Naquele verão escrita por Cyn


Capítulo 13
Normal...está longe de acontecer




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Normal...está longe de acontecer

Travis surpreendeu-me um dia trazendo Louise consigo. Mesmo sendo muito cedo e sabendo que ela preferiria mil vezes estar na cama, Louise parecia com uma energia sem fim.

– Então o que vamos fazer?- Perguntei-lhe enquanto preparávamos o pequeno-almoço.

– Não sei.

– Hmm… Gostas de música?

Ela sorriu.

– Adoro.

Bati palmas uma vez e sorri.

– Óptimo. Levas isto para fora enquanto eu vou buscar a minha viola?

– Claro.

Dei-lhe um beijo na cabeça e corri para o meu quarto.

Peguei no violão e olhei pela janela para o quintal. Travis e Louise estavam a começar a sentar-se na relva á sombra da árvore.

Sorri para o quão íntimos ele eram. Eles amavam-se como os irmãos que eram.

Uma vez eu e Zack e Jace também fomos assim, mas … isso terminou.

Desci e vi meu pai a mesa da cozinha. Ele olhou para cima quando me viu.

– Bom dia. – Disse-me.

– Bom dia.

Ele sorriu ao ver o violão na minha mão mas nada disse. Não precisava, o seu olhar dizia tudo. Mesmo ainda estando desiludida com ele, ainda me interessava a opinião dele.

Porquê?

Boa pergunta.

– Nós vamos… fazer um pouco de barulho. Tudo bem?

Ele sorriu ainda mais.

– Não há problema nenhum.

Assenti e andei até Travis e Louise.

– Ok. – Disse quando me sentei.

Pelo canto do olho vi meu pai sentar-se no alpendre a olhar-nos mas não me importei.

– Algum pedido? – Perguntei-lhes.

– Não.

– Toca o que te apetecer. – Disse Travis sorrindo e engolindo uma bolacha por inteiro.

Arregalei os olhos para ele e ri.

– OK. Hmm… Já sei.

Um a corte, dois, três, quatro e estava preparada.

Desde o princípio com você, sonhei

Desde o momento em que meus olhos, levantei

Desde esse dia que sozinha eu estava

Foi quando o seu olhar no meu se encontrou

Soube que me amava, entendi

Sem palavras trocadas, percebi

Soube que buscava mais de mim

Que muito tempo me esperou e por fim…

Apareci

Num beijo roubado e com amor

Já não podia, resistir

Te entreguei meu amor e, por ti…

Apareci

Quanto mais longe estou

Teu carinho e teu amor

Para mim se tornou

Um sussurrou de palavras nunca trocadas

De sentimentos reservados

De ternuras e paixão

Meu amor, essa paixão

Acabou-se a solidão.

Soube que me amava, entendi

Sem palavras trocadas, percebi

Soube que buscava mais de mim

Que muito tempo me esperou e por fim…

Apareci

Soube que me amava, mesmo assim

Soube que me esperava, por fim

E sei que nunca perderei este amor

Sempre que o nosso olhar se encontrar

Sempre saberei…

Que era só por mim que buscavas

E eu apareci

Louise bateu palmas e sorriu.

– És incrível.

Abracei-a.

– Obrigado.

– Incrível. – Ouvi Travis sussurrar.

Olhei para ele que me observava com um sorriso e um brilho que não consegui perceber de quê.

Mas eu gostava.

Droga, eu gostava tudo nele.

Olhei de lado para meu pai.

Ele estava sentado a observar-nos com lágrimas nos olhos.

Ele nunca foi de chorar, nunca.

Nem mesmo quando Zack foi para o hospital com apendicite aguda e os médicos não sabiam se ele ia sobreviver ou não.

Ele sempre foi forte por nós.

Por muito que eu queria ir lá e abraça-lo ainda havia uma parte de mim que se sentia magoada e essa parte primeiro tinha de ser conquistada antes de dar esse passo.

Essa parte nunca será normal na minha vida.

Comemos o pequeno-almoço e eu e Louise passamos o resto do dia a observar Travis e a gozar com ele. Travis tentava não ligar mas acabava rindo com a gente e isso apenas provocava que ele falhasse nos pregos ainda mais. Quando nos fartamos de gozar com ele, Louise pediu-me para cantar mais e acabei cantando a mesma música mais duas vezes. Inventamos músicas com rimas e … não ficou nada em ordem, mas mesmo assim diverti-mo-nos.

Vi Travis a olhar-nos pelo menos umas cinco vezes com um sorriso bobo no rosto e meio que gostei. Outra vez.

Estou a ficar louca.

Quando chegou a altura de eles irem despedi-me e sentei-me no sofá da sala a ver a TV.

Zack e Jace entraram vinte minutos depois e olharam para mim com cara estranha.

– O quê?

Zack olhou para o lado e foi para a cozinha sem dizer nada, Jace ficou lá a olhar-me.

– O que se passa Jace?

– Nada. -A voz dela vacilou.

– Sei. Para mim não parece nada. – Mostrei com a cabeça a direcção em que Zack tinha ido.

– Ele apenas está…- Ela deu de ombros e foi para a cozinha.

Olhei para a TV.

Ao lado dela estava uma foto de nós os três quando éramos crianças.

Lembrava-me daquele dia como se fosse hoje.

Eu tinha 6 naquela altura. Minha mãe tinha conseguido uma folga e meu pai estava de férias. O meu pai teve a ideia de irmos passar um dia ao campo. Fomos a cavalo. Eu fui com meu pai enquanto que Jace foi com mamãe e Zack sozinho. Ficamos perto de um lago e o sítio era sossegado.

Nadamos, comemos, rimos, sorrimos, abraça-mo-nos…

E o dia passou-se assim.

Sem brigas, sem discussões, apenas… amor.

Na foto eu estou nas cavalitas de Zack que me segurava como se não quisesse que eu desaparecesse e Jace estava ao nosso lado com um ramo de flores. Todos os três sorrindo na inocência da infância.

Uma pena que a infância não dura para sempre.

E agora, a olhar para aquela foto me apercebi de algo.

Travis e Louise têm algo que nós nunca tivemos.

Confiança.

Eles não confiam em mim.

E enquanto eles não confiarem, nunca haverá nada normal de novo. Nunca seremos felizes de novo.

O normal … está longe de acontecer.


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