Naquele verão escrita por Cyn
Normal...está longe de acontecer
Travis surpreendeu-me um dia trazendo Louise consigo. Mesmo sendo muito cedo e sabendo que ela preferiria mil vezes estar na cama, Louise parecia com uma energia sem fim.
– Então o que vamos fazer?- Perguntei-lhe enquanto preparávamos o pequeno-almoço.
– Não sei.
– Hmm… Gostas de música?
Ela sorriu.
– Adoro.
Bati palmas uma vez e sorri.
– Óptimo. Levas isto para fora enquanto eu vou buscar a minha viola?
– Claro.
Dei-lhe um beijo na cabeça e corri para o meu quarto.
Peguei no violão e olhei pela janela para o quintal. Travis e Louise estavam a começar a sentar-se na relva á sombra da árvore.
Sorri para o quão íntimos ele eram. Eles amavam-se como os irmãos que eram.
Uma vez eu e Zack e Jace também fomos assim, mas … isso terminou.
Desci e vi meu pai a mesa da cozinha. Ele olhou para cima quando me viu.
– Bom dia. – Disse-me.
– Bom dia.
Ele sorriu ao ver o violão na minha mão mas nada disse. Não precisava, o seu olhar dizia tudo. Mesmo ainda estando desiludida com ele, ainda me interessava a opinião dele.
Porquê?
Boa pergunta.
– Nós vamos… fazer um pouco de barulho. Tudo bem?
Ele sorriu ainda mais.
– Não há problema nenhum.
Assenti e andei até Travis e Louise.
– Ok. – Disse quando me sentei.
Pelo canto do olho vi meu pai sentar-se no alpendre a olhar-nos mas não me importei.
– Algum pedido? – Perguntei-lhes.
– Não.
– Toca o que te apetecer. – Disse Travis sorrindo e engolindo uma bolacha por inteiro.
Arregalei os olhos para ele e ri.
– OK. Hmm… Já sei.
Um a corte, dois, três, quatro e estava preparada.
Desde o princípio com você, sonhei
Desde o momento em que meus olhos, levantei
Desde esse dia que sozinha eu estava
Foi quando o seu olhar no meu se encontrou
Soube que me amava, entendi
Sem palavras trocadas, percebi
Soube que buscava mais de mim
Que muito tempo me esperou e por fim…
Apareci
Num beijo roubado e com amor
Já não podia, resistir
Te entreguei meu amor e, por ti…
Apareci
Quanto mais longe estou
Teu carinho e teu amor
Para mim se tornou
Um sussurrou de palavras nunca trocadas
De sentimentos reservados
De ternuras e paixão
Meu amor, essa paixão
Acabou-se a solidão.
Soube que me amava, entendi
Sem palavras trocadas, percebi
Soube que buscava mais de mim
Que muito tempo me esperou e por fim…
Apareci
Soube que me amava, mesmo assim
Soube que me esperava, por fim
E sei que nunca perderei este amor
Sempre que o nosso olhar se encontrar
Sempre saberei…
Que era só por mim que buscavas
E eu apareci
Louise bateu palmas e sorriu.
– És incrível.
Abracei-a.
– Obrigado.
– Incrível. – Ouvi Travis sussurrar.
Olhei para ele que me observava com um sorriso e um brilho que não consegui perceber de quê.
Mas eu gostava.
Droga, eu gostava tudo nele.
Olhei de lado para meu pai.
Ele estava sentado a observar-nos com lágrimas nos olhos.
Ele nunca foi de chorar, nunca.
Nem mesmo quando Zack foi para o hospital com apendicite aguda e os médicos não sabiam se ele ia sobreviver ou não.
Ele sempre foi forte por nós.
Por muito que eu queria ir lá e abraça-lo ainda havia uma parte de mim que se sentia magoada e essa parte primeiro tinha de ser conquistada antes de dar esse passo.
Essa parte nunca será normal na minha vida.
Comemos o pequeno-almoço e eu e Louise passamos o resto do dia a observar Travis e a gozar com ele. Travis tentava não ligar mas acabava rindo com a gente e isso apenas provocava que ele falhasse nos pregos ainda mais. Quando nos fartamos de gozar com ele, Louise pediu-me para cantar mais e acabei cantando a mesma música mais duas vezes. Inventamos músicas com rimas e … não ficou nada em ordem, mas mesmo assim diverti-mo-nos.
Vi Travis a olhar-nos pelo menos umas cinco vezes com um sorriso bobo no rosto e meio que gostei. Outra vez.
Estou a ficar louca.
Quando chegou a altura de eles irem despedi-me e sentei-me no sofá da sala a ver a TV.
Zack e Jace entraram vinte minutos depois e olharam para mim com cara estranha.
– O quê?
Zack olhou para o lado e foi para a cozinha sem dizer nada, Jace ficou lá a olhar-me.
– O que se passa Jace?
– Nada. -A voz dela vacilou.
– Sei. Para mim não parece nada. – Mostrei com a cabeça a direcção em que Zack tinha ido.
– Ele apenas está…- Ela deu de ombros e foi para a cozinha.
Olhei para a TV.
Ao lado dela estava uma foto de nós os três quando éramos crianças.
Lembrava-me daquele dia como se fosse hoje.
Eu tinha 6 naquela altura. Minha mãe tinha conseguido uma folga e meu pai estava de férias. O meu pai teve a ideia de irmos passar um dia ao campo. Fomos a cavalo. Eu fui com meu pai enquanto que Jace foi com mamãe e Zack sozinho. Ficamos perto de um lago e o sítio era sossegado.
Nadamos, comemos, rimos, sorrimos, abraça-mo-nos…
E o dia passou-se assim.
Sem brigas, sem discussões, apenas… amor.
Na foto eu estou nas cavalitas de Zack que me segurava como se não quisesse que eu desaparecesse e Jace estava ao nosso lado com um ramo de flores. Todos os três sorrindo na inocência da infância.
Uma pena que a infância não dura para sempre.
E agora, a olhar para aquela foto me apercebi de algo.
Travis e Louise têm algo que nós nunca tivemos.
Confiança.
Eles não confiam em mim.
E enquanto eles não confiarem, nunca haverá nada normal de novo. Nunca seremos felizes de novo.
O normal … está longe de acontecer.
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