Abdication escrita por oakenshield


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. Comentários, favorites, marcações como acompanhamento, críticas, dicas, elogios... Tudo é muito bem-vindo.



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Melanie olha para a droga nas suas mãos. Ela não sabia o nome, mas havia a comprado porque havia gostado do cheiro. É a mesma da semana passada.

Ela a inala rapidamente e sente os seus pulmões se encherem de ar. Quando abre os olhos do seu transe, ela vê alguns pontos vermelhos e azuis e amarelos e verdes e roxos e de várias cores que ela não reconhece.

De repente, Melanie sente vontade rir. Ela abre a boca e solta um riso alto, sem medo de que alguém pudesse escutá-la. Assim como a vontade de rir chegou de repente, a vontade de chorar veio como um trator e demoliu toda a alegria pela frente. Melanie sentia como se um terremoto tivesse levado toda a felicidade da sua vida. Não havia mais cor, risos, amores e amizades. Não havia mais família e nem o sangue rápido correndo pelas suas veias. Tudo o que havia era ela: nada além de um monte de ossos e carne e tecidos e sangue. Nada além de um espectro pairando nos becos.

Cansada disso tudo, ela se levanta meio cambaleante. A sua visão está embaçada e a sua casa é longe, mas ela caminha até lá com calma e com a visão embaçada. Ela havia bebido mais cedo. Quinze preciosas notas por um copo de vodka.

Melanie sente como se o seu mundo estivesse prestes a desabar a qualquer momento. Ela havia encontrado um lápis de olho ontem a tarde perto do lixo e o usara. Ela chorara o resto do dia depois da vodka e não fizera questão alguma de retirar os borrões. Ela se sentia um panda humano.

Quando chega no seu setor ela se surpreende um pouco com a familiaridade com que ela segue pelas ruas. Ela aprendeu a andar por aqueles labirintos ainda pequena. Casas pequenas e de um andar, todas acinzentadas ou com cores que algum dia costumavam a ser alegres e que hoje não são nada além de uma lembrança melancólica do que um dia foi um lar. O frio gela os seus ossos até a alma e ela se encolhe. Havia deixado o seu cobertor no beco. A essa hora ele está, com certeza, com outra pessoa.

Melanie encontra a sua casa sem muitas dificuldades, pois é uma das únicas do setor feita de tijolos. Ela pula a cerca branca de madeira e abre a porta da mesma cor sem muitas dificuldades. Sua mãe nunca tranca a porta.

A garota de cabelos castanhos escuros, lisos e compridos ouve o barulho no chuveiro e sente o cheiro de comida, provavelmente bacalhau, na cozinha. Ela ouve uma tosse vinda de um dos quartos e decide seguir o barulho. Ela para diante da porta aberta do quarto de Derek.

Derek tem dezesseis anos. Logo que ela nasceu, sua mãe engravidou e um menino nasceu oito meses depois, ainda prematuro. Derek nunca teve a saúde muito forte, mas parece que dessa vez isso havia o pegado de jeito. Ela nunca o vira assim.

– Mellie?

– Estou aqui, Dek.

Ela se aproxima dele, mas tem que dar a volta na cama porque há uma poça de sangue do lado esquerdo. Embaixo de Derek há uma toalha envolta em seu pescoço e ele está com muitas, muitas cobertas. Ela não se lembrava de ter visto tantas cobertas juntas nos últimos anos. Onde sua mãe havia conseguido dinheiro para comprar tantas?

– Eu estou delirando de novo?

– Você costuma delirar?

Ele faz que sim com a cabeça e fecha os olhos, abrindo-os novamente, na esperança de que fosse um sonho. Não é.

Melanie pega a mão do irmão, mas ele a retira rapidamente.

– Você não pode.

– O que está acontecendo?

– Eu estou doente, Mellie. Muito doente.

– O que você tem?

Ela ouve passos e antes que possa se esconder, a porta é aberta. Sua mãe está lá, com um vestido florido na altura dos joelhos, cabelos escuros presos em um coque murcho, olhos pretos fundos e com olheiras. Ela parece alguns anos mais velha.

– Melanie.

A garota mais velha sorri de canto para Valentina.

– Mãe.

– Venha - ela chama a menina. - Vamos conversar. Seu irmão tem que descansar.

Melanie beija a testa de Derek.

– Eu voltarei para vê-lo, tudo bem?

– Eu vou esperar.

Valentina fecha a porta atrás de si assim que a filha passa.

– O que você está fazendo aqui?

Melanie se joga no sofá e se cobre até o pescoço com uma coberta azul que está ali.

– Vim ver vocês.

– Depois de todo esse tempo? Eu fiquei maluca te procurando...

– Eu perdi o meu identificador, mãe. Era noite de batida. Eles me levariam e eu não podia suportar ser presa.

– Agora você é livre, não é mesmo? Livre para viver, como você sempre quis.

Melanie se senta, largando a coberta.

– Eu nunca quis viver assim.

– Como você tem se sustentado?

A morena baixa a cabeça.

– Você não gostaria de saber.

Valentina suspira de desgosto.

– Realmente não quero saber. Eu consigo imaginar as barbaridades que você tem feito.

– Alguns dias eu consigo ganhar dinheiro pedindo nas ruas. Outros dias eu tenho que roubar - ela respira fundo. - Há dias piores, principalmente no inverno onde tenho que comprar mais comida, cobertores e coisas do tipo.

– Melanie, você não precisa passar por isso. Nós temos o nosso porão. Você poderia ficar aqui...

– Se eles me pegassem eu seria presa e provavelmente você também. Com quem Derek ficaria? Pelo que eu vejo ele está doente e seria jogado nas ruas e passaria pelo que eu estou passando. Eu não quero isso para ele, mãe. Eu nunca quis para mim e eu realmente não quero para ele - ela dá de ombros. - A prostituição é um preço pequeno a se pagar.

– Pelo amor de Deus, Melanie, não diga essas bobagens.

Valentina fica de pé, passando a mão pela testa. Ela se sentia tão infeliz por não poder fazer nada...

– O que Derek tem?

Ela volta a olhar para a filha.

– Você já ouviu falar da Infecção de Carrick?

– A Praga?

– Sim.

– Sim, já ouvi.

– Seu irmão está com ela.

– Mas... como? Ela não havia sido exterminada há meses? Pensei que estávamos livres dela... Como que ele foi contaminado?

– Não sei. Um dia ele desmaiou e quando acordou teve febre, vômito, diarreia e começou a delirar. Ele pergunta por você o tempo todo e fala enquanto sonho, se revira na cama e acorda gritando...

– Desde quando ele está assim?

– Duas semanas - a mãe murmura. - Os soldados de Vincent vieram na semana passada fazer batida no nosso setor. Eles chamaram alguns médicos e foi confirmado que seu irmão está com A Praga.

Não havia nome para aquilo. O povo chamava de A Praga, já os mais cultos chamavam de Infecção de Carrick porque um cientista chamado Carrick Hillbrand descobriu um antídoto que encuba o vírus alojado. Não há cura, todos sabem disso apesar de chamarem o remédio que encuba o vírus de cura, e ela parece cada dia mais distante, ainda mais para os pobres. O preço do antídoto é exorbitante. Nem que ela juntasse todo o dinheiro que ela ganhava se prostituindo, roubando e o que ela ganha nas ruas durante dois anos ela não poderia pagar. Apenas pessoas com títulos de nobreza e militares tem condições de pagar por ele.

– O que nós vamos fazer? - ela pergunta.

– Não sei - a mãe admite. - Mas o seu irmão está a cada dia pior. Os médicos dizem que ele tem no máximo cinco meses de vida.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do primeiro capítulo. Continuem a ler. Quem quiser ler a minha fic chamada Unapologetic aqui está o link http://fanfiction.com.br/historia/496592/Unapologetic/