que pode nos ajudar.

Matt. Matthew. Selvagens.

– Ajudar como?

– A derrubá-lo. Depois de caído, ele irá implorar pela morte.

A porta é batida e as vozes se calam. Elas foram embora.

– Matt me convidou para me juntar a esses selvagens - ela conta. - Eles são rebeldes. Baderneiros. Irão destruir Meurer se nós deixarmos ele agir.

– Precisamos descobrir o que aconteceu de tão sério para que Hillary odiasse tanto o pai que ela costumava a idolatrar.

– Eu consigo - ela afirma.

– E como você pretende fazer isso?

– Com sexo, é claro. É como eu consigo tudo o que eu quero.

– Mellie...

– Nós já conversamos sobre isso, Josh. Ao salvar a vida do meu irmão, Vincent me comprou. Eu sou propriedade dele. Como meu dono, ele tem direito de fazer o que quiser.

– Eu pago a sua dívida. Pago pelo remédio. Pago juros. Pago o que for preciso para você se livrar dele.

Melanie se afasta.

– Eu não quero me livrar dele.

– Como é que é? - ele se irrita. - Melanie, você está gostando daquele cara?

Ela dá de ombros, não sabendo o que responder. Afinal, o que Josh tinha a ver com a sua vida?

– E o que é que tem se eu estivesse? Isso não é da sua conta.

– Então você gosta.

– Nós já conversamos, Josh. Não importa que você tenha rompido o seu noivado. Quem está presa agora sou eu.

Ele se aproxima.

– Eu posso te libertar.

Ela se afasta até sentir a parede gelada contra suas costas.

– Você não quer, não é mesmo? - ele questiona. - Você está caída por ele...

Melanie não fala nada. Não há o que falar.

– Me diga a verdade, Melanie. Pelo menos dessa vez. Toda ela.

Ela se irrita. Pelo menos dessa vez? Ele fala como se ela mentisse para ele.

– Tudo bem - ela se enfurece, soltando tudo. - Eu não quero ter nada sério com você porque sei que Amber fará de tudo para nos separar. Ela não vai desistir, ela me disse isso. E eu não quero ficar com você alguns meses para depois ser jogada fora, como você fez tantas vezes comigo. Eu cansei de ser otária, de correr atrás de você. Eu te amo, Josh. Mas eu me amo muito mais.

O seu tom de voz está muito alterado, mas ela não liga. As lágrimas queimam em seus olhos, mas ela tampouco se importa. Sabe que não as deixará cair, não na frente dele, e as engole.

– Vincent me trata bem. Ele enfrenta a esposa e o norte todo por mim! A esposa com quem ele está casado há mais de vinte anos, o estado que ele herdou do pai. Ele me valoriza, ele me idolatra. Eu gosto de me sentir assim: importante. Eu gosto de ser adorada. Eu quero ser tratada assim. Não me importa se eu nunca terei um futuro com ele ou com quem quer que seja. Eu só consigo pensar no agora e no momento, é com Vincent que eu irei ficar. Não importa se eu te amo, Josh. Não importa se você diz que sente o mesmo. Só iremos ficar juntos quando você aprender a enfrentar todos pelo nosso amor e, principalmente, a me valorizar.

Ela abre a porta do box e sai, o deixando lá, sozinho. Ela enrola a toalha ao redor do corpo e quando vê, ele está atrás dela.

– Você não respondeu a minha pergunta.

Ela coloca as roupas em silêncio. Josh, irritado, a segura pelos ombros, machucando seus ossos. A atitude e o ódio nos olhos dele a deixam receosa.

– Me fala!

– Sim, eu gosto dele! Satisfeito? - ela grita. - Não faça essa cara - ela fala, mesmo que a decepção em seus olhos a fira no meio do peito -, foi você quem pediu pela verdade.

+++

Melanie coloca o roupão por cima depois de se secar. Esqueceu as roupas no quarto, como sempre. O banho de banheira foi necessário para relaxá-la. Todo aquele luxo estava deixando-a mimada.

Quando abre a porta do banheiro, que é ligado ao seu quarto, dá de cara com Vincent deitado na sua cama, rindo do que passava na televisão. Ele não a viu e tampouco a ouviu, porque não se virou, como sempre costumava fazer quando ela chegava. A morena ficou com o ombro apoiado no batente da porta, como ele costumava fazer para observá-la, e fez o que ele fazia: ficou olhando.

Depois percebeu que ele ria de uma série de política. Ela, particularmente, não achava graça naquelas piadas sarcásticas, mas para ter feito Vincent sorrir, deveria ter sido bem engraçado. E vê-lo sorrir daquela forma, tão espontâneo, pensando que está sozinho, é bom. No começo, ela nunca pensou que aquele homem fosse capaz de sorrir.

Quando sai dos seus devaneios, ela percebe que ele está a encarando, sério.

– Há quanto tempo está parada aí?

– Não sei - ela dá de ombros, se jogando na cama ao lado dele. - Por quê? Não posso vê-lo sorrir?

– Se quisesse me ver sorrindo, era só ter aparecido antes.

É a vez de Melanie sorrir. Vincent fica por cima dela e toca seus lábios com calma, jogando o controle da TV para fora da cama. Ela pousa as mãos nos botões da camisa social dele e a desabotoa com calma, a tira com leveza, passando as mãos pelos músculos dele.

Melanie sente o clima esquentar conforme Vincent distribui beijos pelo seu pescoço e pelo seu colo, puxando tanto o roupão que o fez abrir, deixando seus seios expostos. Ele sorriu para ela.

Ele volta a beijá-la e ela sente que ele quer tanto quanto ela. Melanie troca de posição, ficando por cima.

– Mas o que...

As mãos dela tocam o volume no meio da calça dele.

– Me deixe te ajudar com isso.

+++

Vincent brincava com uma única mecha ondulada do cabelo castanho dela. Melanie não fez questão de puxar o lençol por cima do seu corpo, como costumava fazer nos últimos três meses em que estava dormindo com ele. Depois de admitir para Josh que tinha sentimentos por Vincent, mais ainda: admitir para si mesma, ela sentia que não precisava mais se esconder, se reprimir. Ele a entendia, a ajudava e a valorizava. Era tudo o que ela queria de um homem: que ele fizesse de tudo, que enfrentasse a todos, se fosse preciso, para ficar com ela.

No final das contas, tudo o que Melanie queria era um amor impossível, que movesse montanhas para torná-lo possível.

– Eu gosto de ter você aqui - a voz séria de Vincent a tira dos seus devaneios. - Gosto de estar aqui. O dia me estressa, as pessoas me estressam, mas você... você me relaxa.

Ela estica levemente o pescoço para beijá-lo.

– Por que eu? - ela pergunta, com a cabeça pousada no peito dele. - Quero dizer, mulheres matariam para estar no meu lugar. Fui teimosa no começo, eu sei que você lembra. A questão é que... - ela suspira. - Você podia ter tido tantas outras, mas...

– Mas eu não queria outras - ele sussurrou. - Eu queria você.

Ela sorri, mesmo que ele não possa ver.

– Eu não entendo - insiste. - Há tantas outras mais bonitas do que eu, com um corpo melhor, mulheres que se esforçariam bem mais e...

A morena sente ele a puxar devagar para cima. Ela percebe que ele a sentou, deixando-a na mesma posição que ele. Os dedos de Vincent seguram o seu rosto, seu polegar macio passeia livremente pela sua bochecha, a fazendo olhar para sua imensidão negra.

– Beleza, corpo... tudo isso vai embora. Quer saber mesmo? Foi justamente o seu não-esforço que me atraiu. Estive acostumado a vida inteira a ter tudo de mão beijada. Dinheiro, propriedades, mulheres, o domínio do norte... quando você me negou, eu vi um desafio. Vi que finalmente tinha a oportunidade de conquistar algo por mim próprio. Algo do qual eu poderia me orgulhar - ele olha para ela, que o observa, vidrada. - Eu pareço um adolescente babaca, não é mesmo? - ele sorri de lado. - Eu me odeio.

– Não - ela balança a cabeça, um sorriso se formando no rosto. - Foi perfeito.

Vincent a puxou para si.

– Para mim, o seu rosto e o seu corpo são perfeitos. Eu não preciso de mais nada. Você é perfeita.

Ela não sabia quando tinha sorriso tanto, mas naquele momento, não conseguia se fechar. Queria sorrir para estranhos na rua, para todos os corredores, mostrar o quanto estava feliz.

– Eu encontrei Josh hoje - ela conta. O sorriso no rosto de Vincent se esvai. - Ele veio falar comigo.

Ele se mexe na cama, desconfortável.

– E?

– E ele me perguntou se eu tinha sentimentos por você.

Ela o espia de canto de olho para que ele não perceba. Ela o vê reprimindo um sorriso. Em tão pouco tempo, passou a conhecê-lo e interpretá-lo tão bem.

– E? - ele repete.

– E eu neguei.

– Hum.

Ele parece desapontado.

– Mas...

Ele vira o rosto de forma rápida para encará-la. Não tem como ignorar o olhar queimante dele em si.

– Mas?

– Mas não adiantava dizer para ele que não, quando dentro de mim eu falava que sim.

– Sim? - ele pergunta, um sorriso se formando no rosto.

– Sim - ela concorda. - Não sei ainda o que é, mas eu gosto de você - ela admite. - Sei que pode parecer cedo e que talvez você ria de mim por ser tão ridícula, mas eu achei que deveria ser sincera. Achei que você merecia isso de mim.

Ele toca o rosto dela com as costas da mão.

– Eu nunca senti nada por ninguém, então me perdoe se não sou o tipo de cara que se declara - ele murmura -, mas se algum dia eu sentir algo por alguém, com certeza será por você.

Vincent mentia. Ele sabia disso. Estava completa e irrevogavelmente apaixonado por aquela mulher. Faria tudo por ela. Mataria por ela. Viveria por ela. Porém era tosco demais para admitir aquilo em voz alta. Nunca diria aquelas palavras, sabia disso. Porém manteria aquela mulher ao seu lado, nem que isso custasse a sua vida.

+++

– E então? - Melanie pergunta, nervosa. - Qual foi o resultado?

– Positivo - Beatrice fala, lendo no exame. - Cem dias. A médica confirmou - ela olha para a morena. - Você sabe como foi difícil convencê-la de que você era Beatrice Beckering? Se Martin não tivesse me ajudado a falsificar os papéis, teria tudo ido por água abaixo e descobririam que você espera o filho do Senhor de Meurer.

– Bea... esse é o problema: eu não sei se é de Vincent.

– Como é que é? - a loira questiona. - Mas você está morando com ele há dez meses! Só pode ser dele.

A morena balança a cabeça.

– Desde o PMI, tenho me encontrado com Josh.

– Melanie...

– Ah, Bea. Eu gosto muito de Vincent. Sério. Gosto de verdade. Mas Josh... Josh foi meu primeiro amor. Sempre que ele se aproxima, eu digo que vou me afastar, mas não consigo. Ele me puxa, me atrai para si. Eu o amo, não importa o que eu sinta por qualquer outro homem, eu sempre vou amá-lo.

– Mas você tinha me dito que não ficaria mais com ele, que ele não sabia valorizá-la.

– Por isso não assumimos nada. Ele e Amber estão separados, mas eu não vou jogar tudo para o alto, só para correr o risco de ser deixada para trás. Eu prometi a mim mesma que eu apenas o usaria para o sexo, como ele fez tantas vezes comigo.

– Você acha que ele só quer dormir com você? - a loira pergunta. - Olha, Melanie, sinceramente, você sabe que eu só torço para você ser feliz, independente de com quem seja, mas eu acho que se Josh não gostasse de você, ele não romperia com Amber. Ele enfrentou o pai dele, de certa forma. Enfrentou Amber e os Whitmore. Por você. Ele acabou com tudo. Você sabe o que acontece quando noivados acordados pelos pais são rompidos? Os noivos podem ser deserdados. Josh correu o risco de perder tudo por você.

Melanie sente os olhos brilharem de lágrimas naquele momento. Nunca, em dez meses, havia pensado naquilo. Josh realmente merecia uma chance. Mas agora ela se sentia tão envolvida por Vincent.

– Eu amo Josh - ela volta a falar. - Sempre amarei. Só que não estou apaixonada por ele - ela olha para a loira. - Dá para entender?

Beatrice balança a cabeça afirmativamente.

– Você gosta de Vincent. Está atraída por ele. Mas mesmo que goste demais dele, o único que você ama é Josh.

Melanie concorda e suspira.

– Mas eu não posso pensar só em mim agora. Tenho um bebê aqui - ela passa a mão no ventre - e o assunto mais urgente agora não é quem eu amo mais, mas sim descobrir quem é o pai dessa criança.


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Notas finais do capítulo

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