Acordei com as cortinas sendo abertas de forma brusca.Era minha mãe.O vento frio invadiu o quarto,vindo diretamente em meu corpo descoberto.

–Mãe,o que cê tá fazendo ? - perguntei,enquanto me despreguiçava.

–Ligaram da natação,ou seja,treino intensivo - ela disse.

–Ninguém merece treino intensivo no frio -reclamei e não quis ir por um segundo,mas logo lembrei de Melissa.

–Fique feliz por ter sido selecionado para a competição,pela quinta vez.

Todo mês,a escola de natação faz uma competição de nadadores,o melhor ganha um troféu de trinta centímetros.Para meus pais é uma honra,mas para mim,nada demais.

–Tá,tá - gesticulei com a mão ara que ela saísse - Preciso me trocar.É rápido.

A mesma,saiu sem dizer nada.Fechando a porta atrás de si.

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Muita gente faltou à aula por conta do frio,eu deveria ter sido um desses.

O treinador Hodge acabou suspendendo o treino para a próxima semana.O que era uma droga,mas como eu já estava ali,nadei um pouco.

Quando saí,percebi que tinha saído cedo demais.Não iria esperar três horas para pegar o ônibus.

Então pus o fone de ouvido e deixei a música no volume máximo.Como se tudo a minha volta,fizesse parte dela.

Esperei até que meu ônibus chegasse.

Estava olhando o celular,quando senti um cheiro um tanto familiar.De baunilha...

Melissa.

Ela estava sentada ao meu lado.Olhando para suas mãos,que estavam em seu colo,estava as esquentando.Olhei para seu rosto,suas bochechas estavam rosadas de frio.

Fiquei a olhando,esperando que ela notasse.Mas não notou.Tirei os fones de ouvido e os coloquei envolta de meu pescoço.Percebi que ela estava escutando música -também no máximo- , consegui distinguir a música; Take on me,do A-ha.Cara,essa garota é apaixonante.

Pela segunda vez,eu senti seus olhos subirem para procurar os meus.Ela sorriu quando percebeu que era eu.

–Pois é.É o destino - brinquei.

Ela riu.

–William,certo ? - ela perguntou sorrindo.

Eu assenti.

Vi que em seu bolso havia uma câmera fotográfica.

–Você vai tirar fotos da cidade? - perguntei,apontando para a câmera.

–Ah,sim - ela olhava para a câmera. -Gosto de fotografia.

–Posso te mostrar alguns lugares,se quiser.

Ela passou algum tempo sem responder,devia estar pensando.

–Claro,estou livre agora -disse,por fim.

–Bom,então vamos ao Portão de Brandemburgo.Você tem espaço suficiente na câmera? - ri.Aqui em Berlim há ótimos pontos turísticos,e todos são bem visitados,diariamente.

–S-Sério? Faria mesmo isso ? - ela pergunta.

–Sim,por que não ?

Eu me levantei e entreguei minha mão à ela.Ela a segurou e se levantou em seguida.

–Gosta de andar - brinquei.

–Não muito,mas seria ótimo -ela riu.

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Quando chegamos ao Portão de Brandemburgo,Melissa ficou simplesmente boquiaberta com o que via.Não conseguia parar de tirar fotos.

–Aqui é lindo.Preciso de um cartão postal daqui ! - disse Melissa,com tom de voz animado.

Apontei para uma barraquinha de cartões postais,indicando que ela fosse lá.Ela sorriu e correu até lá.Procurava indecisa,pegou dois e me gritou.

–William,qual você acha mais bonito,esse daqui que mostra O Portão,ou esse,que mostra as pinturas que há nas paredes do Portão ?

–A primeira opção - apontei para o cartão cujo mostrava somente O Portão.

–Obrigada -foi até a idosa vendedora,e a pagou.Vindo com um sorriso de orelha a orelha -Meus pais vão amar.

Seu entusiasmo é engraçado,igual quando você tem um filhote e quando se reencontram após um tempo sem se ver,ele fica pulando e fazendo barulhos engraçados.Ri com o pensamento.

–Já está escurecendo - disse -Não acha que está na hora de você ir para casa ? Berlim é perigoso para garotinhas - brinquei,bagunçando seu cabelo.

Ela riu e me deu um soquinho no braço.

Ficamos conversando durante o percurso.

–Você está hospedada em algum hotel,ou pousada ?

Ela balançou a cabeça em um movimento negativo.

–Estou em uma host family.

–Sério,sempre quis estar em uma.Ao lado da minha antiga casa,tinha uma,uma vez me escondi no quintal deles.Mas meus pais me acharam e eu fiquei bem desapontado - ela gargalhou.

–Você poderia me levar para algum ponto de ônibus aqui por perto ? Não conheço as ruas tão bem como você;

–Claro que sim - sorri. -Venha.

Ela me seguiu.

O ponto de ônibus mais perto,ficava a cinco minutos.Quando chegamos,estava bem visível nossa exaustão,não por cinco minutinhos de distância,e sim por um dia todo.

–Bom,agora é a hora de ir - disse Melissa,dando sinal para o ônibus - Obrigada por me mostrar alguns lugares.

Sorri para ela.Meu sorriso se desfez quando lembrei que ainda não tinha mais nenhuma outra informação dela.

–Você tem celular ? Digo,um que funcione aqui - falei.

Ela riu e abaixou a cabeça.Por um momento pensei que fosse negação,mas ela estava tirando o celular do bolso.

Me passou o celular nos contatos.Lá estava escrito ''meu número''.Peguei o meu celular e digitei o ''meu número''.

Alguém disse em alemão: -Vai subir ou não ?

Ela rapidamente depositou um beijo na minha bochecha,e subiu.

Era bem infantil uma pessoa ficar vermelha,por um beijo na bochecha,mas acredite,eu fiquei.