Pedido da Sra Valdez Jackson Di Ângelo!

Thalia’s P.O.V

Thalia, Acorde!

Acordei num pulo. Estava tudo escuro.

Eu estava apoiada em algo quentinho, que fazia um barulho que lembrava...

A respiração de um dragão...

– N... - Bocejei. - Nico?

Ele emitiu um daqueles “ruídos fofinhos”.

Bom dia, principessa... Dormiu bem?

– Perfeitamente bem... Poderia levantar a asa?

Nico ergueu as asas imensas e a luz do sol quase me cegou. E, pelo pequeno rosnado que ele emitiu, o incomodou também.

Droga de luz do sol!

– Concordo...

Ele me soltou de seu “abraço” e levantou, emitindo um longo e sinistro bocejo, deixando à mostra seus dentes perigosamente afiados que fariam até mesmo um autômato em pedacinhos! E isso, com certeza, me deixou desconfortável...

Relaxa, Thalia... Esses dentes não são para você... Apesar de parecer suculenta...

– P-para com isso! Que droga!

Está com medo?

– Que nada! Eu não tenho medo de dragões enormes que dizem que eu daria um bom pedaço de carne...

Nico emitiu um silvo que lembrava uma risada.

Leo saiu da SCEW, nos olhou e sorriu.

– Bom dia... Nós estamos pertinho.

– Poderia ser mais específico?

Ouvimos um rugido. Alto o suficiente para acordar todos os outros no Argo II... Tanto que todos abriram as portas das cabines simultaneamente. Até mesmo Bia, Anna e Tobias saíram de lá.

– Isso responde sua pergunta?

– Já têm um plano?

Leo e Nico se entreolharam...

Thalia... Vá tomar um banho...

– Mas eu...

– Thalia, vai! - Leo me empurrou em direção à cabine e bateu a porta na minha cara.

Suspirei e entrei no banheiro.

Tomei um banho demorado. Lavei o cabelo e cheguei a hidratá-lo...

Saí do banho e coloquei uma roupa.

Deixei meus cabelos soltos e saí. Vendo exatamente o que não queria...

Nico me esperava do lado de fora...

Com uma sela nas costas...

Uma sela...

Não é bom sinal!

Leo estava acabando de prender com firmeza as tiras.

– O-O que está acontecendo?

– Ah!- Começou Leo. - A ideia foi minha e da Annie, Thalia...

– P-por que o N-Nico está de... De... S-S-S- sela?!

– P... Para. -Ele fez um pequeno esforço para prender a última tira de couro da sela. - Você montar nele.

– O QUÊ?! EU NÃO VOU VOAR! VOCÊS NÃO VÃO ME OBRIGAR!

Eu disse que ela não concordaria...

– Cala a boca, Nico! - Disse Leo. - É o plano! Nós vamos atacar pela frente e vocês dois vão roubar a pedra por trás. Você precisa montar em Nico...

– EU. NÃO. VOU. MONTAR! NÃO VOU! VOCÊ NÃO VAI ME...

Nico me cortou, pegando minha jaqueta por trás e me colocando em si mesmo.

Ajuste as tiras!

– Não vou.

Ou eu decolo agora e você reza para não cair!

Claro que eu pretendia continuar a discussão. Mas quando um dragão de dez metros (ou mais) de altura rosna ameaçadoramente e manda você fazer algo, até Cronos faz!

– São essas aqui. - Indicou Leo. - Relaxa. Eu as testei a noite inteira montando em Festus. Depois em Nico. São seguras e você não vai cair... Prenda-as em suas pernas, para ficar com as mãos livres para pegar a pedra...

– Ok... - Prendi as tiras com força. Minhas pernas estavam tão presas que nem uma tempestade me tirava da sela.

A não ser que o dragão corte fora as minhas pernas!

Nico pareceu ter ouvido, porque virou a cabeça para mim e me olhou.

Ele não fará isso... A menos que queira que eu arranque a cabeça dele.

Sorri, desconfortável.

Olhei para trás. Todos os outros estavam observando.

– Cuide dela, di Ângelo! - Avisou Jason.

Aquela fera só toca nela por cima do meu cadáver!

– Thalia! - Chamou Annie. - Pegue este arco... A aljava é infinita.

– Onde o conseguiu?

– Minha mãe me entregou. Ela disse que você precisaria.

– Quando sua mãe entregou?

– Ontem à noite. Ela apareceu em meu sonho! Quando eu acordei, estava ao meu lado!

– Ah...

Aceitei o arco e a aljava e os prendi firmemente nas costas. Nico bufou baixinho.

Não gosto de te ver com arco... Me faz lembrar seus tempos de caçadora.

Sorri e acariciei seu pescoço.

– Vamos, Nico... Não me deixe cair.

Nunca...

Abracei com MUITA firmeza o pescoço de Nico e fechei os olhos.

Antes de fechá-los, tive um vislumbre nada belo do chão lá embaixo.

Se quiser saber, é uma queda de seiscentos metros...

– Obrigada, di Ângelo... Ajudou bastante.

Ele silvou/riu novamente.

– Pronta? - Ouvi a pergunta de Percy.

– Infelizmente... Estou pronta.

– Vai, Nico!

Nico abriu as longas asas negras e eu fechei os olhos quando ele decolou a toda velocidade.

Sabe aquele frio horrível na barriga que você sente quando está em algum brinquedo muito veloz ou muito apavorante?

Foi o que senti no início... Eu me lembro de ter gritado por um bom tempo. Até sentir uma presença. Confortável, agradável... A presença de Nico em minha mente.

Não tenha medo, mia bella, estou aqui... Estou com você.

Logo, o frio na barriga se tornou algo confortável e eu me forcei a abrir os olhos...

Nós planávamos a uma altura muito grande do chão. O Argo II era só um pontinho na imensidão azul do céu... Eu e Nico estávamos juntos. E eu sentia uma conexão profunda entre nós dois... Profunda e confortável... Eu podia sentir sua respiração, os músculos de suas asas impulsionando-as para cima e para baixo quando precisávamos de mais, ou de menos, altitude... Seu corpo era uma máquina.

E podia sentir o que ele sentia.

Nico estava se sentindo livre. Como se houvesse acabado de sair de uma jaula. Era uma sensação gostosa de alegria e liberdade... E ele notou minha presença.

Logo, Nico me passou um sentimento intenso, que não podia ser contido, como o mar em fúria.

Amor...

Nico me amava de uma forma tão intensa que eu nunca pensei que ele fosse amar assim. Era forte, poderoso. Capaz de demolir o Olimpo inteiro!

E eu o amava da mesma forma. Nosso amor unido era como um tsunami... Mais forte, poderoso e até mesmo destrutível do que qualquer outro sentimento.

Sempre foi você... Não há ninguém nesse mundo que eu ame mais do que você, Thalia.

Senti lágrimas de felicidade abrirem caminho pelo meu rosto. Eu estava chorando. Nico era meu porto seguro. Meu anjo da guarda. E eu o amava mais que tudo. As lágrimas caíam vários metros abaixo de nós. (N/Pessoas logo abaixo: Pega o guarda-chuva que vai chover, povo!)...

– Nico... Eu amo você mais do que tudo.

Ele emitiu um ruído, que foi cortado pelo som de uma explosão.

Temos que ir. Vou mergulhar... Melhor você fechar os olhos!

Fechei os olhos com força e Nico mergulhou velozmente em direção a uma cratera imensa no meio do gelo.

O Argo II já estava lá. Leo estava nas balizas. Atirando feito doido em um imenso dragão vermelho...

– Nico... Olha o tamanho daquilo!

Estou vendo. Prepare o arco.

Preparei o arco e armei.

Não atire ainda. Deixe-me encontrar a pedra!

Nico voou até uma fenda na parede da cratera e usou as garras para abrir ainda mais.

Nico estava quase conseguindo quando ouvi o dragão rugir, seguido de um grito de dor.

– JASON! Nico, vire!

Mas... A pedra...

– AGORA!

Ele rugiu frustrado e virou bruscamente. Havia sangue na neve. Jason estava caído de bruços ali. Um arranhão profundo em suas costas.

Totalmente irada, acabei infundindo um raio na flecha quando disparei. Ela atingiu o olho do dragão. Ele rugiu de dor e nos olhou com puro ódio.

Quer ter uma pequena ideia? Nico era do tamanho da cauda daquele dragão... E Nico como dragão é cem vezes maior que eu.

Ou seja, ele tem tamanho suficiente para me confundir com uma pulga!

Ouvi o silvo/risada de Nico.

Sim. É grande... Mas nada difícil demais...

– Pouse! Preciso ver Jason.

Thalia... Ele pode atacar você...

– Dane-se aquela lagartixa gigante! Eu PRECISO ver meu irmão!

Ele pousou, relutante. Corri até Jason.

Ainda está vivo... Mas está fraco. Se não tomar néctar agora...

– LEO! JOGUE NÉCTAR! AGORA!

Parabéns, escandalosa! Chamou a atenção do dragão...

– Ora, Nico... Poupe-me! Se fosse a... - Eu ia dizer “Hazel” ou “Bianca” no momento, mas parei na hora. Não poderia ferir Nico daquela maneira. No meio de um duelo com um dragão imenso. - Ah, Nico... Desculpe. Esqueça o que eu disse.

Ele emitiu um “ruído fofinho”.

Está tudo bem, principessa... Você tem razão. Cuide de Jason. Eu seguro o dragão.

– Me segurar? Ora, Dragão Negro... Quem você pensa que é?

Exatamente o que você disse! Um dragão negro!

Nico voou de encontro ao dragão e eles começaram um duelo mortal com dentes, garras e fogo. Muito fogo.

Uma garrafa de néctar pousou ao meu lado.

– OBRIGADA!

Pinguei várias gotas no ferimento de Jason. Ele cerrou os punhos e gemeu.

– Shh... Jason... Vai dar tudo certo.

Eu o virei e aninhei em meu colo enquanto pingava gotas de néctar em sua boca. Ele sorriu.

– Chocolate... Quente. - Falou baixinho. - Nós dois tomávamos quando éramos crianças... Eu posso lembrar.

– Melhor?

– Mais ou menos... - Ele deitou a cabeça em meu colo. - Respirar dói...

– Beba mais um pouco. - Pinguei mais algumas gotas.

– Agora sim...

Ouvi um rugido, seguido de outro rugido. Mas o segundo era um rugido de dor.

Olhei, apavorada. O dragão vermelho havia mordido Nico nos flancos. Ele ainda estava com Nico na boca. Os rugidos de dor perfuravam meu coração e acendiam um desespero que eu nunca pensei que sentiria.

Deuses!

Sem falar nada, apenas atirei outra flecha. Ela passou por cima do pescoço de Nico e cravou-se dentro da boca do dragão, dessa vez o rugido foi dele.

O dragão soltou Nico, que caiu na neve com um baque.

Corri até ele. Não estava morto. Mas estava muito ferido. Seus flancos sangravam muito.

Tomara que funcione!

Pinguei néctar no ferimento. Depois de um tempo, o ferimento começou a fechar. Nico sibilou de dor.

Como... Dói.

– Shh... Vai passar... Está tudo bem.

– Ora, garota intrometida! Como ousa?

– Ora você! Como ousa atacar as pessoas que amo assim?

– Você os ama... Mas eles amam você?

– Mais do que tudo no mundo... - Sussurrou Jason.

Mais do que minha própria vida.

O dragão vermelho silvou.

– Então eu atacaria dois corações de uma vez só... Se você morresse.

Apenas tente... Sua cabeça você procura depois!

O dragão riu debochadamente.

– Ora... Por que eu deveria ter medo de você?

Nico rugiu alto e se colocou à minha frente.

Só por cima de mim!

– Se é assim que você quer...

Nico ia atacar, mas o dragão deu-lhe uma patada que o fez voar de encontro à parede de gelo...

– Agora... Onde estávamos? – Ele me olhou... - Ah, é... Eu estava prestes a matar você.

Olhei para um lado. Jason tentava se levantar, sem sucesso. Do outro lado, Nico ainda não havia se levantado, nem se movido.

Meu coração ardeu de ódio, assim como as lágrimas que desciam pelo meu rosto. Lágrimas de ódio. De fúria.

No momento em que o dragão desceu a bocarra para me atacar, segurei firmemente a espada de Nico e investi.

Arranquei-lhe um dente. Longo e afiado. Ele rugiu de dor.

– Perdeu um dentinho? Pobrezinho...

Ele rugiu de raiva e tentou me atacar. Desviei com facilidade. Mas não vi sua cauda atrás de mim. Ele a usou para me derrubar. E eu caí com as costas no chão. Ele colocou a imensa pata sobre meu peito, me sufocando.

– Agora... Como matarei você? São tantas formas... Tantas maneiras...

– NÃO! - Gritou Jason.

Por um segundo, nada se moveu. Nico estava se recuperando e me olhava, imóvel. Uma única lágrima desceu pelo seu enorme focinho de dragão.

Tudo no mais completo silêncio. Jason chorava sem forças para levantar. Nico tentava livrar a asa de um imenso pedaço de gelo que havia caído sobre a mesma.

Até que um grito cortou o ar.

– Voa mais baixo, Anna! Vamos bater naquele bicho feio!

– Tobias! O bicho feio é o dragão malvado!

– Eu pensei que ele seria bonitinho que nem o Nico... - A voz de Bia completou.

Olhei para o céu e vi a cena mais bizarra do mundo.

Anna voava em nossa direção, segurando os pulsos de Tobias embaixo e com Bia montada e suas costas.

– Tô descendo! Dá espaço!

O dragão parecia tão chocado que deve ter se esquecido de me matar.

Estendi o braço o máximo que pude e alcancei o dente do dragão. Eu o peguei e cravei bem entre as garras da fera, que rugiu de dor.

– MALDITA!

O dragão berrou de dor. Nico livrou sua asa do pedaço de gelo e atacou o dragão. Ele voava com dificuldade. Quando passou por cima de mim. Algo quente como se fosse água fervente caiu em meu braço.

Soltei um pequeno gemido e olhei o que havia caído...

Era sangue.

Nico! Você está ferido!

Estou bem... Não se preocupe.

Mas eu devia me preocupar. O dragão negro abocanhou a asa ferida de Nico e abriu um rasgo. Não era grande. Nem chegava à metade da asa... Mas Nico deu um rugido de dor tão agonizante que eu gritei também. Como se pudesse sentir a dor que sentia. Como se eu fosse Nico, sentindo o dragão rasgar minha asa.

– NÃO! - Bia saltou das costas de Anna e aterrissou perto do olho do dragão, onde deu um soco. Ele urrou de dor e soltou Nico, que, por não conseguir voar, caiu na neve.

Bia desceu no momento em que o dragão ergueu a cabeçorra para atacá-la. Anna invocou um raio no olho que levou um soco e o dragão cambaleou.

Quando baixou a cabeça, o ódio que fervia em meu sangue me dominou. Jason tentou atacá-lo. Ele lhe deu uma patada, fazendo com que Jason fosse lançado alguns metros e batesse contra a geleira. Leo ainda atirava loucamente no dragão.

– JASON! - A fúria cresceu. Olhei para o dragão. - Você me paga!

Saltei sobre sua cabeçorra com o seu dente ainda nas mãos. Eu o ergui e cravei bem entre os olhos do dragão. Ele emitiu um berro de dor. Retirei o dente e cravei novamente no mesmo lugar. Lágrimas de fúria escorriam pelo meu rosto. Retirei e cravei outra vez. O urro de dor que o dragão emitiu era até digno de piedade. Mas eu não estava em meu momento de piedade.

– Isto é por Nico! - Cravei outra vez. - Isto é por Jason! - Outra vez. O dragão apenas se limitava a ruídos de dor. Eu não o ouvi. Ignorei seu sofrimento porque era exatamente isso que eu queria. - Você nunca será metade do que seu irmão é! - Cravei mais uma vez o dente no mesmo local. Minhas mãos queimavam com o sangue de dragão. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, onde alguns respingos de sangue acabaram atingindo.

Desabei ainda com as mãos segurando o dente do dragão cravado entre seus olhos e chorei o máximo que pude.

Senti mãos familiares me envolverem num abraço.

– Shh... - Ele disse. - Está tudo bem agora...

Mas o dragão disse que ele só deixaria de ser dragão quando saíssemos da Antártida!

Agora ele terá o direito de escolher se transformar ou não até que vocês saiam de meus domínios. Depois disso, o dragão o deixará. Mas não para sempre... Nunca se sabe quando algo que se foi pode voltar, filha de Zeus... Obrigado pela sua ajuda.

Desculpe pelo sofrimento pelo qual fiz seu irmão passar.

O que não fazemos quando somos tomados pela fúria?

Nico, cuidadosamente, envolveu minhas mãos com as suas e as soltou do dente que ainda seguravam...

– Shh... Estou aqui... Eu estou aqui, Thalia. E Jason está vivo... Você não está sozinha...

Deixei que Nico me envolvesse em seus braços. Ele me pegou em seu colo e me carregou até perto de Jason. Chegando lá, transformou-se novamente em dragão e deixou que eu montasse. Não me dei o trabalho de me prender às tiras. Nico pegou Jason e levantou voo até o Argo II... Já estava totalmente curado.

Assim que Nico colocou Jason em segurança no deque, descemos novamente e pegamos as crianças...

Quando as deixou no deque, Nico voltou a sua forma humana e abraçou as três crianças.

Anna tinha nas mãos um cristal do tamanho de uma noz.

A Pedra Branca...

– Agora restam apenas duas... - Disse Leo. - E, depois disso...

Engoli em seco. Eu sabia exatamente o que viria depois da quarta pedra.

Senti os braços de Nico me envolverem.

– Vamos para a cabine. - Sussurrou no meu ouvido.

Quando estávamos na porta, eu o puxei para um beijo.

E nós entramos na cabine, batendo a porta atrás de nós.

E tudo o que posso dizer da noite é que foi perfeita.